Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 108: O Sol Ilusório
Agora, Duncan começava a entender por que o mundo temia e odiava tanto o Banido, e por que seu capitão era visto como uma praga.
Porque, de certa forma, essa catástrofe ambulante realmente se assemelhava a uma epidemia.
No espaço sombrio e caótico, Duncan observava silenciosamente as chamas verdes que dançavam em suas mãos, sentindo o imenso poder oculto nessas chamas, que lhe eram tão dóceis.
O fogo era uma das existências mais singulares deste mundo—não apenas uma fonte de luz e calor, mas também a base sobre a qual a civilização humana havia prosperado em meio a ameaças constantes. Ele sustentava o equilíbrio entre o mundo sobrenatural e o mundo real, simbolizando tanto a bênção quanto a proteção das divindades sobre o reino mortal.
Em praticamente todos os campos que envolviam o sobrenatural, o fogo ocupava um lugar especial e desempenhava um papel crucial.
E sua própria chama parecia carregar certos atributos… extremamente perigosos. Mesmo dentro do domínio do extraordinário, sua chama era a mais temível de todas.
Ela possuía um grau absoluto de contaminação, furtividade, usurpação e profanação.
A partir das informações que já havia coletado, ele sabia que suas Chamas Espirituais podiam corromper e distorcer objetos sobrenaturais, além de possuir corpos de mortos e até mesmo se ocultar dentro da alma dos vivos. Nem mesmo o poder de uma Santa parecia capaz de purificá-las completamente—bastava um momento oportuno, e a chama poderia arder silenciosamente dentro da alma de alguém, estabelecendo um canal oculto para o Banido.
Isso era praticamente uma infecção impossível de ser detectada e erradicada. Pelo que ele havia testado até agora, nem mesmo o poder dos Santos parecia ser eficaz contra essa chaga.
Duncan soltou um leve suspiro.
Ele ainda não sabia qual utilidade poderia tirar dessa conexão fraca e sutil que agora existia entre ele e Vanna, mas pelo menos algo estava claro: desde que houvesse um meio adequado e um gatilho correto, ele poderia ver e ouvir o que acontecia ao redor da Santa da Tempestade.
Além disso, com base em sua percepção ao lado do espelho, Duncan também sabia que poderia, até certo ponto, desdobrar sua influência nas proximidades de Vanna—a maneira mais eficiente de fazer isso parecia ser através da contaminação de chamas ao redor dela.
No momento em que o canal foi estabelecido, ele havia sentido a presença de fogo perto de Vanna, e essa chama parecia responder à sua vigilância.
Com base em sua experiência manipulando as Chamas Espirituais, ele estava certo de que o fogo era uma condição essencial para a formação dessas conexões.
Quanto aos meios adequados e gatilhos corretos para estabelecer essa conexão…
No momento, Duncan podia pelo menos confirmar que tanto espelhos quanto chamas podiam servir como condutores para sua projeção. Ou, na terminologia do mundo transcendental, esses seriam considerados ‘instrumentos ritualísticos’.
Quanto ao gatilho…
Duncan se lembrou das palavras que ouviu no exato momento em que a conexão foi estabelecida:
【“… pelo contrário, isso pode acabar conectando eles ao Banido…”】
Ele havia sentido a conexão logo depois de ouvir essa frase. Isso significava que o gatilho poderia estar exatamente nessas palavras.
“Então… o nome Banido?”
Mesmo com seu conhecimento limitado sobre o mundo transcendental, Duncan já compreendia que nomes possuíam um poder especial dentro desse domínio.
O nome Duncan Abnomar carregava poder. O nome Banido carregava poder.
Agora, ele tinha uma teoria inicial:
Se Vanna, a portadora da conexão, pronunciasse o nome Banido perto de chamas ou espelhos, a ligação entre ela e o navio seria fortalecida. E se, nesse instante, Duncan respondesse ao chamado, o canal seria ativado.
Com essa conclusão, seus pensamentos gradualmente se aquietaram, e ele desviou o olhar das incontáveis ‘estrelas’ espalhadas na vastidão escura.
Ele não tinha qualquer conflito com a Igreja do Mar Profundo, e tampouco guardava má intenção contra a jovem Inquisidora. Portanto, não tinha interesse em usar essa conexão para prejudicá-la.
Mas se essa ligação ocasionalmente lhe trouxesse informações valiosas… bem, ele não recusaria esse benefício.
O espaço caótico e escuro, repleto de luzes distantes, dissolveu-se como água corrente. Duncan abriu os olhos e percebeu que estava de volta aos seus aposentos.
A máscara dourada, imitando o sol, jazia silenciosamente ao seu lado. Ai, a pomba, estava empoleirada sobre a mesa próxima, cochilando.
Antes, ele havia enviado o pássaro para conversar com Cabeça de Bode, mas, por algum motivo, o último não quis interagir e logo despachou Ai de volta.
Após um breve momento de hesitação, Duncan estendeu a mão e pegou a máscara solar.
Apesar das reviravoltas inesperadas e da quantidade absurda de informações que acabou coletando, finalmente voltava ao plano original—tinha tempo para estudar a Relíquia Solar.
Ele começou examinando a máscara, virando-a algumas vezes para observar melhor seus detalhes e materiais.
Foi então que percebeu…
Um dos cantos da máscara estava levemente lascado.
A parte lascada da máscara exibia um tom escuro e opaco.
Duncan franziu as sobrancelhas. No instante seguinte, Ai, que até então cochilava sobre a mesa, abriu os olhos de repente, sacudiu as asas e começou a gritar enquanto pulava animadamente:
“Ferro banhado a cobre! Ferro banhado a cobre!”
O comentário da pomba fez Duncan olhar para a área danificada da máscara com ainda mais desconfiança. Ele raspou a superfície arranhada com a unha e analisou o material por um momento antes de chegar a uma conclusão—
Era de fato ferro banhado a cobre. Nem mesmo banhado a ouro.
Na verdade, alguns pontos do metal já estavam até começando a oxidar e esverdear…
“Isso é uma piada?!” O desapontamento foi tão grande que Duncan não pôde evitar resmungar em voz alta. Ele encarou a pesada peça de metal em suas mãos, recordando sua ideia anterior de revendê-la, e sentiu uma profunda frustração.
“E eu achando que poderia arrancar mais alguns ganhos daqueles cultistas… Nem mesmo uma Relíquia Sagrada de produção em massa deveria ser tão barata!”
Ai, ouvindo a indignação de Duncan, rolou os olhos e bateu as asas enquanto soltava outra de suas frases enigmáticas:
“Tem certeza de que suas mercadorias são autênticas?”
Duncan precisou de um instante para entender o que a pomba queria dizer—estava insinuando que sua própria loja de antiguidades também era cheia de falsificações.
Ele pensou em seu estoque de ‘artefatos históricos’, que na verdade eram apenas restos de produtos da era industrial moderna, e então lançou um olhar impassível para Ai.
“Cale a boca.”
Ignorando completamente a ave insolente, Duncan voltou sua atenção para a máscara dourada.
Agora que estava certo de que o objeto não valia nada em termos comerciais, ele não tinha mais receios em conduzir seus testes.
Uma fraca Chama Espiritual esverdeada surgiu na ponta de seus dedos e se espalhou pela superfície da máscara, fluindo como água ao longo dos entalhes dourados. Sob seu controle, as chamas começaram a penetrar o interior da suposta Relíquia Sagrada.
Mesmo sendo um item de produção em massa, uma Relíquia Sagrada ainda era uma Relíquia Sagrada. Ainda que seu material real fosse ferro banhado a cobre, os símbolos místicos gravados em seu interior e a representação do sol em sua superfície deviam possuir algum tipo de poder transcendental.
Se aquele Sacerdote do Sol conseguia usar esse objeto para se comunicar com sua divindade, então a máscara podia, no mínimo, ser analisada e estudada como qualquer artefato sobrenatural.
No que se referia ao estudo de objetos sobrenaturais, Duncan já possuía uma estratégia muito bem testada—simplesmente tacá-los no fogo. Seu último experimento havia sido queimar o caixão de Alice, e os resultados mostraram que essa abordagem era extremamente eficaz.
Conforme suas Chamas Espirituais penetravam cada vez mais fundo na máscara, Duncan concentrou-se completamente, tentando perceber qualquer tipo de informação oculta dentro daquele item sobrenatural.
Era um artefato de produção em massa, e sua hierarquia certamente não se comparava à do Caixão de Boneca de Alice. Duncan acreditava que rapidamente compreenderia sua função e uso, e então poderia corrompê-lo e tomá-lo para si.
Com esse pensamento, ele tentou sondar os segredos ocultos no interior da máscara—
Mas no instante seguinte, algo completamente inesperado aconteceu!
Um estrondo, como um trovão avassalador, explodiu em sua mente.
Era como se, dentro daquela máscara aparentemente mundana, ele tivesse acidentalmente aberto um canal oculto, ou talvez arrombado uma porta selada. A consciência de Duncan, ao adentrar o objeto, foi instantaneamente envolvida por uma força imensa e incandescente que se espalhou ao seu redor. Em um piscar de olhos, ele teve a nítida sensação de que havia sido ‘arrastado através de um portal’, e então, visões grandiosas e surreais invadiram sua mente!
Talvez tenha durado um segundo, talvez menos.
Foram apenas relances fugazes de imagens—mas, nelas, ele testemunhou uma esfera flamejante, ardendo intensamente no vácuo negro do cosmos.
Um sol.
Uma estrela real, incandescente, pulsante, emitindo uma gravidade avassaladora.
Diante do calor e da pressão esmagadora desse astro, Duncan deveria ter sido reduzido a cinzas—mas isso não aconteceu.
Aquele sol parecia não ser inteiramente real. Ele carregava vestígios de uma majestade que talvez um dia tenha sido genuína, mas agora… era apenas uma sombra ilusória do que já foi.
Atônito, Duncan ficou ali, observando aquela esfera flamejante queimando na irrealidade, até que percebeu algo—
O sol girou.
E no lado oculto do sol, ele viu.
Havia carne pálida e decadente, pulsando silenciosamente.
Havia bilhões de tentáculos retorcidos e murchos, estendendo-se por distâncias insondáveis.
E, entre essas massas vis e imundas, um olho gigantesco, meio aberto, meio fechado—um olho morto, há éons esquecidos.
O manto flamejante da coroa solar ardia sobre aquela carapaça falsa, um invólucro enganador, esforçando-se desesperadamente para imitar o verdadeiro Sol.
Mas era uma farsa.
Era um simulacro grotesco de um astro, tentando mascarar a verdadeira forma que jaz sob ele.
Então, uma voz fraca e distante sussurrou em seu ouvido, tão etérea que parecia uma ilusão:
“Usurpador do Fogo… apague-me… por favor…”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.