Índice de Capítulo

    Tendo cruzado as “ilhas” negras que se agrupavam nas águas circundantes, o Banido e o Brilho Estelar gradualmente se aproximaram da “ilha principal central”, que parecia uma estrutura gigante feita de pedras negras.

    Ao redor dos dois navios, uma névoa fina fluía lentamente como um ser vivo, flutuando sobre a superfície do mar. A brisa que soprava entre a névoa varria o convés, carregando consigo sussurros tênues e murmúrios sobrepostos.

    Vanna estava na borda do convés, observando a “ilha de pedra negra” que crescia em seu campo de visão. Inconscientemente, ela apertou as mãos. O som suave das ondas começou a ecoar em sua mente, e por um momento, ela se sentiu transportada para muitos anos atrás, para a primeira vez que ouviu aquele som do mar — na sala de orações da catedral, diante da estátua da deusa. Ela acabara de ser batizada, e aquela voz suave soprou em seu coração como a brisa do mar:

    “Ah… minha pequena peixinha… você veio…”

    Vanna despertou bruscamente do torpor. Ela percebeu que não era uma ilusão, uma voz realmente soou em seu coração. E quase ao mesmo tempo, ela viu uma mudança na ilha escura — o magnífico “palácio” pareceu tremer ligeiramente. Inúmeros membros gigantes se estenderam de cada porta e janela do palácio, tentáculos se projetando para o ar e mergulhando no mar, agitando a água, tecendo a névoa.

    Em seguida, os tentáculos desapareceram de repente, como se tivessem se retraído para dentro do palácio, mas muitas sombras nebulosas, grandes e pequenas, apareceram perto da ilha. Pareciam ser navios reunidos. Inúmeras figuras vacilantes desembarcaram da borda da ilha, segurando tochas e estandartes, como peregrinos, pisando nas pedras negras e entrando no templo por duas portas laterais…

    Vanna pareceu ouvir música. Era o som de flautas e instrumentos de percussão tocando em celebração. Cenas de ilusões surgiam e se dissipavam diante de seus olhos.

    Ela viu multidões de peregrinos. A cena mudou, e ela viu artesãos construindo o palácio. Ela viu bestas marinhas e humanos da terra reunidos, peregrinando ao longo de uma vasta linha costeira. E viu pessoas em trajes cerimoniais acendendo fogueiras em plataformas elevadas, enquanto o céu distante era gradualmente consumido por uma luz vermelha. Ela viu guerra, paz, heróis, viajantes. Um jovem guerreiro cobrindo a retirada de uma multidão para o templo, e na manhã seguinte, adormecendo para sempre…

    Na ilusão, ela se esforçou para manter os olhos abertos, observando a enorme sombra nas profundezas de todas as visões. Ela viu o palácio de pedras pretas e verde-escuras abrir suas portas para ela. Uma entidade com inúmeras formas saiu de lá, transformando-se diante dela em uma “Donzela do Mar Tranquilo1” de braços abertos: “Esperamos por muito tempo…”


    Uma vibração profunda e surda de repente veio das profundezas da Arca. Helena abriu os olhos, saindo de sua meditação.

    A luz principal da sala de orações não estava acesa. Apenas uma lamparina a óleo não muito brilhante queimava silenciosamente diante da estátua sagrada. A chama vacilante criava sombras que dançavam, como se muitas figuras sussurrantes se escondessem na penumbra.

    Os olhos de Helena varreram o ambiente, e os sons de sussurros na escuridão gradualmente se dissiparam. Em seguida, ela se aproximou da estátua da deusa, observando um “pilar” vermelho-escuro que se estendia do chão — era um cabo neural que se estendia do fundo da Arca até ali.

    “Parece que ouvi a voz d’Ela agora há pouco”, ela disse em voz baixa.

    “Eles chegaram em segurança”, uma voz idosa e lenta chegou aos ouvidos de Helena. “Meus companheiros… eles estão se regozijando. Até a rainha está feliz.”

    Helena ficou um tanto confusa: “O Canção do Mar também não chegou lá?”

    “Desta vez é diferente, pequena”, a voz idosa parecia sorrir. “Este visitante, a rainha já o esperava há muitos anos.”

    “Muitos anos?”

    “Sim, desde o dia em que o ‘sol’ se ergueu…”


    O Banido circulou um quarto da ilha negra e finalmente encontrou um local adequado para atracar e desembarcar em uma abertura nas rochas — O Marinheiro controlou cuidadosamente o leme, fazendo com que o colosso parasse perto da costa. Em seguida, um pequeno barco foi baixado do Banido, levando Duncan e os outros para a ilha.

    “Vamos dar uma olhada na ilha. Você fica aqui, não se mexa”, Duncan se virou e disse ao pequeno barco que o havia levado à costa.

    O barco atracou em uma pequena “baía” formada por algumas pedras negras retangulares e, ao ouvir a ordem do capitão, balançou a proa para cima e para baixo, fazendo um som de chapinhar.

    Em seguida, uma rajada de vento se aproximou do céu. Um redemoinho carregado com inúmeros pedaços de papel coloridos voou da direção do Brilho Estelar e pousou em um círculo a cerca de dez metros de Duncan, solidificando-se na figura de Lucretia.

    Agora, todos estavam reunidos na ilha.

    A sensação de solidez sob os pés e de pisar em terra firme dissipou um pouco da ansiedade que todos sentiam ao chegar ao fim do mundo. Duncan subiu em uma rocha negra retangular que se projetava do chão, observando o caminho para o palácio. A voz de Vanna veio de perto:

    “Este é um lugar de peregrinação. Vi muitas pessoas vindo de terras distantes de barco, acendendo enormes fogueiras em todas as direções da ilha e decorando o caminho para o templo com estandartes…”

    Ela relembrou o que havia visto na ilusão, aproximou-se de Duncan em outra rocha e apontou para um largo caminho formado por pedras contínuas à frente.

    “Este caminho leva direto ao templo. Os peregrinos desembarcavam pela manhã, e a procissão se estendia da costa até a porta do palácio — a própria ilha também foi construída por pessoas. Eles usaram uma técnica que não entendi, fundindo e reforjando pedras das profundezas do mar para criar estas rochas gigantes, e domaram algum tipo de besta invocada para erguer as pesadas rochas e formar a ilha…”

    Duncan ouviu em silêncio a descrição de Vanna, imaginando como este lugar teria sido em eras antigas e esquecidas. Ele pulou da rocha negra retangular e começou a caminhar lentamente com o grupo — seguindo o “caminho de peregrinação” que Vanna havia visto na ilusão, em direção ao templo.

    “O que mais você viu?”, Shirley perguntou, caminhando ao lado de Vanna, olhando para cima com curiosidade.

    “Humanos da terra e bestas do mar coexistiam — eles viam as enormes bestas marinhas chamadas ‘Leviatãs’ como deuses e mensageiros dos deuses, mas não era uma fé puramente religiosa, era uma relação… mais íntima”, Vanna disse lentamente, organizando o conhecimento que de repente fora “inserido” em sua mente. “Eles também coexistiam com muitas outras bestas gigantes, do céu, do subterrâneo, que controlavam montanhas e geleiras…

    “Eles fizeram pactos com todas as existências antigas e obtiveram poder daquelas bestas, um poder suficiente para remodelar rios, lagos, mares, montanhas e terras, e para construir muitas maravilhas incríveis… Mas não sei como descrever essas coisas em detalhes. Só vi muitos fragmentos e algum conhecimento abstrato. Também não consigo imaginar como era essa cena. Aquilo… parecia ser apenas a memória ‘d’Ela’, e ‘Ela’ me mostrou essa memória…”

    Vanna de repente ficou em silêncio, olhando para o palácio com uma expressão sombria.

    “…O estado d’Ela é muito ruim. Ela só me mostrou isso e depois se calou.”

    Duncan parou ao lado do caminho.

    Ele notou algo à beira da estrada — era uma massa negra e enrugada, como algas secas, de aparência comum.

    Mas ele franziu a testa, encarando a “massa de algas” enrugada, como se sentisse algo, sua expressão pensativa.

    “O que há com isso?”, Nina notou. Ela se aproximou da “coisa”, parecendo querer pegá-la, mas cautelosamente não estendeu a mão. Em vez disso, olhou para Duncan, confusa. “O senhor viu alguma coisa?”

    Duncan franziu a testa por um longo tempo e finalmente se inclinou, estendendo a mão em direção à massa negra enrugada — e algo surpreendente aconteceu.

    A massa negra enrugada de repente começou a mudar. Com uma distorção visual que causava tontura, ela começou a se desdobrar e se reorganizar. Quando o capitão a tocou, ela já havia se transformado em um cilindro rústico, e quando o capitão a pegou, padrões complexos e delicados começaram a aparecer em sua superfície, bem como estruturas semelhantes a botões e luzes indicadoras.

    Duncan olhou pensativo para o delicado dispositivo cilíndrico em sua mão e, em seguida, pressionou o botão mais óbvio em sua parte superior.

    Uma música alegre saiu de dentro do cilindro — tambores, sinos e gaitas de fole.

    Duncan olhou para o cilindro em silêncio por um longo tempo e, em seguida, sem dizer nada, apenas o segurou em sua mão e continuou a caminhar para a frente.

    Vanna ficou atordoada por um momento. As “memórias” que permeavam a ilha de repente se sobrepuseram à sua visão novamente. Ela pareceu ver o antigo dono do pequeno dispositivo — uma criança, cambaleando atrás dos adultos que peregrinavam. Uma das mãos da criança estava erguida, sendo segurada por um adulto, e o pequeno e delicado dispositivo soava em sua mão, emitindo uma melodia alegre.

    A alucinação se dissipou. Ela percebeu que o capitão já estava longe e apressou o passo para alcançá-lo.

    Eles finalmente chegaram diante do solene templo negro. Uma praça circular extremamente ampla apareceu em seu campo de visão — e no centro da praça, uma figura estava parada em silêncio.

    Lucretia reagiu instantaneamente, sua curta batuta erguida — no entanto, antes que ela pudesse fazer qualquer movimento, a figura que estava no centro da praça, como se guardasse este templo desde a era passada até o último momento, desmoronou silenciosamente.

    Ela se transformou em um monte de cinzas que se espalharam ao vento, girando e desaparecendo no ar. Lucretia nem teve tempo de ver como era o último guardião, se era homem ou mulher.

    “…Era o vice-comandante da guarda de elite”, disse Vanna de repente.

    “Guarda de elite?”, Morris perguntou, inconscientemente.

    Vanna franziu a testa e, alguns segundos depois, balançou a cabeça: “…Não sei, essa frase simplesmente surgiu na minha mente…”

    Um som gradualmente distorcido interrompeu suas palavras.

    A música do pequeno cilindro na mão de Duncan de repente começou a se tornar distorcida e estridente. Em seguida, sua superfície começou a desbotar, a enrugar-se e a se torcer rapidamente. Em apenas dois ou três segundos, a música desapareceu, e o objeto voltou a ser uma massa negra e enrugada, como algas secas.

    1. caso não se lembre, esse é o segundo título de Gomona, o ‘inverso’ de Deusa da Tempestade.[]
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