Capítulo 37 - Indústria Têxtil
Carlos estava na planície cheia de tocos perto da montanha, nela já havia várias oficinas para a produção de pólvora, mas agora tinha um novo barracão que foi construído graças a ajuda de Tassi, esse barracão seria destinado a produção de fios:
“Quando as pessoas pensam na revolução industrial, geralmente a primeira coisa que vem na cabeça delas é o motor a vapor ou o trem, mas a indústria têxtil foi tão importante quanto, e para a minha sorte, não precisa muito ferro para fazer as máquinas têxteis, e temos um clima bom para plantarmos algodão. No meu mundo os EUA produziam o algodão e mandavam para a Inglaterra onde nas fábricas têxteis era transformado em roupas, a demanda das fábricas era tão grande que aumentou a demanda por algodão que consequentemente aumentou a necessidade de escravos, de certa forma a escravidão impulsionou a revolução industrial, mas já nesse mundo será diferente, a produção têxtil irá financiar nossa liberdade.
Pelo menos, espero que isso aconteça, infelizmente começar uma indústria do zero não é fácil, por mais que a indústria têxtil seja a menos complexa e que exige menos mão de obra qualificada, não quer dizer que seja simples. Por sorte tenho livro “Revolução Industrial, a revolução que mudou o mundo”, infelizmente preciso de várias máquinas para várias funções diferentes, por sorte nenhuma delas precisa da máquina a vapor, todas funcionam manualmente, mas claro se quiser aumentar a escala vou precisar fazer máquinas a vapor, infelizmente não temos ferro o suficiente para fazer máquinas a vapor e armas, por isso estou me focando na indústria têxtil para conseguir dinheiro pro quilombo conseguir comprar ferro.
O processo de produção de roupas não é complicado e as máquinas usadas nesta indústria também não são difíceis de fazer, todas são feitas de ferro e madeira, vou ter que desviar um pouco de ferro da produção de armas, mas é um pequeno preço a se pagar e infelizmente todas vão ter que ser movidas manualmente, não tem nenhum rio aqui para usar a força da água e fazer um motor a vapor decente levaria muito tempo e custaria muito ferro.
Primeiro preciso de uma máquina para descaroçar algodão, vou usar a Cotton Gin de Eli Whitney.
Segundo, vou precisar de uma máquina para transformar o algodão em fios, vou utilizar a Spinning Jenny de James Hargreaves.
Terceiro, transformar o fio em tecido, para isso vou usar o tear mecânico manual Flying Shuttle de John Kay.
Quarto, tingimento, esse é bem fácil basta deixar o tecido mergulhado em água quente com cinzas que formava uma solução alcalina que quebra as gorduras e remove as impurezas do tecido, deixando branco ou próximo disso, tá mais pra um cinza, mas isso seria apenas um pré processo para tingi-lo com outras cores, mas para nossa clientela, teremos apenas as opções, de branco acinzentado e cinza. Depois só tem que secar ao sol.
Por último o processo mais difícil, pelo menos era durante a revolução industrial, que é a confecção de roupas que era feita manualmente durante a revolução industrial mas por sorte não preciso seguir a história a risca, posso pular do século XVIII onde essas máquinas que estou usando foram inventadas e pegar uma máquina do século XIX a máquina de costura de Isaac Singer para acelerar a produção de roupas infelizmente essa também é a máquina mais complicada de fazer pois requer aço, mas apenas alguns componentes de precisão e agulha precisam ser de aço, além disso dá pra fazê-los de ferro só que vão quebrar muito fácil… De qualquer forma é estranho ver essa foto dessa máquina, porque minha avó literalmente tinha uma máquina dessas em casa, não imaginei que ela fosse tão antiga, pelo visto alguns modelos não precisam de melhoria, afinal time que está ganhando não muda. Só espero que Nia não fique brava por pedir pra me ajudar com a fazer isso.”
Tassi que estava sentada descansando por ter acabado de terminar o barracão estava apenas olhando para Carlos que estava murmurando coisas para si mesmo com uma cara meio complicada enquanto olhava as máquinas estranhas que estavam naquele livro, infelizmente já fez a parte dela e não tinha como ajudar nisso, aliás ninguém conseguiria ajudá-lo com isso nesse mundo. Depois de um longo tempo, ele pegou uma folha de espiga de milho, colocou em uma página do livro e fechou o livro, buscou com os olhos Tassi, até que a viu e disse:
— Vamos, minha querida guarda costas, temos que ir falar com Nia e com o carpinteiro.
Tassi não gostou do tom dele ao chamar de guarda costas e quis dar o troco: — Claro chefinho.
— Tá bom, não vou chamá-la de querida guarda costas, então não me chame de chefinho por favor.
— Sim chefe. — Respondeu Tassi engrossando a voz.
— Nada de chefe, chefinho, chefão.
Tassi riu e respondeu: — Sim senhor.
Carlos olhou para ela com um olhar assassino e Tassi resolveu parar, mas antes comentou: — Infelizmente agora você é chefe e pelo menos na frente dos outros vou ter que te respeitar, agora só vou poder te zoar longe de todo mundo.
— Nem pensar, se quiserem reclamar que você não me respeita pode mandar virem falar comigo, afinal o que vão fazer? Vão me rebaixar? Quem vai tomar o meu lugar? Ninguém! Por isso agora certas coisas vão ser do meu jeito.
O respeito de Tassi por Carlos subiu ao ouvir isso. — Você não era assim antes.
— É claro que era, mesmo quando virei escravo não esperava pelo dia em que eu pudesse matar aquele merda afinal “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, tinha que obedecer naquela hora, depois podia mandar, o mesmo acontece agora.
Carlos então olhou para os lados antes de chegar perto do ouvido de Tassi e dizer baixinho:
— Vou te falar que mesmo agora a idéia de servir um “rei” não me cai bem, mas quem sabe pode ser competente, mas duvido, afinal tem um harém, que rei vai ficar ouvindo coisas chatas de política quando pode estar com seu harém.
Ao ouvir isso, Tassi arregalou os olhos e olhou ao redor pra ver se tinha alguém ouvindo, por sorte estavam a sós isolados, então suspirou e deixou escapar raiva em seu rosto e disse baixinho no ouvido:
— Você tá doido! Imagino que no seu mundo não tenha reis, mas aqui as coisas são diferentes
— Claro, claro, sei, mas voltando ao assunto de antes, se você quiser me chamar de algo, não precisa ser chefe nem nada, pode me chamar lindo, gostoso, maravilhoso, gênio.
Tassi ficou mais irritada ainda e deu um soco de leve no braço dele que então, gritou:
— Aí, doeu
Na hora gritou de dor e colocou a mão no braço.
— Para de fingir seu dramático.
Após dizer isso, começou a caminhar em direção ao centro da cidade e Carlos começou a segui-la, ainda colocando a mão no braço e pensando consigo mesmo “Mas doeu mesmo, ela é forte a beça. Deve estar comendo whey para estar ficando assim, ou será que a mana dá um bônus passivo de força… Ei, ela está me deixando para trás!”
— Que tipo de guarda costas vai na frente do seu chefe? Você deveria ficar guardando minhas costas, afinal “guarda”, “costas”.
— Sabe que aqui não existe esse tal guarda costas, também me pergunto se alguém do seu mundo iria rir de uma piada sem graça dessas.
Na hora não consegui pensar em algo para retrucar a fala dela, os dois seguiram em silêncio até a oficina de Nia. Assim que abriram a porta deu pra sentir o calor que estava lá dentro pois todo mundo estava ocupado trabalhando e havia mais cinco pessoas, era uma cena bem diferente da primeira vez que entrou nessa oficina. Assim que Nia viu os dois entrando saiu do seu trabalho e foi se encontrar com eles com uma cara meio feia dizendo:
— Não me digam que vieram me trazer mais trabalho? Já não basta ter que ensinar todos os ferreiros do quilombo inteiro e seus aprendizes, sabe quantos ferreiros existem no quilombo? Pois eu não sabia até essa semana, mas tem muitos! Além disso, tenho que ensinar meus aprendizes também.
Nia então suspirou por uns segundos com calma então olhou para a cara de que se sentia culpado, mas mesmo assim Carlos lentamente abriu a boca para dizer:
— Então… Preciso que você faça várias peças diferentes para máquinas diferentes… — Carlos com medo de encarar Nia olhava para o chão. — Para a sua surpresa Nia pegou em seus dois braços, o que forçou Carlos a olhar diretamente em seus olhos cor de rubi, mas ao contrário da expectativa de Carlos não estava furiosa, e sim parecia animada, tanto que todo o cansaço que exibia sumiu.
— Então que gambiarra vamos fazer agora?
Carlos então cautelosamente explicou tudo que precisava, mas Nia estava animada, fazia perguntas sobre o que cada máquina fazia, como era utilizada, como cada peça encaixava no geral, o que o deixou exausto mentalmente. Quando finalmente terminou de explicar tudo Nia falou:
— Acho que agora entendi o que você quis dizer com “máquina”, são gambiarras fascinantes.
— Espera você não sabia o que é um máqui— Carlos ia terminar de falar mas o pensamento veio em sua cabeça “Claro que ela não sabe o que é uma máquina, nem sei citar uma máquina antes do período da revolução industrial, mas acho que essa palavra deveria existir, ou talvez não, mas mesmo que exista, ninguém vai conhecer, mas é estranho pensar isso, mesmo se não existisse magia e esse mundo fosse igualzinho ao meu mundo do passado, esse seria um mundo completamente diferente para mim, claro que isso é algo óbvio, mas aposto que se pegasse um camponês da Inglaterra de agora e levasse ele uns 400 anos no passado, tudo para parecia igual, ainda teria que trabalhar no campo com as mesmas ferramentas servindo ao um senhor feudal… Mas se pegar uma pessoa do meu tempo, e apenas mover ela uns 50, não 20 anos no passado, já vai estar em um mundo completamente diferente.”
Enquanto estava perdido no mundo da lua, Nia trouxe de volta a terra estalando os dedos na frente dele, o que o fez voltar a focar na conversa atual.
— Por um segundo achei que você tinha voltado para o seu mundo.
Nia pegou firme no braço de Carlos e foi mais perto dele encostando o braço dele levemente em seus seios e disse:
— Mas não vou deixar, você vai ter que ficar nesse mundo me ajudando a fazer essas tais máquinas e armas de fogo.
Ficou surpreso com essa fala repentina e ficou sem jeito, mas logo recuperou a compostura porque todos os homens que estavam ali, pararam o que estavam fazendo e fixarem seu olhar nele, o que trouxe um silêncio assustador para oficina antes barulhenta, todos os olhos dos homens se o olhavam com um olhar assassino, até os aprendizes estavam fazendo isso. Sentiu um arrepio na espinha com tal cena, por conta disso pegou os ombros de Nia o que gerou mais ódio, mas tinha que fazer isso para afastar gentilmente Nia, assim que a afastou de si mesmo, disse:
— Não vou a lugar nenhum, obrigado por fazer estas máquinas, agora tenho que falar com o carpinteiro do mocambo.
Somente após essas palavras que o silêncio da oficina acabou e foi retomado por martelados, som de ferro e vento sendo soprado no forno. Rapidamente se virou para a saída, mas antes que pudesse sair Nia pegou no braço dele de novo e disse:
— Espera, bolei uma idéia de arma de fogo sensacional, só me escuta.
Relutantemente se virou para olha-la que estava com seus olhos de rubi brilhando, disse:
— Vendo sua arma de fogo tive uma idéia genial, e se fizermos uma arma de fogo gigante, do tamanho de um homem e colocássemos no chão, e a bala fosse do tamanho de uma melanc—
— Nossa não acredito que você pensou sozinha em um canhão!
Novamente a oficina ficou silenciosa, Carlos tossiu, se recompôs e disse:
— Infelizmente o canhão inteiro teria que ser feito de ferro ou aço, e seria muito pesado, para defesa e cercos seria bom, mas no momento estamos com falta de ferro.
Depois que disse isso, os olhos de Nia deixaram de brilhar e disse cabisbaixa:
— Então já inventaram essa arma em seu mundo….
Carlos aproveitando a oportunidade saiu correndo da oficina sem olhar para trás, depois que se afastaram da oficina, Tassi abriu a boca pra falar algo mas foi interrompida:
— Nem pense em falar algo! — Tassi não se conteve e começou a dar belas gargalhadas, vendo isso pensou. “É incrível como esconde tão bem suas emoções, consegue não demonstrar dor, raiva, ódio, tristeza, mas pra rir da minha cara consegue até dar gargalhadas… Bom, até que ela fica bem bonita rindo…”
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