Capítulo 46 - Oportunidade
O ar na Cidade Sagrada de Santa Maria era pesado e quieto, cheirando a poeira seca e cerveja derramada. Num dos poucos bares da cidade, a luz fraca de uma lanterna a óleo lançava sombras trêmulas sobre as paredes de taipa. Dois homens ocupavam um canto afastado. Um deles, Elias, vestia um casaco de bom corte, agora empoeirado, e esgrimia com as mãos enquanto falava, sua voz um misto de raiva e desânimo.
— Não acredito que paguei aquela taxa absurda para participar da frota para Portugal, para no fim o meu navio ter que atracar antes mesmo de sair do Brasil, por conta de um surto de varíola! — ele exclamou, o rosto contraído. — E, para completar a desgraça, no pouco tempo que tive para sair da frota e voltar, fui atacado por piratas e tive toda a minha carga roubada! Sorte que não acharam o dinheiro que eu tinha escondido no porão.
Seu companheiro, Francisco, um homem baixo e gordinho cuja barriga pressionava a borda da mesa, tomou um gole lento de sua caneca de cerâmica. O líquido âmbar escorria pela sua barba rala.
— É por isso que prefiro a vida em terra firme, companheiro — disse ele, com um sorriso despretensioso. — Mas, admito, sinto um pouquinho de inveja. Deve ser coisa de outro mundo, navegar em alto-mar, conhecer portos distantes…
— Ha! — Elias soltou uma risada amarga, o som ecoando no canto silencioso do bar. — Quem me dera que fosse assim. Minha vida não passa de ir e vir: venho ao Brasil carregar pau-brasil ou açúcar; metais preciosos e gemas mágicas ficam todos em Portugal. Depois, volto para lá pagando taxas altíssimas para navegar com as frotas protegidas, e mesmo assim passo a viagem inteira morrendo de medo de um ataque pirata, sem falar nas doenças que se alastram como fogo no convés. E quando finalmente chego a Lisboa, sou obrigado a pagar mais impostos e a vender minha mercadoria a preços de banana!
Francisco balançou a cabeça, solidário. Ele ergueu a caneca e outro gole de cerveja, mais amarga do que doce, desceu pela sua garganta.
— Aqui em terra não temos os piratas, é verdade, mas os bandidos de estrada estão a cada curva. No entanto, concordo, as doenças não são um problema tão grande, ainda mais com os novos decretos da nossa papisa. Mas as taxas de Portugal… ah, essas nos sufocam a todos. Se não fosse tão covarde, até me arriscaria no contrabando.
Elias arregalou os olhos e inclinou-se para a frente, baixando a voz para um sussurro áspero.
— Francisco, pelo amor de Deus, baixe a voz! Fala essas coisas onde qualquer oficial pode ouvir?
O homem gordinho apenas sorriu, um brilho astuto nos olhos.
— Relaxe, Elias. Aqui é a Cidade Sagrada. Eles não dão a mínima para os problemas de Portugal. O poder deles não alcança estas paredes.
— Mesmo assim… — Elias retraiu-se, olhando nervosamente por sobre o ombro. — Essa vida de contrabando não vale a pena. Todos os meus amigos que tentaram… ou foram atacados por piratas, ou foram traídos pelos próprios clientes. É um jogo perigoso.
Francisco manteve o sorriso, puxando sua cadeira para mais perto, o assento rangendo sob seu peso.
— Por isso mesmo que eu não me meto nessas águas… a não ser que o cliente seja de plena confiança. Muito plena. Por exemplo… a Igreja.
O coração de Elias pareceu parar por um segundo. Ele se inclinou ainda mais, as pontas dos seus dedos brancas sobre a mesa de madeira áspera.
— Não me diga que você está contrabandeando para a Igreja? — sussurrou, incrédulo. — Você sabe que se vender açúcar, pau-brasil ou minérios, eles rastreiam a origem num piscar de olhos! A própria Igreja assinou um tratado proibindo o comércio desses bens nas Cidades Sagradas!
Francisco, sem pressa, tomou outro gole deliberado de sua cerveja antes de responder. O líquido restante balançava dentro da caneca.
— Sei disso tudo, meu caro. Mas sabe o que é permitido comercializar livremente entre as Cidades Sagradas? Roupas e tecidos. Quanto aos minérios… bem, é permitido comprar, só não é muito prudente que se saiba que você está revendendo, entende?
Elias suspirou, uma expressão de desapontamento lavando seu rosto.
— Ah, Francisco, não me iluda assim. Você sabe que a margem de lucro com tecidos é pequena, a não ser que você tenha uma montanha de roupas para vender. Achei que você tinha um negócio de verdade para me oferecer.
O sorriso de Francisco se alargou, suas bochechas arredondadas se erguendo.
— Calma, Elias. Apenas me escute. E se as roupas e os tecidos fossem extremamente baratos, de boa qualidade e, o mais importante, estivessem disponíveis em grande quantidade? Sei que o seu navio está vazio, ancorado no porto a custo… Além disso, no final do mês, uma frota da Igreja partirá daqui para a Cidade Sagrada de São Vicente. Aquilo sim é um porto! O que chamamos de catedral aqui, lá é uma simples igreja de esquina.
Elias ficou em silêncio por um momento, seus dedos traçando círculos na condensação de sua própria caneca. O cheiro da cerveja azeda enchia suas narinas.
— Me fala mais sobre esse tal negócio — ele finalmente disse, a voz um fio de esperança.
Francisco encheu o peito, satisfeito.
— Está vendo aquela pessoa lá fora, com uma túnica simples? — ele apontou discretamente pela janela aberta. — E aquela outra? E mais aquela adiante? Todas usam as roupas que eu e alguns outros comerciantes estamos vendendo. Não são feitas de seda ou linho fino, mas a qualidade é boa e, repito, o preço é imbatível.
Elias observou as figuras que passavam, notando a simplicidade e qualidade uniforme das vestes, antes de voltar seu olhar atento para o amigo.
— Pelo visto, você já vendeu uma quantidade razoável por aqui. Mas por que quer que eu venda para fora?
— Digamos que o meu fornecedor… consegue produzir muito mais do que conseguimos vender nesta região. A Cidade Sagrada não foi tão afetada pelas guerras, é verdade, mas as pessoas ainda não andam com os bolsos cheios — explicou Francisco, erguendo as mãos em um gesto de resignação.
— Seu fornecedor consegue produzir tanto assim? — Elias franziu a testa, intrigado. — Por acaso descobriram uma gema capaz de clonar roupas? Aliás, ouvi rumores de que na Capitania de Gemas Gerais estão usando uma gema negra que auxilia na mineração…
Francisco o olhou com curiosidade, mas abanou a cabeça, descartando o assunto.
— Os detalhes do seu método, eu ignoro. E, francamente, não importa. O que importa é que posso te vender uma quantidade enorme de roupas e tecidos a um preço mais do que camarada.
Elias sentiu um frio na espinha, uma mistura de excitação e cautela. A ganância, porém, era um sussurro mais alto.
— Você realmente tem contatos em todos os lugares, não é, meu amigo? — ele disse, admirativo. — Mas como pode me garantir que a Igreja fechará os olhos para o nosso esquema?
O homem gordinho soltou uma gargalhada baixa e gutural, sua barriga tremendo com cada “ha ha ha”.
— Essa é a parte mais fácil, Elias! Digamos apenas que… sou próximo de uma figurona muito bem colocada dentro da Igreja.
Ao ouvir isso, um sorriso lento e genuíno se espalhou pelo rosto de Elias.
— Se é assim… então considero o negócio fechado!
— Excelente! — Francisco ergueu sua caneca. — Ah, e na volta, traga muito ferro. Vou comprar tudo de você.
— Ferro? — Elias arqueou uma sobrancelha. — Já está faturando tanto assim? Acho que você está em situação melhor que a minha, meu caro.
— E você poderá ficar tão bem quanto eu, ou até melhor! — Francisco levantou sua caneca ainda mais alto. — Vamos brindar a isso!
Os dois ergueram seus copos de madeira, o som do impacto ecoando como um acordo selado.
— A um futuro de riquezas! — disseram em uníssono, suas vozes misturando-se ao ambiente abafado do bar.
***
Na Catedral, um pequeno escritório no interior da residência da papisa exalava o cheiro calmante de cera de abelha e velho pergaminho. Paula, sentada atrás de uma pesada mesa de jacarandá, relia pela terceira vez a carta enviada do Quilombo da Jabuticaba. A textura áspera do papel sob seus dedos era familiar.
“Dessa vez, ele entrou em bem mais detalhes sobre como esterilizar materiais com álcool e evitar a contaminação de doenças…”, ela pensou, os olhos percorrendo cada linha. “Estas informações são de um valor inestimável, mas queria aquele livro completo em minhas mãos! Estou disposta a pagar qualquer preço! Até porque, até o momento, tudo que ele enviou se mostrou verdadeiro. A mortalidade na Santa Casa da Misericórdia diminuiu drasticamente com as novas práticas, e faz apenas um mês que as aplicamos…”
Ela pousou a carta, uma pontada de frustração na nuca.
“E, pelo acordo, recebo apenas uma carta por mês… Que suplício! Pelo menos ele descreveu o mecanismo que permite ver seres microscópicos a olho nu. Graças a Deus, os nossos artesãos são os melhores do mundo. Quando o ‘microscópio’ ficar pronto, vou desenhar os micróbios que encontrar e enviar os esboços para a sede da Igreja, tudo em meu nome, é claro. Afinal, paguei um preço altíssimo por este conhecimento. Se Portugal descobrir que estou negociando com quilombolas…”
Seus pensamentos foram abruptamente interrompidos por batidas firmes na porta de carvalho.
— Vossa Santidade? — a voz de um cardeal ecoou do corredor. — Francisco, o comerciante, entregou uma carta destinada a você.
“Uma nova carta do quilombo? Já?”
O coração de Paula deu um salto. Ela se levantou tão rápido que a cadeira arrastou no assoalho de madeira. Abriu a porta e pegou o pergaminho das mãos do cardeal com uma ansiedade quase infantil. Mas, ao desdobrar a missiva e reconhecer a caligrafia de Francisco, seu rosto se fechou. A desilusão era um gosto amargo na boca.
“Querida, Misericordiosa, Maravilhosa Santa Papisa Paula,” lia-se com uma lábia que ela conseguia quase ouvir.
“Recentemente, fiz um acordo com um colega meu, dono de um navio, para vender as roupas produzidas no quilombo para outras Cidades Sagradas. Gostaria que Vossa Santidade aprovasse a venda e, se possível, permitisse que ele acompanhasse a frota da Igreja, para facilitar a venda dos produtos.”
As mãos de Paula se apertaram ao redor da carta, os nós dos seus dedos ficando brancos. A fúria, quente e repentina, subiu-lhe ao rosto.
“Como ele ousa! Usar o meu nome e a minha autoridade para conseguir vantagens para si e para um amigo!”
Respirou fundo, forçando-se a continuar a leitura.
“Este mesmo amigo irá comprar ferro em outras Cidades Sagradas e trazê-lo para cá. Com isso, o acordo com o quilombo será mantido, o que significa mais cartas para você, mais dinheiro no meu bolso e no do meu amigo.”
A audácia era tão grande que beirava o insulto.
“Imagino que Vossa Santidade ainda tenha seus receios. Por isso, lhe dou tempo para pensar. Enquanto isso, vou encontrar um conhecido meu que, talvez, tenha outros ‘livros divinos’ para oferecer.”
“Atrás desta folha, está o endereço temporário do meu colega. Quando aceitar o acordo, mande uma carta a ele.”
Com um grunhido de raiva contida, Paula atirou a carta sobre a mesa. O papel deslizou e parou à beira de cair.
“Não acredito! Ele está me extorquindo, usando os meus próprios desejos contra mim! E o pior… o pior é que este acordo é vantajoso!” Ela sentou-se novamente, o corpo tenso. “Mantenho o fluxo de conhecimento, o quilombo se sustenta, e ainda posso taxar todo este comércio. Maldito seja! Consigo quase ver o sorriso presunçoso dele ao escrever estas linhas. Só de pensar, me dá uma vontade de…!”
Segurando a fúria com um esforço sobre-humano, ela pegou uma pena, mergulhou-a na tinta com um gesto brusco e olhou para o endereço anotado no verso da carta. Sua caligrafia, normalmente impecável, saiu firme e contida enquanto escrevia a resposta. Não muito tempo depois, chamou o cardeal e ordenou que a carta fosse entregue.
Quando a porta se fechou, ela deixou escapar um suspiro profundo, o som ecoando na solidão do escritório.
“Com isso, estarei cumprindo a minha parte do acordo com aqueles quilombolas. Agora, que eles cumpram a deles. O tempo se esgota… Logo, o ataque acontecerá. E eu, infelizmente, só poderei curar um dos lados. Se sofrerem baixas severas, estarão por conta própria. Que Deus lhes ajude.”
***
No Quilombo da Jabuticaba, uma brisa quente carregava o cheiro da mata. Carlos estava sentado à mesa de sua casa recém-construída, de tijolos, ouvindo o relatório de Aqua. A luz do entardecer entrava pela janela, iluminando os papéis espalhados entre eles.
— Somando o valor total de todos os tecidos vendidos — disse Aqua, seu dedo indicador percorrendo uma coluna de números —, deu cento e cinquenta mil réis! O quilombo nunca viu tanto dinheiro, e tudo isso em um único mês!
Carlos não conseguiu conter um sorriso de satisfação. O suor e o trabalho duro estavam valendo a pena.
— Isso com apenas uma ‘cotton gin’, seis teares, seis ‘jennys’ e uma máquina de costura — ele comentou, o entusiasmo transparecendo em sua voz. — Imagine quando encheremos a fábrica de máquinas e de trabalhadores! E com a nova máquina de costura, poderemos fazer roupas prontas e vendê-las por um preço muito maior!
— Sim, é verdade — Aqua assentiu, mas seu rosto permaneceu sério. — Mas não se anime demais. Desses cento e cinquenta mil, metade — setenta e cinco mil — ficou para os cofres do quilombo. Vinte e cinco mil foram usados para comprar ferro e outras necessidades para o mocambo. Sobraram, então, cinquenta mil réis.
Ao ouvir o número final, o sorriso de Carlos se desfez e ele suspirou pesadamente, o som carregado de preocupação.
— Só espero que Ganga use a parte do quilombo para comprar ferro para os outros mocambos… — ele murmurou, olhando para as sombras alongadas no chão de terra batida. — Mas, mesmo que todo o dinheiro fosse nosso, ainda seria muito pouco. Agora eu entendo, Aqua. Entendo por que, no meu passado, faziam mulheres e crianças trabalharem quatorze horas por dia, todos os dias, por quase nada…
Aqua fitou-o, sua expressão suave de repente marcada por choque e compaixão.
— Mas isso… isso é horrível, Carlos. Eu sempre achei que o seu mundo fosse completamente diferente do nosso.
— É diferente agora — ele corrigiu, sua voz grave. — Mas no passado, era muito parecido. E só porque é diferente, não significa que seja perfeito, ou que todos os lugares tenham a mesma riqueza. Mas não se preocupe, não vim aqui para repetir os erros da história. É por isso que dou folga nos fins de semana e faço todos trabalharem apenas oito horas por dia… Falta apenas conseguirmos pagar um salário digno.
Aqua baixou os olhos para os papéis, seus dedos delicados alisando uma borda amassada.
— Segundo o seu plano, não vamos pagar quem vive apenas da agricultura, pelo menos por enquanto. Somando os artesãos e os trabalhadores das novas ‘indústrias’, temos um total de quatrocentos e setenta e nove pessoas para remunerar.
Carlos observou-a, grato mais uma vez por sua habilidade.
“Ainda bem que Aqua sabe ler e escrever por conta de seu passado. Ela lida com esses números e termos novos com uma facilidade que me salva horas de trabalho.”
— Podemos começar pagando cem réis para cada trabalhador, por mês — ele propôs.
— Cem réis? — Aqua franziu a testa, preocupada. — Carlos, fora daqui, isso não é nada. Não dá para viver com tão pouco.
— Eu sei — ele admitiu. — Mas aqui, ninguém paga aluguel. E quem controla os preços da comida e de outras necessidades no nosso mercadinho sou eu. Podemos manter os custos de vida baixos, por enquanto. É um começo.
Aqua suspirou, claramente não convencida.
— Entendo as suas boas intenções, acredite. Mas acho que devemos ser cautelosos. Usar todo este dinheiro para pagar salários agora não nos dará retorno imediato. Precisamos reinvestir.
— E é exatamente isso que vamos fazer! — Carlos explicou, animando-se novamente. — O dinheiro vai motivar as pessoas a trabalhar mais e vai movimentar a nossa própria economia. Pense: o restaurante pode começar a cobrar pelo almoço. Claro, será um preço baixo, mas suficiente para dar algum lucro. Isso também evitaria que pessoas de outros mocambos, que não trabalham para nós, viessem apenas pelo almoço grátis.
Ele gesticulou, entusiasmado, suas ideias fluindo.
— Também podemos abrir pequenas lojas. Uma vendendo sorvete, por exemplo. Estamos no meio do verão, venderia como água! E poderíamos cobrar um pouco mais. Além disso, temos uma fábrica têxtil, mas hoje ninguém aqui tem dinheiro para comprar uma roupa nova. Malaika me disse que muitas mulheres têm interesse em comprar roupas para si. Se elas tiverem um salário, mesmo que pequeno, poderão comprar.
Carlos pegou a folha com os números do lucro bruto.
— Nós fizemos cento e cinquenta mil réis vendendo basicamente tecido cru. Agora, com a máquina de costura, vamos vender roupas prontas, que têm muito mais valor. Some isso ao fato de que os trabalhadores estarão mais motivados com um salário no bolso. Teremos mais lucro e, com mais lucro, poderemos dar salários maiores para os mais produtivos, criando um ciclo virtuoso.
Aqua ficou em silêncio, fitando Carlos. Seus olhos pareciam analisar cada palavra, cada possibilidade. Ela abriu a boca para contestar, mas nenhum argumento veio. A lógica, embora estranha e nova, fazia um certo sentido.
— Como desejar, chefe — ela finalmente disse, uma rendição cautelosa em sua voz.
Enquanto Aqua começava a guardar os papéis, organizando-os com cuidado, a tranquilidade da tarde foi quebrada de forma abrupta. A porta da casa de tijolos se abriu violentamente e um guarda, com o rosto marcado pela urgência e o peito ofegante, irrompeu na sala.
— Estamos sendo atacados! — ele gritou, sua voz ecoando como um sino de alarme no coração tranquilo do quilombo.

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