Na manhã seguinte havia um pequeno grupo perto das oficinas que haviam construído, estavam numa planície com muitos tocos de árvores, na mesma área que havia feito o teste das armas antes, neste pequeno grupo havia Espectro, dois guardas, Aqua, Tassi, Carlos, Quixotina, e Nia. 

    — Pelo o que entendi a arma de fogo não está pronta não é mesmo, porque chamou a gente aqui?

    — Senhor, fizemos pólvora negra.

    — Lembro que era isso que você precisava para usar nas armas de fogo, não entendo porque nós chamar apenas para vermos essa tal pólvora.

    Carlos sorrindo respondeu: — Porque a pólvora é capaz de fazer uma grande explosão, acho que poderia ser bem útil para montarmos uma emboscada e matarmos o boitatá.

    Espectro franziu a testa pensando. “Está maluco, não existe arma nesse mundo capaz de matar uma fera daquele tamanho.”, abriu a boca para falar algo, mas Quixotina foi mais rápida e falou agitada.

    — Você viu eu lutando contra aquele monstro, nenhum humano é capaz de matar aquilo, mesmo minha magia apenas tirou algumas escamas dele!

    Carlos calmo apenas falou: 

    — Justamente por ter visto isso, sei que somente uma explosão com pólvora seria capaz de matá-lo.

    Quixotina abriu a boca para retrucar, mas Carlos continuou falando.

    — Apenas esperem e vejam, atrás de mim a uns 300 passos de distância coloquei vários potes de argila cheios de pólvora, esse pó além de ser útil para armas de fogo, por si só já é uma arma. Agora vou demonstrar como pode ser útil, apenas fiquem aqui. 

    Carlos olhou para Nia que entendeu o recado e entregou a gema de fogo em sua mão, a gema já estava ativada, como combinaram. Rapidamente foi correndo até os potes de pólvora e cuidadosamente colocou a gema dentro de um pote e depois deu meia volta correndo o mais rápido possível, nunca correu tão rápido em sua vida, sabia que tinha tempo, mas mesmo assim estava com medo.

    Quando voltou ofegante apenas disse: — Todos se abaixem e tapem seus ouvidos!

    Depois de dizer isso se deitou e tapou seus ouvidos e ficou olhando para a pólvora, infelizmente tirando Tassi ninguém o deu ouvidos, imaginavam que facilmente poderiam lidar com uma pequena explosão a essa distância, apenas Tassi tapou e se deitou seus ouvidos pois lembrava bem do barulho das armas de fogo e confiava em Carlos. Espectro, Aqua e os guardas lembravam do barulho das armas de fogo, mas não achavam necessário fazer tudo aquilo, acreditavam no poder das armas de fogo, mas não acreditavam em Carlos em si, já Quixotina não tinham idéia do que iriam presenciar. Todo mundo apenas focou nos potes de pólvora que estavam longe.

    Após alguns segundos, os potes brilharam numa cor vermelho alaranjada, que virou apenas fumaça branca, ao mesmo tempo todos sentiram uma onda de choque em seus peitos além de um barulho ensurdecedor, o chão tremeu um pouco, Quixotina ficou tão surpresa com isso que até caiu no chão. A explosão também fez com que pedaços de terra e dos potes de argila saíssem voando, um deles até saiu voando em direção a Espectro que por ter sentidos aguçados conseguiu desviar a tempo.

    Após as coisas se acalmarem todos com exceção de Tassi e Carlos, todos estavam apenas ouvindo um zunido, e estavam boquiabertos e com medo, mesmo Tassi que se considerava uma guerreira corajosa sentia a vontade irracional de se esconder e suas mãos estavam suando.

    Carlos também estava surpreso, nunca havia visto uma explosão na vida real, e achou que 300 metros seria uma distância segura, mas não esperava que pedaços dos potes de argila saíssem voando até onde estavam, por sorte aparentemente ninguém se feriu, mas se sentia culpado, assim que se recuperaram começou a falar:

    —Senhor, sinto muito, achei que a explosão não seria tão forte a essa distância.

    Espectro que estava recuperando a audição apenas olhou para ele e disse: — Não, a culpa foi nossa, você nós disse exatamente o que deveríamos ter feito e mesmo assim te ignoramos, na próxima vez vamos fazer o que você mandar sem questionar.

    Ao ouvir isso ficou feliz com isso, e foi até Quixotina e ajudou-a a se levantar, assim que se levantou, disse: — Então, ainda acha que não dá para humanos como nós matarmos uma besta daquelas?

    Quixotina nem soube o que responder com isso, ainda estava chocada. Espectro respondeu no lugar dela: 

    — Sem dúvidas podemos matar aquele monstro com isso, e também podemos fazer armadilhas para qualquer invasor que venha para cá, está pólvora negra é excelente, vou trazer trabalhadores para cá, quero que você ensine eles como fazer a pólvora, ficarão aqui trabalhando em seu lugar, para você se focar em produzir mais armas e até outras coisas que achar necessário.

    Aqua que se recuperou da explosão falou:

     — Você não precisa mais trabalhar na roça, vou pedir para alguém cuidar das partes que você plantou e qualquer coisa que precisar apenas fale comigo.

    Isso o deixou muito animado, finalmente estava ganhando algum reconhecimento, e não iria deixar essa oportunidade passar:

     — Senhora, então quero que Tassi tenha o mesmo tratamento, me ajudou durante todo o processo da fabricação da pólvora, além disso, se possível gostaria que a dessem para os braceletes com as gemas de terra e grama.

    Espectro nem piscou e já respondeu com: — Claro. — Respondeu rápido pois essas armas e as outras que Carlos produziu, eram mais valiosas que uns braceletes, além disso, ajudar Tassi era o mesmo que ajudá-lo.

    — Antes que me esqueça, Quixotina, te chamei aqui para ver o poder da pólvora, porque já pensei no plano para matar o boitatá.

    ───────◇───────◇───────

    Quixotina estava na mata com sua armadura completa, com exceção do capacete que estava sem, o que dava uma bela visão do seu rosto e seu cabelos loiros descendo até a altura do ombro. Estava parada com sua espada fincada na terra e com uma mão no pomo da espada que possuía uma pequena gema branca, uma gema da luz, em sua cintura também havia uma bolsinha. 

    O sol já havia se posto, e a floresta tropical que normalmente é barulhenta, estava completamente silenciosa e na completa escuridão, o que significa que deveria haver algum predador por perto. Não demorou muito para sentisse uma presença a observando de longe, ela olhava pela mata tentando ver que predador a observava, mas sem conseguir. Nesse momento o medo começou a tomar conta dela, mas continuou firme e forte em seu lugar.

    Até que conseguiu ver grandes olhos vermelhos em meio a mata, os olhos do monstro a encararam de volta. Sem perder nem um segundo pegou uma gema da luz que estava na bolsa em sua cintura e a jogou para cima o mais alto que podia, com sua pedra de força pode jogar a gema de luz a uma altura de 30 metros no céu, quando chegou ao topo a gema da luz começou a emitir uma imensa quantidade de luz, este era o sinal de que havia encontrado o boitatá, agora o preparador iria virar a presa, sem perder tempo começou a correr de volta ao mocambo a toda sua velocidade.

    O boitatá vendo que foi descoberto acendeu suas chamas e começou a serpentear em direção a sua presa, pequenas gramas e matos eram esmagados por seu imenso peso, apesar de seu corpo pegar fogo, não queimava nada ao redor, somente suas presas.

    Quixotina era veloz, corria tão rápido quanto um cavalo, infelizmente o monstro era mais veloz, mas não muito, por conta disso aos poucos o monstro chegava mais perto dela.

    Enquanto corria observava as marcas que havia feito nas árvores, até que viu a última marca, olhou para trás por um segundo para ver a distância que o monstro estava, apenas uns dez passos de distância, muito perto, o plano não daria certo se estivesse tão perto assim, por isso usou boa parte da mana em seu corpo e correu o mais rápido que pode e subiu uma pequena colina em meio a mata.

    O monstro seguiu sua presa e subiu a colina, mas ao chegar ao topo Quixotina havia desaparecido, não havia traço dela em lugar nenhum, o monstro confuso parou, e começou a olhar ao redor e soltar sua língua para fora para identificar sua presa, ou outras possíveis presas, mas não captou nada e quando pensou em voltar mas fundo a mata para buscar outra presa — BOOM ! — O chão em que estava explodiu, partindo seu corpo em dois, voando um pedaço com a cabeça para baixo da colina em direção ao mocambo e o outro para de volta a mata, os dois lados que estavam flamejantes a poucos segundos atrás começaram a perder o fogo ao cair no chão, cauda continuava a mexer mesmo separada da cabeça, seu corpo até derrubou algumas árvores, já a parte com cabeça caiu no chão, seus olhos demonstraram um olhar confuso, antes de acabar sumindo todo o brilho de seus olhos. O monstro foi morto, o plano havia sido um sucesso.

    Depois que a cauda parou de se mover, uma abertura de terra apareceu no chão um pouco abaixo na colina, e dessa abertura saíram Tassi e Quixotina, que havia pulado anteriormente nesse buraco para escapar do monstro. Estava exausta por ter usado boa parte de sua mana, adeptos da gemas de luz e da força eram considerados sortudos por poderem usar gemas tão fortes, mas conhecia bem a fraqueza dessas gemas, usavam muita magia.

    Tassi não acreditava que um monstro daqueles poderia ser morto, por isso somente quando saiu do buraco e viu pedaços do monstro sem vida ao redor da colina, acreditou que haviam vencido, ao testemunhar isso não pode deixar de vibrar de felicidade, e não foi a única.

    Espectro, Aqua e uns guardas que estavam próximos também vibraram de felicidade, somente Carlos se mantinha calmo com um sorriso no rosto pensando. “Isso é só o começo, no meu mundo quase todos quilombos foram todos destruídos, mas nesse aqui vai ser diferente, não só isso, vou transformar todo esse Brasil, não sei porque tô aqui, só sei que não to aqui para repetir a história, não vou deixar o Brasil continuar sendo um país pobre que só exporta, açúcar, café, soja e milho, mas uma coisa de cada vez, agora temos que terminar as armas, e por fim eliminar qualquer ameaça ao quilombo. Infelizmente não tem uma mina de ferro aqui perto, somente com muito ferro que poderemos fazer armas e canhões, porém, já sei o próximo passo para resolver isso, apenas precisamos produzir outro produto que nós de dinheiro o suficiente para comprar ferro, e já pensei em um, roupas.”

    No dia seguinte a notícia de que tinham matado o boitatá se espalhou por todo o quilombo e Aqua havia planejado um festival para comemorar isso, mas não somente isso, pois já passou tempo suficiente para o pessoal do engenho do seu Jorge passar a ser aceito no quilombo.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota