Dentro de sua casa Carlos conversava com Aqua.

    — Agora que sei que com Tassi não teremos problemas de comida no curto prazo, acho que vou usar mais trabalhadores em outros projetos.

    Aqua sentada em uma cadeira de madeira olhava para Carlos sentado em sua cama.

    — Entendo a sua pressa, mas nem todo mundo fica feliz tendo que sair de suas terras, claro que estão dispostos a trabalharem para manterem suas liberdades, mas ainda assim não podemos abusar disso.

    Suspirando respondeu:

    — Isso também me incomoda, ainda não temos como pagar um salário para eles, mas se tudo der certo isso logo vai mudar quando começarmos a vendermos roupas, claro que no inicio não vendemos quase nada para os agricultores da região, mas com o tempo as vendas vão aumentar quando conseguirem vender os itens para os comerciantes. De qualquer forma é algo urgente, preciso de cimento e tijolos para montarmos as fábricas e posteriormente casas dos moradores do mocambo.

    — Não vejo como isso seja urgente, o importante é as paredes não desabarem e termos um teto sob nossas cabeças.

    Carlos impaciente disse:

    — Pois basta algumas chuvas para este teto começar a desmanchar, e considerando que estamos numa região muito úmida não é o mais adequado, sem contar as fábricas que logo darão lugar a equipamentos pesados.

    — Se não bastasse isso, ainda tem essas ruas que ficam todas embarradas quando chove, quando tivermos carroças andando para lá e para cá isto vai ficar insustentável! Já está ficando com os carrinhos que inventem, apesar deles serem úteis, não adiantam muito numa estrada lamacenta, e a quantidade de pirita e salitre que estamos transportando só vai aumentar mais e mais com tempo.

    — Além disso, preciso não só de uma casa decente, como uma prefeitura para tratarmos os assuntos do mocambo, e atualmente temos uma população que pode ser utilizada nestas áreas graças aos poderes de Tassi.

    Aqua suspirou em resignação.

    — Tudo bem, apesar de não concordar, você que é o chefe do mocambo. Vou recrutar os trabalhadores necessários, só preciso saber no que eles vão trabalhar, mas isso é com você.

    ───────◇───────◇───────

    Para fazer cimento era necessário calcário, argila e gipsita, primeiro se aquecia o calcário com a argila a temperaturas de 1450 graus, o que poderia ser facilmente feito com gemas de fogo, em uma proporção de 80% calcário e 20% argila. Depois o cimento é resfriado e moído junto com a gipsita.

    Para fazer os tijolos que seriam usados nas casas não era difícil, apenas se usava argila que era aquecida a altas temperaturas.

    Dentro de uma semana já havia encontrado fontes desses recursos e já havia completado os preparativos, havia montado um barracão para a queima de cimento e tijolos na zona industrial.

    No momento Carlos estava demonstrando como usar o cimento para construir uma casa. Misturou o cimento, colocou os tijolos com o cimento e foi fazendo esse processo.

    Quixotina que estava ao seu lado questionou:

    — Esse treco gosmento pode realmente fazer uma casa?

    — Pode sim, pode até mesmo fazer uma casa tão resistente que você terá dificuldade de destruir, apenas olhe para aquela parte já endurecida que fiz esses dias como teste. — Carlos apontava para um pequeno muro um pouco longe dos dois.

    — Isso me soa como um desafio!

    — Que, claro que nã-

    Antes de terminar de falar, Quixotina foi correndo no pequeno muro e o chutou com tudo usando o poder da gema da força, ela conseguiu quebrar o muro, ao mesmo tempo que caiu no chão enquanto segurava sua perna por conta da dor.

    Carlos foi correndo em sua direção.

    — Você tá bem!?

    Na mesmo hora ela levantou, limpou seu suas calças e disse:

    — Ha, consegui vencer facilmente mais este desafio!

    — Se conseguiu “facilmente” fazer isso, porque sua perna esquerda está tremendo, além de estar toda vermelha. E sua cara parece de alguém que está segurando a dor que está sentindo.

    O rosto de Tassi ficou vermelho, e ela parecia estar em muita dor mas mesmo assim respondeu com confiança:

    — Isso são os efeitos do uso da gema da força, você não entenderia.

    — Aham, claro, de qualquer forma obrigado por demonstrar a força do cimento.

    Carlos foi em direção onde estava para continuar demonstrando o trabalho, e Quixotina foi mancando atrás dele.

    “Pelo menos a época que fazia bicos como ajudante de pedreiro valeu a pena.”

    Depois de terminar a demonstração os trabalhadores não pareciam muito animados com isso. Depois que Carlos terminou sua demonstração, olhou para os novos trabalhadores e disse:

    — Entendo que muitos não estão animados para trabalhar com algo que não ajude com a defesa do quilombo, sei que vocês estão trabalhando de graça. Entendo que não estão motivados, mas isso é apenas o começo, com essas invenções nossas vidas irão melhorar, teremos casas melhores, ruas melhores. Desde de já garanto que você poderão comer no restaurante, garanto que todos ganharão casas novas e espaçosas, e também garanto que quando o mocambo começar a vender nossos produtos, vocês irão ganhar salários bons o suficiente para comprarem roupas boas e comerem bem todos os dias!

    Apesar de seu discurso animado, apenas um jovem demonstrou estar animado já o resto não demonstrou muita reação, mas isso não era um problema, eles só tinham que trabalhar.

    “Com isso vou começar a transformar esse lugar numa cidade de verdade, primeiro vou refazer todas fábricas e oficinas, construir uma prefeitura, depois vou construir ruas melhores entre as fábricas, ruas com placas de concretos com espaçamento para água escoar nos pedriscos e areias que serão colocadas em baixo, assim evitando alagamentos. Vou plantar árvores ao redor nas calçadas para dar sombra. Depois todos irão refazer as casas de todos moradores do mocambo. Sendo sincero queria por todos os trabalhadores ociosos nesse projeto, mas não posso chegar para pessoas que trabalharam a vida inteira na agricultura e mandar elas trabalharem em algo completamente diferente de graça, por isso por enquanto só vão ser duzentos trabalhadores.”

    Depois de deixar os trabalhadores, foi na oficina de pólvora para acompanhar a entrega de granadas e três armas a Espectro no Mocambo da Serra, seria sua primeira vez visitando a capital do Quilombo da Jabuticaba. A carga estava sendo levada por trabalhadores nos recém inventados carrinhos de mão. Também havia vários guardas protegendo a carga.

    Chegando no mocambo, subiu uma serra cercada por um muro alto de madeira com torres de vigia, lá era o quartel do quilombo, no portão havia dois guardas que ao verem Carlos abriram o portão. 

    Dentro pode ver diversos homens batalhando com lanças, dentre eles avistou Pedro que foi obrigado a entrar no exército. Depois de andar um pouco, Espectro veio lhe encontrar.

    — Não esperava ver que já iriam entregar uma nova leva de armas, com essa serão quatro armas, mas você não precisava vir aqui Carlos.

    — Na verdade, gostaria de explicar como se pode fazer o melhor uso dessas armas.

    Este comentário irritou o general, mas manteve a calma e apenas disse:

    — Acho que entendo de guerras mais do que você e posso lidar com essas armas sozinhos, não me meto em seu quilombo e você não se mete no meu exército.

    Carlos, sentiu um pouco de medo das palavras de Espectro, mas manteve a postura:

    — Não quero invadir suas área de especialidade, mas entendo mais de armas de fogo e tenho conhecimentos de exemplos históricos do meu mundo de como usar elas, por exemplo com esses mosquetes de pederneira, a melhor forma de se usá-los é usando guerreiros formando três fileiras. A primeira fileira fica ajoelhada. A segunda fileira curvada. A terceira fileira permanecia de pé. Todas as fileiras atiram ao mesmo tempo, isso vai criar uma barreira de balas que mata qualquer um em seu caminho. Eles também devem treinar incessantemente a fazer esse procedimento até conseguirem fazer de olhos fechados.

    O homem de dois metros colocou uma mão na espada que carregava na cintura e olhou para seus guerreiros,  depois olhou para as armas que Carlos trouxe por um tempo antes de dizer:

    — Vou considerar o que você disse, continue com o bom trabalho em seu mocambo, vou relatar as entregas dos materiais para Ganga.

    “Ufa, ainda bem que não se irritou. De qualquer forma, logo vai entender que está é a melhor forma de se usar estes mosquetes, infelizmente ainda não sou capaz de produzir armas de precisão maior…”

    ───────◇───────◇───────

    Depois de mais algumas semanas, dentro de mais uma fábrica construída por Tassi, Carlos acompanhado por Quixotina começou a colocar as máquinas da indústria têxtil para começar a trabalhar, também chamou os tecelões do mocambo para ver o uso das máquinas, afinal por terem experiência com tecidos, seriam os líderes na produção das máquinas.

    Um dos tecelões do mocambo, um homem jovem de cabelo um pouco longo, disse com uma voz fina:

    — Então tá me dizendo que essas máquinas vão nos ajudar a produzir bem mais roupas?

    — Sim, para ser mais exato a Cotton Gin, aumenta a produtividade em até 50x, a Flying Shuttle em 2x, a Spinning Jenny entre 8x e 80x só falta a máquina de costura que aumentaria em 25x a 50x, mas estamos com dificuldade em produzi-la então no momento as roupas serão costuradas manualmente.

    O homem fez uma cara de chocado:

    — Menino, você deve estar brincando com a minha cara!

    Nesse momento o outro tecelão interveio:

    — Calma am- Gabriel, vamos ver primeiro as máquinas em ação, sem contar que é o chefe do mocambo.

    “am? O que será que ele iria dizer, talvez eles sejam…”

    Nessa hora Gabriel congelou antes de dizer:

    — Me perdoe chefe, apenas fiquei incrédulo com sua fala, Malaika tem razão, gostaria de ver essas máquinas em ação.

    Carlos não perdeu tempo o demonstrou o uso delas, uma a uma, por sorte era o testador oficial das máquinas produzidas no mocambo então já tinha se familiarizado com elas, se não fosse por isso, seria um desastre, assim como foi enquanto estudava elas sozinho, e o pior não sabia se a máquina foi construída de forma errado ou se ele era muito burro mesmo.

    Depois de testá-las uma a uma, os tecelões ficaram boquiabertos com os resultados e rapidamente começaram a mexer nas mesmas, facilmente pegaram o jeito e ficaram animados.

    — Essas suas máquinas, são realmente incríveis… Havia boatos de que o novo chefe do mocambo era maluco, mas vejo que não passavam de mentiras. Desculpe a forma como fui rude anteriormente chefe, a partir de amanhã nós iremos treinar os trabalhadores desse nova “fábrica”, se isso ajudar o quilombo trabalharei sem reclamar! — Disse Gabriel animado.

    “Que bom, pelo menos alguém que está animado a trabalhar.”

    — Obrigado, vou estar esperando os resultados.

    — Sim Chefe. — Ambos disseram e depois saíram, assim que saíram entre a porta entreaberta pode se ver eles dando mãos.

    “É, definitivamente são, mas isso não importa, o que importa é fazerem um bom trabalho.”

    Quixotina também notou algo sobre os dois, mas não foi o que ele havia notado.

    — Nossa eles pareciam bons amigos não é mesmo, fiquei sabendo até que os dois vivem juntos, porque sempre se ajudaram antes de entrar no quilombo.

    Ao ouvir isso começou a rir:

    — Ha ha ha, sim são bons “amigos”.

    — Do que você está rindo?

    Ouvir isso, apenas o fez rir mais.

    Até que seus risos foram interrompidos por um guarda que apareceu na recém construída fábrica:

    — Chefe Carlos, Espectro deseja te ver, um intruso do quilombo afirma ser seu conhecido!

    “Meu conhecido, quem poderia ser…”

    — Me leve até lá!

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