Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 821: O Guia
O marinheiro ficou completamente imóvel, deitado entre as altas gramíneas pretas e brancas, imaginando que já havia se tornado um cadáver de verdade.
O vento soprava de todas as direções de forma caótica e desordenada, agitando a vegetação do descampado. Em meio às ondas de grama, alguns sons pareciam surgir gradualmente — soavam como sussurros distantes, conversas indistintas, suspiros vagos e uma melodia etérea como música.
O marinheiro fechou os olhos, permitindo que a calmaria dos mortos o imergisse, imergisse naquela vastidão desolada.
Agatha, segurando sua bengala, circulou o marinheiro lentamente por três vezes. Os glifos no chão se iluminaram sob seus pés, e as chamas pálidas gradualmente emitiram um brilho intenso. Em seguida, ela parou novamente perto da cabeça do marinheiro, fincou a bengala no chão e abriu os braços lentamente.
O vento no descampado tornou-se instantaneamente mais caótico e violento, e os sons que o acompanhavam ficaram subitamente muito mais nítidos. No entanto, justo quando Duncan pensou que o “Guardião do Portão” deste lado havia sido despertado, o vento ao redor começou a diminuir gradualmente, e todos os sons desapareceram.
“…Hum?” Agatha abriu os olhos, confusa, e franziu a testa.
“O que aconteceu?” Duncan perguntou, imediatamente curioso.
O marinheiro deitado no chão também não resistiu a abrir os olhos. Ele percebeu que o ritual parecia ter dado errado, mas, lembrando-se das instruções de Agatha, não ousou falar ou virar a cabeça, apenas continuou tenso, tentando desesperadamente transmitir suas dúvidas com o olhar.
“…No momento em que a ‘passagem’ foi estabelecida, eu realmente senti a presença dos ‘Guardiões do Portão’ do mundo dos mortos,” disse Agatha, franzindo a testa. “Mas eles não responderam, simplesmente foram embora.”
“Não responderam?” Duncan perguntou, intrigado, enquanto olhava para o cadáver ressecado que estava deitado no chão, tenso e lançando olhares frenéticos. “Sua ‘falsificação’ foi descoberta?”
“Não foi por isso… Ser descoberta não é importante. Nosso objetivo original era fazer com que os ‘Guardiões do Portão’ deste lado aparecessem. Desde que viessem, mesmo que meu morto falsificado fosse desmascarado na hora, eles se revelariam,” disse Agatha, balançando a cabeça. “Na verdade, se encontrassem um morto falsificado, eles apareceriam ainda mais rápido — isso é um ‘incidente nefasto’ mais grave do que o surgimento de um morto verdadeiro.”
Duncan assentiu, pensativo, mas logo em seguida percebeu: “Ah? Então isso irritaria os Guardiões do Portão ‘deste lado’?”
Agatha assentiu com uma expressão serena: “Sim, se eles descobrissem o que eu estava fazendo — provavelmente ficariam muito, muito irritados.”
O olhar de Duncan ficou estranho: “…Você não mencionou isso antes.”
“Desde que não descubram, está tudo bem,” Agatha deu de ombros. “Se descobrirem, não há o que fazer. Eu não conseguiria lutar contra eles, mas posso fugir muito rápido saltando através de espelhos. Se o senhor negociasse um pouco com eles, o problema não seria grande — os ‘Guardiões do Portão’ deste lado também são racionais e comunicáveis. Depois de uma briga, eles geralmente se acalmam.”
Duncan sentia que algo nesse processo não estava certo, diferente do que ele havia imaginado inicialmente.
Contudo, ele não se prendeu a essa questão e rapidamente se concentrou na anomalia presente: “Mas os Guardiões do Portão ignoraram o ‘morto’ aqui.”
Agatha franziu a testa e assentiu. Após um momento de reflexão, ela de repente olhou para o marinheiro e quebrou o silêncio: “Vou tentar mais uma vez. Assim que este ritual terminar, levante-se imediatamente e volte para o barco o mais rápido possível — esse processo vai rasgar a ‘passagem’. Não olhe para trás em hipótese alguma.”
O marinheiro enrijeceu o corpo, seus olhos continuaram a vagar…
Agatha respondeu na hora: “Não entendo. Apenas acene ou balance a cabeça.”
O marinheiro hesitou por um instante, balançando a cabeça como se quisesse negar, mas parou em seguida e, por fim, assentiu levemente.
“Ótimo, vou considerar que você não tem objeções. Agora, fique parado. Vou começar de novo.”
Dizendo isso, Agatha ergueu a bengala de combate que havia materializado de suas memórias e começou novamente a acender as chamas pálidas no chão, ativando os glifos estranhos e profundos.
O vento desordenado soprou mais uma vez, trazendo consigo sussurros confusos e indistintos. A “passagem” mencionada por Agatha foi estabelecida novamente, e Duncan também sentiu… a presença “deles”.
Agatha parou mais uma vez no final do ritual e fincou a bengala com força no chão: “Agora — levante-se!”
O marinheiro, que esperava por essa ordem, saltou no mesmo instante como se estivesse sobre molas, cruzando sem hesitar as chamas pálidas que ardiam ao seu redor e correndo em direção ao pequeno barco de origami não muito longe!
Com o movimento súbito do “morto”, a situação finalmente mudou — a “passagem” foi rasgada à força, e um mundo que estava oculto em um nível mais “profundo” se revelou abruptamente diante dos olhos de Duncan!
As chamas pálidas no chão irromperam com força, e o arranjo de glifos triangulares deixado por Agatha liberou uma luz ofuscante. Em seguida, uma fenda que se expandia rapidamente apareceu no ar acima do triângulo. O espaço ali parecia se estilhaçar como vidro, quebrando-se em silêncio, enquanto um brilho crepuscular vazava pelas fissuras. Em um piscar de olhos, as chamas pálidas ascendentes também foram tingidas com a cor do crepúsculo.
Através da fenda que se alargava, Duncan viu um fantasma anormalmente alto, vestindo um manto negro. No entanto, o fantasma não parecia “irritado” como Agatha havia dito. Ele apenas observou silenciosamente o lado de cá da fenda e, após uma breve pausa, virou-se e começou a caminhar para longe.
Duncan olhou para Agatha, confuso. Ela, por sua vez, parecia ainda mais surpresa. Olhando atônita para o “Guardião do Portão” que se afastava, ela não pôde deixar de gritar: “Ei, espere! Você não viu que alguém aqui está violando as regras? Falsificando um morto! E destruindo deliberadamente o canal de recepção! Venha tomar uma providência!”
O alto fantasma se afastou ainda mais, como se não tivesse ouvido o som vindo de trás. Com sua partida, a fenda acima do triângulo começou a se fechar lentamente.
Agatha observava a cena, estupefata. Mas, no momento em que se preparava para forçar a passagem e atravessá-la com o capitão, uma mão grande e seca como uma garra apareceu de repente na borda da fenda. A mão segurou a fenda que se fechava lentamente, seguida por outra mão.
Acompanhada por um ruído agudo de vidro se quebrando, a fenda foi forçada a se abrir por aquelas mãos e começou a se expandir novamente.
Em seguida, o dono das mãos apareceu do outro lado da fenda — um “Guardião do Portão” ainda mais alto, vestindo um manto negro como a noite. O capuz do manto cobria completamente seu rosto, e apenas um par de olhos que emitiam uma luz amarelada queimava como fogo na sombra do capuz. Ele se curvou, e sua voz sombria e rouca soou como se viesse de uma tumba: “Venha.”
Com essa palavra curta e fria, no segundo seguinte, a fenda semelhante a rachaduras em vidro se estilhaçou silenciosamente.
Junto com ela, quebrou-se toda a vastidão da morte diante dos olhos de Duncan, bem como o “véu da noite” sobre aquele descampado.
A noite eterna que cobria o reino dos mortos se fragmentou e se dissipou, revelando por trás do véu o brilho do crepúsculo. A grama sem nome, preta e branca, balançava ao vento sob a luz do crepúsculo, e um caminho apareceu diante de Duncan e Agatha. O caminho não tinha fim, estendendo-se em linha reta para as profundezas do descampado, como se mergulhasse entre o céu e a terra.
Aquele “Guardião do Portão” anormalmente alto estava parado no caminho, imóvel e em silêncio, como uma lápide silenciosa.
Duncan, por instinto, olhou para trás, para o Banido e o Brilho Estelar, mas viu que os dois navios haviam se transformado em duas sombras solidificadas e translúcidas. Eles estavam parados não muito longe e, sob a luz do crepúsculo, do outro lado das sombras, ainda era possível ver a desolação coberta pela noite perpétua.
Duncan desviou o olhar.
O alto Guardião do Portão, que estava em silêncio, quebrou o silêncio quase ao mesmo tempo: “Andem.”
Assim que terminou de falar, ele já tinha se virado e começado a caminhar pelo caminho.
Duncan trocou um olhar com Agatha e imediatamente o seguiu.
“A situação não está normal”, Agatha sussurrou ao lado de Duncan. “Os Guardiões do Portão que eu já vi… que me lembro de ter visto, não eram assim. A aura não é a mesma… e o comportamento também não.”
“Aquele que se virou e foi embora não era ainda mais estranho?” Duncan disse casualmente. “Este pelo menos está disposto a aparecer e nos guiar. É melhor do que nada. Pelo menos chegamos a um lugar ‘mais profundo’.”
“É por isso que é ainda mais estranho”, disse Agatha, franzindo a testa. “Os Guardiões daqui deveriam ser capazes de ver de relance que o senhor e eu não somos ‘mortos’. Mesmo que fossem nos guiar, deveriam primeiro questionar e negociar, não? Por que este nos guiou diretamente? É como se estivesse esperando por nós…”
Duncan achou que ela tinha razão: “Então, por que não pergunta?”
Agatha hesitou por um momento e realmente ergueu a cabeça, olhando para a alta figura que caminhava à frente em um ritmo mais lento: “Você estava nos esperando aqui de propósito?”
A alta figura não respondeu, como se não tivesse ouvido.
Agatha não desanimou e, depois de um tempo, perguntou em voz alta novamente: “Você sabe quem somos? Percebeu que não somos ‘mortos’ de verdade?”
O alto Guardião do Portão finalmente parou por um instante, mas emitiu apenas uma sílaba abafada: “Hum.”
“Capitão, este Guardião do Portão talvez seja de natureza fria”, Agatha se virou e disse a Duncan, um pouco resignada.
Duncan não disse nada, apenas franziu a testa por um momento e, erguendo a cabeça, falou ao Guardião do Portão: “Nós também invocamos outro Guardião antes, mas ele nos ignorou e foi embora. E havia outros… Para onde todos eles foram?”
Para a surpresa de Duncan e Agatha, a alta figura parou.
“Um funeral”, ele quebrou o silêncio com sua voz grave.
Duncan franziu a testa: “Funeral? Você quer dizer que os outros Guardiões foram a um funeral?”
“Sim.”
“O funeral de quem?” Agatha perguntou por instinto.
“Do Deus da Morte.”
O alto Guardião do Portão se virou, seus olhos amarelados queimando silenciosamente na sombra do capuz.
“O Deus da Morte morreu.”
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