Capítulo 24 - Quixotina
Carlos ficou paralisado o duelo que aconteceu em sua frente, aos seus olhos tudo durou apenas alguns segundos pois mal pode acompanhar os movimentos de Quixotina.
“Foi muito rápida, aquilo era uma força sobre humana. Então esse é o poder das gemas mágicas, parece que não tem limites no que podem fazer. Acho que mesmo com uma arma de fogo poderia não conseguir acerta-la, talvez essas armas de fogo básicas não sejam o suficiente para proteger o quilombo, tenho que pensar em mais opções no futuro.”
Tassi notou o olhar preocupado e até já imaginava o que estava pensando.
— Se acalma, a gema da força é extremamente rara, e mesmo sendo rara. Por isso não esperei que alguém por aqui estaria a usando.
— É rara, mas apenas um adepto dela já poderia fazer um estrago. Como pude ver agora, aliás não era você que disse nunca se deve subestimar um inimigo?
Ao ouvir isso, apenas rolou os olhos.
— Enfim, agora que as duas de vocês já terminaram de brincar, Quixotina você pode me mostrar onde fica a caverna?
Quixotina tirou seu capacete revelando seus longos cabelos loiros e uma pele branca. Uma visão rara no quilombo, também tinha uns olhos vermelhos.
“Não acredito que seja tão linda, não combina em nada com a imagem mental que tinha dela. Pena que é meio maluca.”
— Tassi também ficou surpresa mas por outros motivos,“Branca? Porque será que está no quilombo, apesar de que têm indígenas e mulatos por aqui, mas não vi nenhum branco. Isso me faz perguntar porque está aqui, ainda mais sendo forte desse jeito. Poderia escapar sem problemas nenhum se estivesse mantida aqui a força, ou em qualquer lugar, e com um poder desses poderia trabalhar como mercenária em qualquer lugar do mundo, dinheiro nunca seria um problema. Se fosse negra até entenderia, mas é branca”.
— Bom, vejo que você é digno de ganhar minha ajuda. Apenas vou rapidamente guardar minha armadura e depois já volto. Apesar da armadura ser boa na selva e no calor não é uma boa opção.
“Então porque veio até aqui de armadura?”
Após falar isso, começou a correr rapidamente e sumiu de vista, nem deu tempo de falar uma palavra, Tassi apenas olhou para e disse: — Que maluca.
— E você tomou uma surra dessa tal maluca.
— Se tivesse um cajado de terra e me tivesse preparado antes com um anel de grama teria facilmente ganhado.
— Aham, vou fingir que acredito para você não ficar mal.
— Pois saiba que já ganhei de adeptos da gema da força, são sim adversários formidáveis, mas com umas armadilhas de grama e de terra é possível ganhar deles, com o cajado de terra faria buracos no chão e colocava estacas de madeira e cobria tudo com videiras e cipós.
— E se não tivesse tempo de se preparar?
— Então aí seria uma luta longa e árdua e precisaria ajuda das minhas aliadas para ganhar.
— Sabia, no fim estava certo né.
— Tudo bem você tá certo, levei uma surra dela e levaria de qualquer jeito se não tivesse como me preparar, feliz?
— Sim e muito.
— Mas você não pode falar nada pelo visto você ficou bem surpreso com ela também, parece que as mulheres do quilombo não te atraem muito, já uma branca qualquer…
— Apenas fiquei surpreso com a beleza dela, e saiba que acho sim muita mulher bonita no quilombo além dela, infelizmente não to a fim de dividir minha mulher com mais cinco caras.
Depois de dizer isso olhou de cima para baixo para analisar um pouco Tassi que estava em sua frente.
“Não que ache Tassi deslumbrante, mas deu uma encorpada desde que chegamos no quilombo, antes estava apenas pele e osso por conta de ficar sem comer, agora até que tem vários músculos, talvez seja até mais forte que e essas coxas… Mas bem, é da Tassi que estou falando, infelizmente ultimamente to vendo mais como uma irmã irritante, antes até acreditava que amizades entre homem e mulher era impossíveis, mas agora vejo que me enganei. Quanto a Quixotina, é muito linda, mas é maluca, melhor ficar na minha por enquanto mesmo, além disso ainda não quero dividir minha amada com mais quatro caras.”
— Ei, to vendo o jeito que está me olhando. — Ao dizer isso cobriu seus seios e suas partes íntimas que já estavam cobertas de roupas mas notando o olhar quis cobrir mais um pouco.
— Não estava pensando nada demais! Ssó estava vendo como você se recuperou bem desde que viemos para cá, apenas estava olhando isso. Não se preocupe, para mim você é como uma irmã pestinha, aliás você é mais velha ou mais nova que eu?
— Como assim me vê como uma irmã! Sou uma baita de uma gostosa! Olha minha coxona e bundona, e meus seios não são gigantes, mas não perdem facilmente para ninguém não! Quando era uma guerreira mino atraia muitos olhares, poderia ter pegado quem quisesse! Só não pegava porque não era permitido! Mas, sim, me recuperei muito desde que vim para cá, pude comer melhor e fazer exercícios, por sorte é bem mais rápido recuperar seus músculos do que fazê-los na primeira vez, bas ainda estou longe do meu ideal, e respondendo sua pergunta tenho 27 anos e você?
“Eita, não esperava que ela falasse algo assim, está destruindo a imagem mental de que eu tinha dela de nobre guerreira.”
— 25 sou mais novo, o que você faz você minha irmã mais velha, a partir de hoje te chamarei de irmãzona.
— Se me chamar disso, te mato!
Isso o deixou com um pouco de medo e resolveu mudar de assunto.
— Então, vou pegar o livro que preciso para identificar os minérios que precisamos.
Com isso fugiu para a sua casa e depois de um tempo voltou com um livro. Na capa estava escrito bem grande algumas palavras que Tassi por não saber ler não reconhecia. Abaixo havia diversas imagens de minerais e até algumas plantas, olhou para o livro e perguntou: — O que está escrito na capa?
Carlos sem perder tempo respondeu: — “Guia das riquezas naturais e minerais do Brasil” é sobre principalmente os minerais que se encontravam no Brasil da onde vim. Apesar de que não sei se esse livro vai se aplicar pra esse Brasil que estamos, seria bom se aplicasse pois tem até as localizações dos minerais. Pelo menos os materiais que vejo por aí parecem ser iguais aos do meu mundo, com exceção das gemas mágicas.
— Sério? Marca até minas de ouro?
— Sim, pena que o Brasil é grande demais, levaria muito tempo para ir até essas minas de ouro.
— Lá se vai meu sonho de ficar rica.
— E por essa região marca alguma coisa?
— Infelizmente nem sei onde estamos. No meu mundo também houve um quilombo por essa região, só que não lembro onde exatamente ficava, além disso não sabemos se esse mundo é igual ao meu no quesito geografia. Infelizmente tem muita coisa que não sei, mas como está tão interessada posso te ensinar a ler. O que você acha?
— Eu passo, isso não me ajudaria a lutar.
— Ler também poderia te ajudar a lutar, você pode ler sobre a vida de grandes guerreiros e estrategistas. Não precisa aprender na base do teste e erro, pode aprender com os erros dos outros e também pegar estratégias de grandes mentes. Porém me nego a ter uma visão apenas utilitarista da leitura, porque o maior motivo para se ler, é como entretenimento, conhecimento, embarcar em novos mundos, se emocionar, etc. Acho que você seria do tipo que adoraria ler algum livro de fantasia e aventura.
Enquanto os dois conversavam, Quixotina se meteu no meio dos dois. Tassi até notou ela, mas Carlos só a viu quando estava bem no meio dos dois, assim que a notou, uma coisa chamou sua atenção e a atenção de Tassi também pois havia uma enorme diferença entre os peitos que armadura possuíam e os peitos que a mulher entre os dois possuíam, ou no caso não possuía. A armadura possuía seios enormes, mas a real era uma tábua .
“Que propaganda enganosa… Espera, foco Carlos, foco!”
Por sorte começou a falar o que fez mudar o foco para o rosto dela. Que exibia um enorme sorriso.
— Exatamente, livros podem nós levar a outros mundos, podem nós fazer chorar e sorrir. Amo principalmente meus romances de cavalaria, infelizmente aqui no quilombo não tem livros, mal tem gente que sabe ler. Estou tão animada por encontrar alguém que saiba ler também!
Observou o livro na mão de Carlos.
— Isso é um livro? Não acredito, além de você saber ler, você tem livros! Não acredito nisso! Posso ler?
— Sim, mas infelizmente não tenho muitos livros de histórias para ler, não que esteja reclamando os livros que consegui do senhor do engenho possuem conhecimentos capazes de mudar este mundo para sempre. Infelizmente não basta ter esses conhecimentos, preciso aplicar esses conhecimentos. Por isso coloquei a Nia para fazer uma arma para nós e agora nós precisamos da pólvora para a bala sair e para fazer pólvora precisamos de salitre. O salitre pode ser encontrado em cavernas com morcegos, e se não estiver na caverna, ainda poderemos fazê-lo, apenas será trabalhoso. Por isso preciso da sua ajuda, se você ajudar, poderei deixar você ler qualquer livro meu.
Seus olhos brilharam ao ouvir isso, desde de que veio para o Brasil não encontrou ninguém mais que gostava de livros também. Apesar de que não entendeu o que disse, mas ficou feliz pois dificilmente encontrava pessoas que sabiam ler, imagina alguém que gostasse de ler livros.
— Fico feliz por encontrar outra pessoa que goste de ler, pelo visto vai ser um prazer te ajudar, mas deixando isso de lado, não entendo bem como o conhecimento de um livro pode mudar o mundo, até entendo um livro mudar uma pessoa, mas mudar o mundo me parece impossível.
— Apenas espere e verá, prometo que quando você ver a arma pronta vai ver que se trazermos os conhecimentos dos livros o mundo irá mudar.
— Só espero não ter que mexer com bosta para fazer o salitre, então tomara que tenha em alguma caverna. Só de pensar nisso já me dá vontade de vomitar. — Disse Tassi enquanto fazia cara de nojo.
— Por sorte isso não me abala, um cavaleiro iria até o inferno se fosse para lutar pela justiça, e eu como a cavaleira ideal não tenho problema nenhum em fazer o que é certo, se esse salitre for mesmo ajudar a deixar mais pessoas livres então farei o que for necessário para obtê-lo.
— Que surpresa não esperava que a branquela escravizadora seria tão mente aberta assim, saiba que falar é fácil, já estive em muitas guerras e já vi como é o inferno de verdade. Não fiquei apenas lendo histórias inventadas!
— Você não sabe nada de mim! Está me vendo com algum escravo? E Não se ache porque você viu umas guerras, já vi o inferno também.
Tassi abriu a boca para retrucar, mas Carlos a interrompeu falando: — Tá bom, tá bom, vamos logo ir nessa caverna encontrar o salitre.
Quixotina suspirou fundo antes de começar a falar: — Vou deixar essa mulher de lado para te ajudar. A caverna fica bem no meio da mata ao norte, fica bem na encosta de uma montanha, vai ser uma longa caminhada, se não tivesse tanto mato a gente chegaria lá rapidinho, mas como é no meio da mata a gente acaba demorando bastante. Conheço bem essas matas, afinal como uma cavaleira tenho que explorar o mundo em buscas de novas aventuras. Apenas não fiquem muito longe de mim para não se perderem.
Quixotina olhou para Tassi e disse: — Você pode ficar se quiser, imagino que apenas ele saiba o que estamos procurando, você seria apenas um fardo a mais.
— Não se preocupe, para mim vai ser como uma caminhada matinal!
Enquanto as duas discutiam, pensava consigo mesmo: “Pelo visto vou ser o único que vou me ferrar nessa caminhada na mata, nem lembro a última vez que fiz algo parecido. De qualquer forma vamos logo acabar com isso, só espero que as duas não fiquem brigando o caminho inteiro.”
— Antes de irmos temos que pegar algumas ferramentas e cestos para caso encontremos algumas cavernas com salitre, depois disso podemos ir.
Carlos foi até a ferreira e pegou algumas ferramentas, depois começaram a sair do quilombo sendo guiados por Quixotina.
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