Capítulo 43 - Conhecido
O guarda caminhava rápido, e Carlos com Quixotina precisavam quase correr para acompanhá-lo. O ar úmido da mata grudava suas roupas na pele. Tassi, que observava o treinamento à distância, viu a movimentação apressada e, movida por uma curiosidade súbita, decidiu segui-los. O pequeno grupo atravessou as trilhas bem cuidadas do mocambo até chegar à sua borda, onde a clareira se encontrava com a muralha verde da floresta.
Lá, a cena era tensa. Espectro, imponente e com o rosto talhado em linhas severas, estava cercado por mais cinco guardas, suas lanças formando uma coroa de aço pontiagudo voltada para um único homem. O sujeito era baixinho, gordinho e tremia como uma vara de bambu sob uma tempestade. Seus olhos, bem abertos de pavor, saltavam de um rosto hostil para outro, mas ele ainda tentava, com esforço visível, manter a postura.
O cheiro de suor frio e medo agria o ar. Assim que Espectro avistou Carlos e sua comitiva, sua expressão não se abrandou.
— Carlos! — sua voz ecoou, cortante. — Este homem invadiu o quilombo alegando ser conhecido teu. Disse que tem algo de extrema importância para discutir contigo, e apenas contigo.
Carlos e Tassi trocaram um olhar de reconhecimento instantâneo. Era o mesmo ambulante, aquele vendedor de cara esperançosa e roupas empoeiradas que frequentava o engenho.
Um sorriso irônico se desenhou nos lábios de Carlos.
— Ora, ora, senhor comerciante! Não me diga que aceitou meu convite para vir fazer comércio conosco aqui no quilombo.
Espectro cruzou os braços, e seu olhar era uma lança por si só.
— Por acaso, andou espalhando a localização deste lugar para todo mundo, Carlos? Mesmo sendo um dos nossos chefes, não posso deixar uma brecha de segurança dessas passar.
Carlos balançou a cabeça, negando com veemência.
— Jamais, Espectro. Foi no dia da nossa libertação. Convidei-o de brincadeira, num tom sarcástico, para vir vender suas tralhas aqui. Nunca, em mil anos, imaginei que ele levaria a sério.
Tassi interveio, sua voz um bálsamo de calma no ambiente carregado. Colocou-se ao lado de Carlos, seu olhar sereno avaliando o comerciante aterrorizado.
— Não se preocupe, Chefe Espectro. Nós o conhecemos do tempo do engenho. Foi este homem quem nos entregou as armas que garantiram nossa liberdade, assim como nos vendia os livros que agora usávamos para aprender. Ele nunca nos olhou com desdém, nem maltratou nenhum de nós. Claro, dentro dos limites do engenho… fora dali, não posso jurar.
O homem, Francisco, engasgou. Suas mãos trêmulas se ergueram em sinal de rendição, e sua voz saiu rouca e quebrada.
— Eu… eu juro! Nunca fiz mal a ninguém! Sou apenas um humilde comerciante! Estou aqui apenas… apenas para entregar uma carta ao Carlos! A Papisa ouviu falar dos seus conhecimentos e gostaria de conversar!
Espectro não baixou a guarda. Com um movimento rápido e fluido, a ponta de sua lança parou a um palmo do peito de Francisco, que, com um ganido, se encolheu no chão, cubrindo a cabeça com os braços.
— Você tem a sorte de ter quem te reconheça! — rosnou Espectro. — Espero que cada uma de suas palavras seja verdade! Se não for, sua vida termina aqui, neste instante!
— É verdade! Eu juro por tudo! — a voz de Francisco era um fio de terror.
Lentamente, com movimentos hesitantes que denunciavam cada nervo à flor da pele, Francisco tirou um envelope amassado do bolso interno de seu casaco. Ao se levantar, algumas gotas de suor escorreram de sua testa e caíram sobre o papel, deixando pequenas manchas escuras. Ele estendeu a carta para Espectro.
O chefe guerreiro pegou o documento, seus dedos experientes examinando o selo de cera vermelha. Ele virou o papel, pressionou o selo com o polegar e, aparentemente satisfeito com a autenticidade, repassou-o a Carlos.
Carlos quebrou o selo com um estalido seco e desdobrou a carta. Seus olhos percorreram as linhas iniciais, repletas de uma pompa e autoelogios intermináveis.
“Vossa Mercê, Carlos,”
“Saúde e Paz em Nosso Senhor.”
“Dirijo-me a vós pela mão da Santa Igreja, Eu, a Papisa, Eleita pelo Divino Espírito, Mãe dos Pobres e Refúgio dos Oprimidos, aquela a quem foi revelado, por Graça insondável, o mistério da Gema da Alteração e os segredos mais profundos da Criação…”
Ele percorreu parágrafos e mais parágrafos de autocelebração. “Aparentemente, humildade não é uma virtude que acompanha a santidade,” pensou Carlos, impaciente. Finalmente, chegou ao cerne da questão.
“Em minha infinita misericórdia e sábio entendimento das leis dos homens e de Deus, compreendemos que a luta pela liberdade é um anseio justo da alma. Contudo, o ato de ceifar uma vida, ainda que de um tirano ímpio como o senhor do engenho Jorge e seus capatazes, mancha a alma com o pecado mortal do homicídio. Vós cometestes este grave erro, Carlos, e tal ação não passa despercebida aos Olhos que Tudo Vêem.”
“Todavia, aos olhos de mim, a Santa da Igreja, nenhum pecado é tão grande que não possa ser expiado por um coração verdadeiramente arrependido e por atos de contrição concretos. Vossa redenção é possível se canalizardes vossa força para combater as verdadeiras mazelas que assolam este mundo.”
“Foi através de um dom intelectual a mim concedido – um entendimento tão vasto que decifra tanto os desígnios de Deus quanto as artimanhas do Adversário – que descobri a verdadeira origem das pestes e moléstias: criaturas chamadas vírus e bactérias. Este conhecimento, paradoxalmente, foi iluminado pelo estudo de livros profanos, de origem diabólica, que tomei para mim a fim de converter sua malícia em utilidade para a humanidade.”
“É aqui que reside vossa oportunidade de absolvição. Se possuís, ou vierdes a possuir, quaisquer livros ou escritos do diabo que versem sobre tais assuntos – seja sobre estas criaturas, sobre vacinas, sobre as doenças que provocam ou os mistérios do corpo humano –, a vossa entrega imediata à Igreja será tomada como um poderoso ato de contrição. Qualquer outro conhecimento relacionado a estes temas será de imenso valor para nossa sagrada missão de curar os enfermos.”
“Sabei que vossas contribuições não serão em vão. A Santa Igreja sabe recompensar aqueles que andam em seu caminho. As armas que adquiristes através de Francisco provieram de nossos arsenais, e muitos mais artefatos de defesa podem ser vossos, fortalecendo vossa causa justa, na medida exata de vossa cooperação e devoção. Além do suporte marcial, minha influência e conselho estarão à vossa disposição para guiar vossos passos.”
“Que a Luz Divina ilumine o vosso caminho de volta à graça.”
“Sob a Minha Mão e Selo,”
“A Papisa, Mãe dos Pobres,”
“Serva dos Servos de Deus.”
Ao terminar a leitura, Carlos não pôde conter um sorriso, que rapidamente se transformou numa risada aberta e sincera.
— Ha, ha, ha! Isto é… perfeito! Se conseguirmos a ajuda da Igreja, seria um avanço imenso!
Tassi, cuja curiosidade estava transbordando, inclinou-se para a frente.
— O que está escrito, Carlos? O que te deixou tão animado assim?
— A Igreja está disposta a nos ajudar! — ele explicou, ainda com os olhos brilhantes. — Em troca de conhecimentos do meu mundo! E eles têm mais armas, Tassi, muito mais!
Nesse momento, a expressão de Espectro fechou-se por completo. Seu rosto era uma máscara de desaprovação.
— Negativo! — a palavra saiu como um golpe. — Não podemos deixar o inimigo conhecer nossos trunfos. Até entendo que a Papisa possa ser uma santa, e acredito na bondade que pregam. Mas ela faz parte da mesma instituição que apoia e se beneficia da escravização do nosso povo! Temos de lembrar dos seus contatos com os europeus e as capitanias.
A resposta não abalou o ânimo de Carlos, que manteve o sorriso.
— Nem tudo do meu mundo envolve armas, Espectro. Veja só, a Papisa está interessada em doenças e vacinas. Eu sei sobre isso, e conheço invenções que poderiam ajudá-la tremendamente…
“Aliás,” pensou ele, a expressão ficando mais séria por um instante, “ela obteve essas informações dos tais ‘livros do diabo’. Só espero que seja a única pessoa usando esse conhecimento… Será que é de meu mundo? Não, se fosse, não estaria perguntando coisas tão básicas. Mas se houver mais alguém que consiga decifrar e aplicar o que está nesses livros… Isso poderia se tornar um problema colossal.”
Espectro ainda estava irredutível, seu corpo tenso.
— Isso ainda é fortalecer o inimigo!
Carlos manteve a calma, seu tom era persuasivo, não confrontador.
— E você acredita que uma pessoa, apenas por ser branca, mereça morrer de doença? Eu não acredito nisso. É por isso que devemos espalhar esses conhecimentos, Espectro. Mesmo aqui no mocambo, estou exigindo que todos lavem as mãos com sabão antes de comer no restaurante. Imagine poder espalhar isso pelo mundo com a ajuda da Igreja? Poderíamos diminuir o sofrimento de milhares, prevenir epidemias.
Espectro soltou um suspiro profundo, e um pouco da rigidez saiu de seus ombros.
— Te entendo, Carlos, de coração entendo. Mas mesmo assim, uma decisão desta magnitude não pode ser tomada só por nós dois. Temos de levar isso a Ganga Zala e aos demais chefes do conselho.
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Dentro da Serra da Vitória, o ar era pesado e solene. Carlos sentava-se atrás de uma longa mesa de madeira maciça, no lugar que outrora fora de Aqua. À sua volta, estavam os outros chefes dos mocambos, seus rostos iluminados pela luz tremula de tochas fixadas nas paredes de pedra. No centro da sala, à frente da mesa, Ganga Zala ocupava uma cadeira mais alta, como um trono rústico, sua presença dominando todo o ambiente.
“Não acredito que vou ter que falar na frente de tanta gente importante,” pensou Carlos, sentindo um frio na barriga. “Não sirvo para isso… Meu lugar é mexendo com papelada, não num tribunal de chefes.”
Enquanto ele se perdia em seus pensamentos ansiosos, Espectro concluía sua explanação clara e objetiva sobre os eventos.
— …Em resumo, este intruso é um conhecido de Carlos. E, como puderam ver pela carta, ele traz uma proposta de cooperação da Igreja, condicionada ao compartilhamento de conhecimentos do outro mundo. Eu chequei o selo da carta e é da papisa mesmo. No momento, Carlos é a favor de aceitarmos tal proposta.
Espectro virou o olhar para Carlos, passando-lhe a palavra. Engoliu seco e ergueu-se, sentindo o peso de todos os olhares sobre ele.
— Nem todo o conhecimento que trago do meu mundo é militar — começou ele, forçando sua voz a parecer mais firme do que se sentia. — Coisas como a prevenção de doenças e o controle de pragas seriam inestimáveis se fossem difundidas. A Papisa Paula tem as conexões para fazer isso acontecer. Além disso, através dela, poderíamos estabelecer um canal oficial para vender os produtos do meu mocambo, como as roupas, e comprar ferro em maior escala para nossa produção de armas. Seria muito mais eficiente do que o nosso atual sistema de escambo com os agricultores vizinhos.
Ele fez uma pausa, deixando as palavras assentarem.
— Pensei em pedir que ela envie comerciantes credenciados até nós. Poderíamos montar um ponto de comércio num local seguro, a meio caminho entre o quilombo e a Cidade Sagrada. Assim, venderíamos nossas roupas e compraríamos não apenas ferro, mas outras necessidades. Sem contar que a Igreja possui armas de fogo modernas, muito superiores às que produzimos aqui. Infelizmente, acho prematuro pedir isso logo de início. Precisamos primeiro conquistar sua confiança com trocas menores.
Quase imediatamente, o Chefe Malik deixou transparecer seu descontentamento. Seu rosto era uma nuvem carregada.
— Isso deixaria a localização do quilombo clara como água! — protestou, batendo o dedo indicador na mesa.
Carlos balançou a cabeça, sua argumentação era tranquila.
— Não precisamos fazer o comércio aqui dentro, Malik. Como disse, podemos escolher um ponto neutro. O risco, se bem administrado, é mínimo perto dos lucros que teríamos. Com a venda das roupas, conseguiremos muito mais ferro para forjar mais armas para todos nós.
Malik suspirou, claramente não totalmente convencido.
— E eu não acho que essa tal Papisa seja de confiança. E se compartilharmos os conhecimentos e não ganharmos nada em troca? Ficaremos com a boca cheia de dentes e as mãos vazias.
Carlos manteve a serenidade.
— Não vou compartilhar tudo de uma vez, é claro. Será um processo, um conhecimento de cada vez. Se ela quiser mais, terá de honrar sua parte do acordo e nos fornecer o que foi prometido.
Foi então que Espectro interveio, acrescentando uma nova camada de informação.
— Um dos nossos espiões na Cidade Sagrada nos informou que a Papisa já inventou algo chamado ‘vacina’. Algo que impede as pessoas de pegarem varíola. O povo anda pelas ruas celebrando o nome da santa—
Carlos não pôde conter-se e o interrompeu, seus olhos arregalados de incredulidade.
— Vacinas?! Como é possível? — sua voz soou um tanto aguda. — Pode me dar detalhes, Espectro? Como exatamente é aplicada essa vacina?
“Quando li a carta, achei que ela tinha apenas l sobre vacinas, não que as tivesse fabricado!” pensou, alarmado.
Espectro, surpreso pela reação, recuperou-se rapidamente.
— Nosso homem tomou a tal vacina. Disse que fizeram um pequeno risco em sua pele e aplicaram um líquido extraído de feridas de vacas. Alertaram-no que poderia ter febre e algumas manchas, resultado da varíola bovina, mas que se recuperaria e, depois disso, estaria imune à varíola.
Ao ouvir a descrição, Carlos soltou um longo e aliviado suspiro.
— Ufa! É a vacina de Jenner… ainda rudimentar, mas o princípio está correto. Cheguei a temer que estivessem aplicando vacinas modernas ou, pior ainda, praticando a variolização, que é muito mais perigosa. Se fosse o caso, significaria um domínio tecnológico muito questionável. O método que foi descrito é seguro e eficaz.
A mesa inteira ficou em silêncio, olhares confusos se cruzando. Carlos percebeu a necessidade de explicar.
— Perdoem minha falta de educação. Fiquei momentaneamente preocupado que estivessem usando um método arcaico e perigoso, que envolve material da própria varíola humana. Isso mostraria que não compreendem plenamente o princípio da imunização. O fato de usarem o vírus da varíola bovina, que é muito mais brando, demonstra que já decifraram e aplicaram corretamente um conhecimento vital.
— No entanto — continuou, dirigindo-se novamente a Espectro —, conseguir replicar mesmo essa vacina já é um feito e tanto. A Igreja deve estar guardando ciosamente os tais ‘livros do diabo’ e decifrando-os aos poucos.
— Acho prudente colocarmos mais espiões para investigar que outras tecnologias a Igreja já domina. Ainda assim, mantenho que o acordo é vantajoso. Não perderemos nada compartilhando conhecimentos básicos de saúde.
— E que conhecimentos, exatamente, você considera ‘básicos’ e estaria disposto a disponibilizar? — perguntou o Chefe Fernando, esfregando o queixo pensativamente. — Tenho certeza de que, se pode compartilhar com eles, pode compartilhar conosco primeiro.
— Claro, sem problemas — Carlos assentiu. — Basicamente… — E ele mergulhou em uma explicação detalhada, descrevendo os princípios de higiene, a teoria microbiana de forma simplificada e outros conceitos de saúde pública que planejava incluir em sua resposta à Papisa.
O Chefe Malik ouviu atentamente, ponderando cada palavra. Finalmente, fez um aceno lento de cabeça.
— Não tenho objeções. Se não são conhecimentos que os ajudem diretamente na guerra, então não temos nada a perder compartilhando. E se, no processo, ganharmos um aliado influente, mesmo que apenas no comércio, ou no fornecimento de gemas de cura… seria um grande passo.
Maria, a única chefe mulher na reunião também mencionou outro ponto.
— Com a aproximação da igreja também poderemos ter acesso a remédios e curas melhores, um dia quem sabe poderemos recuperarmos os membros perdidos dos nossos guerreiros.
Os demais chefes pareciam chegar a um consenso silencioso, seus rostos mostrando aceitação cautelosa. Foi então que Ganga Zala bateu a palma da mão na mesa, produzindo um som seco que ecoou pela sala e trouxe um silêncio absoluto.
— Muito bem — disse o líder, seu olhar fixo em Carlos. — Caso este acordo dê certo, você repassará cinquenta por cento de todos os lucros para o quilombo. Estamos entendidos?
Carlos sentiu um frio percorrer sua espinha. A ordem era inquestionável.
— Sim, Ganga Zala — respondeu, sua voz um pouco mais fraca.
Um sorriso largo se abriu no rosto de Ganga, mas não chegava aos seus olhos.
— Que bom que estamos entendidos. No entanto, temos outra questão urgente a discutir. O ataque que o governador está planejando contra nós. Como progridem os nossos preparativos de defesa?
Espectro bateu o punho cerrado no peito, num gesto de determinação feroz.
— Ganga, tudo segue conforme o planejado. Estamos instalando mais armadilhas nos acessos ao quilombo. Nossos guerreiros treinam diariamente, e cada dia que passa os vejo mais fortes e disciplinados. Com as novas armas de pólvora, acredito que podemos aniquilar qualquer força invasora! Ainda não dominamos completamente essas armas, é verdade, mas Carlos tem partilhado conosco as táticas de seu mundo, e estou adaptando-as aos nossos treinamentos.
Ao ouvir o relatório, o líder do quilombo aquiesceu, satisfeito, e então voltou seu olhar penetrante para Carlos.
— Bom, bom… Falando nisso, Carlos. Você é realmente de outro mundo? — a pergunta saiu casual, mas o peso por trás dela era imenso. — Quando me relataram isso, cheguei a achar que estivessem zombando de mim. Você não estaria… inventando essa história, não é?
Apesar do medo que gelava suas veias, Carlos manteve a postura. Ergueu o queixo um pouco.
— Creio que a prática é o único critério da verdade, Ganga Zala. Posso falar o que quiser, mas muitos duvidarão. Por isso, peço apenas que observem. Vou trazer tantas mudanças, tantas inovações a este mundo, que chegará um ponto em que não haverá outra explicação possível para elas.
Ganga Zala prendeu o olhar nele. Segundos se arrastaram como horas na sala silenciosa. Até que, subitamente, o líder soltou uma risada profunda e reverberante.
— Ha, ha, ha! Tem razão, jovem. Tem toda a razão.
E com isso, a reunião foi oficialmente encerrada. Assim que Carlos pisou fora da Serra da Vitória, sob a luz do sol que agora parecia mais brilhante, ele soltou o ar que nem sabia estar preso em seus pulmões.
“Finalmente acabou,” pensou, passando uma mão pelo rosto. “Realmente não sirvo para isso… Mas cinquenta por cento dos lucros? O homem é um autêntico assaltante! O que ele fará com tanto dinheiro, se sou eu quem está bancando a defesa do quilombo? Mas não posso fazer nada… Esse rei inspira um medo danado e manda em tudo aqui. Apesar de que lembrei que no meu mundo, um dos reis de Palmares não teve um fim muito glorioso por contrariar a vontade do povo do quilombo… Mas, bom, isso é um problema para outro dia. Por enquanto, é só focar no trabalho…”

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