Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 107: Alta Contagiosidade
As suaves ondas do mar se elevavam e recuavam lentamente enquanto o Banido navegava de forma estável pelo Mar Infinito. Após vários dias com as velas desfraldadas, a antiga Nau Espectral ainda não havia encontrado nenhuma ilha ou marco náutico que pudesse servir como referência para sua rota.
A longa jornada à deriva parecia não ter fim, mas seu capitão ainda tinha muitas coisas com que se ocupar.
Duncan retornou mais uma vez aos seus aposentos de capitão. A máscara dourada do sol ainda repousava silenciosa sobre a mesa, mas antes de lidar com isso, ele tinha outras questões para considerar.
O assunto de Alice poderia ser resolvido mais tarde. Os testes e pesquisas sobre a Anomalia 099 também não eram urgentes. A rebelião em Geada, meio século atrás, certamente não era algo que precisasse ser investigado no momento. No entanto, havia uma outra questão que lhe dizia respeito diretamente.
Duncan ergueu o olhar para o espelho pendurado na parede.
A chama verde que antes flutuava na superfície do vidro já havia se dissipado. As imagens distantes que costumavam aparecer no reflexo também haviam desaparecido por completo. No entanto, ele ainda conseguia sentir uma conexão fraca e indistinta que permanecia, mesmo depois que o reflexo se foi. Essa ligação continuava existindo—e apontava diretamente para o coração da Cidade-Estado de Pland, para a grandiosa Catedral.
A sensação dessa conexão lembrava, de certa forma, o vínculo que ele possuía com seu papel de Antiquário e com o Carvalho Branco, mas essa era ainda mais fraca e etérea. Se tivesse que descrever, parecia um subproduto dessas conexões, como um ‘canal secundário’ derivado de um elo mais forte e definido.
Duncan fechou os olhos levemente, e, sobre a mesa ao seu lado, a pequena fenda no peito de Ai se abriu, revelando uma bússola de latão. No interior, a chama esverdeada ardia silenciosa.
Ele mais uma vez retornou àquele espaço escuro, repleto de incontáveis estrelas e fluxos de luz.
Mas, desta vez, ele não iniciou um Caminhar Espiritual, apenas manteve-se no limiar dessa travessia, observando cuidadosamente o fluxo de luzes e os pontos cintilantes ao seu redor.
A primeira coisa que viu foi um dos pontos mais brilhantes—ele representava a Loja de Antiguidades, simbolizando sua outra forma corpórea, que, no momento, estava ocupada limpando o depósito e verificando o estoque.
Depois, viu uma névoa luminosa, muito maior do que uma estrela comum. Essa névoa representava o Carvalho Branco, um navio a vapor que havia colidido diretamente com o Banido e sido consumido por completo por suas Chamas Espirituais.
Por fim, Duncan conseguiu distinguir, em meio ao brilho difuso e indistinto das estrelas, aquela que mantinha uma conexão sutil com ele.
Movido pela curiosidade, ele se aproximou para examiná-la melhor.
Mas assim que tentou se aproximar, sentiu uma força sutil de repulsão emanando daquela estrela.
Não era uma resistência forte—parecia apenas uma vontade firme protegendo sua própria existência. Duncan percebeu que, se quisesse, poderia forçar suas Chamas Espirituais a ultrapassar essa barreira e consumi-la, destruindo essa proteção instintiva. No entanto, ele imediatamente optou por recuar, mantendo uma distância segura.
A dona daquela luz deveria ser a Inquisidora Vanna, uma Santa da Tempestade, uma Figura Transcendente poderosa. Um contato precipitado poderia alarmá-la e, em um cenário ainda pior, poderia até atrair a atenção da divindade por trás dela.
Sem um entendimento profundo sobre os deuses deste mundo, Duncan não tinha intenção de correr esse risco.
Além disso, essa sensação de repulsão era, por si só, um indicativo importante—
Quando Duncan tomou posse do primeiro corpo de sacrifício, ele não sentiu nenhuma resistência. Quando ocupou o cadáver do cultista Ron, também não houve qualquer repulsa. Então, por que agora ele sentia essa barreira ao se aproximar da estrela de Vanna?
Seria porque ela ainda estava ‘viva’? Porque a mente de um ser vivo poderia instintivamente repelir invasões indescritíveis? Ou seria… a proteção proporcionada pela fé e pela graça divina?
Duncan recuou um pouco, ponderando sobre o significado dessas luzes no espaço sombrio. Ao mesmo tempo, tentou estender a mão lentamente para outra estrela próxima.
Ele parou no último momento antes de tocá-la.
Nenhuma resistência.
Então, testou mais vezes ao redor. Nenhuma das outras estrelas o repeliu—e em algumas delas, ele conseguiu perceber algo novo…
Ele sentiu a pulsação da vida, o medo instintivo que emanava de algumas estrelas—como se estivessem recuando perante a presença inescapável da morte.
Duncan recuou para a escuridão onde a luz não podia alcançá-lo e olhou para suas próprias mãos.
Algumas Chamas Espirituais esverdeadas serpentearam no escuro, traçando padrões ilusórios entre os dedos de Duncan.
Parece que, a cada ‘caminhada espiritual’, seu controle e percepção sobre as chamas se tornavam cada vez mais precisos e aguçados. Agora, ele conseguia até mesmo sentir a presença da vida dentro daquelas estrelas!
Franzindo levemente a testa, Duncan ergueu os olhos para a vastidão negra à sua frente. As inúmeras luzes se estendiam pelo caos escuro e sem forma, espalhando-se como um oceano estelar, quase impressionante de se observar.
Por precaução, ele nunca havia tentado explorar os confins desse espaço sombrio. Mas apenas olhando a imensidão das estrelas, ele podia imaginar quantos pontos de luz existiam ali.
No início, Duncan acreditava que essas estrelas representavam apenas corpos recém-falecidos que ainda possuíam certas ‘condições’ específicas. Afinal, suas duas primeiras Possessões haviam sido em cadáveres. No entanto, agora que sentia vida em algumas dessas estrelas, ele percebeu que sua suposição inicial estava errada.
Aquelas estrelas não representavam apenas os mortos, mas também os vivos. Ele simplesmente teve o acaso de ocupar dois corpos logo no começo.
A Inquisidora Vanna também estava entre essas estrelas—e ela, sem dúvidas, estava viva.
Então… será que esse vasto mar de luzes representava todos os vivos e mortos do mundo?
Duncan franziu ainda mais a testa. Essa suposição surgiu de maneira tão natural que parecia plausível, mas ele rapidamente balançou a cabeça. Ainda era cedo demais para chegar a tal conclusão.
Por mais que houvesse um número imenso de estrelas ali, e mesmo sabendo que a população deste mundo era muito menor do que a da Terra, o que ele via à sua frente não parecia suficiente para representar todas as vidas existentes. Além disso, os vivos podiam ser contados, mas como definir os mortos?
Os falecidos de todas as eras seriam incluídos? Ou apenas aqueles cujos corpos ainda existiam? E, nesse caso, bastava um fragmento corporal para ser contado? Ou haveria um limite de tempo após a morte?
Para piorar, havia também a presença de projeções como a do Carvalho Branco—uma embarcação que apareceu ali da mesma forma que os seres vivos. Como isso poderia ser explicado?
Portanto, seria prematuro afirmar que aquelas estrelas representavam simplesmente todos os vivos e mortos do mundo. Antes de chegar a qualquer conclusão, Duncan precisaria reunir muito mais evidências.
Mas, independentemente da natureza real dessas estrelas, uma coisa era certa: a imensa maioria delas não reagia à sua aproximação. Apenas a estrela de Vanna, uma Santa, apresentou esse instinto de autoproteção.
Talvez fosse a influência da divindade em quem Vanna depositava sua fé.
Duncan começou a sentir uma crescente curiosidade sobre o poder da fé neste mundo.
Mas, independentemente da força dessa barreira protetora construída através da crença de Vanna, era evidente que ela tinha uma falha—pois não conseguiu impedir que o Capitão do Banido e ela estabelecessem uma conexão profunda e oculta.
Restava apenas uma pergunta: quando e como essa ligação foi criada?
Duncan permaneceu na escuridão, refletindo com atenção sobre qualquer possível ponto de interseção entre ele e a Inquisidora que jamais conheceu pessoalmente. Por que essa conexão surgiu do nada?
Depois de descartar diversas possibilidades, um pensamento extremamente audacioso veio à sua mente—
Poderia ser… o primeiro corpo de sacrifício que ele ocupou?!
Ele se lembrou de sua primeira chegada à Cidade-Estado de Pland, da cerimônia de Sacrifício Solar—ele havia tomado posse do corpo de sacrifício, causado caos na cerimônia e depois abandonado aquele corpo possuído ali mesmo. Não muito tempo depois, a Inquisidora Vanna liderou uma ofensiva contra o covil dos cultistas, capturando os fanáticos remanescentes e, certamente, ficando encarregada do que sobrou da cena do ritual.
Se houvesse um único momento em que suas trajetórias se cruzaram, só poderia ter sido esse.
Apenas um corpo que ele já habitou. Apenas um local onde ambos estiveram.
“Isso foi… o suficiente para criar um vínculo?!”
Duncan olhou para suas próprias mãos, perplexo com sua própria dedução.
Após um tempo em silêncio, sua expressão de espanto se transformou em um sorriso torto de pura incredulidade.
“Que tipo de… contaminação por proximidade espaço-temporal é essa…?”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.