Capítulo 19 - Vida de Quilombola
No primeiro dia vivendo no quilombo Carlos ficou o dia todo trabalhando na roça e plantando. Como não sabia nada sobre isso, parava toda hora para perguntar para os outros ex-escravos do engenho para ver como plantavam, o quão fundo tinha que ser os buracos para por as sementes, a distância, etc. Até tinha um livro que conseguiu do engenho sobre cultivo de plantas mas era melhor perguntar para os seus colegas para ficar mais próximo deles e também não sujar o livro de terra. Muitos deles tinham conhecimentos de como plantar, por viverem do que plantavam antes de virarem escravos e de vez em quando plantavam escondido do senhor do engenho em certos lugares. Infelizmente não demorava muito para serem descobertos por conta de que alguém vivia falando sobre isso com o senhor do engenho.
Também notou que todos estavam muito mais receptivos do que na época que estava no engenho, mas também conseguiu matar o senhor do engenho e garantir a liberdade deles.
Apesar de ser um trabalho duro, era bem melhor do que trabalhar no engenho com alguém com um chicote mandando neles, mas isso não quer dizer que ainda era o ideal, não por conta do trabalho em si e sim porque ainda vivia num mundo sem conforto nenhum mesmo para as coisas mais básicas, por exemplo banheiro, aqui eles tinham um banheiro que poderiam usar era uma casinha de madeira ali perto. Você fazia as necessidades e os dejetos caiam num poço, se usava até o poço ficar cheio daí mudava de banheiro, o poço atual estava quase cheio podia ouvir até as larvas no meio das fezes enquanto fazia suas necessidades, e quando o buraco estava quase cheio, podia se ver elas. Os sons e essa cena era algo horripilante, e pior ainda não tinha papel higiênico.
Pelo menos na questão de banhos era melhor. Perguntando aos guardas descobriu que tomam banho num riacho que desce da montanha.
“Odeio ter que ficar pegando um monte de folhas para me limpar no banheiro e não tem um mísero sabonete para tomar banho. Pelo menos arroz e feijão tem, finalmente, estava cansado de comer só feijão. Também queria poder plantar tomates e repolho, mas ninguém sabia nem o que eram essas plantas, ou seja nada de salada. Também não tem trigo, afinal o clima não permite, então nada de pão e bolo, como vou ter um café da manhã sem pão? E mais importante ainda, sem café!“
Depois de descontar sua raiva na sua roça, foi se sentar na sombra de uma árvore, trouxe consigo todos os livros que pegou no engenho e começou a ler por cima os livros. Já era de tardezinha, a maioria do pessoal para de trabalhar por essas horas, o sol ainda estava no céu, mas não ficaria lá por muito tempo.
“Os livros que tenho são bons, tenho vários livros mas os mais importantes são: ‘Plantas do Brasil e do mundo e como cultivá las’, ‘Guns and History’, ‘100 Inventions that changed the world’,’Guia das riquezas naturais e minerais do Brasil’ e ‘Revolução Industrial: As máquinas que mudaram o mundo’. Quando explicava sobre as máquinas e invenções dos últimos livros para o senhor do engenho, não acreditava que realmente existiam, e eu não iria convencer do contrário, apenas falava que deveria ser um livro de invenções da imaginação de algum maluco.”
“Os demais livros também são interessantes, apenas não tem utilidade para mim agora, uns são sobre física, outros sobre eletricidade, borracha, etanol, sem dúvidas serão úteis no futuro.”
Depois de olhar os livros novamente, notou uma conexão entre eles.
“Esses livros são estranhos, não os livros em si e sim a escolha deles, se fosse entrar em uma livraria ou biblioteca esses não seriam os livros que encontraria facilmente. Entretanto todos os livros do diabo, são técnicos, nenhum deles é alguma história, ficção ou aventura, apenas são sobre como fazer algo, para que serve e sua história, nada de Harry Potter, Senhor dos Anéis, Dom Casmurro. Não vou reclamar porque é exatamente esse tipo de livro que preciso agora. Só acho isso estranho, será que todos os livros que vem para este mundo são que nem esses? Os itens também, além das armas tudo aqui tem algum propósito, seja o isqueiro, canivete, relógio de pulso, régua, etc. Com exceção apenas da figure de anime e de mim, porque será que eu vim parar nesse mundo, será que é porque tenho alguma utilidade? Infelizmente não tenho como descobrir o porquê disso no momento, vou apenas me focar em aprender e usar conhecimentos no momento.”
“Vou me focar primeiro nas armas de fogo, garantir a defesa do quilombo é essencial, além disso falei com os guardas e tem vários ferreiros no quilombo, e no passado eram os ferreiros que faziam as primeiras armas de fogo. Se as armas forem úteis para o quilombo, vão me dar mais ouvidos, e com isso eu vou ter mais recursos e pessoas ao meu dispor e com isso vou poder melhorar a vida daqui aos poucos. Infelizmente, uma arma é inútil sem pólvora e tenho medo que não tenha os materiais necessários para fazê-la. Segundo o livro ‘Guns and History’ eu preciso de salitre, enxofre e carvão, o último não é um problema, mas enxofre só se encontra perto de áreas vulcânicas o que não tem no Brasil e não sei se o quilombo conseguiria por meio do comércio. Existem até outras formas de conseguir enxofre, mas elas são bem mais trabalhosas e o mesmo vale para o salitre.”
“De qualquer forma, não adianta me preocupar com isso agora, tenho apenas que esperar para ver se eles aceitam minha oferta para fazer armas de fogo. Além disso, primeiro tenho que ser aceito pelo quilombo. Tomara que não demore, falaram que quem tem habilidades especiais é aceito mais rápido, o que é o meu caso.”
Enquanto Carlos estava extremamente focado e pensando no futuro e não notou que o Pedro estava em pé na sua frente tentando falar com ele.
— Tá me ouvindo?
Mall reagiu, então Pedro estalou os dedos em sua frente e isso finalmente conseguiu a atenção, pois quase pulou de susto.
— Não me mata assim do coração quase morri! — Olhou para os lados e viu que estava tudo escuro. — Já escureceu, que horas são?
— Ha ha ha, desculpa te assustar. Não sei que horas são, só sei que a comida já está pronta, por isso vim aqui te avisar.
— Obrigado. — Se levantou e começou a pegar os livros e Pedro o ajudou.
— Sabe, queria pedir desculpas, nunca achei que você iria conseguir escapar, nem você nem ninguém por isso ajudava o senhor do engenho, sinto muito por isso, mas eu vou te compensar por isso, sempre que precisar de ajuda é só falar. Na verdade falei com as outras pessoas do engenho e a gente vai te ajudar a fazer sua casa.
— Obrigado, mas a Tassi me contou que você fazia isso por conta de seu filho, não tenho ressentimento, porém não vou negar ajuda não, pois não tenho a menor idéia de como fazer uma casa.
“Se fosse uma casa de tijolos e cimento até saberia como fazer, já fiz bicos como pedreiro na época da faculdade, mas as casas daqui parecem ser feitas de barro ou terra e não tenho a menor idéia de como se faz uma casa dessas. Apesar de que não deve ser tão complicado assim, mas é melhor receber ajuda de quem deve saber mais dessas coisas.”
— Você é mesmo uma pessoa bem diferente.
No dia seguinte Carlos foi mais produtivo na roça mas ainda estava longe de ser ideal. Tassi também não estava muito melhor, só era boa em combate e com magia. Aliás, usava o cajado com gemas de terra e grama todo dia nas plantas que estavam cultivando. Por sorte apenas confiscam armas mágicas e de fogo, mas ferramentas deixam em paz, graças aos seus poderes da dava pra ver claramente o rápido crescimento das plantas.
Já que as pessoas não precisavam ficar cuidando tanto das plantas graças a magia da Tassi. Começaram a fazer suas casas e várias pessoas vieram ajudar a fazer a casa de Carlos. As casas que eles faziam eram feitas de taipa que eram uma mistura de palha mais barro e estrume com uma estrutura de madeira. Em uma semana sua casa já estava pronta. Mas não estava exatamente muito feliz com sua nova casa.
“Eu agradeço pela ajuda do povo, mas uma casa de terra é o fim da picada, como que vou me sentir bem numa casa que parece um formigueiro gigante, é muito feia. No futuro terei uma casa de tijolos custe o que custar!”
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No Mocambo da Jararaca, centro político e militar do Quilombo da Jabuticaba, Espectro estava em sua sala sentado em uma cadeira ouvindo o relatório de um dos seus guardas. Atrás da cadeira havia diversas armas mágicas encostadas na parede. E em sua frente havia uma mesa com as armas de Carlos.
— Chefe, pelo que a gente viu o grupo de pessoas que veio do engenho do Seu Jorge estava realmente falando a verdade, nossos batedores foram até o engenho e não havia nenhum escravo ou capataz vivo por lá, mas alguns capitães do mato estavam lá tentando ver se achavam algum escravo fugitivo para capturar. Um de nossos batedores que é mestiço até conseguiu se aproximar e falar com um pescador do engenho, e disse que Jorge foi morto com algum tipo de arma diferente.
— Vou repassar essa questão para Ganga Zala, ele decidirá o que será feito com o engenho. E quanto aos recém chegados, notou alguma coisa estranha?
— Não senhor, todos estavam motivados plantando e fazendo suas casas, aparentemente o senhor do engenho não os deixava cultivar nada no engenho pois muitas pessoas estavam com dificuldades para começar a plantar, mas os que sabiam como plantar ajudaram os que não sabiam, além disso, já conseguiram colher a própria comida por conta da mulher com um F na testa que usava um cajado para deixar o solo mais fértil e crescer as plantas, seu nome era Tassi.
— Pelo que me lembro, apenas ela e mais um homem consegue usar gemas mágicas não é mesmo. Apesar de que no momento ainda não temos nenhuma arma que usa gema de gelo para usar, de qualquer forma os dois seriam bem vindos no exército, sempre estamos precisando de mais bons guerreiros, porém to mais curioso com essas armas aqui, elas não parecem nenhum um pouco com as armas que conheço, eu nem consigo usar elas.
— Chefe, pelo o que as pessoas falaram, essa arma é muito mais potente que um arco, foi falado que Carlos matou um usuário de duas gemas a de defesa e a de defesa divina.
— Você sabe como sempre exageram as histórias. Apesar disso, qualquer ajuda será bem vinda, afinal temos que aproveitar este pouco tempo de paz em que estão se recuperando da guerra contra os holandeses, antes que os portugueses retomem os ataques ao quilombo. Se a gente puder conseguir mais um tipo de arma seria excelente, afinal sempre é difícil conseguir armas mágicas.
— Amanhã vamos falar com Carlos para ver como essas armas são usadas e então veremos se essas histórias não passam de exageros ou se são reais,
“Aqua disse aquele homem é capaz de criar mais armas como essas, infelizmente não tenho interesse em armas não mágicas, ainda mais de longa distância pelo o que falou a Aqua, dúvido que seja melhor que um arco. Porém não custa nada ver o poder destas tais armas.”
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