Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 117: O Museu
Ao descer do veículo e pisar na praça de pedras diante do museu, Heidi não pôde evitar inspirar profundamente. A brisa fresca e levemente salgada do mar soprou, levando consigo o cansaço e a ansiedade acumulados após longos períodos de trabalho e lhe trazendo um breve alívio.
A jovem psiquiatra não tirava um dia de folga há quase um mês. Nas últimas semanas, passara praticamente todos os dias lidando com fanáticos enlouquecidos de cultos heréticos, a ponto de sentir que a insanidade em suas mentes começava a afetar sua própria sanidade. Ultimamente, vinha travando uma batalha constante contra noites mal dormidas e sonhos turbulentos.
Felizmente, hoje ela não precisava pensar em hereges e suas mentes distorcidas.

Mais uma rajada de vento soprou do fim da rua, agitando a saia de Heidi. Ela segurou a barra do vestido e ajeitou o chapéu de aba larga na cabeça, erguendo o olhar para a grande construção branca à sua frente, com sua cúpula aerodinâmica e belas alas laterais.
O Museu Oceânico, localizado no Distrito da Encruzilhada, era um dos maiores de Pland — e também um dos mais lendários.
Heidi começou a caminhar em direção à entrada. Não muito longe dali, no meio da multidão, um guia turístico explicava a história do museu para um grupo de visitantes. Sua voz forte e clara chegou até os ouvidos de Heidi:
“… Este grande edifício, construído em 1802, originalmente pertencia à Companhia de Comércio Marítimo Irmãos Parr. No auge de sua glória, funcionava como o maior centro de armazenagem de Pland, movimentando riquezas imensuráveis. Era considerado o símbolo máximo da prosperidade comercial da cidade-estado. No entanto, uma grande reviravolta em 1822 mudou drasticamente o destino desta construção…”
Alguém do grupo perguntou no momento oportuno:
“O que aconteceu naquela época?”
“Dizem — e friso que é apenas um rumor — que um dos navios mercantes da Irmãos Parr encontrou uma névoa estranha durante seu retorno ao porto. No meio daquela neblina, a tripulação avistou uma embarcação fantasmagórica em chamas e quase colidiram com ela…
“O navio mercante conseguiu escapar da névoa e voltou em segurança ao porto, mas a sombra da loucura já havia se entranhado na mente de cada tripulante. Pouco depois, essa insanidade começou a se espalhar pela frota inteira dos Irmãos Parr. Nos meses seguintes, todos os navios da companhia passaram a enfrentar desastres terríveis, enquanto seus tripulantes sucumbiam à paranoia, traição e desaparecimentos misteriosos. Alguns até recorreram a rituais sangrentos para apaziguar divindades desconhecidas…
“… Navios em viagem eram assolados por tempestades em mares que deveriam estar calmos, ou colidiam com icebergs em águas mornas. Marinheiros amotinados detonavam explosivos a bordo, sabotavam as caldeiras e até caçavam seus próprios companheiros… Tragédias inexplicáveis como essas se repetiam incessantemente, até que, por fim, arruinaram completamente os negócios dos Irmãos Parr. No final do mesmo ano, sua companhia de comércio marítimo declarou falência e entrou em um processo de reestruturação.
“Após isso, os Irmãos Parr dividiram os ativos restantes de sua empresa e doaram parte deles às autoridades da cidade-estado. Entre os bens doados, estava justamente este edifício diante de nós. A construção passou por várias reformas e mudanças de função ao longo dos anos, até que, em 1855, foi finalmente transformada no Museu Oceânico que conhecemos hoje, e assim permanece desde então.
“Dizem que até hoje as sombras de quase um século atrás ainda vagam por este museu… Às vezes, os próprios Irmãos Parr retornam e ficam por um tempo em seu antigo escritório. Há relatos de funcionários, vestidos com os uniformes da antiga companhia de comércio marítimo, aparecendo entre as exposições, confusos, perguntando aos visitantes onde fica a área administrativa…
“Mas, claro, claro! São apenas lendas! O museu já foi devidamente inspecionado e abençoado pelos sacerdotes da Igreja, e uma equipe de Guardiões está sempre presente para garantir que nenhuma anomalia ocorra. Vocês podem explorar as exposições com tranquilidade! Porém, se realmente estiverem interessados nessas histórias misteriosas e assustadoras, podem visitar a ‘Sala do Desafio’, na ala lateral do museu. No entanto, para participar da experiência, é necessário passar primeiro pela bênção temporária na capela da praça e por um teste de força de vontade…”
A voz do guia e o burburinho dos turistas começaram a se dissipar à medida que Heidi avançava, mas, de repente, ela sentiu seus passos ficarem mais pesados.
Um antigo armazém marítimo de um século atrás, um nevoeiro maldito vindo do alto-mar, uma frota amaldiçoada, sombras que ainda vagam pelo museu…
Após semanas lidando diariamente com cultistas enlouquecidos e ouvindo rumores inquietantes por todos os canais oficiais, Heidi começou a se perguntar se visitar o museu durante sua folga realmente fora uma boa ideia. Talvez fosse melhor passar um tempo no Distrito Inferior… Ou até mesmo ceder às tentativas de persuasão de seu pai e visitar aquela estranha loja de antiguidades.
Porém, antes que sua hesitação durasse mais de dois segundos, a jovem psiquiatra tomou uma decisão e avançou com passos firmes até a entrada principal do museu.
Guias turísticos sempre recorrem a histórias de terror para prender a atenção do público. Além disso, mais da metade dos contos assustadores deste mundo envolvem nevoeiros marinhos, navios fantasmas e motins de marinheiros. Se o museu tem fantasmas, quem garante que a loja de antiguidades não esconde algo ainda mais aterrorizante?
Ela era uma psiquiatra que lidava com lunáticos diariamente — não iria se assustar com isso.
Nem mesmo um Deus Exterior do Subespaço poderia impedir que ela aproveitasse sua merecida folga!
Com a determinação firme e passos decididos, a Senhorita Psiquiatra atravessou o controle de entrada como uma guerreira a caminho da batalha, passando pelos portões do museu e adentrando o antigo edifício de quase um século de história.
Havia menos visitantes do que ela esperava. Talvez por não ser um feriado público, o salão principal do primeiro andar parecia até um pouco vazio.
Alguns funcionários do museu estavam auxiliando turistas que pareciam um pouco perdidos, apontando-lhes o caminho para a exposição principal. No fundo do grande hall, presas a uma imponente parede, estavam a ossada colossal de uma baleia e diversos modelos intricados de navios. Um guia, vestido como capitão, explicava para um pequeno grupo de crianças os princípios das primeiras fragatas à vela de guerra.
Duas garotas, aparentando cerca de dezesseis ou dezessete anos e provavelmente ainda estudantes, caminhavam lado a lado em direção ao salão da exposição principal, conversando animadamente e rindo, demonstrando uma forte amizade.
O ambiente era iluminado e agradável, transmitindo uma sensação reconfortante.
Heidi soltou um suspiro leve e, seguindo as duas jovens, dirigiu-se à área principal do museu, pronta para finalmente desfrutar de um momento de tranquilidade.
Então, de repente, um cheiro peculiar lhe invadiu as narinas.
Era um odor sutil… mas lembrava algo queimando…
Perto do Distrito da Encruzilhada, Duncan desceu de um ônibus a vapor. Passou em uma banca de jornais e comprou uma revista de entretenimento, planejando usá-la para passar o tempo.
A investigação nas ruínas da fábrica não havia produzido grandes avanços. Depois que Shirley e Cão partiram, ele permaneceu vagando pelo Sexto Distrito por um bom tempo, conversando com os moradores locais na tentativa de obter mais informações. No entanto, como era de se esperar, cidadãos comuns não tinham como enxergar a verdade por trás do ‘Véu’.
Para os residentes do Sexto Distrito, a decadência da área era resultado apenas da suposta contaminação química deixada pela fábrica e do descaso das autoridades. Eles se lembravam apenas do que havia sido oficialmente divulgado — exatamente como o velho que tomava sol havia mencionado.
A verdade estava oculta pelo Véu. Os registros da realidade haviam sido manipulados. A versão dos fatos apresentada pelas autoridades era apenas uma narrativa alterada.
Mas Duncan não podia concluir, apenas com isso, que o Véu havia sido criado pelo governo de Pland ou pela Igreja. Afinal, em um mundo onde fenômenos sobrenaturais eram uma realidade, uma anomalia suficientemente poderosa poderia ser capaz de cegar a todos.
Diante de uma anomalia poderosa, até mesmo a chamada ‘realidade’ não passava de uma tela onde as verdades podiam ser apagadas e reescritas.
Agora parecia claro que a origem daquele ‘Véu’ não estava na fábrica — talvez nem mesmo no Sexto Distrito. Se o chamado ‘centro’ dessa influência era de fato um Fragmento do Sol, então ele ainda deveria estar escondido em um lugar muito mais profundo.
Sem novas pistas, a investigação não poderia avançar.
Duncan sentou-se em um banco na calçada, folheando distraidamente sua revista enquanto refletia sobre os próximos passos.
Os cultistas do Sol estavam em busca do Fragmento do Sol, espalhando o caos pela cidade-estado. A memória e os sonhos de Nina pareciam apontar diretamente para esse fragmento, sugerindo uma conexão entre ela e o artefato. Além disso, ao usar a Máscara do Sol, ele próprio havia vislumbrado a verdadeira aparência do Sol — uma entidade indescritível e semelhante a um Deus Exterior, que não apenas o notou, mas também lhe dirigiu um pedido de socorro…
Sem que percebesse, parecia estar enredado em um emaranhado de fios confusos e perigosos.
Pland, a cidade-estado que servira como seu primeiro ponto de ancoragem na sociedade civilizada deste mundo, parecia pacífica, próspera e ordeira à primeira vista. No entanto, essa ‘primeira parada’ estava longe de ser tranquila.
Duncan suspirou e balançou levemente a cabeça.
Foi então que, pelo canto do olho, percebeu uma coluna de fumaça estranha subindo sobre os edifícios próximos.
Dentro da fumaça, labaredas brilhavam intermitentes.
Ele ficou momentaneamente imóvel, depois se levantou.
Outros também haviam notado a fumaça e o fogo. Pedestres paravam no meio da rua, olhando com espanto. Alguns começaram a correr, e então gritos de alarme ecoaram pelo ar:
“Fogo! O museu está pegando fogo!!”
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