Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    ‘Um pássaro?’

    Duncan de fato tinha ponderado por onde deveria começar a explicar a verdade sobre a “Grande Aniquilação” e a situação atual da Era do Mar Profundo. Afinal, a colisão de mundos e a “incompatibilidade” eram conceitos tão abstratos que nem todos conseguiriam compreendê-los em pouco tempo. No entanto, ele jamais imaginou que Luen iniciaria o assunto com um passarinho de aparência comum.

    Ele ergueu a cabeça e notou que Morris, ao seu lado, exibia uma expressão pensativa desde o momento em que viu o “Pássaro do Louco”.

    Enquanto isso, sob os olhares curiosos, Luen colocou o pássaro sobre a mesa à sua frente. Sua voz era calma e clara, como a de um tutor paciente em uma sala de aula, decifrando a verdade suprema deste mundo para os bispos presentes.

    “O pardal-do-mar de bico curto e penas pretas, possivelmente uma das aves mais antigas e amplamente distribuídas do mundo. Eles habitam as seguras costas das cidades-estado e também as ilhas remotas e perigosas em alto-mar. Exploradores já encontraram vestígios da sobrevivência desses passarinhos até mesmo em áreas marítimas aterrorizantes, classificadas como ‘Fenômenos’… Mas, do ponto de vista da estrutura fisiológica e dos hábitos de vida, o pardal-do-mar de bico curto e penas pretas não tem nada de especial. É apenas uma espécie de ave com grande vitalidade, e nada mais.

    “Até que, em 1723, alguns acadêmicos propuseram uma ideia muito interessante, ou talvez, criativa: como seria o ‘universo’ aos olhos dos animais que vivem neste mundo conosco, mas que possuem formas de percepção diferentes das nossas?

    “Quem primeiro propôs essa ideia foi o renomado acadêmico da Academia da Verdade, Haipa Strohm. O pensamento surgiu subitamente enquanto ele brincava com seu cão de estimação. Ao olhar nos olhos do seu amado cão, ele de repente pensou na diferente estrutura ocular e cerebral do animal em comparação com a dos humanos. Ele imaginou que um sistema sensorial tão particular certamente perceberia e compreenderia o ambiente de uma maneira maravilhosa e distinta da humana. Quando essa curiosidade se tornou forte demais para ser contida, ele projetou o famoso ‘Experimento de Haipa’.

    “Com a ajuda de uma série de complexas técnicas místicas, ele conectou seus sentidos aos de um animal. O primeiro teste foi realizado entre ele e seu cão de estimação.

    “O primeiro experimento falhou. O cão quase morreu durante o processo. Exames posteriores revelaram que o cão sofreu uma imensa pressão mental no instante em que a conexão foi estabelecida, algo que excedia completamente o limite de tolerância de um animal.

    “Então, Haipa Strohm projetou um segundo teste. Desta vez, ele decidiu escolher uma criatura um pouco mais ‘inferior’, com uma estrutura cerebral mais simples. Ele precisava apenas compartilhar a percepção dessa criatura, sem desejar que ela, por ter um cérebro demasiadamente complexo, não suportasse a pressão e morresse prematuramente no experimento. O escolhido… foi o pardal-do-mar de bico curto e penas pretas.”

    “Numa tarde de agosto de 1726, Haipa Strohm concluiu todos os preparativos. Ele colocou o passarinho em uma gaiola especial, permitindo que a ave visse o céu lá fora, enquanto ele se deitava em uma cama de laboratório ao lado da gaiola. O ritual começou.

    “Uma hora depois, Haipa Strohm morreu. Gritos aterrorizantes e um estranho zumbido estilhaçaram todas as janelas do laboratório. A alma do acadêmico, ao entrar em colapso no momento da morte, provocou um uivo no Plano Espiritual. Doze assistentes e aprendizes sofreram traumas nesse incidente.

    “Comparado a muitos outros acidentes experimentais ou desastres transcendentais com consequências mais graves, os danos pessoais causados pelo ‘Incidente de Haipa’ não foram, de fato, tão severos. No entanto, certas… ‘verdades’ arrepiantes reveladas neste acidente experimental deixaram uma sombra duradoura na comunidade acadêmica. Tanto que, desde aquele experimento, qualquer tentativa de estabelecer um compartilhamento de percepção entre espécies diferentes foi classificada como um tabu absoluto.

    “Eis a ‘verdade’ revelada naquele acidente experimental.”

    Enquanto falava, Luen tirou algo de dentro de seu manto — parecia ser apenas uma folha de papel dobrada, de aparência comum.

    Ele desdobrou o papel, e um denso padrão de figuras apareceu diante dos olhos de Duncan.

    “Ao lado do corpo de Haipa, encontraram um registro que havia sido arrancado. Quando o corpo foi descoberto, estava severamente distorcido, com a carne e o sangue transformados em uma forma aterrorizante, como se tivesse sido contaminado por um deus antigo. E este registro estava firmemente agarrado na mão direita do acadêmico, a única parte que ainda mantinha a forma humana. Os investigadores concluíram que deveria ser algo que o acadêmico desenhou apressadamente, contando com sua última centelha de razão enquanto mergulhava rapidamente na loucura…

    “Fiquem tranquilos, esta é apenas uma ‘cópia’ transcrita dos arquivos. A parte contaminante foi removida, todos podem olhar com segurança.”

    Luen ergueu o papel, mostrando-o a todos no salão.

    ‘O que é aquilo? O que Haipa Strohm viu exatamente antes de morrer?’

    Para ser sincero, nem mesmo Duncan conseguia associar aquelas linhas abstratas e caóticas com o “Experimento de Haipa” descrito por Luen. Ele via apenas um amontoado de linhas curvas que pareciam ter sido desenhadas em um espasmo de loucura, com sombras trêmulas cobrindo uma série de padrões geométricos inexplicáveis. Inúmeras estruturas que se assemelhavam a olhos ou a vazios bizarros se espalhavam pelo papel. A primeira impressão… era de estranheza e caos.

    O salão mergulhou em silêncio. O “Incidente de Haipa” não era um segredo, mas nem todos conheciam os detalhes desse campo de especialização como os acadêmicos. Muitos dos bispos das igrejas do Mar Profundo, da Morte e dos Portadores da Chama estavam, de fato, ouvindo esses pormenores pela primeira vez, e as partes estranhas e suspeitas do incidente levaram todos a uma profunda reflexão.

    “Isto é o que Haipa Strohm viu através dos ‘sentidos compartilhados’ no momento de sua morte,” a voz de Luen ressoou no salão silencioso. “O que vocês estão vendo é o ‘mundo’ aos olhos do pardal-do-mar de bico curto e penas pretas. Esta massa de curvas empilhadas e aparentemente trêmulas na borda… é o próprio Haipa Strohm.”

    Imediatamente, um zumbido de discussões se espalhou. Os bispos sentados nas bordas do salão conversavam em voz baixa, e alguns olhavam com espanto ou reflexão para a ave marinha negra, de aparência comum, que ainda estava sobre a mesa.

    O “Pássaro do Louco” pareceu assustado. Saltitou e bateu as asas dentro da gaiola, emitindo uma série de gritos agudos e estridentes.

    Luen cobriu a gaiola novamente com o pano preto.

    “Isto é o que aconteceu em nosso mundo no passado, e o que continua a acontecer na ‘essência fundamental’ de todas as coisas até hoje,” disse ele, erguendo a cabeça e passando um olhar calmo pelo salão. “A natureza da ‘contaminação’ origina-se da ‘incompatibilidade’ de todas as coisas. Um objeto em nossa perspectiva, sob outra perspectiva, ou melhor, sob outro conjunto de ‘regras’, torna-se uma contaminação e uma erosão letais…”

    No tempo que se seguiu, Luen narrou tudo o que viu nas profundezas do Sonho do Inominado.

    Sobre a natureza da Grande Aniquilação, a verdade sobre a colisão dos mundos, as razões por trás dos muitos fenômenos de contaminação e erosão na Era do Mar Profundo, e os “conflitos eternos” que ainda permaneciam nas leis fundamentais do mundo.

    “… No dia em que a Grande Aniquilação ocorreu, muitos mundos ‘colidiram’ uns com os outros. Ainda não sabemos a causa dessa colisão, mas o resultado… foi um ‘Incidente de Haipa’ que abrangeu inúmeras civilizações, raças e mundos. Nessa colisão, cada mundo foi o ‘Pássaro do Louco’ um do outro, cada um foi o ‘Haipa Strohm’ do outro. Na perspectiva das ‘regras fundamentais do mundo’, uma contaminação indescritível corroeu e distorceu todas as coisas, toda a ordem antiga se desfez, e os sobreviventes…”

    Luen fez uma pausa, levantou-se lentamente e olhou para cada pessoa presente.

    “Nós, e tudo ao nosso redor, e até mesmo toda a Era do Mar Profundo, somos o grito final de ‘Haipa Strohm’ no momento de sua morte. E esse grito, que ainda ecoa, está agora perto do fim.”

    O ancião suspirou suavemente e sentou-se de volta em seu lugar.

    “Eu terminei. Alguém mais precisa acrescentar algo?”

    Dizendo isso, seu olhar pousou em Duncan, do outro lado da mesa.

    “Você foi muito completo”, disse Duncan. “Sobre a Grande Aniquilação, isso é tudo o que sabemos por enquanto. Vamos falar sobre os deuses agora. As conjecturas sobre a natureza dos deuses e o que vocês têm feito recentemente, é isso que mais me interessa.”

    Os bispos ao redor pareceram se agitar um pouco novamente. Os quatro papas sentados do outro lado da mesa trocaram um breve olhar depois que Duncan terminou de falar. Logo, a agitação se acalmou, e o “Papa dos Portadores da Chama”, vestido com um manto simples, de pele cinza-esbranquiçada como rocha e estatura imponente, assentiu levemente.

    “A julgar pelas pistas existentes, os deuses devem representar os indivíduos poderosos ou especiais que restaram após a destruição de vários mundos na Grande Aniquilação. Como um ‘núcleo carbonizado’ após a queima, carregando… o crepúsculo de um mundo.”

    Frem falou com uma voz grave, enquanto erguia a mão para traçar o contorno do emblema dos Portadores da Chama em seu peito, como se estivesse se penitenciando por seu ato audacioso de “julgar os deuses” naquele momento. Mas ele continuou.

    “… A Grande Aniquilação destruiu tudo do mundo antigo. Estritamente falando, nem os deuses sobreviveram àquele desastre. E sobre este ponto… na verdade, nós já tínhamos percebido isso há muito tempo.”

    Ao ouvir as palavras de Frem, Duncan arregalou ligeiramente os olhos. “Vocês já tinham percebido antes disso?”

    Ao mesmo tempo, ele notou a expressão de espanto que surgiu instantaneamente nos rostos de Morris e Vanna ao seu lado. Claramente, mesmo sendo Santos, era a primeira vez que ouviam tais palavras da boca de um papa.

    Era um “segredo” limitado ao interior da “Arca de Peregrinação”!

    Frem assentiu levemente.

    “Sim, nós já tínhamos percebido. Só que, até agora, não sabíamos a razão de tudo isso.

    “Os deuses estão mortos e já começaram a entrar na ‘fase de decomposição’… Mas apenas alguns altos escalões da igreja que patrulham a fronteira com a Arca de Peregrinação sabem dessa verdade. E a outra verdade é…”

    Frem fez uma pequena pausa, ergueu a cabeça e fixou os olhos em Duncan.

    “O nascimento da Arca de Peregrinação foi para retardar a ‘decomposição’ dos deuses. E hoje, esse ‘retardo’ basicamente atingiu seu limite.

    “A ‘impureza’ gerada pela decomposição dos deuses… está prestes a se infiltrar no mundo mortal.”

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