Capítulo 771: A "Viagem" de Ray Nora
O “refúgio1” mergulhou em silêncio por um momento, e até mesmo as vibrações aparentemente incessantes entre as estrelas subitamente se acalmaram — Ray Nora viu a entidade humanoide à sua frente parecer entrar em estase por causa de suas palavras. Só depois de um longo tempo, aquela estase de luz estelar subitamente começou a se expandir e contrair novamente.
“Era só uma luz? Havia mais alguma coisa ao redor da lanterna? Onde ela estava localizada, mais ou menos?”, Zhou Ming perguntou rapidamente, fitando os olhos da Rainha de Geada.
“Havia apenas uma lanterna, pendurada em um pedaço de madeira quebrada, nada mais. Ela flutuava no ar na névoa”, disse Ray Nora imediatamente. “Quanto à localização… era bem ao lado do seu ‘palácio’, muito perto, quase encostada…”
Ao dizer isso, ela parou de repente, parecendo se lembrar de mais detalhes. Organizou as palavras e continuou: “Aquela lanterna na verdade não era muito brilhante. Em tese, não iluminaria muito longe na névoa, mas assim que cheguei a este lugar, eu a vi. Controlei meu ‘refúgio flutuante’ para me aproximar dela, e levei muito tempo para realmente chegar aqui. A sensação era como se… a luz daquela lanterna não fosse afetada pela distância ou pela névoa. Contanto que estivesse acesa aqui, sua luz certamente poderia ser vista em qualquer ponto desta névoa.”
Ouvindo a descrição dela, Zhou Ming mergulhou em pensamentos, e Ray Nora acrescentou imediatamente: “Claro, tudo isso são minhas suposições subjetivas — você deve saber que muitas coisas aqui… ‘não estão certas’. Acho difícil julgar se o que vejo ou sinto é realmente verdade.”
“Eu entendo”, Zhou Ming disse em voz baixa. Em seguida, pareceu se lembrar de algo, levantando-se abruptamente e indo em direção à escrivaninha não muito longe.
Ray Nora permaneceu no sofá, imóvel por precaução — em seus olhos, aquela entidade de luz estelar movediça de repente se estendeu em outra direção, como se tivesse “se movido” para longe por um caminho e maneira que a razão não conseguia determinar, e então parou ali.
Ela não entendia o que o outro estava fazendo.
Zhou Ming puxou uma folha de papel da borda da escrivaninha, pegou um lápis e começou a rabiscar rapidamente na superfície do papel — ele desenhou uma lanterna, de estilo clássico, de latão, tentando reproduzir os detalhes da lanterna pendurada na cabine do capitão do Banido.
Depois de um tempo, ele voltou com o desenho para Ray Nora, mostrando-lhe a imagem no papel: “É uma lanterna como esta?”
A entidade humanoide de luz estelar estendeu seus membros. Inúmeros olhos nas pontas dos membros se focaram em um ponto, projetando uma imagem virtual na frente da retina, com a forma de uma lanterna.
Ray Nora ficou tensa instantaneamente, pois na maioria dos casos, o que seres de alta dimensão mostravam casualmente aos mortais poderia matar instantaneamente os curiosos imprudentes, mesmo acadêmicos bem treinados — mas logo ela percebeu que não tinha enlouquecido.
Aqueles olhos focados apenas transmitiam um olhar gentil, amigável e muito paciente, esperando por sua resposta — parecia que ela tinha se “adaptado” completamente àquela luz estelar.
“…Muito parecido”, Ray Nora se recompôs, observando cuidadosamente a imagem virtual. “Não me lembro dos detalhes, mas é pelo menos setenta ou oitenta por cento semelhante.”
Ao ouvir essa resposta, Zhou Ming soltou um leve suspiro, confirmando sua suposição.
Era a lanterna que “ele” tinha deixado — na última longa viagem em 1800, Duncan Abnomar tinha chegado a este lugar e deixado uma luz como “marcador”.
Pensamentos borbulhavam em sua mente. Zhou Ming ficou em silêncio por um longo tempo, imerso em pensamentos, e muitas associações vagas surgiram gradualmente.
A lanterna na névoa… se fosse interpretada de um ponto de vista simbólico, seu significado, além de “iluminar”, na maioria das vezes era, na verdade, “guiar”.
Para um navio perdido na névoa, a luz que perfurava a névoa representava a rota correta — pelo menos, a rota para a segurança e o refúgio.
Seu próprio refúgio estava nas profundezas da névoa. Este lugar poderia ser a fronteira, ou um lugar ainda mais distante do que a fronteira. Aqui, o caminho para o mundo ordenado estava oculto no caos…
Aquela lanterna tinha estabelecido um “elo” aqui. Em termos de localização, ela apontava para o Mar Infinito, para o Banido, e em termos de tempo… ela apontava para o dia em que o Banido retornaria ao mundo real, para o momento em que o Mar Infinito estaria prestes a chegar ao fim.
Zhou Ming ponderou, seus olhos cintilando levemente em contemplação.
Depois de muitas experiências, ele já dominava vagamente muitas das “leis profundas” deste mundo, e a mais importante delas era o papel surpreendente da “informação” no funcionamento de todas as coisas.
E, evidentemente, o “capitão” que havia chegado ao fim do mundo também tinha tocado nesse domínio — parecia que, naquela última longa viagem do Banido, “ele” tinha conhecido muitas verdades.
Zhou Ming se virou, observando silenciosamente a porta do refúgio.
Sob seu olhar, a porta parecia se abrir, e a névoa escura rodopiava lá fora — do outro lado da névoa estava o Banido, a cabine do capitão do Banido, a parede que ficava ao lado da “Porta do Banido”.
Era o lugar onde a lanterna estava pendurada.
Então, de fato, ela estava pendurada em sua porta, sempre esteve lá.
Zhou Ming piscou. A imagem imaginada se dissipou de sua mente. A porta ainda estava bem fechada, esperando que o dono a abrisse e retornasse.
Ray Nora mantinha um silêncio cauteloso. Ela não conseguia discernir expressões humanas na entidade de luz estelar, mas podia sentir que esta existência estava em um pensamento muito importante — seus pensamentos agitavam ondas no caos, e um sussurro profundo e indistinto ecoava incessantemente em todas as direções. Ela se lembrava do treinamento que recebera desde a infância, esforçando-se para não ouvir, não pensar e não entender os sons que ecoavam em seus ouvidos.
Ela precisava evitar que sua mente “derretesse” na atividade mental do outro, evitar se tornar um pensamento passageiro para ele.
Felizmente, essa reflexão assustadora finalmente terminou — o sussurro profundo ao redor gradualmente se acalmou, e a massa de luz estelar novamente a observou gentilmente.
“Desculpe, eu me distraí um pouco”, disse Zhou Ming, educadamente. “Agora, por favor, conte-me sobre suas outras aventuras. Tenho muito interesse nisso.”
Ray Nora soltou um suspiro de alívio — em comparação com “ouvir” a voz dessa existência, ela descobriu que “falar” era realmente mais fácil.
“…Depois de me libertar de lá, por um tempo, não consegui controlar bem meu ‘refúgio flutuante’, então fiquei à deriva por muito tempo. Na verdade, suspeito que o tempo que experimentei foi muito mais longo do que o que você conhece, porque encontrei muitos fenômenos estranhos relacionados a linhas temporais…”
Desta vez, Zhou Ming não interrompeu a narração da “Rainha de Geada”. Ele ouvia com paciência e interesse, enquanto Ray Nora contava as muitas coisas incríveis que tinha experimentado desde que conquistara sua liberdade.
Francamente, a maioria das experiências daquela jornada não tinha relevância para os problemas que Zhou Ming enfrentava e precisava resolver naquele momento. Eram, em sua maioria, paisagens bizarras ou fenômenos maravilhosos que podiam ser vistos no Plano Espiritual — mas para Ray Nora, tudo aquilo era uma jornada de maravilhas inimagináveis e nunca antes vividas durante seu tempo como governante da cidade-estado de Geada.
Sua “Majestade” finalmente se tornou uma viajante, testemunhando inúmeras paisagens em sua longa jornada.
Então, Ray Nora finalmente mencionou a última “turbulência” que havia encontrado e o processo de chegar àquela névoa.
“…Eu encontrei a turbulência depois de sair do Subespaço. Naquela época, eu estava cuidadosamente passando pela camada superior das Profundezas Abissais, sabe, aquela que tem a ‘cúpula’ com o céu estrelado congelado”, ela disse, enquanto relembrava. “E de repente, um choque irrompeu das Profundezas Abissais, como se estivesse vindo especificamente para mim, e me ‘empurrou’ para fora. Depois disso, houve um longo período de descontrole. Perdi completamente o controle sobre este ‘refúgio flutuante’, e quando finalmente consegui parar com dificuldade, já estava aqui.”
Zhou Ming ponderou.
“…Seria o Senhor das Profundezas?”, ele murmurou em voz baixa, com a testa franzida, em pensamentos. “Não, não está certo… deve haver uma razão…”
“Senhor das Profundezas?” Ray Nora ouviu o murmúrio e arregalou os olhos, surpresa. “Você quer dizer que o Senhor das Profundezas criou aquele impacto e me enviou para cá conscientemente?”
“…Apenas uma suposição grosseira”, Zhou Ming balançou a cabeça. Ele sabia que não havia resposta por enquanto, então não continuou a insistir na questão. “Deixemos isso de lado por enquanto. Fale sobre esta… ‘névoa’. Você sabe que lugar é este?”
Ray Nora ficou em silêncio e, depois de meio minuto, assentiu levemente com uma expressão complexa.
“No início, eu não sabia, mas depois de permanecer nesta névoa por um tempo, comecei a ver algumas… ‘ilusões’, e o conhecimento parecia surgir do nada em minha mente”, ela disse em voz baixa. “Este é o fim do mundo. Eu vi aqui… as sombras do fim de todas as coisas.”
“Você deveria se sentir sortuda por ter encontrado este lugar guiada por aquela lanterna e por ter parado do lado de fora do meu refúgio”, disse Zhou Ming com uma expressão séria. “Felizmente, você não continuou à deriva para as profundezas desta névoa — caso contrário, você provavelmente nunca mais teria voltado.”
Mesmo a “Rainha de Geada”, com sua audácia extraordinária, não pôde deixar de sentir um arrepio de medo naquele momento.
Ela percebeu que, no passado, ela tinha sido como alguém em uma canoa sem propulsão, correndo rapidamente para o fim de uma correnteza. Apenas um instante antes de ser lançada para fora da correnteza e cair no abismo, ela teve a sorte de ser interceptada pela única “pedra” naquela correnteza.
Embora ela quase tivesse sido esmagada por aquela “pedra”.
No entanto, depois de alguns segundos de silêncio, uma expressão hesitante apareceu em seu rosto, e ela finalmente não pôde deixar de murmurar: “Na verdade… eu ainda avancei um pouco demais…”
Zhou Ming ficou perplexo ao ouvir isso, sem reagir por um momento: “Hum?”
“…Depois de chegar ao seu palácio, seguindo a ‘luz’, tentei me comunicar com esta grande ‘entidade’, mas você não respondeu — em vez disso, uma sombra surgiu do seu ‘palácio’. Aquela sombra era uma massa informe e indescritível que atingiu meu ‘refúgio flutuante’, fazendo-o perder o controle novamente por um tempo. Por causa disso, eu fui para as profundezas da névoa, mas felizmente, desta vez a perda de controle não foi muito séria…”
A expressão de Zhou Ming de repente ficou um pouco sutil.
- No capítulo anterior traduzi como ‘quarto’, mas vejo que ‘refúgio’ funciona melhor com base no contexto deste capítulo. Caso queira saber, no original é usado o caractere ‘屋 (wú)’ que basicamente se traduz como casa, prédio, abrigo, sala, quarto e etc.[↩]

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