Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 766: "O Timoneiro"
A Anomalia 077 era a própria “rota” — o segredo crucial para a barreira externa, escondido desde o início nas profundezas de suas estranhas características como uma “Anomalia”!
No plano superior do Plano Espiritual, ao redor do Banido espelhado, o processo de colapso e reconstrução do mar continuava a se repetir. Paisagens de terras distantes e exóticas piscavam como uma imagem com mau contato diante dos olhos de Duncan e Agatha. A obsessão originada do Canção do Mar impulsionava incessantemente o navio, tentando guiar o Banido ao seu “destino”…
Contudo, dentro da Cortina Eterna, neste mar relativamente estável e fechado que era o Abrigo, o poder da Anomalia 077 simplesmente não podia funcionar corretamente — por isso a rota colapsava e se desalinhava repetidamente, acumulando uma força imensa nesse processo.
Se o Banido realmente realizasse uma transferência espacial, essa força encontraria uma válvula de escape na dimensão real, transformando-se em uma tempestade violenta.
Duncan ergueu o braço na direção do horizonte. Chamas se espalharam pela superfície do mar, incinerando o poder que poderia gerar uma tempestade, que se dissipou rapidamente em uma queima inofensiva.
Depois, ele interrompeu a “conexão” com Agatha e retornou diretamente à dimensão real.
O Marinheiro ainda estava diante do timão na plataforma de comando, agarrando firmemente a roda escura, com o corpo tão tenso que parecia prestes a estalar a qualquer momento. Ao notar o olhar do capitão se voltar para ele, disse imediatamente: “Capitão, veja bem, eu…”
Duncan assentiu. “Pode soltar.”
Mal a voz dele se calou, o Marinheiro na ponte de comando praticamente “saltou” para longe do timão, como se não estivesse segurando uma roda, mas um pedaço de magma incandescente. O cadáver correu em um piscar de olhos para o ponto mais distante da plataforma, agarrou-se à grade da borda e olhou nervosamente para os cabos e baldes próximos. De vez em quando, lançava um olhar para o timão que tinha acabado de segurar, com uma expressão de tensão e até mesmo de pavor.
Ver a Anomalia 077 tão tenso e na defensiva despertou em Duncan uma emoção complexa. Por alguma razão, ele se lembrou da figura de Kalani em meio à névoa caótica, da imagem borrada que ele tinha visto no mundo espelhado, segurando o timão na plataforma, e da longa e perdida viagem do Canção do Mar através do tempo deslocado…
O cadáver feio e encolhido se espremia no canto da ponte de comando, observando tudo ao redor com nervosismo. Nele, o “imediato” que tinha resistido até o fim na navegação perdida pelo tempo e espaço parecia ter se corroído completamente. O que restava era apenas o diário de bordo deixado pela capitã Kalani e a “rota” que já tinha se fundido a ele.
Duncan permaneceu em silêncio por um longo tempo, finalmente soltou um suspiro e caminhou em direção ao Marinheiro de olhar esquivo.
“Capitão, minha tarefa está cumprida, certo…?”, o Marinheiro perguntou cautelosamente, como se temesse que, por algum erro, tivesse que “assumir o timão” novamente.
“Por agora, sim”, respondeu Duncan, encarando os olhos do Marinheiro com uma expressão extremamente séria. “Mas isso foi apenas um teste. Depois que entrarmos nas profundezas da Cortina Eterna, precisarei que você assuma o timão de novo — oficialmente, até chegarmos ao lugar que o Canção do Mar uma vez alcançou.”
As profundas rugas no rosto do Marinheiro se contraíram. Ele instintivamente recuou, mas, com a grade às suas costas, não tinha para onde ir. No entanto, logo notou a seriedade no olhar de Duncan, o que o fez parar de recuar, hesitante.
“O Banido precisa da sua navegação”, disse Duncan em um tom notavelmente sincero. “Escute, você não perdeu a ‘rota’ deixada pela capitã Kalani. A rota está em você, você é a própria rota. Sua ‘habilidade’, os fenômenos transcendentais que você provoca, são na verdade o efeito dessa rota, e agora nós precisamos dela. Eu preciso da sua ajuda.”
O Marinheiro hesitou. Era a primeira vez que via o temível capitão fantasma daquela forma, e essa sinceridade era dirigida a ele, o que lhe causou uma indescritível… comoção, em meio ao seu desamparo. Era uma sensação que ele não sentia há muito tempo.
“Eu… consigo?”, murmurou o Marinheiro, sem ousar falar muito alto. “Este navio não é algo que qualquer um possa tocar. Sinto que ele vai me devorar se eu apenas encostar…”
“Você tem a qualificação para assumir o timão”, disse Duncan calmamente.
O Marinheiro pareceu um pouco surpreso, ficando perplexo com a afirmação.
“Sei que isso é uma grande pressão para você. Provavelmente não há muitas pessoas no mundo que se atreveriam a assumir o timão do Banido sem sentir nenhuma pressão psicológica. Mas você é o imediato do Canção do Mar, você completou uma longa jornada que mortais dificilmente poderiam imaginar. Você tem a qualificação para assumir o timão aqui”, Duncan fez uma pausa, depois assentiu com uma expressão solene. “Se você estiver disposto, eu, na qualidade de capitão do Banido, lhe concederei o posto de timoneiro durante a navegação na fronteira.”
Nesse ponto, ele parou de repente, como se tivesse pensado em algo, e acrescentou com muita seriedade: “Claro, você ainda pode recusar, sem se preocupar com as consequências. Eu pensarei em outras maneiras. Se quiser voltar para o Carvalho Branco agora, também pode.”
O Marinheiro ouvia, atônito. Ele já entendia a intenção do capitão, mas ainda precisava de um tempo para pensar — parecia haver muitas coisas sobre as quais hesitar.
Mas, depois de muito refletir, ele finalmente tomou uma decisão. Com um sorriso que beirava o macabro, ele assentiu lentamente: “Certo, então farei o meu melhor.”
No instante em que suas palavras terminaram, muitos sons sutis surgiram de todos os lados.
Os cabos perto da plataforma de comando sussurravam, os barris empilhados no convés de popa balançavam suavemente, as cordas esticadas nos mastros emitiam rangidos, e nas profundezas do casco, certas estruturas antigas e imensas pareciam murmurar algo em voz baixa.
Todos os sons gradualmente se uniram, como se fossem… aplausos e boas-vindas.
O Marinheiro ouvia os sons ao redor com surpresa, parecendo um pouco perdido e desorientado, mas aos poucos, pareceu entender tudo. A pele enrugada e esburacada em seu rosto de repente se suavizou. Ele sorriu, como há muito, muito tempo, no momento em que recebeu sua primeira promoção no Canção do Mar.
Duncan também sorriu. Ele estendeu a mão e deu um tapinha no ombro do Marinheiro: “Muito bem, basta fazer o seu melhor. Agora, volte e descanse. Ainda estamos longe do ponto de encontro na fronteira.”
O Marinheiro deixou a plataforma de comando, parecendo um pouco tonto enquanto caminhava pelo convés. Demorou um pouco para que sua figura cambaleante desaparecesse na escuridão da noite.
Duncan balançou a cabeça, desviando o olhar do convés central, e com o canto do olho viu a boneca agachada não muito longe.
Alice estava agachada na beirada da plataforma de comando, reclamando com um amontoado de cordas no chão: “Quando eu cheguei no navio, vocês não me receberam assim… Vocês até aplaudiram agora…”
As cordas se contorciam lentamente no chão. Uma ponta de corda emergiu e começou a bater na grade ao lado, como se estivesse explicando algo.
“Cerimônia de posse do timoneiro? O que é isso?”, Alice perguntou com os olhos arregalados de surpresa. “E tem isso? Então eu não tive uma cerimônia de posse… Já aconteceu? Quando?
“…Ah? Aquela vez na cozinha foi a cerimônia!? Por que não disseram antes! Pensei que vocês estavam bloqueando a porta para brigar… Caramba, quase destruímos a cozinha naquele dia, até o jantar atrasou…”
Duncan estava prestes a falar com Alice, mas ao ver essa cena, parou de repente. Ele observou, inexpressivo, a boneca conversando animadamente com uma ponta de corda e, depois de um longo tempo, virou a cabeça rigidamente.
A comunicação dessa garota com as coisas do navio estava ficando cada vez mais bizarra…
Nesse momento, seu coração deu um salto, e logo em seguida, a voz do Cabeça de Bode soou em sua mente: “Capitão, você autorizou um timoneiro temporário?”
“Acha inadequado?”, Duncan retornou ao timão, controlando o Banido para submergir no Plano Espiritual enquanto respondia mentalmente. “Você se importa que um ‘forasteiro’ assuma este posto?”
“Não”, respondeu o Cabeça de Bode imediatamente. “O capitão tem a autoridade para nomear e demitir qualquer membro da tripulação, bem como adicionar ou remover postos no navio. O timoneiro que o senhor aprova é o timoneiro que o Banido aprova. Só que… estou um pouco preocupado com o que acontecerá com o ‘Marinheiro’ depois que ele completar esta tarefa.”
Duncan não respondeu por um tempo.
“Parece que o senhor já pensou nisso”, continuou o Cabeça de Bode, sem pressa. “Ele é alguém que já deveria ter desaparecido na correnteza do tempo, como as cinzas após a queima da lenha. No dia em que retornou ao Mar Infinito, ele deveria ter desaparecido deste mundo. No entanto, o diário de bordo da capitã Kalani se transformou em uma mortalha, aprisionando seu corpo; a última missão do Canção do Mar se tornou uma ‘rota’, fixando sua humanidade, e ele se tornou um cadáver incansável…
“Agora, ele só tem uma última tarefa a cumprir — a última tarefa que a capitã Kalani lhe deixou.
“E agora, Capitão, o senhor lhe concedeu o dever de timoneiro… ele tem a chance de completar sua missão.”
Na brisa fresca da noite, Duncan olhava para o mar escuro e distante. Depois de muito tempo, ele finalmente quebrou o silêncio: “Eu sei. Na verdade, o ‘Marinheiro’ também sabe.”
O Cabeça de Bode não disse nada.
“Nós teremos uma longa viagem…”
Duncan disse de repente em voz baixa. Ele se lembrou de um livro que tinha acabado de ler, das frases do famoso “poeta louco” Pullman:
“Nós teremos uma longa viagem,
“Quando o tempo chegar ao fim…”
A porta do quarto se fechou suavemente. O cadáver voltou para o quarto e sentou-se lentamente em sua cama. A cabine estava bem iluminada e aquecida, mas há muito, muito tempo, ele já não conseguia sentir essas temperaturas.
Ele se deitou lentamente neste mundo frio e vazio. As memórias fragmentadas e caóticas do Canção do Mar giravam em sua mente, distantes como a vida de outra pessoa.
Ele murmurou em voz baixa, eram os versos favoritos da capitã Kalani — eles brilhavam em sua memória desbotada, como a areia da praia cintilando sob o manto da noite:
“…Velas empoeiradas se erguerão novamente,
“Levando-nos a lugares há muito esquecidos.
“No dia mais apropriado,
“Prontos para partir…
“Todos nós nos tornaremos marinheiros,
“Indo para outras terras quando o vento soprar.”
O Marinheiro virou-se, seus olhos desidratados e deformados se fecharam lentamente.
Ele ainda não conseguia dormir.
Mas havia um leve sorriso em seu rosto.
O dia do retorno estava próximo.
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