Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 112: O Distrito em Ruínas
Shirley caminhava cautelosamente ao lado de Duncan. O silêncio temporário entre os dois, em vez de tranquilizá-la, apenas a deixava ainda mais inquieta.
Ela não estava apenas assustada por si mesma—a maior parte de seu medo vinha do Cão.
O Cão de Caça Abissal estava aterrorizado, e esse medo se espalhava através do vínculo da Coleira de Simbiose, alcançando Shirley.
Para quebrar o desconforto crescente, ela murmurou baixinho:
“Normalmente, eu nunca sou pega quando furo passagem… O Cão sempre me ajuda a passar despercebida…”
“Você está falando da ‘camuflagem’ que aquele Cão de Caça Abissal cria?” Duncan ergueu uma sobrancelha. Ele se lembrou de como Shirley usou essa habilidade para se infiltrar na base dos Cultistas do Sol. Parecia ser um poder de distorção cognitiva, mas não era infalível. Duncan balançou a cabeça e comentou casualmente:
“Não parece muito confiável. Na última vez, alguém te descobriu. Agora, até um cobrador de ônibus conseguiu te pegar.”
Ao ouvir isso, Shirley quase se engasgou de indignação.
A camuflagem do Cão nunca falhou antes! Foi esse ser monstruoso diante dela que anulou tudo com um simples olhar!
Mas, obviamente, ela não tinha coragem de dizer isso em voz alta.
Então, depois de um longo momento se segurando, ela apenas forçou um sorriso nervoso e soltou uma risada seca:
“A-ha-ha… O senhor tem razão! Sim, sim… O senhor está certo!”
Duncan não se importou com os pensamentos que ela tentava esconder. Ele estava mais curioso sobre o que exatamente ela estava investigando.
“Por que você está interessada no ‘acidente’ de onze anos atrás?”
Shirley ficou em silêncio.
Sua primeira reação foi não querer responder, mas logo mordeu o lábio, percebendo que não havia sentido tentar esconder isso de alguém como Duncan.
Então, ela falou em voz baixa:
“Na verdade, não é nada demais… Eu só queria descobrir o que realmente aconteceu com meus pais…”
Logo após dizer isso, como se temesse que ele desconsiderasse sua busca como algo trivial, Shirley rapidamente acrescentou:
“O senhor provavelmente acha isso uma bobagem, certo? Sei que para um ser como o senhor, nossas preocupações humanas…”
“Não, eu entendo.” Antes que Shirley pudesse continuar, Duncan a interrompeu.
Ele sabia exatamente como ela o via—se deixasse, ela provavelmente despejaria um monólogo cheio de suposições absurdas sobre ele.
“Esse é um motivo importante.” Ele disse, com um olhar genuinamente sério.
Duncan então olhou diretamente para ela, seu tom mais firme:
“Seus pais foram vítimas do ‘vazamento industrial’ de onze anos atrás? Ou foram mortos pelos cultistas?”
Shirley o encarou surpresa.
Ela não conseguia entender por que alguém como Duncan—que claramente não se importava com as trivialidades dos mortais—parecia tão interessado em sua história.
Mesmo assim, respondeu com sinceridade:
“Eles… desapareceram há onze anos. Bom, ‘desapareceram’ é só uma maneira mais bonita de dizer. Na verdade, eles morreram. Mas ninguém sabe como ou por quê. E então… só restamos eu e o Cão.”
Sua voz estava baixa. Reviver essas memórias não era nada agradável para ela.
Duncan percebeu seu desconforto e não insistiu mais no assunto. Em vez disso, fez outra pergunta:
“Como você conheceu o Cão? Aqueles Cultistas do Sol disseram que você fazia parte do ‘Culto da Aniquilação’ e que apenas seus seguidores podem convocar demônios abissais. Mas você parece não concordar com isso.”
“Eu não acredito em nenhum ‘culto’! Eu só confio em mim mesma, porra!” Shirley exclamou instintivamente. Mas, logo em seguida, baixou o tom e tentou parecer mais educada e refinada:
“Eu e o Cão… nos conhecemos há onze anos.”
Duncan parou de andar de repente e olhou diretamente nos olhos dela.
“Onze anos atrás? Então…”
“Sim, foi logo depois daquele suposto ‘vazamento industrial’.” Shirley também parou e abaixou a cabeça enquanto explicava: “Não lembro muito bem dos detalhes, e o Cão também diz que não se lembra… Talvez ele tenha sido invocado por algum seguidor do Culto da Aniquilação, mas a pessoa que o trouxe para cá provavelmente foi morta pelos guardiões da Igreja do Mar Profundo. Depois disso… de alguma forma, nós acabamos ‘ligados’ um ao outro.”
Ela omitiu muitas informações. Seu relato foi curto e vago, pulando inúmeros detalhes importantes.
Duncan percebeu que ela estava escondendo coisas, mas não se incomodou com isso.
Era uma reação natural—um instinto de autopreservação. Mesmo diante de uma entidade que ela não poderia resistir, Shirley ainda tentava proteger seus próprios segredos.
Duncan poderia pressioná-la para conseguir mais respostas, mas não tinha certeza de que isso lhe daria a verdade completa. Além disso, não havia confiança suficiente entre eles. Então, decidiu deixar esse assunto de lado por enquanto.
Ele sacudiu levemente a cabeça e olhou para as ruas um tanto decadentes ao redor. As pessoas que passavam por ali andavam lentamente, como se levassem um estilo de vida mais despreocupado e sem pressa.
Com um tom levemente reflexivo, ele comentou:
“Quase não vejo crianças aqui. As poucas pessoas na rua são ou idosos ou adultos de meia-idade. Nem mesmo há muitos jovens.”
“Bairros antigos são assim mesmo”, Shirley respondeu como se fosse óbvio, parecendo entender bem esse tipo de lugar. “Quem pode se mudar, vai para o Distrito da Encruzilhada. Os que ficam para trás ou são idosos ou gente que só está vivendo um dia de cada vez. Além disso, esses bairros geralmente não têm escolas comunitárias, então as crianças acabam indo embora com os pais…”
Duncan ouviu a explicação dela, mas apenas respondeu com um som neutro, sem expressar concordância.
Ele entendia a lógica da situação, mas, mesmo assim, a atmosfera melancólica e decadente do lugar parecia mais pesada do que deveria ser.
Enquanto refletia, seus olhos pousaram sobre um idoso de cabelos grisalhos sentado em frente a uma das lojas antigas da rua. O homem parecia estar apenas aproveitando o sol, mas quando notou os forasteiros, sua expressão mudou para uma confusão ligeiramente atordoada.
Sem hesitar, Duncan se aproximou com Shirley ao seu lado.
“Bom dia.” Ele cumprimentou o idoso de forma casual. “Viemos do Quarto Distrito e queríamos saber… onde fica a igreja?”
Ele não estava realmente interessado na igreja—era apenas um pretexto para iniciar uma conversa com um morador local.
“A igreja? Está fechada ultimamente. Deus sabe onde aquela irmã foi parar.”
O idoso, despertando um pouco de sua preguiça sob o sol, se endireitou e lançou um olhar curioso para os estranhos à sua frente.
“Que surpresa… Normalmente ninguém de fora vem para cá. O que vieram fazer?”
“Visitar um amigo.” Duncan respondeu casualmente. “Você disse que ninguém gosta de vir para cá. Por quê?”
O velho resmungou com irritação, como se descontasse sua frustração no próprio ar:
“Por causa daquela maldita fábrica.”
Ele bufou, claramente descontente com o estado decadente do bairro.
“Já faz anos! E o entorno daquela fábrica continua em ruínas, sem um fio de grama crescendo. Todo mundo diz que os químicos vazados naquela época nunca foram realmente limpos. Até quem mora por perto evita passar ali. Quem teria coragem de se aproximar?”
Duncan trocou um olhar significativo com Shirley antes de perguntar:
“Mas eu vi em um jornal antigo que a área já havia sido descontaminada…”
O velho riu com escárnio e cuspiu de lado:
“Jornal? O jornal diz muitas coisas boas! O jornal também dizia que o novo governador ia revitalizar o setor industrial do Oeste!”
Ele gesticulou com desdém para a rua ao redor.
“E o que aconteceu? O Oeste está piorando a cada dia, e aquela velha fábrica continua sendo um monte de entulho! Escutem bem, quando a fábrica ainda funcionava, esse bairro era um lugar próspero! O Sexto Distrito era um dos mais ricos do Distrito Inferior! Agora… olhem ao redor! Só restaram ruínas e velhos como eu!”
O homem estava tão empolgado reclamando que seu ar preguiçoso desapareceu completamente. Duncan decidiu interrompê-lo antes que começasse uma ladainha sem fim.
“A propósito, percebi que quase não há crianças aqui. Nem mesmo jovens. Todos se mudaram?”
“Mudar?” O velho soltou um riso seco. “Aqui ninguém se muda. Pelo menos, não por vontade própria. Essas velhas casas são tudo o que temos. Quem conseguiria pagar aluguel em outro lugar?”
Ele balançou a cabeça antes de continuar:
“Os jovens simplesmente… envelheceram. Quanto às crianças…”
O idoso suspirou profundamente.
“Este lugar já não vê o nascimento de uma criança há onze anos.”
“O quê?!” Duncan finalmente arregalou levemente os olhos. “Onze anos sem novos nascimentos? Você tem certeza?”
“E por que eu mentiria?” O velho revirou os olhos. “Moro aqui há uma vida inteira.”
Então, como se dissesse o óbvio, acrescentou:
“E tudo começou depois daquele acidente na fábrica… Aquele lugar amaldiçoou esta terra. Nada mais cresce ali.”
Duncan permaneceu em silêncio, apenas endireitando-se lentamente enquanto seu olhar se voltava para o fim da rua—para o local onde, segundo o mapa, ficava a fábrica abandonada.
Ao seu lado, Shirley ainda estava entretida conversando com o velho. Ela continuava fazendo perguntas, querendo saber mais sobre a fábrica, os moradores remanescentes e quantas pessoas haviam deixado o Sexto Distrito nos últimos onze anos.
No entanto, o idoso começou a se irritar. Ele acenava impaciente com a mão e murmurava resmungos impacientes, respondendo suas perguntas de maneira cada vez mais evasiva.
Foi então que Duncan interveio.
“Vamos embora.” Ele disse de repente, antes que Shirley se exasperasse com a falta de respostas. Sua voz desviou a atenção dela antes que pudesse reclamar.
Antes de partir, Duncan lançou um último olhar para o velho, que já voltava a relaxar ao sol, e assentiu levemente.
“Obrigado.”
“Ah, de nada.” O velho acenou despreocupadamente com a mão. “Vão com cuidado.”
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