Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 479: "Homem"
Com o rugido baixo vindo do tanque de lastro, o submersível passou por aquele mundo decadente e invertido, continuando a descer em direção a um abismo marinho ainda mais desconhecido e aterrorizante.
A selva de tentáculos que pendia do fundo da cidade-estado e o enorme olho pálido desapareceram completamente do feixe de luz do holofote. A vasta e escura massa de água voltou a preencher o espaço do lado de fora da vigia. Apenas os pontos de luz cintilantes que emergiam ocasionalmente das profundezas escuras (bolhas refletoras ou plâncton) lembravam a Duncan que ele estava em um submersível navegando no mar, e não flutuando no espaço cósmico vazio e desamparado.
Mas ele não pôde deixar de ter algumas associações estranhas. Se olharmos apenas do ponto de vista do “desconhecido e do terror oculto”, qual é a diferença entre o espaço cósmico vazio e o mar profundo e escuro, cheio de bilhões de toneladas de água?
O núcleo a vapor impulsionava o dispositivo de propulsão, a casa de máquinas emitia um ruído baixo, e uma série de manômetros no console de controle sibilava ocasionalmente, mostrando o status operacional atual do submersível. Duncan diminuiu a velocidade de descida para evitar que a mudança drástica de pressão danificasse o casco. Em seguida, ele se virou para olhar a Guardiã do Portão, que estava ao seu lado em silêncio.
“Agatha, no que você está pensando?”
“Estou pensando… nos pioneiros que executaram o Projeto Abismo. Será que eles também viram o que nós vimos?”, Agatha disse, hesitante. “A verdade sob a cidade-estado, os restos mortais inomináveis, os tentáculos e o globo ocular pendendo em direção ao mar profundo… Antes que todo o projeto saísse de controle, durante as repetidas descidas, ninguém, por curiosidade – ou mesmo por imprudência, olhou para ‘cima’?”
Duncan não falou por um momento, mas em sua mente, ele se lembrou dos segredos sobre o Projeto Abismo que ouviu de Tyrian.
Parece que mesmo o general de Geada, que já foi tão confiável para a rainha, não conhecia toda a extensão do Projeto Abismo. Ninguém realmente descobriu a verdade sob a cidade-estado? Ou será que… essa verdade terrivelmente assustadora, assim como os segredos da Mina de Ouro Fervente, foi enterrada?
“Talvez alguém realmente tenha olhado para trás, mas o que eles viram estava destinado a não ser registrado”, disse Duncan em voz baixa após alguns segundos de silêncio. “Você é a protetora da cidade-estado, você entende melhor do que eu o que essa verdade significa.”
“…Muitas pessoas enlouqueceriam”, disse Agatha lentamente. “Mesmo sem serem afetadas pelo poder do mar profundo, apenas um fato terrível seria suficiente para causar pesadelos e pânico em grande escala. Então, os pesadelos e o pânico se materializariam e poderiam criar uma conexão imprevisível com a ‘realidade’ sob a cidade-estado. No pior dos casos… ‘isso’ poderia voltar à vida.”
“Os mortais vivem em um mar escuro e cheio de terror. Até mesmo o chão sob seus pés é construído sobre restos mortais distorcidos e grotescos. A lentidão e a cegueira são a única graça concedida a todos os seres vivos, permitindo que a grande maioria das pessoas comuns se mantenha longe dessas verdades enlouquecedoras. E, na maioria dos casos, enquanto a verdade não for percebida, ela nunca entrará em nosso mundo real. Mas o ponto crucial é que sempre existem ‘poucos casos’.”
“… O senhor vai divulgar nossa descoberta?”
“Pelo menos por enquanto, não contarei essa notícia excessivamente chocante a nenhuma pessoa comum, porque a vida pacífica e comum da grande maioria não precisa ser perturbada por isso. Mas há uma frase que você já deve ter ouvido: ‘Você tomou conhecimento de sua existência, e ela já se tornou parte do destino do mundo mortal’.”
“A segunda lei das Anomalias e Fenômenos”, Agatha assentiu. “O que é conhecido não pode ser apagado. A verdade sob a cidade-estado já apareceu diante de nós, a conexão no destino já foi estabelecida. Cedo ou tarde, teremos que lidar com isso novamente.”
Duncan assentiu levemente, sem dizer mais nada.
E, nesse momento, um som estranho, abrupto e baixo de “pancada” soou de repente no submersível, interrompendo os pensamentos dele e de Agatha.
O som parecia… como se algo estivesse batendo no casco do submersível do lado de fora.
Agatha foi instantaneamente assustada por esse som. Em meio ao espanto, ela ergueu a cabeça bruscamente: “O senhor ouviu algum som? Parece que alguém está batendo do lado de fora…”
Duncan também se assustou com o som repentino, mas logo olhou para alguns medidores no console, franziu a testa ligeiramente e disse em voz profunda: “Isso deve ser a pressão da água. A imensa pressão do mar está fazendo o casco do submersível se deformar levemente. Não se preocupe, é uma situação normal e está dentro dos valores de projeto.”
Agatha pareceu um pouco mais aliviada, mas ainda parecia um pouco tensa.
Navegar no mar profundo e escuro era uma experiência sem precedentes. Mesmo sendo uma Guardiã do Portão com grande poder, ela não pôde deixar de sentir uma onda de impotência e nervosismo em seu coração, um sentimento inimaginável na superfície estável.
Neste lugar distante do mundo civilizado, as bênçãos dos deuses já haviam diminuído, e o poder individual se tornara insignificante. As leis frias da física e o destino desconhecido construíam uma “fenda” cada vez mais estreita. Dentro da fenda havia sobrevivência, fora dela, ossos espalhados. O que se podia confiar nesse meio… era apenas um casco esférico feito de aço.
E o som de “pancada” que vinha do casco do submersível naquele momento lembrava constantemente a Agatha: diante da pressão de bilhões de toneladas de água do mar, ele era na verdade frágil como papel. O que impedia o colapso desse casco, além da tenacidade do próprio aço, era apenas o delicado equilíbrio de sua estrutura física.
Este era um tipo de terror completamente diferente de enfrentar deuses hereges ou desastres causados por Fenômenos. Esse terror… se chamava “lei da natureza”.
Talvez por nervosismo, ou talvez porque o silêncio dentro do submersível e os sons do lado de fora tornassem a atmosfera muito opressiva, Agatha começou a procurar um assunto depois de alguns segundos de silêncio. Ela observou Duncan operar as alavancas e manivelas: “O senhor tem um grande talento para operar máquinas. Eu originalmente pensei que o senhor pediria ao Governador Tyrian para enviar um engenheiro que soubesse pilotar, não esperava que sua operação fosse tão habilidosa.”
“Habilidosa?”, Duncan virou a cabeça ligeiramente. “Mas, na verdade, eu não sei pilotar – pelo menos não sabia até hoje.”
Agatha: “…Ah?”
“Mas os homens de Tyrian também não sabem, incluindo os engenheiros que conseguem ler os projetos”, Duncan deu de ombros e continuou. “Eles só podem me dizer, com base nos desenhos, para que servem essas alavancas. Mas depois de entender a função de cada alavanca, o ‘nível de pilotagem’ deles é o mesmo que o meu. Ninguém sabe pilotar, ninguém nunca pilotou. Esta coisa foi construída pelos governadores da Cidade-Estado de Geada, seu método de operação é completamente diferente dos submersíveis de cinquenta anos atrás, e as pessoas que realmente a entendiam já estão todas mortas. Essa é a verdade.”
Agatha ficou de boca aberta, parecendo de repente não saber o que dizer.
Duncan, notando sua reação, sorriu e balançou a cabeça: “Mas eu tenho pelo menos duas vantagens sobre eles. Primeiro, não preciso me preocupar com a segurança. Não importa o quão ruim a situação fique, posso retornar em segurança. Segundo…”
Ele fez uma pausa, olhou para o controle em sua mão e para o console à sua frente.
Pequenas chamas esverdeadas percorriam as engrenagens e bielas, vapor sagrado e óleo umedeciam esta complexa e vasta máquina, e o brilho do Fogo Espiritual preenchia aquele vapor e óleo.
O núcleo a vapor era como um coração pulsante de poder, obedecendo a cada comando de Duncan.
Claro, não era tão “obediente e fácil de usar” quanto o Banido. Esta máquina sem espírito podia, no máximo, fornecer alguns sinais de percepção rígidos e fracos, mas isso já era mais do que suficiente.
“Segundo, essas máquinas são bastante obedientes em minhas mãos.”
Agatha sentiu o fluxo do fogo.
O fogo preenchia o aço e o óleo ao seu redor, preenchia o vapor sibilante e as engrenagens, fluindo como sangue dentro desta máquina sem espírito e sem alma, ressoando sutilmente com as chamas que fluíam em seu próprio corpo.
Este fluxo de Fogo Espiritual até a fez sentir um pouco de segurança neste fundo do mar escuro e gelado.
Ela inclinou a cabeça ligeiramente, como se em reverência a Duncan.
Duncan, no entanto, não prestou atenção à reação de Agatha. Sua atenção já havia retornado ao trabalho de pilotagem à sua frente.
Afinal, mesmo que o Fogo Espiritual lhe permitisse perceber melhor o estado da máquina, quando se tratava da operação específica, ele ainda tinha que fazer pessoalmente.
Não havia o que fazer. Quando ele foi empurrado para o posto de comando do Banido, ele também nunca havia pilotado um navio. Ele já havia se adaptado a esse ritmo de vida de “embora eu não saiba como fazer isso, só posso seguir em frente de cabeça erguida”…
E, nesse momento, outro som, como uma batida, veio de repente do lado de fora do casco.
“Tum.”
Curto e claro, como se tivesse batido em algo, sutilmente diferente do “som de batida” anterior vindo de fora do casco.
Agatha notou imediatamente esse som estranho: “Outro som… também é o casco se deformando?”
Duncan, no entanto, franziu a testa de repente e colocou a mão em outra alavanca ao lado.
“Não parece… é outra coisa.”
Ele sentiu claramente que algo realmente tocou o casco do submersível, vindo de baixo.
Um zumbido de operação mecânica veio de dentro do submersível. A luz do holofote do lado de fora da vigia girou lentamente na escuridão, e a hélice de propulsão girou, ajustando a orientação do submersível.
Finalmente, algo apareceu na luz do lado de fora da vigia.
Uma pessoa.
Uma… coisa que parecia ter forma humana.
Agatha instantaneamente “viu” aquilo. O contorno humanoide apareceu subitamente em seu campo de visão, emitindo um brilho espiritual como as outras pessoas que ela via na superfície.
Só que o brilho era um pouco mais fraco e mais pálido.
Ela soltou um grito baixo de espanto: “Ah!”
Até Duncan arregalou os olhos instantaneamente, um “puta merda” quase escapou de sua boca!
No mar infinito, a quase mil metros de profundidade, diretamente abaixo da Cidade-Estado de Geada, uma pessoa apareceu de repente na vigia do submersível. O choque dessa cena era quase comparável ao da floresta de tentáculos vista no fundo da cidade-estado, e ao do globo ocular pálido e enorme entre os tentáculos!
E logo em seguida, com o ajuste da posição do submersível e a varredura da luz, uma cena ainda mais bizarra, aterrorizante e até arrepiante apareceu no campo de visão de Duncan e Agatha.
Pessoas, “pessoas” densamente agrupadas, flutuando nesta massa de água escura e gelada!
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