Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 105: Após a Dissolução da Assembleia
⦗Anomalia 099 – Boneca⦘
Essa era toda a informação contida no pergaminho de pele. Foi a única pista que a Inquisidora Vanna conseguiu trazer de volta após retornar da Tumba do Rei Sem Nome.
No instante em que viu aquelas poucas letras rabiscadas, sua expressão ficou atônita. Ela pôde sentir que o Bispo Valentine, ao seu lado, bem como as outras figuras presentes, estavam igualmente perplexos. Após um breve momento de silêncio, uma das sombras dos Santos finalmente falou, com um tom grave:
“Uma Anomalia já existente foi alterada do nada… e aconteceu longe dos olhos do mundo civilizado.”
“Ela caiu nas mãos do Banido”, disse outro Santo, assentindo levemente. “Talvez aquele Capitão Espectral tenha feito algo…”
“Mas que tipo de mudança poderia resultar em algo assim?” O primeiro Santo a falar parecia inquieto. “Caixão de Boneca e Boneca não diferem apenas por algumas letras… Além disso, essa mudança afetou diretamente a Tumba do Rei Sem Nome, a ponto de fazer o Guardião convocar repentinamente os Ouvintes para dentro da tumba u e transmitir essa informação…”
Os Santos discutiam em voz baixa e séria, e, por fim, todos voltaram seus olhares para Vanna. Ela, por sua vez, começava a recuperar a compostura. Com a ajuda do Bispo Valentine, ergueu-se, observando o pedaço de pergaminho em sua mão:
“… Eu não me lembro de nada que aconteceu dentro da tumba. Só me recordo de estar caminhando pelos corredores.”
“Esquecer o que ocorreu dentro da tumba é uma reação normal—é a mente se protegendo. É por isso que precisamos do pergaminho e da pena fornecidos pelo Guardião, para registrar informações úteis”, explicou o Bispo Valentine, calmamente. “Mas o fato de sua folha conter apenas essas poucas palavras… isso está fora do comum.”
Vanna fitou suas próprias mãos, atônita. Após um longo tempo, murmurou hesitante:
“Fui eu quem rasgou o pergaminho…?”
“Teoricamente, só poderia ter sido você”, respondeu o Bispo Valentine, encarando-a. “Não havia mais ninguém dentro da tumba. O Guardião jamais interfere na interação entre os Ouvintes e o dono da tumba, e este último, além de transmitir a mensagem, não realizaria qualquer ação adicional.”
A mente de Vanna estava repleta de dúvidas. Mas, antes que pudesse falar, uma voz feminina, profunda e solene, ecoou da extremidade da praça, interrompendo a conversa entre os Santos:
“O momento da dissolução da assembleia está próximo.”
Os Santos imediatamente se ergueram e olharam para a direção da voz. Vanna também rapidamente recompôs sua postura e voltou seu olhar para o fim da praça. Ali, uma figura feminina, aparentemente vestida com trajes majestosos, permanecia imóvel, observando os Santos reunidos.
Aquela figura feminina não estava acompanhada por nenhum séquito. Apenas sua presença ali já emanava uma aura de autoridade e imponência. Como as demais ‘almas’ presentes, sua forma era uma silhueta negra, mas, ao contrário dos outros, sua sombra era muito mais nítida e sólida—tão densa que era possível distinguir vagamente os contornos de seu rosto. Era evidente que ela era uma mulher de postura majestosa e imponente.
Com respeito e reverência, Vanna abaixou levemente a cabeça diante daquela presença.
Ela era a líder da Igreja do Mar Profundo, a representante terrena da Deusa da Tempestade, a Suma Pontífice que presidia a Catedral da Tempestade. Essa pessoa sobrenatural, abençoada pela graça divina, era tão poderosa que sua própria alma havia se transformado—de modo que, mesmo nesse domínio espiritual, ainda conseguia preservar uma aparência quase humana.
Afinal, mesmo os Santos, cujos poderes ultrapassavam em muito os de seres sobrenaturais comuns, mal conseguiam manter suas formas humanas neste espaço.
Vanna sentiu o olhar da Suma Pontífice pousar sobre ela.
“Você fez um bom trabalho, Santa Vanna.” A Pontífice assentiu levemente. Sua voz era, ao mesmo tempo imponente e gentil, dissipando a leve inquietação que ainda restava no coração de Vanna. “A quantidade de informação que um Ouvinte consegue trazer da tumba nunca pode ser prevista. Além disso, muitas vezes, as mensagens trazidas não se limitam ao pergaminho de pele.”
“Quer dizer que…” Vanna ergueu a cabeça, hesitante, mas ousou perguntar.
“Quanto menos palavras restam no pergaminho, mais perigosa é a informação transmitida pelo dono da tumba”, explicou a Pontífice, sua voz serena, mas firme. “Foi o seu instinto espiritual que a alertou, levando-a a destruir as palavras que escreveu para impedir que verdades perigosas fossem expostas ao mundo. E essa única pista já é suficiente—com ela, a Catedral da Tempestade pode traçar sua próxima rota e oferecer preces específicas à nossa Deusa, em busca de orientação.”
Vanna ouviu atentamente, seu coração aos poucos se acalmando.
Ela sabia que aquelas palavras não eram um mero consolo—Suma Pontífice não fazia declarações vazias. Se ela afirmava isso, significava que a própria Deusa havia, de certo modo, validado a importância daquela pista.
Ela havia cumprido sua missão. Havia trazido informações valiosas da Tumba do Rei Sem Nome.
“Agora, dispersem-se”, disse a Pontífice, sua voz suave e majestosa. “Esta assembleia está encerrada. A Catedral da Tempestade avaliará com cautela o sinal enviado pelo Fenômeno 004. Se necessário, emitirei novos decretos ou convocarei os Santos mais uma vez.”
Vanna rapidamente recompôs seus pensamentos e, com uma reverência solene, curvou-se respeitosamente na direção da Pontífice. Em seguida, sua silhueta começou a esvanecer na imensidão caótica desse espaço.
Os demais Santos seguiram o mesmo destino. Um a um, as sombras desapareceram da praça, e, em questão de instantes, o local mergulhou novamente em um profundo silêncio.
Na vasta praça da assembleia, restavam apenas as antigas pedras rachadas do chão, as colunas que sustentavam o céu caótico e a projeção espiritual da Suma Pontífice Helena.
Aquela que era abençoada pela graça de Gamona não partiu imediatamente. Mesmo após a dispersão da assembleia, permaneceu imóvel, de pé na praça, seu olhar fixo no centro vazio do local.
Não se sabia quanto tempo se passou até que, de repente, Helena virou a cabeça e olhou para um ponto próximo. O ar ali começou a ondular como a superfície de um lago, e em um piscar de olhos, uma figura alta e magra apareceu diante dela.
Esse homem esguio trajava uma túnica, e, assim como Helena, sua fisionomia era vagamente discernível—ele tinha uma expressão séria e um rosto marcado pela idade.
Logo depois, outra figura surgiu ao lado do homem alto e idoso. Era um senhor baixo e corpulento, cujo semblante, também distinguível, exibia um sorriso gentil.
“Banster.” Helena fez um leve aceno de cabeça para o homem alto e austero, antes de voltar seu olhar para o senhor de estatura menor e expressão afável. “Luen—o que foi? Estão tão desocupados assim? A Igreja da Morte e a Academia da Verdade não precisam patrulhar as fronteiras?”
“As fronteiras estão estáveis no momento, temos vigilância confiável nelas.” A resposta de Banster foi concisa.
“Deixamos a patrulha sob a responsabilidade de pessoas confiáveis por ora”, disse Luen, assentindo. “Viemos ver como estão as coisas por aqui… Pelo visto, o mundo civilizado anda inquieto.”
“A última vez que algo semelhante aconteceu na Tumba também foi durante a vigia da Igreja do Mar Profundo”, comentou Banster, sem alterar a expressão. “Isso foi… há cem anos?”
“Você sabe muito bem a resposta”, respondeu Helena, com indiferença. “Sim, foi há cem anos. E, naquela ocasião, fui eu quem entrou na Tumba como Ouvinte. Naquela época, ainda não era a líder da Catedral da Tempestade. Lembro-me perfeitamente disso.”
“Sim, eu também me lembro”, disse Luen, acariciando a barba com nostalgia. “Você foi expulsa da tumba assim que entrou, ficou desorientada por um bom tempo antes de recobrar os sentidos… E, assim como a jovem de hoje, o pergaminho que levou para a tumba foi reduzido a um mero pedaço de papel com algumas palavras rabiscadas. Helena, ainda se lembra da mensagem que trouxe de lá, um século atrás?”
A líder da Catedral da Tempestade permaneceu em silêncio por um momento antes de murmurar suavemente:
“Lembro-me muito bem—’Fenômeno 005 – Banido‘.”
Luen assentiu levemente.
“Isso mesmo. Você foi a primeira a trazer a notícia de que o Banido havia se tornado um Fenômeno… E aquelas poucas palavras que você trouxe foram confirmadas em menos de um mês. A ilusão do Banido surgiu rugindo na orla da Grande Necrópole da Igreja da Morte, e este azarado do Banster viu, com seus próprios olhos, seu recém-construído navio escolta ser devorado instantaneamente—sobrando apenas a fita da cerimônia de inauguração…”
O Sumo Pontífice da Igreja da Morte, Banster, lançou um olhar impassível para Luen.
Helena, por outro lado, parecia não ter ouvido as últimas palavras de Luen. Permaneceu em silêncio, pensativa, e apenas depois de um longo tempo falou lentamente:
“Boneca ou Caixão de Boneca, ambas são apenas Anomalias com classificação próxima ao centésimo lugar. Não há qualquer comparação possível com o Fenômeno de classificação cinco.”
“Não há comparação, de fato”, concordou Luen, agora com a expressão gradualmente mais séria. “Mas você sabe tão bem quanto eu que o problema principal não é o que foi escrito no pergaminho—e sim aquilo que não pôde ser registrado. A informação que foi suprimida, aquela que poderia levar até mesmo um Santo à beira do colapso, forçando-o, por puro instinto, a destruí-la e enterrá-la dentro da tumba…”
Ele fez uma pausa antes de concluir:
“O nome da Anomalia 099 mudou de Caixão de Boneca para Boneca, o que, por si só, não significa muita coisa. Mas o mais preocupante é o que estava ligado a isso e foi ocultado…”
“A única pista que temos até agora é a possível ligação com aquele navio fantasma”, afirmou Helena. “Mas, há poucos dias, busquei esclarecimento junto a nossa Deusa…”
Ela parou abruptamente, balançando a cabeça. Parecia ter decidido não prosseguir com esse assunto.
“Por que Frem não veio?” Ela voltou seu olhar para os dois à sua frente. “Ele normalmente não perde uma oportunidade de presenciar esses eventos…”
“Frem e sua Igreja dos Portadores da Chama estão ocupados com algo muito importante”, respondeu Luen com um sorriso. “Os quatro líderes das grandes religiões não podem simplesmente se reunir aqui só para observar o caos, não é?”
“Algo muito importante?” Helena franziu a testa. “E o que exatamente ele está fazendo?”
“Patrulhando as fronteiras.”
A resposta lacônica veio de Banster.
Helena: “…”
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