Capítulo 33 - Novo chefe do Mocambo da Montanha
Depois de muito tempo finalmente o protótipo de arma de fogo estava pronto. Carlos e Tassi estavam indo a Ferreira pegar a nova arma, enquanto conversavam.
— Sabe não espere muito da nova arma, foi inspirada no mosquete Brown Bass do meu mundo, não tem uma boa precisão a partir de 100 metros, mesmo até 50 metros só é útil se várias pessoas estiverem armadas, formando uma linha de balas, a principal vantagem dessa arma é que é mais fácil de fazer e pode ser feita com ferro forjado, o ideal seria ter mais ferreiros a produzindo.
Carlos olhou para Tassi e notou a cara pensativa que estava fazendo.
“Bom, não é do meu mundo e não deve entender que para uma guerra quantidade é melhor que qualidade.” Isso que Carlos pensava até ela falar:
— Então, basicamente, é mais fácil de fazê-la e usa materiais mais baratos, por isso dá pra fazer mais armas para mais guerreiros.
Isso o deixou: — Isso mesmo, não acredito que pegou o conceito tão rápido.
“Quando se trata de armas e guerra, pega as coisas facilmente.”
Conversaram mais um pouco até chegarem na oficina, quando iam entrar, Nia estava saindo e os dois quase se baterem de frente, mas assim que notaram que iam se bater, deram um passo para trás, Nia surpresa e animada disse:
— Estava indo entregar isso a vocês agora, a arma de vocês está pronta!
Ema mostrou a arma que estava carregando, era igualzinho aos mosquetes dos filmes, e tinha uma beleza de certa forma aos olhos de Nia.
— Finalmente! — Disse Carlos animado. — Vamos logo avisar Aqua, e depois preparámos os testes de demonstração, assim que Espectro ver isso vou pedir para todos os ferreiros do quilombo para ficarem continuamente fazendo mais armas. Também tenho uma idéia para você melhorar a velocidade do processo de fabricação dessa arma, em vez de você fazer todo o processo sozinha, acho que seria mais útil se cada aprendiz focasse em apenas uma peça, e fizesse apenas ela.
— Humm, talvez seja mais rápido assim, posso testar, mas teria que ter mais aprendizes.
— Vou pedir Aqua para te dar mais aprendizes.
Nia então a arma para e disse:
— Obrigada, tenho mais um pedido a fazer, queria ver como é usada a minha arma, sei que é como um arco, mas melhor. afinal usa aquela pólvora super potente.
Tassi olhou animada e disse: — A gente adoraria que você viesse, até porque a gente precisa de uma adepta da gema do fogo para testar outra arma nova, e essa arma eu inventei vendo como dava para usar a gema de fogo para acender a pólvora.
Carlos pensou consigo mesmo: “Você apenas foi mais rápida em dar a idéia mas eu já estava pensando nisso, vou deixar ficar com o crédito, afinal foi bem perspicaz da parte dela em pensar nessa nova arma.”
— Oh, e qual seria essa nova arma?
— Vamos testá-la junto com esse mosquete, se tudo der certo vamos fazer a demonstração dessas armas amanhã.
───────◇───────◇───────
No dia seguinte todos estavam reunidos onde foram feitos os demais testes, na planície de tocos, mas logo teriam que arranjar outro lugar de testes pois havia algumas pessoas que estavam trabalhando nas oficinas para produção de pólvora, por cona disso tiveram que ir para um canto perto da floresta mais isolado, Tassi havia preparado várias árvores com tronco no formato de pessoas e cabelo de folhas, seriam usados como alvos para as armas novas.
“Até que esses tocos realmente parecem com pessoas, alguns tem até caras, aquele é o Jairo, o outro é o Jorge, as demais não reconheço, tem até uma que parece uma mulher de cabelo curto, pera, não é a Nia…”
Carlos deixou os tocos de lado e foi olhando ao redor e viu que o grupo que estava observando as armas dessa vez era maior, além de Aqua e Espectro tinha mais umas sete pessoas e vários guarda, nem pensou muito sobre isso afinal deveria ser alguns dos outros chefes de mocambos, apenas começou a explicar naturalmente como funcionava o mosquete.
— A utilização dessa arma é bem simples, com alguns meses de treinamento mesmo um fazendeiro pode matar um guerreiro bem treinando. Basicamente você coloca a pólvora e munição, mira e puxa o gatilho que ative a pederneira que é feita com a pirita gerando uma faísca que acende a pólvora que explode lançando a bala a uma velocidade suficiente para atravessar uma pessoa em até 100 metros de distância, mas a precisão disso é bem baixa. Tassi vai demonstrar como o processo do carregamento é feito.
Pegou a arma colocou-a na vertical com a coronha no chão, pegou um cartucho feito com folha de milho que enrolavam uma quantidade de pólvora e uma bala, para abrir o cartucho a mordeu a parte de trás, colocou um pouco da pólvora na caçoleta para dar a ignição, abaixou o frizzen que era uma tampa de metal para proteger a pólvora da caçoleta, pegou o resto da pólvora e colocou no cano, depois pôs a bola de chumbo que estava com uma folha de milho seca grudada nela, pegou um palito e empurro a bala até o fim.
Depois de fazer tudo isso mirou e atirou num alvo de madeira há 80 metros de distância, a bala perfurou o alvo sem problemas nenhum, afinal o alvo era oco então não foi muito difícil fazer isso, e seria mais fácil ainda atravessar carne e vísceras de um corpo humano.
Ao verem tal cena os espectadores ficaram animados e foram até o alvo inspecionar, apenas Aqua e Espectro que não estavam tão impressionados, afinal já viram armas bem mais potentes que estas.
— No momento estamos produzindo poucas armas, mas se colocarmos todos os ferreiros do quilombo fazendo-as e usando método de produção em meu mundo, acho que podemos fazer cinco por mês, e se darem mais assistentes aos ferreiros poderemos fazer mais ainda.
Os outros chefes que não conheciam o poder dessas armas ficaram ainda mais impressionados, a recarga era mesmo demorada, mas até o inimigo vir correndo mais perto, já teria levado vários tiros.
Carlos esperou todos voltarem a seus lugares então pegou uma esfera redonda de argila endurecida com uma gema de fogo tampado o topo e disse:
— A Tassi teve uma idéia de outra forma que poderíamos usar a pólvora, ajudei-a projetar essa arma pois me lembrou o nome de uma arma de meu mundo, uma granada. — Ao ouvir isso, Tassi se sentiu bem orgulhosa, mas não demonstrou.
— Porém esta é uma arma diferente da arma do meu mundo pois requer um adepto de gema de fogo para ativá-la mas seu uso é bem simples, por isso nomeamos essa arma como granada mágica. Nia vai demonstrar como usá-la, já que pode usar gemas de fogo.
Nia pegou a granada mágica, usou seu poder mágico na gema, algo simples como isso não requeria muito poder mágico, poderia facilmente ficar o dia todo usando seu poder mágico nas granadas por conta disso, tornando uma arma de guerra ideal.
Após colocar seu poder mágico a gema se ativaria depois de 10 segundos, Carlos havia definido o tempo, não sabia o que era exatamente um segundo, mas tinha noção de quanto tempo era. Após a ativação, não perdeu muito tempo e jogou a granada com toda sua força em direção a uns três alvos de madeira que estavam a vários metros de distância. Carlos aprendeu com o teste anterior, por isso entre eles é a área de teste da granda havia uma muro de terra feita por Tassi.
A granada colidiu no chão e chegou aos pés de um dos alvos, os outros dois estavam mais afastados, não estavam mais longe do que 5 metros, depois de poucos segundos explodiu pegando de surpresa as pessoas que não viram o uso da pólvora em primeira mão.
Assim que a fumaça parou de subir deu para ver os estragos feitos pela granada, o primeiro alvo de madeira foi completamente destruído, sobrando apenas algumas raízes no chão para contar a história, já os outros dois foram alvejados por detritos que estavam dentro da granada, um deles estavam sem os dois braço o outro estava cheio de buracos no peito. Todos ficaram espantados com a potência de algo tão pequeno, do tamanho de uma laranja.
Aqua e Espectro mantiveram seus rostos calmos por fora apenas sorrindo para Fernando e Malik que não conseguiam esconder a surpresa de seus rostos. Com isso entenderam o potencial dessas armas, guerreiros serviam apenas para fazer números em uma guerra, quem decidia mesmo os rumos de uma guerra eram os guerreiros que podiam usar magia, por conta disso o quilombo sempre estava em desvantagem. O governador podia pagar mercenários que eram aptos tanto em guerra e no uso de armas mágicas, além de poder comprar gemas mágicas, mas com essas armas qualquer um poderia ser tão forte quanto um adepto de magia, talvez até mais, além disso, os adeptos da gema de fogo poderiam ser dez vezes mais perigosos graças a essas granadas. Não havia nada em que Melik e Fernando poderiam criticar, logo Fernando olhou para Ganga Zala que estava entre eles e disse:
— Ganga, vou pedir para o ferreiro que está em meu quilombo vir para o mocambo da Aqua para aprender a fazer está arma.
Melik se recuperou do choque e falou o mesmo pelo rei, seguido por todos os outros chefes. Espectro imaginou que isso aconteceria afinal Fernando e Melik não eram chefes ruins, o quilombo não tinha como manter algo como nobres incompetentes, já que o quilombo era constantemente atacado, todos que estavam ali eram competentes que ou foram escolhidos pelo próprio povo ou o rei viu competência neles, ninguém tinha uma linhagem real, com exceção de Aqua e Ganga Zala.
Fernando e Melik aliás eram os mais competentes na visão de Espectro, justamente porque sempre pensavam bem nós prós e contras de cada decisão independente se quem tivesse dito isso, mesmo o Ganga seria alvo de críticas deles, afinal mesmo sendo o líder do quilombo, não tinha como manter puxa sacos inúteis ao seu lado.
O Rei Ganga disse para os chefes: — Podem seguir com esse plano, mas vocês não irão mandar para o mocambo da Aqua, eles virão aqui somente para aprender depois voltarão ao seus próprios mocambos.
Ganga Zala olhou para Carlos e disse:
— De hoje em diante você será o chefe deste mocambo, você irá tomar o lugar da Aqua, irá planejar a melhor forma de desenvolver e aumentar a produção dessas armas, todo ferreiro, artesão, morador e guarda deste mocambo irá te servir e ouvir, e você por sua vez irá me obedecer e servir ao povo do Quilombo da Jabuticaba e a mim.
Carlos ficou surpreso que Ganga Zala estava dentre o grupo de pessoas que estava observando os testes, não havia nenhum ornamento nem nada que indicasse que era o líder do quilombo, apenas parecia um homem de quarenta anos comum, apesar da aparência comum, a forma como falava indicava poder, todos ficavam quieto o ouvindo falar, além disso notou que em nenhum momento de sua fala, disse que tinha outra opção senão aceitar ser o chefe do mocambo, mas isso não o incomodava, pois precisava de mais poder para mudar este mundo, e ser chefe do mocambo significava ter mais poder.
Se ajoelhou e disse: — Com todo prazer vossa majestade, lhe servirei até a morte.
Como não sabia muito bem o que fazer então apenas copiou algo que lembrou de uma série que viu que se passava no período medieval.
O Ganga Zala sorriu e disse: — Por hoje é só, continue com o bom trabalho no Mocambo do Tatu, espero grandes coisas de você.
Ganga e os demais chefes saíram e Carlos se levantou, quando olhou em volta e viu os olhares surpresos de Tassi, Quixotina e Nia, aproveitando a surpresa delas se virou para Nia e disse:
— Talvez um dia vire rei Nia, então poderia te fazer a minha quinta esposa se quiser.
Nia ficou com um rosto de assustada o que o fez ficar confuso pensando: “Será que foi uma hora errada para fazer uma piada?”
Mas logo descobriu o motivo dela ter feito essa cara, uma voz veio de trás dizendo.
— Sabe, isso poderia ser considerado traição, afinal você está querendo tomar o lugar do rei, poderia cortar sua cabeça aqui e agora.
Carlos lentamente olhou para trás só para ver Espectro olhando para com cara de bravo, na hora seu sangue gelou e ficou horrorizado. Por sorte Espectro começou a rir dizendo:
— Estava apenas brincando, sei que você fez uma piada para irritar a Nia, a conheço a tempos a gente veio junto para esse quilombo, então até imagino que houve, te pediu para ser o quinto marido dela não é mesmo?
Bem soube o que responder, apenas disse: — Sim. — Com uma voz bem rouca.
Espectro riu mais ainda, suspirou e ficou com uma cara séria novamente e disse: — Bom apenas voltei porque quero pedir que me dê uma cesta cheia de granadas até o fim do mês, agora você vai ter bastante pessoal em suas mãos então pode mandar mais gente para trabalhar na produção de pólvora. Também quero as armas que você produzir.
Carlos ainda suando frio apenas disse: — Claro. — E ouviu outro riso, mas dessa vez foi da Nia que riu da cara dele, logo Tassi e Quixotina riram também, afinal parecia que Carlos tinha cagado nas calças de tanto medo.
Depois de entregar sua mensagem Espectro se virou e começou a andar rumo a seu quilombo na volta viu o pessoal trabalhando na oficina de pólvora, nisso parou olhou para trás vendo Carlos e seu grupo indo embora e falou baixinho consigo mesmo:
— Se você continuar trabalhando bem assim, ser o novo ganga não é um sonho impossível, Zala acha que pode ser como um ganga da nossa terra ou um rei europeu, com poder absoluto, e com súditos leais, infelizmente, nenhum chefe é leal a ele, somos leais ao quilombo, e o quilombo não precisa de um rei absoluto e covarde.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.