Índice de Capítulo

    Alice aceitou com tranquilidade o fato de que seu caixão agora fazia parte do Banido.

    E, em um ritmo ainda mais rápido, deixou para trás todas as preocupações sobre a Rainha de Geada Ray Nora.

    Seu nível de despreocupação era algo que Duncan jamais conseguiria alcançar.

    Segundo a própria Alice, ela lidava tão bem com isso porque, para ela, tudo isso era apenas algo externo a si mesma.

    “No fim das contas, eu moro neste navio agora, e não planejo sair. Então não faz diferença se o meu caixão virou parte do Banido. E sobre a Rainha de Geada? Isso é ainda mais simples—eu nem a conheço.”

    Alice balançou os pés alegremente, sentada sobre a tampa do caixão, com um sorriso despreocupado.

    “Eu não sei se sou ela ou não, e também não sei que tipo de pessoa ela era. Mas isso aconteceu há cinquenta anos… Se faz parte da história, que continue na história.”

    Duncan a observou em silêncio por um longo tempo antes de finalmente assentir levemente.

    “Se você consegue lidar com isso dessa forma, melhor para você.”

    No final, ele decidiu não contar a Alice sobre os ‘detalhes’ que viu na ressonância do caixão.

    Ele não mencionou as últimas palavras da Rainha de Geada antes de sua execução.

    No fim das contas, Alice não saberia nada sobre isso de qualquer maneira.

    E, do jeito que estava agora—despreocupada, sem dúvidas, vivendo sem o peso do passado—talvez fosse melhor assim.

    “Muito bem, já entendemos a estrutura básica do seu ‘caixão’ e conseguimos estabelecer algum nível de controle sobre ele.” Duncan exalou levemente. “Mas ainda precisamos testar se a habilidade de ‘decapitação’ da Anomalia 099 também está sob controle.”

    Ele se virou para sair.

    “Vou nessa.”

    “Até mais, Capitão! Tenha um bom dia~~”

    Saindo do quarto de Alice, Duncan voltou ao convés, imerso em pensamentos enquanto caminhava lentamente em direção à cabine do capitão.

    Ele tentava organizar todas as questões que se acumulavam em sua mente.

    Seu objetivo inicial era entender se o poder de ‘decapitação’ da Anomalia 099 poderia ser controlado.

    Mas, ao invés disso, ele acabou se deparando com um mistério de cinquenta anos atrás—

    A execução da Rainha de Geada.

    As acusações de que ela colaborou com o Banido.

    E o enigmático ‘Projeto Abismo’—um nome que parecia estar no centro de tudo.

    Todas essas questões pairavam sobre sua mente e não desapareciam.

    E então… havia outra coisa que o incomodava.

    Duncan enfiou a mão no bolso e retirou um pequeno objeto.

    Uma presilha de cabelo prateada, esculpida como uma pena cercada por ondas.

    Ele a girou entre os dedos, observando o reflexo da luz em sua superfície.

    Não importa como olhasse para aquilo, não era algo que um marinheiro rústico teria.

    E sempre que olhava para esse pequeno acessório, um sentimento de nostalgia vaga surgia dentro dele.

    Como se, para o verdadeiro ‘Capitão Duncan’, essa presilha tivesse um significado especial.

    Duncan sentia que essa questão era importante.

    Mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia simplesmente perguntar ao Cabeça de Bode.

    Ele guardou a presilha novamente e continuou seu caminho, com a mente carregada de pensamentos.

    Quando finalmente entrou na cabine do capitão…

    O Cabeça de Bode estava lá, trabalhando diligentemente para manter o navio nos trilhos.

    Mas, para a surpresa de Duncan, Ai, que deveria estar na cabine do capitão aguardando ordens, também estava ali dentro, ao lado do Cabeça de Bode.

    A pomba estava empoleirada orgulhosamente no chifre do Cabeça de Bode, completamente à vontade.

    Ela esfregava o bico contra a testa do bode, como se estivesse afiando uma lâmina invisível.

    Duncan abriu a porta exatamente nesse momento.

    Ele parou por um segundo, observando a cena, então arqueou as sobrancelhas e perguntou:

    “Desde quando vocês dois ficaram tão próximos?”

    Ai bateu as asas de leve, mantendo um silêncio arrogante.

    O Cabeça de Bode, por outro lado, virou lentamente a cabeça, seu olhar de obsidiana fixando-se em Duncan.

    “Ó grande Capitão… Da próxima vez que levar Ai para uma travessia pelo Plano Espiritual… poderia, por favor, trazer algumas batatas fritas?”

    Duncan piscou.

    “… Você também entrou nessa agora?”

    A voz do Cabeça de Bode tremia quase imperceptivelmente.

    “Por favor… Apenas traga algumas… pelo bem do seu pássaro…”

    Duncan ficou em silêncio, analisando a situação.

    Então, lentamente, começou a entender o que havia acontecido.

    Ele soltou uma risada baixa.

    “Ah… Então você finalmente encontrou seu maior inimigo, hein?”

    O Cabeça de Bode explodiu.

    “EU MUDEI DE ASSUNTO SETENTA E SEIS VEZES! SETENTA E SEIS! Eu esgotei todo o conhecimento acumulado em minha vasta existência! Passei por milênios de história! Recitei poemas épicos! Discursos sobre os deuses antigos! Filosofei sobre a natureza do tempo e do destino! Fiz uma análise detalhada sobre a criação de templos! Expliquei até sobre a criação de porcos!

    “E qual foi a única resposta que recebi?”

    Ele respirou fundo dramaticamente, antes de imitar o tom monótono da pomba:

    “‘Traga batatas fritas.’”

    Duncan teve que se segurar para não rir.

    “Como exatamente você lida com essa criatura diariamente?”

    Duncan deu de ombros.

    “Simples. Eu não converso muito com ela. Se você parar de falar, ela se acalma rápido.”

    O Cabeça de Bode ficou pensativo por um momento.

    Então, soltou um longo suspiro profundo.

    “… Traz as batatas fritas, Capitão.”

    Duncan não deu uma resposta direta, apenas fez um gesto para Ai, que imediatamente voou e pousou em seu ombro.

    Ele então se acomodou em sua cadeira, virando-se casualmente para o Cabeça de Bode.

    “Me diga, você sabe algo sobre a Rainha de Geada? Ray Nora, a governante de Geada há cinquenta anos?”

    O Cabeça de Bode hesitou por um momento, seus olhos brilhando com um leve tom pensativo.

    “A Rainha de Geada? Aquela que foi executada pelos rebeldes há meio século?” Ele então assentiu levemente. “Já ouvi falar dela. Se bem me lembro, há algumas décadas, chegamos a lutar contra os navios de Geada na região… Mas fora isso, não tivemos muito contato com eles.”

    Duncan permaneceu imóvel, encarando atentamente o Cabeça de Bode.

    Ele sabia quando aquele bode mentia—e, desta vez, ele não estava mentindo.

    O Banido nunca teve qualquer aliança com Geada.

    Na verdade, eles chegaram a enfrentar a frota do reino—assim como fizeram com várias outras cidades-estado e embarcações ao longo dos anos.

    O que isso significava?

    Significava que as acusações feitas contra Ray Nora pelos rebeldes eram uma completa farsa.

    A Rainha de Geada nunca esteve aliada ao Banido.

    Ela nunca tentou trazer o navio de volta ao mundo real.

    E ela nunca tentou construir um segundo Banido.

    Claro, era cedo demais para tirar conclusões definitivas.

    Uma história de cinquenta anos atrás poderia ter muitos detalhes perdidos, e ele tinha apenas o testemunho do Cabeça de Bode—que, embora sincero, não significava que ele soubesse de toda a verdade.

    Mas, no momento, isso pouco importava para Duncan.

    Ele não estava tentando reescrever a história da Rainha de Geada.

    Ele não queria limpar seu nome ou buscar justiça para uma governante do passado.

    Ele só queria respostas sobre o Banido.

    E, mais do que isso, ele queria respostas sobre Alice.

    “Você sabia que Alice é idêntica à Rainha de Geada de cinquenta anos atrás?”

    Duncan falou casualmente, enquanto brincava com Ai em seu ombro.

    “A chamada Anomalia 099—o Caixão de Boneca—provavelmente surgiu quando a Rainha de Geada foi executada e amaldiçoada pelo Mar Infinito.” Ele fez uma breve pausa antes de continuar: “E a acusação que usaram contra a Rainha antes de sua morte era justamente… conspirar com o Banido.”

    O Cabeça de Bode congelou.

    Duncan raramente o via reagir dessa forma.

    Por alguns segundos, ele ficou completamente estático—algo incomum para alguém que sempre tinha uma resposta pronta para tudo.

    Então, após um longo silêncio, ele finalmente explodiu em gargalhadas.

    “Conspirar com o Banido?! Esses humanos patéticos das cidades-estado realmente precisam inventar um motivo tão ridículo até para trair seus próprios governantes?” 

    Ele riu alto, como se tivesse ouvido a maior piada de sua existência.

    “Capitão, não me leve a mal, mas eu simplesmente não consigo evitar rir disso! Os humanos são tão fracos e medrosos que devem achar que até tropeçar na rua pode ser culpa do Banido!”

    Ele sacudiu a cabeça, ainda rindo.

    Então, se acalmou um pouco, sua voz se tornando mais reflexiva:

    “Mas você disse que Alice se parece exatamente com a Rainha de Geada?”

    Ele ficou pensativo por um momento, depois bufou.

    “Bem… Se Alice realmente veio daquela rainha… Então toda essa história se torna uma ironia imensa.”

    “Exatamente”, Duncan murmurou, se inclinando confortavelmente na cadeira.

    “A Rainha de Geada nunca teve qualquer conexão com o Banido, mas foi executada por essa falsa acusação. E agora, cinquenta anos depois, Alice, que pode ser uma manifestação de sua existência, é realmente uma tripulante do Banido. Ou seja…

    “A mentira dos rebeldes acabou se tornando verdade—só que meio século tarde demais.”

    O Cabeça de Bode balançou os chifres, claramente impressionado.

    “Não é de se admirar que você tenha ido direto procurar Alice assim que voltou. Isso é um avanço enorme na investigação sobre a Anomalia 099.”

    E então, em um piscar de olhos, ele entrou no modo bajulação:

    “Isso só prova mais uma vez a grandeza do Capitão Duncan! Cada jornada sua resulta em descobertas inestimáveis! Isso me lembra de uma frase famosa dita por um grande navegad—”

    Duncan imediatamente o interrompeu.

    Ele pegou Ai do ombro e a colocou bem na frente do Cabeça de Bode.

    “Conversem vocês dois.”

    O bode ficou paralisado.

    “…?!”


    Na Grande Catedral de Pland, Vanna assinou uma última folha de pergaminho antes de entregá-la a seu assistente.

    “Leve este documento à Igreja do Oeste—esta é a última ordem de busca.”

    O jovem Guerreiro Guardião pegou o papel com firmeza e assentiu.

    “Sim, Inquisidora.”

    Vanna exalou lentamente, sentindo os músculos do pescoço rígidos por horas de trabalho burocrático.

    Ela odiava papéis.

    Depois de tanto tempo lidando com ordens e documentos, começava a sentir que preferia enfrentar hereges empunhando sua espada gigantesca do que passar mais uma noite assinando relatórios.

    Na borda de sua escrivaninha, uma lâmpada a óleo queimava suavemente.

    Ao lado dela, um incensário de bronze liberava uma fina espiral de fumaça azulada.

    Esses dois itens eram essenciais para quem passava as noites trabalhando na catedral—mesmo dentro de um local sagrado, era prudente manter as proteções apropriadas.

    Vanna se espreguiçou, soltando um resmungo.

    “Espero que não haja mais complicações esta noite.”

    Mas como se o destino tivesse escutado sua queixa—

    No instante em que suas palavras foram ditas, uma campainha ressoou no silêncio da noite.

    O som era agudo e insistente.

    O Guerreiro Guardião, que ainda segurava o documento e não havia saído da sala, imediatamente parou.

    Ele olhou pela janela, confuso, e então voltou-se para sua superior, que ainda estava no meio do alongamento.

    “A campainha da vigília noturna… O que está acontecendo?”

    Vanna, já tensa, franziu o cenho e analisou o padrão do sino.

    Sete repiques curtos.

    Diretamente da Câmara Sepulcral do Rei Sem Nome.

    Seu rosto ficou sério na hora.

    “É um chamado para ouvirmos um relato importante.”

    Ela pegou sua espada e se levantou imediatamente.

    “Sete toques consecutivos… Da Câmara Sepulcral do Rei Sem Nome… Ou encontramos uma nova anomalia… Ou um novo fenômeno surgiu.”

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