Capítulo 30 - Fabricação da Pólvora
Depois de alguns dias o oleiro produziu os fornos e recipientes que Carlos precisava.
Para obter o enxofre a pirita primeiro seria triturada e depois seria aquecida no forno feito de cerâmica vitrificada. Era aquecida entre 100° e 300° para retirar a umidade.
Depois era aquecida 500° e 700° onde a pirita começava a se decompor. Para atingir estas altas temperaturas conseguiram um ajudante adepto da gema do fogo para controlar a temperatura.
Nestas temperaturas a pirita (FeS2) se transformava em sulfeto de ferro II FeS liberando enxofre (S) na forma de gás. O forno tinha que ser parcialmente vedado para que o ar não entrasse, o que resultaria na formação de dióxido de enxofre (SO₂) um gás tóxico.
O enxofre em forma gasosa entrava por um tubo que estava envolto por água no lado de fora. Isso fazia com que o gás se condenasse em cristas de enxofre ou pó. Depois tinha que apenas coletar este enxofre.
O que sobrava no forno era apenas o sulfeto de ferro II (FeS), este sulfeto ainda possuía enxofre que a temperaturas maiores poderia ser extraído, mas nessas temperaturas o ferro saia junto com o enxofre e os dois se juntavam com O2 formando dióxido de enxofre (SO2) e óxido de ferro(FeO). No momento não tinha como Carlos resolver este problema facilmente, por isso apenas guardava sulfeto de ferro II (FeS), que tinha vários usos futuramente na metalurgia.
Depois de coletar o enxofre, olhou para o pó amarelo e ficou bem animado.
— Com isso conseguimos o enxofre e é só uma questão de tempo até conseguirmos a pólvora!
Tassi olhou para o pó amarelado sem muita expectativa e disse: — E agora qual é o próximo passo?
— Agora temos que refinar o salitre.
Enquanto fazia enxofre já haviam se passado vários dias e as ferramentas que Carlos pediu já estavam prontas. Devido a magia nesse mundo, os artesãos eram bem mais rápidos em seus trabalhos, então coisas simples como caldeirões de ferro eram feitas rapidamente.
Carlos e Tassi não perderam tempo e pegaram as ferramentas necessárias para começar o refinamento do salitre e já começaram o processo para o refinamento dele.
Por sorte o salitre que ficava na parede da caverna de guano era muito mais puro, o que reduziria parte do processo de refinamento de salitre, mas mesmo assim deveria ser feito um processo para eliminar as impurezas.
Primeiro se colocava o salitre com água num caldeirão de ferro. O caldeirão era aquecido o que separava salitre de suas impurezas.
Depois a água era filtrada com um pano fino e colocada em outro caldeirão que seria aquecida até a água evaporar e só sobrar os cristais de salitre puro (KNO3).
Por último os cristais de salitre eram postos sob o sol para retirar a umidade.
Com a obtenção do salitre só faltava o carvão para a produção de pólvora. Tinha que ser um carvão vegetal feito através de madeiras moles e leves, mas como estavam no meio da mata não foi muito difícil encontrar a madeira necessária.
Na mesma área Carlos pediu para Tassi para construir uma oficina de pólvora para fazerem a produção de pólvora. Com a ajuda dos braceletes de gemas mágicas Tassi conseguia fazer isso rapidamente.
A pólvora negra usava três materiais salitre (KNO₃), enxofre e carvão. Esses materiais eram moídos e misturados numa proporção de 75% salitre, 15% carvão vegetal e 10% enxofre. Os três ingredientes eram misturados nessa proporção e umedecidos para evitar explosões.
A pólvora era moída com um pilão de madeira por horas, depois era prensada para ficar mais compacta, depois triturada novamente, depois peneirada e por último posta para secar.
Como o processo era muito trabalhoso, Carlos acabou pedindo ajuda para Pedro e algumas pessoas do engenho que estava, afinal ajudou a libertar todo mundo, logo podia pedir algo em troca e felizmente ajudaram. Como eles ainda estavam em observação, Carlos teve que pedir permissão de Aqua, que permitiu.
Depois de umas semanas conseguiu produzir pólvora o suficiente para fazer uma boa explosão, afinal pólvora não era somente usada nas armas, ela por si só já era muito útil.
Eles demoraram tanto tempo produzindo a pólvora que o pessoal do quilombo passou a aceitar o pessoal do engenho do seu Jorge.
Carlos testava a qualidade da pólvora em um lugar mais isolado para confirmar que estava funcionando. Não levou Tassi junto pois queriam que ficasse tão impressionada quanto o resto do pessoal durante a exibição da pólvora.
— Finalmente temos bastante pólvora, acho que podemos fazer uma boa demonstração para Espectro, tenho certeza que vai ver a utilidade nela, e eu também estava pensando, acho que podemos fazer uma armadilha para pegarmos aquele boitatá que nós atacou.
Tassi vendo aquele pó preto não tinha tantas expectativas, mas já que era necessária para seu uso em armas não reclamou, só não entendia porque Carlos ficava preocupado ao fazer a pólvora sempre falando para terem cuidado para não explodir. Sempre cuidado para trabalhar com ela somente que estava úmida. Eles até não podiam usar nada de ferro para não ter faísca nenhuma. Tinha dúvidas se esse pó era realmente tão perigoso assim. Por sorte não ficaria com essa dúvida por muito tempo.
Tassi olhou para desconfiada e disse:
— A explosão que faz é tão forte assim?
— Você vai ver, até fiz uns testes escondidos e sei que essa pólvora que fizemos é de boa qualidade. Então vai ser uma bela explosão, vamos chamar logo Aqua e Espectro, também vamos chamar Quixotina já que nós ajudou e seria bom ter alguém que usa gema de fogo, como a Nia, aposto que ela vai estar interessada.
— Aposto que você só quer se exibir para ela né, tá querendo mesmo ser o quinto marido dela não é mesmo.
— Mas de jeito nenhum! E pelo menos ela consegue alguém, mas e você? Tem tanto homem aqui que conseguir um marido seria fácil mas ainda tá solteirona não é mesmo? Ttenho a desculpa que não tem mulher aqui.
Tassi se irritou com o comentário mas não demonstrou apenas disse:
— Não quero ter rabo preso não, mas não quer dizer que não esteja vendo ninguém, pelo menos já peguei mais gente que você!
Carlos ficou meio surpreso com isso, mas se recompôs.
— Mas é claro, a competição por qualquer mulher aqui é muito alta, sem contar que digamos que não sou do mesmo mundo que as mulheres daqui, então não sei como chegar nelas. Enfim, chega de papo furado, vai lá avisar Aqua e o pessoal sobre a demonstração de pólvora amanhã, vou preparar tudo para a demonstração da pólvora. Ah, quase que me esqueço, vou ter que falar com a Nia para ver se consegue fazer algo com a gema de fogo, depois que terminar tudo vou lá, vamos fazer a demonstração amanhã a tarde, só temos que avisar eles.
Tassi sorriu de forma maliciosa e disse: — Claro, chamo todo mundo e você chama a Nia.
Carlos rolou os olhos e apenas saiu para começar a preparar a pólvora que seria usada. Colocou num pote grande argila com todo o cuidado, depois disso foi falar com a ferreira.
Batendo na porta da oficina, ela rapidamente abriu a porta e saiu de lá toda suada.
— Boa tarde Nia, outro dia vi que você jogou as gemas de fogo embaixo do forno e depois de um tempo se ativaram. Gostaria de saber se amanhã você poderia me ajudar a usar essas gemas para fazer uma explosão a distância com a pólvora.
— Eu até reclamaria por você vir atrapalhar meu trabalho, mas que interessante, você teve essa idéia só por me ver jogando as gemas de fogo no forno? Realmente consigo fazer com que as gemas de fogo se ativem depois de um tempo, aliás dá pra fazer isso com qualquer gema, infelizmente cada gema necessita de um entalhe diferente para ter o mesmo efeito. Sem contar que outras gemas não são tão fáceis de se trabalhar quanto a gema de fogo. De qualquer forma, quanto tempo seria necessário para a ativação delas?
— Então é assim que funciona, que interessante, mas apenas não entendo a lógica por trás, como algo talhado na gema pode alterar o poder que exibe?
— Apenas os orixás devem saber o porquê disso.
— Entendo. Sobre a gema que preciso, acho que se ela puder ativar depois de cinco minutos seria perfeito para mim.
— Cinco minutos, quanto tempo seria isso?
— Ah, desculpe, é um padrão de tempo usado em meu mundo. Vamos dizer assim, faça um tempo suficiente para andar com calma por uma boa distância e voltar para me esconder.
— Hummm, entendo. — Nia olhou desconfiada para Carlos.
“Todo mundo me acha maluco por dizer que sou de outro mundo, acho que deveria ter escondido essa informação mesmo. Apesar de que sou muito ruim para mentir, mas vão ver só, vai chegar o dia que vou trazer tantas mudanças a esse mundo que vai ficar inegável que venho de outro mundo. A primeira coisa que vou trazer que vai transformar esse mundo vai ser a pólvora.”
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