Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O tempo parecia ter desacelerado até um ritmo quase insuportável.

    No escuro sufocante, com o calor crescente ao redor, a mente de Nina começou a girar fora de controle.

    Ela se viu recordando sua infância — lembranças fragmentadas de quando corria pela loja de antiguidades do tio, tentando ‘ajudar’, mas apenas fazendo bagunça. Lembrou-se de Duncan contando histórias sobre as peças raras que vendia… histórias que, no final, eram completamente inventadas. Lembrou-se do primeiro dia de aula, do primeiro livro sobre mecanismos a vapor, do primeiro elogio de um professor, do primeiro amigo que fez…

    E do primeiro amigo que perdeu.

    Os pensamentos estavam embaralhados, sua mente se tornou nebulosa.

    A fumaça começou a se infiltrar no ambiente, tornando a respiração mais difícil — e os pensamentos mais confusos.

    E, por fim, todas as lembranças se transformaram em chamas.

    Um incêndio… um incêndio que existia apenas em sua memória.

    As labaredas dançavam em sua mente, como se estivessem prestes a se tornar reais diante de seus olhos.

    Atordoada, Nina fixou o olhar no chão à sua frente, quase esperando que as chamas irrompessem subitamente dali.

    Mas, nesse exato momento, algo gelado tocou sua testa.

    Uma mão fria.

    “Ei, você está bem?” A voz de Shirley soou preocupada. “Você ficou com um olhar estranho… e tava murmurando alguma coisa sem parar.”

    “Eu… eu estou bem.” Nina sacudiu a cabeça rapidamente e segurou o braço de Shirley. “Obrigada… Eu só… pensei na minha família de repente.”

    “Família…” Shirley ficou imóvel por um instante ao ouvir essa palavra. Depois, como se estivesse apenas perguntando por perguntar, comentou casualmente:

    “Quem mora com você?”

    “Só meu tio… Meus pais morreram faz muito tempo. Eu cresci com ele.” Nina refletiu por um momento antes de baixar a cabeça, abraçando os joelhos.

    “… Eu prometi que voltaria para casa cedo hoje.”

    Shirley hesitou, parecendo desconfortável com o assunto. Ela claramente não sabia como oferecer consolo e, tentando encontrar algo para dizer, soltou a primeira pergunta que lhe veio à mente:

    “Vocês dois se dão bem, né? O que ele faz?”

    “Ele é só uma pessoa comum. Nossa família tem uma loja de antiguidades no Distrito Inferior, e ele cuida dela sozinho…” Nina falou devagar.

    Mas, ao notar a expressão surpresa de Shirley, apressou-se em acenar com as mãos.

    “Não é o tipo de loja incrível que você deve estar imaginando! Não tem nada de valioso lá.”

    “Ei, mas isso ainda soa bem legal!” Shirley rapidamente elogiou. “Ele é um lojista, né? Ter seu próprio negócio, mesmo no Distrito Inferior… Isso não significa que vocês vivem bem?”

    “Na verdade, não muito.” Nina sacudiu a cabeça. “Meu tio não esteve muito bem de saúde nos últimos anos, e os negócios da loja não são grande coisa. Nunca sobrou muito dinheiro…”

    Ela fez uma pausa antes de sorrir suavemente.

    “Mas ele é realmente incrível. Ele até consegue conversar por horas com o senhor Morris! Meu tio sabe tantas coisas… O senhor Morris até diz que ele é um homem muito culto.”

    Shirley ouviu atentamente e acenou com a cabeça, fingindo um ar sério.

    “Então, quando a gente sair daqui, eu definitivamente vou querer conhecer seu tio.”

    Nina sorriu.

    Ela estava prestes a responder quando um estrondo ensurdecedor ecoou do lado de fora.

    No instante seguinte, a porta do reservatório de água foi arrombada com um chute, caindo pesadamente no chão!

    O primeiro pensamento de Nina foi que o fogo do corredor explodiria para dentro da sala através da porta destruída. Foi isso que aprendera na escola.

    Mas… isso não aconteceu.

    Em vez disso, um vulto familiar passou pela entrada.

    E as chamas não o seguiram.

    Shirley, que também se assustara com o barulho repentino, virou-se com os olhos arregalados — e no momento em que viu quem estava parado na porta, seu corpo paralisou completamente.

    Na borda de sua visão, ela percebeu as últimas labaredas se curvando e se apagando ao redor dos pés daquele homem.

    A sombra do Subespaço, o ser que não deveria estar ali, estava simplesmente parado na entrada, silencioso.

    O pânico tomou conta de Shirley por uma fração de segundo.

    Deveria fugir? Deveria fazer algo com Nina?

    Por um instante, menos de um segundo, um pensamento louco passou por sua mente.

    Mas antes que pudesse sequer reagir, Nina já se movera.

    “Tio Duncan?!”

    A garota correu para a frente, radiante, chamando seu nome com uma alegria transbordante.

    E, nesse exato instante, todo o medo e a opressão que pairavam sobre ela simplesmente desapareceram.

    Duncan, por sua vez, também ficou surpreso ao ver Nina ali.

    Ele seguiu a marca que deixou em Shirley, planejando encontrá-la primeiro e então continuar a busca pelo restante do museu.

    Nunca esperou encontrar Nina ali, tão rapidamente.

    No momento seguinte, o olhar de Duncan pousou sobre Shirley.

    Então… isso significava que…

    A conversa que ouvira através da marca não era com qualquer pessoa — era com Nina.

    E a ‘colega de classe’ com quem Nina planejava visitar o museu… era Shirley?!

    Seus pensamentos se conectaram instantaneamente.

    Antes que Shirley conseguisse abrir a boca, ele deu um passo à frente, varrendo o ambiente com os olhos.

    “Parece que vocês estão bem.”

    Foi então que notou algo mais:

    Havia uma terceira pessoa na sala.

    Uma jovem mulher de vestido longo estava desmaiada no chão. Ela ainda estava viva, mas inconsciente.

    Shirley finalmente conseguiu raciocinar novamente.

    As palavras de Nina, a conversa que tiveram momentos antes… tudo se encaixou de repente.

    Com a expressão de quem acabara de ver um fantasma, ela virou lentamente a cabeça para Nina, com o pescoço rígido.

    “… Nina… Ele é seu tio?”

    “Sim!” Nina exclamou com alegria, sem perceber a expressão aterrorizada de Shirley. Ela correu para Duncan e agarrou seu braço.

    “Tio, como você veio parar aqui?! O incêndio lá fora já apagou?!”

    “Ainda não. Mas está sob controle.” Duncan respondeu de forma vaga.

    Ele sabia que, em qualquer outra circunstância, essa resposta pareceria extremamente suspeita.

    Mas Nina estava desorientada demais para perceber qualquer incoerência.

    Ela apenas apertou o braço dele com força, murmurando sem parar:

    “Que alívio… Achei que hoje eu ia…”

    “Está bem. Falamos sobre isso depois.” Duncan interrompeu suavemente.

    “Este não é um bom lugar para conversar.”

    Seu olhar se voltou para Shirley e depois para a mulher inconsciente.

    “Precisamos levar essa moça com a gente.”

    “Ah… Certo!” Nina finalmente percebeu a mulher caída e se apressou para ajudá-la.

    Shirley também se moveu rapidamente para auxiliar.

    Mas havia um problema.

    A mulher era alta, e as duas garotas juntas não conseguiam levantá-la facilmente.

    Duncan avançou para ajudar.

    Mas no instante em que estendeu a mão para segurá-la, algo chamou sua atenção — e ele parou.

    Um pingente de ametista pendia do pescoço da mulher.

    Ele o reconhecia.

    Duncan ficou imóvel por um momento.

    Então, lentamente, fragmentos de memória ressurgiram.

    A visita do senhor Morris à loja de antiguidades…

    E as palavras dele sobre uma certa pessoa.

    “Tio?”

    A voz de Nina soou ao lado, puxando Duncan de seus pensamentos.

    Ele sacudiu a cabeça levemente, afastando as reflexões, e olhou para Nina. Então, seu olhar passou casualmente por Shirley antes de curvar os lábios em um leve sorriso.

    “O mundo é pequeno.”

    Com isso, ele segurou a mulher inconsciente e, com a ajuda das duas garotas, colocou-a em suas costas.

    Eles deixaram o reservatório de água.

    Do lado de fora, o corredor antes tomado pelo fogo agora estava escuro e silencioso.

    As chamas haviam desaparecido.

    Até mesmo a fumaça tinha praticamente sumido… por razões desconhecidas.

    Shirley observou a escuridão do corredor à frente. Depois de uma breve hesitação, perguntou:

    “Para onde agora?”

    Duncan levantou a cabeça, pronto para indicar o caminho.

    Mas, de repente, através das Chamas Espirituais que ainda permeavam o museu, ele percebeu algo.

    Seus pensamentos mudaram instantaneamente.

    Sem dizer mais nada, ele alterou a rota e se moveu rapidamente em direção a uma saída alternativa.

    “Por aqui.”

    As chamas não apenas se afastavam dele — elas o guiavam.

    Eles saíram rapidamente do local.

    E logo depois de partirem, um grupo de figuras apareceu no final do corredor.

    Os Guardiões da Tempestade da Igreja do Mar Profundo finalmente haviam chegado à área.

    Suas roupas estavam cobertas de fuligem, mas as bênçãos do oceano ainda brilhavam fracamente em seus corpos — estavam inteiros, embora tivessem avançado para dentro das chamas com o sacrifício em mente.

    Mas, ao invés de enfrentarem um inferno, encontraram o fogo já extinto.

    “O fogo sumiu aqui também…”

    O sacerdote que liderava a equipe franziu a testa, murmurando para si mesmo enquanto examinava os arredores.

    “… Até a fumaça se dissipou.”

    “Isso é uma boa notícia.” Um dos Guardiões comentou em voz baixa.

    “Sim… mas um incêndio desse tamanho não se apaga assim tão facilmente.” O sacerdote respondeu com um tom grave.

    Foi então que ele notou a porta destruída do reservatório de água.

    “Alguém passou por aqui.”

    Um dos Guardiões imediatamente avançou para examinar.

    Depois de analisar a área, ele retirou de forma ágil um incensário e um livro de orações, preparando-se para um ritual.

    Então, ele pegou um conjunto peculiar de lentes e as colocou sobre a cabeça.

    O artefato era um capacete parcial, feito de tubos de cobre, engrenagens e múltiplas lentes de vidro.

    As bordas de algumas dessas lentes brilhavam com símbolos gravados à mão — rúnicos e complexos.

    O Guardião colocou o incensário no chão e ajustou cuidadosamente as lentes sobre seus olhos.

    Então, começou a examinar cada vestígio deixado na área.

    Por um momento, ele permaneceu em silêncio, analisando os rastros invisíveis aos olhos comuns.

    Finalmente, ele relatou rapidamente:

    “Nenhum resquício de força sobrenatural… Apenas humanos comuns. Não consigo determinar o número exato, pois as marcas estão confusas.”

    Ele fez uma pausa antes de continuar:

    “Parece que eram turistas presos aqui…”

    O sacerdote assentiu levemente.

    “A porta foi arrombada de fora para dentro.” O Guardião acrescentou. “Alguém do lado de fora a destruiu para resgatar os que estavam dentro.”

    O sacerdote estreitou os olhos.

    “Tem certeza de que não houve interferência sobrenatural?”

    O Guardião reajustou as lentes e fez uma última verificação.

    Então, respondeu com firmeza:

    “Nenhuma.”

    O sacerdote ficou em silêncio por um momento.

    Então, respirou fundo e acenou com a cabeça.

    “… Continuem a busca nos andares superiores.”

    “Sim, senhor!” Os Guardiões responderam em uníssono e avançaram rapidamente pelo corredor escuro.

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