Índice de Capítulo

    O grupo de ex-escravos seguia Espectro pela mata adentro enquanto o sol começava a descer, tingindo o céu de laranja e púrpura. O ar úmido da tarde carregava o cheiro de terra molhada e o perfume doce de algumas flores noturnas. Os sons da floresta – o cricrilar dos insetos, o chamado distante de um sabiá – criavam uma trilha sonora para sua jornada. As pessoas conversavam em vozes animadas, mas ansiosas, entremeadas de risos contidos, antecipando o começo de suas novas vidas como quilombolas. Após uma caminhada não muito longa, emergiram da densa vegetação e começaram a avistar campos abertos e plantações organizadas. Um pouco mais adiante, surgiram as primeiras casas de barro com telhados de palha, simples, mas que pareciam sólidas e acolhedoras.

    Enquanto caminhavam, Tassi notou que, além de Espectro, outros guerreiros observavam o grupo à distância, suas silhuetas imponentes recortadas contra a vegetação. “É bom sinal”, pensou ela. “Cautela e precaução nunca são demais em tempos como estes.”

    Quanto mais avançavam, mais casas surgiam, agrupando-se cada vez mais próximas até que chegaram ao centro do mocambo. O ambiente era vivo: o cheiro de lenha queimando misturava-se ao aroma de comida cozida; pessoas conversavam em grupos ao redor de fogueiras; o som ritmado da capoeira ecoava de um canto, acompanhado por cantorias; crianças corriam e brincavam, suas risadas enchendo o ar. Ao avistar o grupo de recém-chegados, alguns quilombolas sorriam e acenavam, outros mostravam indiferença, e alguns poucos pareciam demonstrar um receio visível.

    “Parece um quilombo bem pequeno”, ponderou Carlos. “Ou talvez seja apenas um mocambo. Se não me engano, o maior quilombo que existiu, o Quilombo dos Palmares, chegou a abrigar vinte mil pessoas. Uma quantia considerável para a época. Mas não era uma cidade única, era um conjunto de várias comunidades menores, os mocambos, cada um com suas duas ou três mil pessoas. Tomara que aqui funcione da mesma forma, pois não há como se defender com tão pouca gente.”

    Enquanto se perdia em seus pensamentos, o grupo chegou a uma casa de barro notavelmente maior que as demais. Espectro virou-se para todos e, com uma voz grave que impunha respeito, anunciou:

    — Infelizmente, não temos casas suficientes para todos de imediato. Mas não se preocupem, poderão dormir no nosso centro de festividades, que está vazio no momento. Por hoje é só. Imagino que estejam todos exaustos. Descansem bem, pois amanhã alguém virá explicar como será a nova vida de vocês. Não sou o líder deste mocambo, portanto não me verão com frequência. Desejo a todos boa sorte.

    Vendo Espectro se afastar, muitos começaram a entrar na casa para descansar. Antes de entrar, Tassi notou que os guardas que o acompanhavam haviam ficado para trás, vigiando discretamente o novo grupo. “É esperado”, refletiu. “Devem temer que haja espiões entre nós.”

    Carlos, por sua vez, sentia o cansaço nos ossos, mas era a fome que mais falava alto. Aproveitaram para pegar boa quantidade de comida na casa do engenho, e ele finalmente podia se despedir da dieta monótona de feijão e farofa. Tia Vera, também enjoada de preparar sempre o mesmo, logo tratou de organizar uma refeição digna para todos: uma feijoada bem temperada, com arroz soltinho, carne de porco, uma salada verde e até um bolo que conseguira fazer na cozinha do senhor do engenho. Para que o bolo rendesse, porém, cada um recebeu uma fatia finíssima, quase transparente. Pedro, por sua vez, trouxera outra preciosidade: cachaça. Aproveitara todas as garrafas que encontrara e já começara a apreciá-las.

    Todos comeram até se satisfazer, e, apesar de dormirem no chão duro, o cansaço e a esperança pelo dia seguinte os fizeram adormecer facilmente.

    ───────◇───────◇───────

    Após deixar os novos integrantes, Espectro foi falar com Aqua, a líder do Mocambo do Tatu, onde os recém-chegados se instalaram.

    — Boa noite, Senhora Aqua. Chegaram várias pessoas da mata, cerca de quarenta. Escaparam de um engenho. Como o seu mocambo era o mais próximo e tinha um local para abrigá-los temporariamente, decidi deixá-los aqui. Claro, deixei guardas de olho.

    Aqua arregalou os olhos, surpresa.

    — Quarenta pessoas? É muita gente! São todos do mesmo lugar?

    Espectro manteve a postura impassível.

    — Não aprofundei muito nas perguntas, pois todos pareciam exaustos. Mas é realmente raro vir um grupo tão grande de uma vez. Fugir em pequenos grupos é mais fácil do que em multidão, ainda mais com idosos e crianças no meio. Para isso acontecer, ou conseguiram eliminar todos os perseguidores, ou nem os tiveram. Estou curioso para saber como conseguiram. Aposto que a líder é uma mulher. Ao vê-la, me lembrei um pouco de você quando era mais nova.

    Aqua exibiu um leve brilho de curiosidade no olhar.

    — Agora até eu fiquei curiosa para conhecê-la. Mas saiba que você nem me viu no meu auge.

    Espectro esboçou um pequeno sorriso.

    — Verdade. Quando nos conhecemos, você tinha uns quarenta anos, não era? De qualquer forma, é uma pena, mas tenho outros assuntos para resolver com Ganga Zala. Deixo a investigação com você. Depois me conta o que descobriu.

    Aqua assentiu.

    — Claro. Sempre gosto de receber mais pessoas. As coisas estavam muito monótonas por aqui.

    No dia seguinte, Aqua acordou com as primeiras luzes do alvorecer. Com a idade, aprendera a levantar cedo. Preparou algo simples para comer e saiu de casa. Naquele horário, poucas pessoas circulavam; apenas alguns agricultores, que haviam madrugado para começar o trabalho nos campos. O ar fresco da manhã trazia o orvalho e o canto dos galos.

    Após uma curta caminhada, chegou ao local onde os recém-chegados estavam alojados. Os guardas a cumprimentaram com respeito. A segurança em relação aos novatos era uma medida necessária. Agora que o governador da capitania de Pernambuco expulsara os holandeses, era questão de tempo até que voltasse sua atenção total para a destruição dos quilombos da região. Enquanto se recuperavam da guerra, porém, limitavam-se a enviar espiões. Houvera até uma tentativa de assassinato contra Ganga Zala. O governo prometia dinheiro, terras e liberdade a qualquer escravo que matasse Ganga ou fornecesse informações sobre o quilombo. Aqua não entendia como alguns poderiam trair seus próprios irmãos por promessas tão vazias.

    Ao entrar na casa de festividades, notou que a maioria já estava acordada e havia se alimentado. “Devem ter dormido cedo, devido ao cansaço da jornada”, pensou.

    — Bom dia a todos! Sou Aqua, chefe do Mocambo do Tatu. Vou explicar como será a vida de vocês daqui para frente. É simples: todo aquele que trabalhar com honestidade terá seu lugar no Quilombo da Jabuticaba. Cada um de vocês receberá um lote de terra para construir sua casa e cultivar seu sustento. Só precisam ceder o excedente de sua produção. Os homens mais jovens se tornarão guerreiros para defender o quilombo. Em caso de ataque, todos devem ajudar na defesa, inclusive as mulheres.

    Uma voz anônima surgiu do grupo:

    — Mas não tenho nem uma enxada para cultivar a terra! Como vou trabalhar na roça?

    Aqua, sem identificar quem falara, respondeu com calma. Esse tipo de questionamento era comum.

    — Não se preocupem. Vocês receberão as ferramentas necessárias. Há um poço próximo às suas terras para o abastecimento de água. E, claro, forneceremos comida até que suas primeiras colheitas estejam prontas. Ficarão aqui até terminarem suas próprias casas. Vocês mesmos as construirão. Há um rio nas proximidades de onde podem extrair o barro. E se não souberem lidar com a terra, ou precisarem de ajuda, é só me procurar.

    Ela fez uma pausa, seu tom tornando-se mais sério.

    — Infelizmente, ainda não podemos confiar plenamente em vocês. Por isso, não poderão circular livremente pelo quilombo nem sair dos limites de suas terras. Os jovens ainda não se integrarão como guerreiros, não até provarem sua confiança. Saibam que o quilombo não tolera desonestidade ou preguiça. Quem for pego nisso voltará a ser escravo, trabalhando num canavial para produzir cachaça para as festas dos honestos. Crimes mais graves terão como punição a morte. Os guardas os vigiarão por, pelo menos, um mês. Após esse período, poderão circular com mais liberdade, mas as regras e punições permanecem.

    Ao ouvir isso, Carlos refletiu, surpreso: “Então realmente há escravos no quilombo… Espero que sejam apenas criminosos, e não pessoas honestas.”

    Aqua continuou:

    — Serão aceitos mais rapidamente se tiverem habilidades especiais: domínio de gemas mágicas, conhecimentos de carpintaria, ferraria ou táticas militares.

    “O teste não é infalível”, ponderou Aqua, “mas é melhor do que aceitar todos incondicionalmente. Não podemos desperdiçar guardas vigiando-os eternamente. O acordo é justo, e este grupo tem sorte: o terreno que receberão é fértil, próximo à montanha, o que facilitará o cultivo.”

    Ao observá-los, Aqua lembrou-se de quando fundara o quilombo. Como princesa no Congo, trouxera contribuições valiosas – experiência militar e administrativa. Quando chegou, o quilombo mal tinha duas mil pessoas; agora, abrigava dez vezes mais. O caminho não fora fácil, cheio de lutas. Encontrar um lar seguro demandara esforço: um local fértil, escondido na mata e nas montanhas. Tiveram sorte nisso, e ainda por cima havia uma mina de gemas mágicas nas proximidades. Uma pena não terem um artesão mágico para talhá-las adequadamente, mas mesmo no estado bruto, algumas gemas podiam ser úteis.

    Após explicar o funcionamento do quilombo, Aqua quis ouvir a história da fuga. Escapar em um grupo tão grande exigia organização e bons guerreiros – algo de que o quilombo sempre precisava, especialmente se soubessem usar gemas mágicas. Por enquanto, nenhum deles poderia se tornar guerreiro, mas isso era uma questão de tempo.

    Aqua concluiu:

    — Então, é assim que viverão. Mas agora quero saber de vocês: como conseguiram escapar do engenho? Há um líder que possa me contar os detalhes?

    “Aquela mulher com a marca ‘F’ na testa deve ser de quem Espectro falou”, pensou. “Parece até mais durona do que eu era. Certamente é a líder.”

    Para sua surpresa, porém, quem se adiantou não foi a mulher, mas um homem que não parecia ser o mais forte do grupo. E sua história a deixou pasma. Aquele homem, chamado Carlos, com pouca ajuda ou organização, conseguira matar quase todos os capatazes graças a seus “artefatos do diabo”. A história era difícil de crer. Aqua voltou-se para a mulher com a marca na testa, perguntando se era verdade. A mulher, e outros ao redor, confirmaram. Se fosse verdade, representava um problema: não podia permitir que estranhos com armas tão poderosas circulassem livremente pelo quilombo.

    — Infelizmente, não podemos permitir que você ande livremente com elas. Um guarda ficará de olho em você a todo momento, mas será algo temporário, até que confiemos em você.

    Carlos não se opôs.

    — Nesse caso, posso lhes entregar as armas temporariamente, até que confiem em mim. Aliás, gostaria de demonstrar o poder delas. Acho que seriam úteis para a defesa do quilombo. Com os materiais certos e mão de obra, posso até fabricar mais.

    Isso surpreendeu Aqua. “O quê? Vai nos deixar ficar com elas? Que pessoa generosa. Se essas ‘armas de fogo’ forem realmente tão poderosas, Espectro ficará feliz. Temos os guerreiros, mas faltam armas mágicas. Embora ele tenha dito que a arma não é mágica… então por que tem ‘fogo’ no nome? Pensei que usasse uma gema de fogo.”

    — Agradeço pela cooperação. Nesse caso, levarei as armas e conversarei com Espectro sobre o assunto. Depois falo com você.

    Em seguida, Aqua entregou as armas a um guerreiro próximo e levou o grupo para o terreno que lhes cabia.

    ───────◇───────◇───────

    O local designado era cercado pela mata fechada, com uma montanha imponente ao fundo. O ar carregava o cheiro doce de terra revolvida e o aroma acre de vegetação cortada. A vegetação rasteira chegava aos joelhos, e era visível o trabalho hercúleo que teriam pela frente. Ao redor, o som ritmado de enxadas cortando o solo se misturava aos chamados animados dos outros trabalhadores. Mas ninguém se deixou abater; pelo contrário, a empolgação de possuir sua própria terra fez com que muitos começassem a trabalhar imediatamente, seus rostos brilhando de suor mas também de esperança.

    Só Carlos permanecia à margem, desanimado, chutando uma pedra com o pé.

    “Então é aqui que vamos morar”, pensou, observando o trabalho árduo ao redor. “Não sei nada sobre agricultura. Prefiro a vida na cidade. Adorava visitar o sítio dos meus avós quando era criança – nadar no rio gelado, colher frutas maduras direto do pé, brincar com os animais. Mas trabalhar de sol a sol é outra história.” 

    Seus olhos percorreram o terreno acidentado enquanto uma gota de suor escorria por sua têmpora. “Tomara que a Senhora Aqua considere minha proposta. Quanto mais rápido me aceitarem, mais cedo poderei colocar em prática o conhecimento dos livros que peguei do velho.”

    Enquanto se perdia em pensamentos, Tassi aproximou-se, movendo-se com graça entre os torrões de terra recém-revolvida. Seus pés descalços afundavam levemente no solo úmido, e ela carregava o cheiro misto de suor fresco e terra.

    — Você é bem diferente — disse ela, parando ao seu lado e seguindo seu olhar perdido. Seus dedos tocaram levemente a marca na testa, um gesto que parecia involuntário. — Não sei se teria entregado aquelas armas tão facilmente. Eu teria esperado um pouco mais, sido mais… cautelosa.

    Carlos suspirou, sentindo o cansaço nos ossos. Seus dedos tamborilaram na coxa, um ritmo nervoso.

    — Não é como se eu tivesse muita escolha — respondeu, sua voz carregada de uma fadiga que ia além do físico.

     — Se este Brasil for como o do meu mundo, a escravidão ainda durará séculos, e todos os quilombos grandes serão destruídos até lá.  — Ele fechou os olhos por um momento, como se visse algo doloroso nas próprias pálpebras.

     — Por isso, vou ajudar qualquer um que lute contra um sistema assim. Pelo futuro e pelo presente.

    Tassi assentiu lentamente, seus olhos verdes refletindo uma compreensão amarga. Ela cruzou os braços, e Carlos notou como seus músculos estavam tensos.

    — Entendo — disse ela, sua voz mais suave agora. — Também planejo lutar. Entrarei no exército deles para defender o quilombo. — Ela fez uma pausa, e quando continuou, havia uma sombra em seu tom: 

    — Antes, lutei para que meu reino capturasse mais pessoas para escravizar aqui. Agora… quero lutar para libertá-las. — Seus dedos se apertaram contra seus próprios braços. — Só acho que você poderia ter sido mais cauteloso com as armas.

    Carlos observou uma família trabalhando junta mais adiante – o pai cortando a vegetação, a mãe amontoando os galhos, as crianças menores carregando água em cabaças. Um sorriso triste tocou seus lábios.

    — Sabe — disse ele, voltando-se para Tassi —, você tem uma mira excelente. Aquela pedrada na cabeça do Jairo foi precisa, calculada. — Seu tom tornou-se mais leve, quase descontraído: — Acho que, quando conseguir fabricar as armas, a primeira será sua.

    Tassi arregalou os olhos, sua postura rígida relaxando um pouco. Um suspiro de genuína surpresa escapou de seus lábios.

    — Espera — ela inclinou-se para frente, seus olhos verdes agora brilhando com interesse renovado —, você consegue mesmo fazer mais armas como aquelas?

    Carlos balançou a cabeça, um sorriso cansado surgindo em seu rosto. Ele pegou um punhado de terra, deixando-a escorrer entre seus dedos.

    — Como aquelas? Impossível. — Explicou, esfregando a terra das mãos. — Mas posso fazer armas mais rudimentares, como mosquetes de pederneira. Mesmo assim, seriam bem melhores que qualquer arco. — Seu olhar tornou-se distante, calculista: — Mas será difícil fabricá-las, embora no meu mundo já as produzissem nesta época.

    Isso não diminuiu o entusiasmo de Tassi. Seus olhos brilharam como gemas verdes sob o sol da manhã.

    — Mesmo rudimentares, serão muito úteis! — ela exclamou, seu rosto antes sério agora iluminado por um sorriso raro. — Fiquei impressionada que você saiba fazê-las. Julguei você mal, admito.

    Carlos olhou profundamente para seus olhos verdes antes de responder. O som das enxadas ao fundo parecia marcar o ritmo de suas palavras.

    — Saber, eu não sei de cor — confessou, baixando a voz como se compartilhasse um segredo. — Mas tenho os livros do velho do engenho. Um deles explica como as primeiras armas de fogo e a pólvora foram feitas. — Ele encolheu os ombros, um gesto quase despreocupado que contrastava com a seriedade de suas palavras: — Não sei quanto tempo levará, mas é possível.

    Tassi sorriu, um sorriso verdadeiro que pela primeira vez alcançou seus olhos. O som de sua risada suave misturou-se ao canto dos pássaros na mata próxima.

    — Entendo — disse ela, estudando seu rosto com renovado interesse. — Você é mais competente do que parece. — Seu sorriso tornou-se um pouco malicioso: — A propósito, a chefe do mocambo não parecia acreditar na sua história. Nem a culpo – você não tem cara de quem começa rebeliões. — Ela fez uma pausa dramática, seus olhos cintilando: 

    — Ela não tirava os olhos de mim. Mas basta você demonstrar o poder das armas, e a opinião deles mudará rapidamente. Vão deixar você produzi-las num piscar de olhos.

    Carlos pensou, desanimado: “Por acaso tenho cara de fracote assim?” Seus ombros se curvaram ligeiramente sob o peso da percepção alheia.

    E, ainda cabisbaixo, disse, chutando outra pedrinha:

    — Esse é o plano. É uma pena que a munição não seja infinita, mas vale a pena gastar um pouco para ganhar apoio do quilombo.

    Tassi concordou, seu olhar seguindo o voo de um beija-flor sobre as plantas. Por um momento, ela pareceu mais jovem, menos carregada pelo peso de seu passado.

    — Sim — ela concordou, puxando uma folha de um arbusto próximo e torcendo-a entre os dedos. — É uma pena que não possamos conseguir mais com o comerciante. — Ela cheirou a folha antes de continuar, sua voz carregada de curiosidade genuína: — A propósito, queria saber como ele conseguiu tantos ‘artefatos do diabo’. Eles são extremamente raros. Eu mesma nunca tinha visto um antes de chegar ao Brasil. — Seus dedos ainda brincavam com a folha, um hábito nervoso: — Acho que mesmo na Europa são raríssimos. Só no Novo Mundo que são mais comuns.

    Carlos ficou surpreso, seus olhos se arregalando. Ele parou de chutar pedras e virou-se completamente para ela.

    — Sério? — perguntou, seu interesse genuíno apagando momentaneamente sua desanimação anterior. — E por que seriam mais comuns aqui?

    Tassi não tinha uma resposta. Ela jogou a folha amassada no chão, um gesto de frustração suave, e encolheu os ombros, seu rosto assumindo uma expressão pensativa.

    — Vai saber… — sussurrou, seus olhos perdendo-se na linha do horizonte, onde a montanha encontrava o céu.

    Curiosidade: Alguns linguistas afirmam que o Quilombo de Palmares tinha um dialeto próprio, que tinha português como base com muitas influência do banto e de mais linguas africanas e indigenas, há até mesmo relatos históricos de portugueses levando interpretes para falar com os quilombolas. Apesar do Quilombo da Jabuticaba ser inspirado no Quilombo de Palmares, não irei usar um dialeto para a região, tanto para ficar mais fácil para escrever quanto para ler.

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