Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 109: O Usurpador do Fogo
Uma súbita e intensa sensação de queda tomou conta de Duncan, arrancando sua consciência da presença daquela estrela ardente. Ele sentiu como se uma força gravitacional imensa o estivesse arrastando através de um túnel profundo e interminável. O coroa solar em chamas e a carne grotesca que a sustentava rapidamente se afastaram de sua visão—e, no instante seguinte, ele sentiu um impacto sólido contra suas costas.
Era o encosto de sua cadeira.
Duncan abriu os olhos subitamente, respirando com dificuldade. Seu coração pulsava com uma força que jamais sentira antes. Em sua visão, ainda havia vestígios do ofuscante brilho daquela estrela flamejante, como se a luz que ela emanava houvesse sido gravada em sua retina.
Mas o que mais permanecia marcado em sua mente era a verdade oculta sob o mar de fogo.
Apenas alguns segundos depois, aquelas sensações intensas começaram a se dissipar, restando apenas um eco distante, reverberando em sua memória—
【”Usurpador do Fogo… apague-me… por favor…”】
Duncan franziu ligeiramente as sobrancelhas. Ele tinha certeza de que ouviu aquelas palavras.
Aquilo… foi uma mensagem transmitida diretamente para ele?
Aquela ‘estrela’ percebeu sua presença e, então, lhe enviou… um sinal de socorro?
Esfregando a testa, Duncan tentou compreender o verdadeiro significado desse pedido de ajuda enquanto revisava, em sua mente, cada detalhe da visão que tivera.
Sem dúvida, aquele era o objeto de culto dos seguidores do ‘Sol Verdadeiro e Ancestral’—a entidade que eles reverenciavam como o ‘Sol Negro1’.
Para ser honesto, no instante em que viu aquele astro flamejante, Duncan sentiu uma agitação inexplicável em seu coração. A visão da coroa solar ardente o deixou momentaneamente sem fôlego—por um instante, ele realmente acreditou que estava diante do mesmo sol que conhecera em suas memórias, o sol real da Terra…
Mas então veio a revelação.
Tão intenso quanto o impacto inicial foi o choque ao ver o outro lado daquele sol—e perceber a mentira oculta por trás dele.
A face visível do astro era perfeita, idêntica ao que os seguidores do Culto do Sol descreviam. Mas era apenas uma casca ilusória—por dentro, era apenas um amontoado de horrores indescritíveis.
Duncan não conseguia esquecer a visão da carne pálida e degenerada, ou dos tentáculos retorcidos que envolviam um olho colossal—um olho meio fechado, morto há incontáveis eras.
O coroa solar, em toda sua fúria, ardia sobre uma carapaça fraudulenta, uma concha sustentada por carne pútrida e moribunda—tentando imitar um sol, mas sendo, no fim, apenas uma farsa grotesca.
Aquela ‘criatura’ envolta pela casca solar… não parecia estar em boas condições.
Na verdade, Duncan suspeitava que ela já estava morta—a ausência de qualquer sinal de vida era tão intensa que, mesmo observando-a à distância, ele pôde sentir a presença esmagadora da morte, como se essa sensação tivesse sido impressa diretamente em sua alma.
Aquilo nada mais era do que um cadáver de um Deus Antigo, queimando em chamas eternas.
E agora, esse cadáver divino estava pedindo ajuda, implorando por alguém que apagasse o fogo que o consumia.
Um cadáver clamando por salvação—um conceito paradoxal e aterrador. Bizarro e absurdo. Mas, de alguma forma, completamente coerente com a lógica distorcida deste mundo.
Duncan lentamente organizou seus pensamentos caóticos.
Havia mais um detalhe que o incomodava em sua breve visão. Algo que chamara sua atenção—
O ‘Sol’ havia se dirigido a ele… chamando-o de ‘Usurpador do Fogo’.
Aquele amontoado de carne indescritível realmente estava falando com ele?
Ou teria sido apenas um chamado aleatório, lançado no vazio sem destinatário?
Se aquele pedido de socorro fora realmente dirigido a Duncan, então a escolha do termo ‘Usurpador do Fogo’ carregava um significado muito claro.
Duncan abaixou o olhar e esfregou os dedos levemente, observando uma faísca verde acender-se em sua ponta.
A Chama Espiritual, submissa e obediente, aguardava sua vontade—pronta para corromper outras chamas, usurpar poderes e tomar para si a força de outras anomalias.
No instante seguinte, Duncan extinguiu a chama em sua mão.
Não importava se aquele ‘Sol’ estava realmente se dirigindo a ele. E tampouco importava o que ‘Usurpador do Fogo’ significava naquele contexto.
Isso estava além de suas prioridades no momento.
Os cultistas do Sol Negro ainda estavam escondidos em Pland, tramando nas sombras. Ele não tinha poder, nem interesse, para lidar com o deus por trás deles.
Além disso… como, exatamente, ele poderia ‘ajudar’ aquele Sol em Chamas? O que ele deveria fazer—tentar apagá-lo com sua própria Chama Espiritual?
Mesmo que ele se desgastasse até a morte, aquilo não seria suficiente para consumir aquela aberração colossal!
E, mais importante…
O simples fato de aquele ser estar pedindo ajuda não significava que era confiável.
Quem poderia garantir que o fogo que o queimava não era um selo?
E se, ao apagá-lo, o horror indescritível dentro do Sol despertasse e trouxesse ruína ao mundo?
Aquela entidade realmente se lembraria da ‘ajuda’ que Duncan teria prestado?
Lidar com algo próximo a uma divindade sem entender suas intenções não era uma jogada inteligente.
Duncan balançou a cabeça, sentindo apenas um leve pesar—
Afinal, aquele ‘Deus Sol’… não era o sol que ele conhecia.
Talvez, neste mundo, ele nunca mais veria a verdadeira luz do sol.
A máscara dourada, esculpida na forma de um Sol, ainda estava sobre a mesa. Sua superfície parecia opaca, sem brilho—como se tivesse esgotado toda a sua energia interna.
Duncan estendeu a mão para pegar a máscara.
Mas, no instante em que seus dedos tocaram o objeto, um leve som de rachadura ecoou pelo ar.
A máscara, feita de ferro banhado a cobre, que antes parecia sólida e resistente, desintegrou-se instantaneamente.
No momento seguinte, a Relíquia do Sol se dissolveu em pó fino, como se houvesse passado por milhões de anos de erosão em um piscar de olhos, e desapareceu na brisa.
Ai saltitou até ele, abriu as asas e gesticulou animadamente:
“Feliz… pof… acabou!”
Duncan, no entanto, ignorou completamente a provocação da pomba.
Em sua mente, uma percepção começava a se formar—
Afinal, essa máscara não passava de uma imitação, uma Relíquia Sagrada de produção em massa.
Os Cultistas do Sol Negro pareciam especialistas em fabricar cópias ritualísticas de curta duração, imbuídas de apenas uma fração do poder original. Essas réplicas herdavam parte das capacidades de um artefato verdadeiro, mas sua vida útil era extremamente curta.
O propósito daquela máscara provavelmente era servir como um canal de comunicação, permitindo que sacerdotes de baixo escalão entrassem em contato com sua divindade—ou com as ‘proles’ de sua divindade.
Mas Duncan, ao infundir a máscara com suas Chamas Espirituais, forçou a ativação total de seu poder, fazendo-a funcionar como um artefato autêntico por alguns segundos… e, ao fazer isso, esgotou sua ‘vida útil’ por completo.
Ele conseguiu vislumbrar a aparência do ‘Deus Sol’, mas, como efeito colateral, a máscara foi completamente consumida.
“Talvez, no futuro, eu devesse arranjar uma versão verdadeira…” Duncan murmurou, observando as cinzas dissiparem-se no ar. “Essas coisas não duram nada, três segundos e já queimam por completo…”
Ele não tinha intenção alguma de ‘salvar’ o Sol Negro, mas ainda estava interessado nos segredos dos Cultistas do Sol. Além disso, o que realmente aconteceu antes do Grande Aniquilamento?
Duncan sabia que continuaria sua pesquisa no reino do sobrenatural—e, inevitavelmente, acabaria explorando ainda mais os mistérios das Relíquias do Sol.
Mas, daqui para frente… ele precisaria encontrar algumas ‘lãs’ de melhor qualidade para tosquiar.
Após um breve descanso para recuperar sua energia, Duncan saiu de seus aposentos.
Cabeça de Bode, que estava olhando distraído para a mesa de navegação, virou a cabeça ao notar sua presença.
Primeiro, verificou rapidamente se a pomba estava junto—e, ao perceber que Duncan estava sozinho, suspirou aliviado.
“Ah, grande capitão, seu leal servo (omitido) tem conduzido o navio com dedicação inabalável!”
O Cabeça de Bode fez uma pausa antes de continuar, com curiosidade na voz:
“Não sei se sua ‘jornada’ foi bem-sucedida, mas percebi que sua alma viajou muito longe novamente. Desta vez, porém, não foi para uma Cidade-Estado humana, certo? Se precisar se ausentar novamente, eu poderia—”
“O quanto você sabe sobre o ‘Deus Sol Verdadeiro’ que esses cultistas veneram?”
Duncan interrompeu, indo direto ao ponto.
Depois de passar algum tempo interagindo com o Cabeça de Bode, ele havia aprendido a lidar com a personalidade peculiar da entidade.
E, com sua confiança no papel de Capitão do Banido crescendo, ele não precisava mais medir cada palavra com tanta cautela como no início.
Questões que não estavam diretamente ligadas à essência do navio, ele agora se sentia confortável em perguntar livremente.
Além disso, isso lhe dava uma oportunidade de testar o quanto aquela bizarra cabeça de bode realmente sabia sobre o reino do sobrenatural.
“O Deus Sol Verdadeiro?”
Cabeça de Bode ficou momentaneamente surpreso, hesitando antes de responder:
“Para ser sincero… não sei muita coisa. Só sei que os seguidores desse tal Deus Sol são loucos e imbecis—mas não faço ideia do que realmente está por trás deles…” Ele fez uma pausa antes de acrescentar, “Mas o que posso afirmar é que a ‘bênção’ do Deus Sol de fato existe. Quando a devoção de um seguidor atinge um certo nível, ele começa a manifestar habilidades bizarras. Isso explica por que esse culto herege conseguiu crescer ao longo dos anos…”
Enquanto falava, Cabeça de Bode pareceu notar algo e, lentamente, sua voz assumiu um tom de curiosidade:
“Espere… por que de repente o senhor está perguntando sobre isso? Por acaso, o senhor—”
“Eu só estava pensando…” Duncan interrompeu, sua voz carregada de ironia.
“Se um chamado ‘deus’ estiver sendo assado vivo por seus próprios seguidores, e esses mesmos seguidores nem sequer perceberem, mas, em vez disso, continuarem alimentando as chamas dia após dia… E se esses fanáticos acreditarem que a gordura derretida de seu próprio deus queimando é, na verdade, uma bênção sagrada…”
Ele fez uma pausa antes de concluir, em tom pensativo:
“… Então, isso seria tão incrivelmente irônico que nem mesmo um piadista do inferno conseguiria imaginar algo tão absurdo.”
A Sala de Mapas permaneceu em silêncio absoluto.
E, pela primeira vez, Cabeça de Bode não tinha uma resposta imediata.
Intrigado, Duncan ergueu uma sobrancelha e olhou para ele.
“Por que ficou quieto de repente? Você normalmente fala pelos cotovelos.”
Com um tom abatido, Cabeça de Bode finalmente murmurou:
“… O tópico é bom demais, não tenho coragem nem de comentar, nem de perguntar. Só posso dizer que… o capitão tem uma visão extraordinária…”
Duncan caiu na gargalhada.
Talvez fosse apenas impressão, mas ele começava a achar que até mesmo o Cabeça de Bode não parecia mais tão bizarro e ameaçador quanto no início.
De alguma forma… o clima a bordo do navio estava melhorando.
- Talvez seja importante falar isso, mas no original não tem menção alguma sobre um ‘Sol Negro’, em chinês ele chamado apenas de Sol Verdadeiro ou Deus Sol, eu mantive Sol Negro pois em inglês é o termo que usaram, mas caso prefiram, posso passar a só chamar de Sol Verdadeiro ou Deus Sol. Ou posso fazer igual faço nesse capítulo, intercalando entre os três nomes, Sol Verdadeiro, Deus Sol e Sol Negro.[↩]
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