Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 498: Um Procedimento Necessário
Duncan sabia que os arranjos que fez hoje estavam destinados a trazer uma onda de instabilidade a todo o Mar Infinito. Este “alerta” seria um choque para todos, não apenas pelo conteúdo do aviso, mas também por sua origem.
O mundo civilizado enfrentaria um pequeno “choque do Banido”.
“Isso é um grande evento,” Tyrian quebrou o silêncio. “Não precisamos nos preocupar com as igrejas. Elas sempre foram perspicazes e profissionais ao lidar com crises transcendentais e certamente darão a devida importância. Mas a situação nas cidades-estado é complexa, e duvido que todos consigam estabelecer um mecanismo de alerta eficaz.”
“Antes disso, vamos considerar quantas pessoas tratarão este ‘alerta’ corretamente,” a voz de Lucretia veio da esfera de cristal. “Neste mundo, há inúmeros avisos sobre o ‘Apocalipse’, e a maioria vem daqueles cultistas delirantes. Agora, o Banido de repente começa a alertar o mundo inteiro. Francamente… a primeira reação de muitas pessoas provavelmente será semelhante à que têm ao lidar com os cultistas do apocalipse, se não pior…”
Do outro lado da mesa, Shirley resmungou baixinho: “Afinal, a fama precede…”
“Isso é problema deles”, Duncan olhou para Shirley sem expressão e balançou a cabeça. “A ‘fama’ do Banido é uma coisa boa. Mesmo que alguns não acreditem no conteúdo do alerta, eles pelo menos levarão o ‘alerta’ em si a sério — mesmo que seja por medo do Banido, eles se tornarão mais cautelosos, e isso é suficiente.”
“Entrarei em contato com a igreja o mais rápido possível”, Agatha assentiu, sua voz rouca e suave. “Acredito que o Santo Santuário da Morte tratará este aviso vindo do Banido com a mais alta prioridade.”
“Depois que as igrejas da Morte, do Mar Profundo e a Academia da Verdade receberem a notícia, os Portadores da Chama certamente também receberão”, Vanna também assentiu, acrescentando. “Vou confirmar isso diretamente com Sua Santidade, a Papisa.”
“Faz muito tempo que não me comunico com a Nau-Arca da Academia. Será uma boa oportunidade para colocar o papo em dia com velhos amigos”, disse Morris, tirando seu monóculo para limpá-lo. “Mas preciso preparar alguns unguentos e pós de ervas extras para o ritual. Não é fácil contatar a Nau-Arca da Academia do Mar Infinito.”
Ouvindo as palavras de Morris, outro assunto veio à mente de Duncan.
“Houve algum progresso na investigação que lhe pedi da última vez?” ele olhou para o grande acadêmico. “Aquele símbolo da cruz quebrada que os Pregadores do Fim carregam. Você encontrou a origem?”
“Lamento, ainda não há progresso,” disse Morris com um traço de desculpa no rosto. “Já escrevi muitas cartas para amigos acadêmicos que conheço e contatei várias universidades com as quais tenho boas relações, mas não encontrei nenhum registro relacionado a esse símbolo da cruz quebrada. Atualmente, só podemos confirmar que ‘pode’ ter aparecido em algumas ruínas arquitetônicas do antigo reino de Creta…”
“Entendo…” Duncan pareceu um pouco desapontado, mas sabia que investigar um símbolo misterioso com pouca informação era como procurar uma agulha num palheiro. Ele não insistiu no assunto e apenas disse casualmente: “Continue de olho nisso. Se houver algum progresso, me informe imediatamente.”
Morris imediatamente abaixou a cabeça: “Sim, capitão.”
Duncan assentiu com um “hum”, depois pensou brevemente para confirmar se havia algo mais a ser feito, antes de soltar um leve suspiro, levantar-se da mesa e olhar para todos os presentes.
“Então, a reunião de hoje termina aqui. A direção geral da ação foi definida. Se tiverem mais alguma dúvida, podem me procurar a qualquer momento.”
No final da mesa, Lawrence soltou um suspiro de alívio inconscientemente.
A reunião não tinha sido tão sinistra e aterrorizante quanto ele imaginara, nem estava cheia de rituais bizarros ou regras rígidas e sangrentas. Mesmo assim, o simples fato de estar ali, “sob a atenção constante do Capitão Duncan”, o deixava sob uma pressão considerável. Como o “novato” ali, ele esteve tenso o tempo todo. Agora, ele finalmente podia relaxar.
Mas, mal havia soltado metade do suspiro, ele notou que os outros ao redor da mesa não tinham a menor intenção de se levantar e sair. Pelo contrário, incluindo o venerável acadêmico Morris, a maioria parecia estar aguardando ansiosamente a próxima etapa.
‘A reunião ainda tem mais procedimentos?’
Assim que um pingo de dúvida surgiu na mente de Lawrence, ele ouviu a voz de Nina do outro lado: “Ah, finalmente terminamos de conversar. Hora de comer, hora de comer, estou com fome.”
“Hoje tem banquete! Banquete!” Shirley também gritou alegremente. “Hoje é dia de reunião, tem comida boa!”
“A sopa ainda está cozinhando na panela, bem na hora certa,” disse Alice, levantando-se. “Vou buscar o carrinho de comida~”
Lawrence observava a cena, completamente confuso, sem entender o que estava para acontecer. Ele se virou para olhar para Agatha, que estava mais próxima, e viu a mesma expressão de perplexidade no rosto dela.
Nesse momento, a voz de Duncan veio da cabeceira da longa mesa, respondendo às dúvidas de Lawrence e Agatha: “Terminamos os assuntos sérios. Vamos jantar juntos, é uma regra do navio.”
‘Terminar os assuntos sérios… e jantar juntos?’
Lawrence ouviu, atônito, pensando ter ouvido errado. Mas então ele viu a “boneca viva” realmente empurrando um grande carrinho de comida de volta para a cabine. O carrinho, um tanto velho, rangia enquanto se movia, e os muitos recipientes sobre ele continham comida… quente.
Lawrence observava, de queixo caído, enquanto Alice colocava a comida na mesa e Shirley e Nina corriam para ajudar a arrumar os pratos e talheres. Ele sentiu o aroma da comida — havia pão fresco, vegetais, frutas e carne.
Era comida normal, que ele reconhecia, que os humanos podiam comer.
Mas, de todos os aromas, o mais intenso vinha de uma tigela de sopa no final da longa mesa.
Uma sopa de peixe deliciosa, na qual pedaços de carne tenra, de espécie irreconhecível, estavam enrolados. O vapor subia dela, e na superfície tremeluzente da sopa, os pedaços de carne enrolada pareciam ainda ter um resquício de vida, tremendo e se contorcendo no vapor.
Mas, ao olhar mais de perto, o tremor e a convulsão pareciam nunca ter acontecido, como uma alucinação.
Lawrence se levantou sem perceber, seu olhar fixo na sopa de peixe. Ele não conseguia identificar a espécie do peixe, nem sentia nada de estranho na “comida”. No entanto, uma forte intuição martelava em seu coração, algo acumulado ao longo de décadas vagando pelo Mar Infinito, uma “reação de experiência” que permitia a ele, um “homem comum” sem talento espiritual, detectar certas coisas transcendentais.
Isso já fora algo extremamente perigoso, algo que poderia levar à morte, afundar navios de longo curso nas profundezas do mar, era…
“É peixe fresco,” disse Duncan com um sorriso para Lawrence e Agatha, que participavam da reunião pela primeira vez. “Pesquei hoje mesmo. Fui para um lugar bem distante da ilha principal de Geada para conseguir.”
‘Peixe? Pescado em águas longe das rotas seguras, longe do abrigo das ilhas?’
A mente de Lawrence ficou um pouco turva, e uma suposição assustadora surgiu em sua mente. Não muito longe, Morris assentiu amigavelmente para ele: “É exatamente o que você está pensando, Capitão Lawrence. Mas relaxe, este é um passo necessário para se juntar a nós. E você não precisa se preocupar, já é inofensivo. Neste navio, é realmente comida.”
Lawrence ouviu, confuso. Quando se deu conta, Alice já havia colocado uma tigela de sopa de peixe fumegante na mesa à sua frente.
No entanto, ao se aproximar de Agatha, Alice parou, um pouco confusa.
“Eu não posso comer,” disse Agatha com um leve embaraço no rosto. “Este corpo já é uma casca morta, não posso mais desfrutar de iguarias.”
“Não se preocupe,” disse Duncan, acenando com a mão generosamente. “Embora seja uma regra do navio, na prática, não é diferente de uma reunião normal. Quem pode comer, come um pouco. Quem não pode, conversar um pouco também fortalece os laços.”
Enquanto falava, ele se virou e olhou para a esfera de cristal na frente de Tyrian: “Lucretia, não se esqueça do seu jantar também.”
“Estou comendo, estou comendo,” respondeu Lucretia rapidamente. “A governanta me trouxe torta de maçã assada e torta de carne salgada!”
Duncan assentiu depois de ouvir, depois sorriu para os dois lados da longa mesa, pegou a taça de vinho ao seu lado e, como anfitrião, ergueu-a bem alto:
“Então, aos dias em que nos reunimos aqui—”
A leve tontura desapareceu gradualmente, e as chamas esverdeadas na borda de sua visão se dissiparam no ar. A brisa fresca e cortante do mar soprou pelo convés, trazendo um momento de clareza à sua mente.
A experiência de participar da reunião no Banido ainda parecia um sonho, pairando em sua mente com um toque de irrealidade.
Lawrence balançou a cabeça para se recompor, depois foi até a borda do convés e olhou para o mar que gradualmente mergulhava na noite.
A silhueta levemente brilhante do Banido ainda flutuava no mar, não muito longe do Carvalho Branco.
“…Realmente parece um sonho.”
Reunir-se em um navio fantasma misterioso, interagir com vários “personagens”, incluindo uma boneca viva, um fragmento de sol e um demônio abissal. Discutir os segredos dos deuses antigos e do apocalipse nas profundezas do Plano Espiritual e, em seguida, sob o olhar e o testemunho da Sombra do Subespaço, compartilhar a carne e o sangue de uma Prole do Mar Profundo.
Quando a reunião terminou, quando o vento do mundo real soprou novamente em seu rosto, quando a tensão e o entorpecimento em sua mente se dissiparam gradualmente e ele pôde novamente pensar com a racionalidade humana, quando as impressões relaxadas e estranhas da reunião se foram, Lawrence finalmente começou a perceber a “essência” do que acabara de acontecer.
Uma “compreensão” tardia o invadiu, mas ele não conseguia dizer exatamente o que sentia em seu coração.
Uma pessoa normal deveria sentir medo, deveria se sentir aterrorizada. No mínimo, ao lembrar do “peixe” que comeu, deveria sentir horror.
No entanto, ele não sentia nada.
Apenas uma estranha calma e um sentimento de pertencimento acalmavam seu coração ligeiramente agitado.
‘O peixe… estava delicioso…’
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