Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 104: A Nota
Vanna respirou fundo, acalmando sua mente enquanto olhava para a pena e o pergaminho de pele que o Guardião da Tumba havia lhe entregado.
“Eu posso permanecer lá dentro por quanto tempo?” Ela ergueu os olhos, encarando o ser envolto em mortalhas à sua frente.
O Guardião inclinou levemente a cabeça. Seu corpo, que parecia existir entre a vida e a morte, ficou silencioso por um instante, como se estivesse avaliando a força espiritual de Vanna antes de responder, com uma voz fria e monótona:
“Um instante, ou uma eternidade.”
O significado era claro—a mensagem que ela receberia dentro da tumba seria curta e direta, mas o perigo poderia ser absoluto. O simples ato de escutar poderia significar a morte.
Vanna assentiu levemente e desviou o olhar do Guardião.
Ela então começou a caminhar em direção à imensa pirâmide.
O Guardião da Tumba seguiu-a em silêncio, suas correntes velhas e enferrujadas arrastando-se pelo chão de pedra, ecoando pelo grande espaço.
Ao redor, as sombras reunidas na praça observaram em silêncio, sem emitir qualquer som ou reação. Apenas testemunhavam a marcha de um santo escolhido rumo à câmara mortuária.
Diante da entrada monumental da tumba, Vanna parou.
Ela ergueu os olhos para a imensa porta de pedra branca.
A presença da estrutura era esmagadora—seu design antigo e solene evocava um peso histórico indescritível, algo que parecia tocar diretamente a alma.
Ela já havia visto a tumba antes, em outras convocações espirituais.
Mas esta era a primeira vez que era escolhida para entrar como “ouvinte”.
Fenômeno 004 – “A Tumba do Rei Sem Nome” — esta antiga tumba, perdida em uma fenda entre tempos e espaços, não pertencia exclusivamente à Igreja do Mar Profundo. Ele era vigiado em turnos por todas as grandes ordens religiosas—um artefato dos tempos antigos, compartilhado entre as igrejas ortodoxas.
De todos os registros históricos conhecidos, esta tumba tinha uma estética claramente inspirada no antigo Reino de Creta. E as evidências apontavam para ele como um verdadeiro remanescente daquela civilização desaparecida. Mas ninguém sabia quem realmente o havia construído. E ninguém sabia por que ele se tornara um “fenômeno”.
As pessoas apenas sabiam que o dono dessa tumba enviava mensagens para o mundo exterior em intervalos irregulares. Essas mensagens carregavam uma contaminação tão intensa que, na maioria das vezes, eram fatais para meros mortais. Mas, ao mesmo tempo, essas informações eram incrivelmente precisas e confiáveis—revelando verdades sobre anomalias e fenômenos poderosos.
Sempre que a tumba transmitia uma nova mensagem, um Guardião da Tumba emergia da câmara mortuária e selecionava um ouvinte. O Guardião era parte do próprio Fenômeno 004—sem nome, sem passado, um ser totalmente leal à sua função.
Ele sempre escolhia os espíritos mais próximos da praça de reunião.
Mas, se não houvesse ninguém por perto, ele atravessaria o mundo inteiro para encontrar um destinatário aleatório.
Nos tempos antigos, quando as regras do Fenômeno 004 ainda não eram compreendidas, essa ‘escolha aleatória’ resultou na morte de centenas, talvez milhares de pessoas.
Até que, há milhares de anos, um único santo finalmente quebrou esse ciclo mortal.
Ele entrou na Tumba do Rei Sem Nome e sobreviveu ao retorno.
E, pela primeira vez, o mundo recebeu um presente do Rei Sem Nome—
A primeira versão da lista de anomalias e fenômenos.
Todos sabiam que a classificação de anomalias e fenômenos, bem como sua lista oficial, eram um legado do antigo Reino de Creta.
Mas poucos sabiam a verdade sobre como essa informação chegou ao mundo—
O Reino de Creta deixou para trás o Fenômeno 004.
E esse fenômeno só revelou sua primeira lista após inúmeras seleções e incontáveis mortes.
Somente depois desse evento, as grandes igrejas aprenderam a manipular o fenômeno.
Agora, enviavam seus santos intencionalmente, garantindo que apenas ouvintes preparados se aproximassem da Tumba.
Essa abordagem transformou o Fenômeno 004 de um risco imprevisível em uma ferramenta perigosa, mas utilizável.
“Entre na câmara mortuária. Prepare-se para escutar.”
A voz grave e áspera do Guardião da Tumba ressoou atrás de Vanna.
Ela deu um passo à frente.
Atrás dela, as portas de pedra começaram a se fechar.
A presença do Guardião desapareceu junto com o som das portas—ele havia se fundido novamente à tumba, tornando-se seus olhos invisíveis.
Agora, ele observava Vanna através da própria estrutura da tumba.
Chamas pálidas acenderam-se ao longo das paredes do corredor.
Vanna seguiu em frente, sua atenção voltada para as marcas nas paredes de pedra.
Elas não eram inscrições esculpidas com ferramentas.
Eram sulcos irregulares, cravados diretamente na pedra…
Como se alguém os tivesse feito com as próprias unhas.
Ela reconheceu os dizeres:
⦗Siga em linha reta. Não olhe para trás.
Não pergunte ao Guardião sobre o nome ou a identidade do dono da tumba.
Não corra. Não grite. Não reze a nenhum deus.
Mantenha a humildade e o respeito, mas não se ajoelhe.
Ao entrar na câmara sepulcral, não fale.⦘
Essas eram marcas deixadas por incontáveis ‘ouvintes’ ao longo de eras.
Nos tempos antigos, a maioria dos escolhidos morria nesse corredor.
Mas, entre centenas ou milhares, um ou dois eram fortes o suficiente para resistir—e, antes de morrer, conseguiram deixar essas advertências para os que viriam depois.
Hoje, essas instruções preciosas estavam registradas nos manuais de treinamento dos santos das grandes igrejas.
Vanna as conhecia de cor.
Não ousava esquecer nenhuma palavra.
Mas, enquanto percorria aquele corredor ancestral, uma curiosidade inesperada surgiu em sua mente.
Ela ouvira falar dessas inscrições.
Mas não esperava que elas fossem as únicas coisas gravadas ali.
E os outros?
Os desesperados?
Os que enlouqueceram?
Os que imploraram em meio ao pânico, os que perderam a sanidade, os que escreveram blasfêmias e maldições nas paredes antes de morrer?
O Guardião da Tumba já havia arrastado centenas, talvez milhares de almas para este corredor.
Entre elas, certamente houve aqueles que sucumbiram ao medo.
Mas não havia nenhum traço disso aqui.
Nenhuma marca de desespero.
Nenhuma inscrição de ódio ou loucura.
Apenas palavras de advertência e coragem.
Como se apenas aqueles com espíritos firmes e resolutos pudessem deixar sua marca aqui.
Vanna franziu levemente a testa, mas não chamou o Guardião para perguntar.
Em teoria, ela poderia.
Durante a travessia do corredor, era permitido falar com o Guardião.
Ele respondia aos visitantes e já havia registrado interações anteriores.
Mas, sendo sua primeira vez como ouvinte, Vanna não queria correr riscos desnecessários.
Ela permaneceu em silêncio, mantendo-se focada e alerta.
Seus músculos estavam tensos.
E então—
Ela chegou ao fim do corredor.
Na tênue luz trêmula, Vanna viu a Câmara do Rei Sem Nome.
Ela passou pelo umbral da porta de pedra.
E diante de seus olhos, revelou-se a câmara mortuária.
Era um salão vasto e solene, com um design piramidal, as paredes inclinadas recobertas de símbolos antigos e desgastados.
Dois corredores de brasões metálicos negros e marrons alinhavam-se na entrada, segurando bacias de fogo pálido.
As chamas espectrais crepitavam suavemente, liberando nuvens de fumaça densa e enevoada.
Mas, no centro da câmara mortuária, não havia nenhum sarcófago.
Apenas uma cadeira de pedra.
E, sentado nela—
O dono da tumba.
A figura diante de Vanna era um corpo sem cabeça.
Pela constituição física, parecia um homem alto e imponente—
Seus membros estavam completamente acorrentados, presos por grilhões pesados.
Os braços e o peito eram cobertos por uma densa pelagem negra, quase animalística.
Seus pés eram deformados, retorcidos, lembrando patas de alguma criatura desconhecida.
Ao mesmo tempo, pareciam carbonizados, como se tivessem sido queimados até o osso.
O corpo permanecia imóvel no trono de pedra, sem demonstrar nenhuma reação à presença de Vanna.
Mas Vanna sabia o que deveria fazer.
Ela se lembrou de seus treinamentos.
No momento em que viu o Rei Sem Nome, ela pegou o pergaminho e a pena.
Seus músculos se tensionaram enquanto ela se preparava para a contaminação espiritual.
Ela se concentrou, pronta para registrar o que quer que estivesse prestes a ouvir—
E então—
Ela abriu os olhos.
Vanna estava deitada no chão da Praça de Reunião.
Os pilares quebrados ainda se erguiam até o céu caótico, conectando-se ao chão fragmentado.
Ao longe, sombras indistintas se reuniam.
Algumas estavam se aproximando.
Entre elas, Vanna reconheceu uma—
A voz do Bispo Valentine ressoou:
“Você acordou. Agora vá embora.”
Uma voz baixa e áspera falou ao lado dela.
Vanna ergueu a cabeça com dificuldade, seus sentidos ainda confusos.
Ela percebeu que estava caída na entrada do Fenômeno 004.
Com a visão periférica, viu o Guardião da Tumba se virando para entrar novamente na tumba.
E então—
Um estrondo profundo sacudiu o solo.
A enorme pirâmide sepulcral começou a afundar rapidamente, desaparecendo no chão da praça.
Vanna não teve tempo para reagir antes que outras sombras se reunissem ao seu redor.
O Bispo Valentine se inclinou para ela.
“Vanna, você está bem? Eu vi você sair da tumba e cair desmaiada logo na entrada.”
Ela tentou responder, mas suas forças pareciam drenadas.
Mesmo assim, ela forçou-se a sentar, sentindo a vitalidade lentamente retornar ao seu corpo.
“Quanto tempo eu fiquei lá dentro?”
Uma das sombras respondeu calmamente:
“Um instante.”
“Você entrou. A porta se fechou. E, imediatamente, você saiu de novo.”
Vanna ficou atordoada por um momento.
Então, ouviu novamente a voz do Bispo Valentine:
“O pergaminho. Veja o que você escreveu.”
O pergaminho!
Vanna despertou completamente, sentindo algo em sua mão.
Ela olhou para baixo—
E seu olhar congelou.
O pergaminho, antes inteiro, agora estava rasgado e reduzido a um fragmento minúsculo.
Restava apenas um pedaço de poucos centímetros—
Com apenas algumas palavras rabiscadas de forma descuidada:
⦗Anomalia 099 – Boneca⦘
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