Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    A Arca de Peregrinação — desde o dia em que viu essas “naus gigantescas”, semelhantes a pequenas cidades-estado, e desde que soube que essas colossais embarcações realizavam uma “peregrinação” contínua no mar, Duncan começou a ter dúvidas sobre essas criações espantosas.

    O que a Arca de Peregrinação realmente significava? Sua peculiar “peregrinação”… seria apenas uma “patrulha”?

    As pessoas nas cidades-estado costumavam dizer que a Arca de Peregrinação representava o poder dos Quatro Deuses, que eram o símbolo da força militar máxima da igreja e, ao mesmo tempo, os “palácios itinerantes” dos quatro deuses justos no mundo mortal. A igreja ordenava que as Arcas patrulhassem o Mar Infinito para intimidar os hereges e proteger as cidades-estado da contaminação por alguma existência maliciosa do Subespaço. No início, Duncan não questionou essa explicação, mas à medida que seu contato com a igreja dos Quatro Deuses aumentava, especialmente depois de saber mais e mais segredos sobre a igreja através de Vanna, Morris e Agatha, ele descobriu pontos suspeitos.

    Os responsáveis por combater os hereges e as entidades malignas eram, na verdade, os Inquisidores e os sistemas de guardas de cada cidade-estado. Os encarregados de interceptar hereges no mar e resgatar navegantes eram as frotas regulares da igreja dos Quatro Deuses. Os que vigiavam a contaminação do Subespaço e fortaleciam as defesas da cidade-estado eram os sinos das catedrais, as orações dos bispos e o rigorosamente planejado sistema de catedrais e torres sineiras. As quatro majestosas Arcas de Peregrinação… na verdade, nunca participavam de nenhum assunto relacionado ao mundo mortal.

    Elas passavam três quartos do ano patrulhando rotas de navegação secretas, invisíveis e imensuráveis para o mundo mortal, parecendo situar-se nas fendas da dimensão da realidade, longe de qualquer cidade. No tempo restante, elas se revezavam patrulhando perto da “Cortina Eterna” na fronteira, mantendo apenas uma comunicação mínima com as frotas da fronteira da igreja, sem interagir com nenhuma cidade-estado — e até mesmo evitavam deliberadamente as frotas de patrulha das cidades-estado da fronteira.

    Apenas em ocasiões extremamente raras essas Arcas atracavam em uma cidade-estado, como após um grande evento como o sol negro de Pland. Só então elas apareciam diante dos olhos do mundo.

    Fora isso, essas Arcas não tinham mais nenhum contato com o mundo mortal. Mesmo dentro das quatro grandes igrejas, elas sempre estiveram envoltas em uma névoa de mistério. A grande maioria dos sacerdotes jamais teria a oportunidade de pisar em uma Arca de Peregrinação em toda a sua vida. Apenas os escolhidos listados como “Santos” eram qualificados para serem levados a bordo de uma Arca durante seu período de aprendizado, mas só podiam se mover em áreas designadas e, após completarem o estudo e o treinamento necessários, eram enviados de volta à sua cidade de origem. Esses “Santos”, do início ao fim, nunca tinham a chance de tocar nos verdadeiros segredos da Arca.

    Todas essas pistas indicavam que a própria existência da “Arca de Peregrinação” estava repleta de enormes suspeitas — seu verdadeiro propósito sempre foi ocultado.

    Agora, Duncan finalmente tinha a resposta.

    “… As quatro Arcas de Peregrinação atuais foram construídas há algumas décadas. E antes que essas ‘naus gigantescas’ fossem colocadas em uso, as quatro grandes igrejas na verdade tinham uma geração anterior de ‘Arcas’, mas elas não podiam ser comparadas com as quatro naus-catedrais de hoje…”

    A voz de Frem era grave, suas palavras pareciam fluir da rocha, carregando uma calma que instintivamente relaxava e convencia.

    “A geração anterior de ‘Arcas’ da igreja era, na verdade, apenas alguns grandes navios. Naquela época, elas ainda faziam parte da frota de patrulha marítima do Santo Ofício, um braço da força armada, não tão misteriosas como hoje, nem tão… isoladas do mundo mortal.

    “As ‘naus-catedrais’ de hoje, no entanto, são algo de outro nível. Em vez de dizer que são quatro ‘grandes navios’… estritamente falando, elas são mais como quatro ‘Pontos de Ancoragem’, usados para ancorar a sanidade dos deuses em um certo ‘ponto de equilíbrio’ fora do mundo mortal.”

    Duncan não falou, apenas olhou para o outro lado com uma expressão séria e atenta. Ele sabia que as explicações de Frem eram dirigidas especificamente a ele, e que os outros papas e bispos presentes nesta assembleia, todos vindos da Arca de Peregrinação, eram evidentemente “conhecedores” da verdade.

    “… Quem exatamente foi o primeiro a perceber a verdade… é impossível de verificar. Foi uma série de ‘revelações’ e ‘inspirações’. Ouvimos a verdade sussurrada em nossas preces, vimos a escuridão e a decomposição se acumularem nas visões trazidas pelo incenso. Nossas almas sentiram, mais de uma vez, a ‘atração’ vinda de fora do mundo. Os deuses levaram nossos pensamentos a um lugar caótico e vasto, nos permitindo ver Suas mortes e a escuridão… E durante esse processo, a conexão entre os sacerdotes do mundo mortal e os Quatro Deuses começou a sofrer interrupções frequentes… Isso foi por volta de 1822.”

    Frem fez uma breve pausa aqui, e Lucretia, sentada não muito longe à direita de Duncan, pareceu de repente se lembrar de algo: “1822… o ‘Incidente do Silêncio de Porto Frio’?!”

    “Sim, o Incidente do Silêncio de Porto Frio — é muito famoso, mas na verdade foi apenas um microcosmo, um reflexo que restou de uma série de situações que se agravaram, um caso que não pôde ser completamente resolvido e por isso deixou sua marca.”

    Quem respondeu não foi Frem, mas Banster, sentado ao lado dele. A voz deste Papa da Morte, envolto em um manto negro, era um tanto rouca, e seu rosto envelhecido estava pálido como o de um morto.

    “Todos os sacerdotes da cidade-estado perderam subitamente o contato com o Deus da Morte, Bartok. Durante vinte e quatro horas de ‘silêncio’, eles ouviram em suas mentes um uivo e um rugido vazios, aterrorizantes e contínuos, que apenas eles podiam ouvir. Depois, sangue podre fluiu do ‘Santuário’, e o arcebispo da cidade-estado morreu como mártir, derretendo-se no sangue podre para proteger a grande catedral. As estatísticas posteriores mostraram que um total de dezessete sacerdotes morreram como mártires durante o ‘silêncio’, e outros setenta e sete caíram em loucura permanente, suas mentes desmoronando por terem testemunhado coisas de fora do mundo real…”

    “E, segundo meu julgamento, nos vinte anos seguintes, o incidente do ‘silêncio’ continuou a ter um impacto duradouro. A perda temporária do poder protetor da divindade enfraqueceu a defesa dimensional da realidade na região do Mar Gélido. As influências do Subespaço, das Profundezas Abissais e do Plano Espiritual se aproveitaram da brecha. Centradas em Porto Frio, o número de ‘Psíquicos Natos’ nascidos nas cidades-estado do Mar Gélido durante esse período foi quase a soma de todas as outras cidades-estado do mundo.”

    Banster parou e voltou seu olhar para Luen.

    “Sim, como Banster disse, o Incidente do Silêncio de Porto Frio em 1822 foi apenas um microcosmo”, Luen assentiu. “A situação real é que, por um período considerável de tempo, em todo o Mar Infinito, a conexão com os deuses tornou-se difícil, e até mesmo… perigosa. As orações diárias frequentemente ficavam sem resposta, mas uma situação pior era receber ‘respostas’ que não deveriam ser recebidas. A proteção sobre as cidades-estado estava enfraquecendo, e os incidentes estranhos durante as viagens oceânicas aumentaram. Em repetidas revelações e visões… finalmente confirmamos o terrível ‘estado’ dos deuses.”

    O salão ficou em silêncio.

    Os deuses estavam mortos — Duncan sabia disso, seus seguidores também sabiam, os quatro papas e os bispos da Arca de Peregrinação também sabiam. Mas quando o assunto foi trazido à tona abertamente, quando todas as informações e os eventos passados foram expostos e ligados à Grande Aniquilação, uma estranha atmosfera de opressão inevitavelmente se espalhou pelo local.

    “… Então, vocês construíram as enormes Arcas de Peregrinação para fortalecer a conexão com os deuses e retardar o processo de ‘decomposição’ Deles…” Duncan quebrou o silêncio. “Não estou interessado no ‘princípio’ exato desse processo. Só quero saber, qual foi o nível de ‘eficácia’ das suas ações? Realmente funcionou? Frem disse agora há pouco que o efeito de ‘retardo’ da Arca atingiu seu limite. O que isso significa?”

    “Funcionou, pelo menos no início”, Helena assentiu. “A Arca é o Ponto de Ancoragem dos deuses, e a ‘morte’ dos deuses é um processo longo e complexo. Estritamente falando, o processo de morte em si não pode ser interrompido — é tão irreversível quanto o funcionamento das leis do mundo. Mas a existência do ‘Ponto de Ancoragem’ pode, pelo menos, manter os deuses em um estado relativamente estável até que ‘desapareçam’ completamente. E de acordo com nossas estimativas iniciais… deveria ter funcionado por pelo menos alguns séculos, talvez até mais de mil anos.

    “Nossa ideia inicial era que, se tivéssemos um ‘período de amortecimento’ tão longo, talvez tivéssemos a chance de encontrar outras maneiras de retardar ainda mais o processo de decomposição dos deuses, ou até mesmo encontrar… encontrar…”

    Helena parou de repente, como se certas palavras fossem difíceis de dizer, como se, mesmo que ela e os outros papas já tivessem agido nesse sentido, ela ainda não estivesse disposta a admitir certos “fatos”.

    Luen, Banster e Frem também ficaram em silêncio, com expressões complexas.

    Ao lado de Duncan, Lucretia franziu a testa em confusão. Nina e Shirley não conseguiram esconder a curiosidade em seus rostos. Morris abriu a boca como se fosse dizer algo, mas hesitou e se calou.

    Um som suave e etéreo de ondas do mar surgiu nos ouvidos de Duncan, e sussurros indistintos pareciam murmurar para ele por trás de uma espessa cortina. Ele teve um momento de transe e olhou para a mesa à sua frente.

    Uma leve marca de água apareceu na mesa e desapareceu rapidamente.

    Ele olhou para a marca de água, depois ergueu a cabeça e olhou para Helena do outro lado.

    “Encontrar substitutos, não é?”

    Helena arregalou os olhos, olhando para Duncan com espanto.

    Duncan, no entanto, apenas balançou a cabeça, sem dar explicações. Após alguns segundos de silêncio, ele disse em voz baixa e pensativa: “… Mas só se passaram algumas décadas, o que está muito, muito longe dos ‘vários séculos’ que vocês esperavam.”

    “Sim, a situação se deteriorou mais rápido do que imaginávamos”, disse Banster com sua voz rouca e sombria. “Nós pensávamos que o ‘estado de equilíbrio’ atual dos deuses poderia durar talvez mil anos, mas o poder da decomposição e da decadência já começou a invadir o mundo inteiro. A ‘peregrinação’ da Arca, que inicialmente visava fortalecer a conexão dos deuses com o mundo mortal, agora nos ocupa metade do tempo tentando ‘filtrar’ a contaminação que Eles emitem em seu processo de decomposição…”

    “Isso nos… entristece profundamente.”

    Banster terminou suas palavras com um suspiro.

    Duncan, após um momento de reflexão, quebrou o silêncio: “Então, vocês tomaram novas medidas — aquelas frotas reunidas na região da fronteira?”

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