Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 123: Selado na Memória
Heidi correu ofegante até Vanna. Os guardiões próximos, ao vê-la se aproximar, instintivamente tentaram bloqueá-la, mas rapidamente reconheceram a jovem empoeirada e visivelmente exausta como uma consultora de alto escalão da Prefeitura e da Igreja. Imediatamente, abriram passagem.
“Você mesma liderando a equipe?” Heidi olhou surpresa para Vanna, que estava completamente equipada para combate. Logo em seguida, seu olhar recaiu sobre os membros de elite da Igreja que a acompanhavam. “E trouxe tanta gente?”
“Um incêndio no museu não é uma ocorrência comum.” Vanna respondeu de maneira concisa. Depois, observou Heidi de cima a baixo, certificando-se de que sua amiga estava bem antes de finalmente relaxar um pouco. “Parece que sua folga foi arruinada.”
“Foi arruinada ‘de novo’!” Heidi exclamou, com uma expressão de tristeza resignada. “Por que eu sempre tenho tanta má sorte…? Ah! Ai…”
Vanna notou o grande galo na testa de Heidi. Sem hesitar, aproximou-se e pousou os dedos perto do ferimento da amiga. Ao mesmo tempo, olhou na direção de onde Heidi havia vindo, franzindo levemente as sobrancelhas. “Você acabou de escapar de lá?”
“Alguém me salvou… Ahh, que alívio…” À medida que a dor em sua testa diminuía gradualmente, Heidi começou a recuperar o foco. De repente, seus olhos se arregalaram, como se algo importante lhe tivesse vindo à mente. Ela então olhou rapidamente ao redor antes de se aproximar de Vanna e sussurrar com urgência: “Preciso de um ambiente silencioso e abençoado, de preferência dentro de uma igreja.”
Ao ver a súbita seriedade no rosto da amiga, Vanna reagiu imediatamente. Sem fazer perguntas, virou-se para os clérigos que trouxera consigo e ordenou: “Assumam o controle da área, isolem o museu, elevem o nível de contaminação para Grau Espiritual…”
Antes que pudesse terminar a frase, Heidi interrompeu com um tom baixo e urgente: “Grau Abissal.”
“Revisem para Grau Abissal! Expulsem todos os civis num raio de duzentos metros da praça!” Vanna ficou alarmada, mas não hesitou em dar as ordens. Em seguida, voltou-se para o sacerdote local, um homem de barba curta, e disse: “Leve-nos à igreja mais próxima. Precisamos de uma sala de oração particular—prepare o Incenso nº 16.”
O sacerdote, que havia acabado de escapar do incêndio, imediatamente abaixou a cabeça em sinal de obediência. “Sim, por aqui. Há uma igreja nas proximidades da praça.”
Sem perder tempo, Vanna levou Heidi para fora da praça. Juntas, embarcaram em uma carruagem junto com o sacerdote e seguiram para a igreja comunitária mais próxima. No entanto, antes mesmo de chegarem, Vanna percebeu algo estranho: o rosto de Heidi estava ficando anormalmente avermelhado.
“O que está acontecendo?” Vanna franziu as sobrancelhas e tocou a testa da amiga. A alta temperatura que sentiu a fez mudar o tom de voz instantaneamente. “Você está queimando!”
“Eu devo ter entrado em contato com alguma ‘coisa’ no museu.” Heidi falou rapidamente. “Usei auto-hipnose para selar certas informações nas profundezas da minha memória, mas agora o efeito está se dissipando… estou começando a me lembrar.”
Ouvindo o relato de Heidi, os olhos de Vanna se arregalaram levemente enquanto sua mente rapidamente avaliava a situação—
Uma grave contaminação por fenômenos sobrenaturais. Apenas o ato de lembrar era suficiente para afetar o mundo real.
“Pare imediatamente de relembrar. Diminua o ritmo do pensamento.” Vanna estendeu a mão e segurou os ombros de Heidi. “Olhe para os meus olhos e concentre-se em outra coisa! Se for necessário, hipnotize-se novamente!”
“Vou tentar.” Heidi respirou fundo. Ela fixou o olhar nos olhos profundos e tranquilos de Vanna, esforçando-se para conter as memórias que estavam emergindo lentamente em sua mente. Tentou evitar lembrar da torrente grandiosa e solene de chamas. Tentou não pensar no mar de fogo revirando-se no espaço negro e vazio. Mas as memórias continuavam a vazar, como sangue escorrendo de um ferimento, impossível de conter.
Então, de repente, uma leve sensação de frescor emanou de seu peito. A chama que parecia prestes a engoli-la se dissipou um pouco, trazendo-lhe um súbito momento de lucidez.
Instintivamente, ela abaixou a cabeça e viu um brilho tênue emanando do pingente de ‘cristal’ de vidro que carregava no peito—o mesmo que, em uma loja de antiguidades no Distrito Inferior, mal era considerado digno de ser vendido.
Aquela pequena centelha de luz, quase imperceptível a olho nu, parecia um ponto fixo ancorado na realidade, puxando sua consciência de volta antes que ela se perdesse completamente.
No instante seguinte, a voz do sacerdote veio da frente da carruagem:
“Chegamos à igreja!”
Sob a proteção direta de Vanna, uma Santa Guerreira poderosa, Heidi foi rapidamente levada para dentro da igreja. Como o sacerdote já havia enviado uma transmissão espiritual antecipadamente, uma sala de oração especial estava pronta para recebê-las. O Incenso nº 16, conhecido por seus efeitos de apaziguamento e proteção, já havia sido aceso.
No meio da neblina suave exalada pelo incenso, a estátua sagrada da Deusa da Tempestade, Gamona, observava silenciosamente enquanto Heidi e Vanna entravam apressadamente no aposento.
O sacerdote ficou do lado de fora da sala de oração—ele poderia não ser capaz de suportar a contaminação mental que estava por vir.
E no instante em que Heidi pisou dentro do recinto, Vanna ouviu um som etéreo de ondas quebrando nos recantos de sua mente. Uma presença grandiosa e insondável lançou seu olhar sobre suas almas.
Então, de repente, todas as velas e tochas da igreja irromperam em chamas. No meio do fogo intenso, estalos e explosões ressoaram violentamente!
Ela ergueu os olhos para a estátua sagrada da Deusa da Tempestade, Gamona, e a viu subitamente parecer ao mesmo tempo distante e imponente. Uma atmosfera indescritível de majestade emanava da estátua, espalhando-se pelo ambiente e gradualmente convergindo ao redor de Heidi.
“A Deusa já lançou seu olhar…” O fenômeno dentro da sala de oração fez Vanna prender a respiração por um instante, mas logo ela relaxou um pouco. Virando-se para Heidi, notou que a vermelhidão em seu rosto estava desaparecendo. “Agora você está segura. Libere suas memórias. Vamos ver o que você viu.”
Heidi não respondeu com palavras—apenas assentiu levemente. Em seguida, ergueu a mão e retirou um de seus brincos.
Na extremidade do brinco, havia um pequeno mecanismo oculto. Com um movimento ágil da unha, ela acionou a trava, fazendo surgir uma fina e afiada agulha de apenas alguns milímetros de comprimento.
Sem hesitar, apertou firmemente a agulha contra a palma da mão, permitindo que o sangue fluísse livremente.
Este era o mais profundo reflexo condicionado que ela implantara em si mesma desde o início de sua carreira como médica da mente—quando a Espícula de Platina perfura sua palma, todas as impurezas seladas em sua memória deveriam ser libertas.
No instante seguinte, o murmúrio distante de ondas sobrepostas na sala de oração se intensificou drasticamente. Ao mesmo tempo, todas as velas ardentes tornaram-se trêmulas e enevoadas, e todo o ambiente pareceu ser coberto por uma cortina ondulante e indistinta.
Camadas e mais camadas dessa cortina fluida tremulavam ao redor da estátua da deusa, refletindo imagens imprecisas e efêmeras—
Era um vislumbre de algo selado apressadamente nas profundezas da memória de Heidi.
Um fragmento da verdade, capturado por apenas um instante.
Dentro dessas cortinas oscilantes de ilusão, Vanna viu o que Heidi havia testemunhado—
No vazio escuro, uma torrente flamejante subiu aos céus, fervendo com um calor que superava qualquer chama existente no mundo.
Era mais intensa e aterradora do que qualquer fogo já criado pela humanidade. Uma gigantesca onda de chamas, avassaladora e imparável, consumindo tudo à sua frente.
Mesmo Vanna, uma Santa Guerreira treinada, sentiu todos os músculos de seu corpo se tensionar ao presenciar essa visão.
Aquela chama avançava pelo vazio. Quão longe se estendia? Centenas de milhares de quilômetros? Milhões? Ou talvez até mais?
O que era aquilo? Apenas fogo? Ou algo mais primordial—uma força capaz de tocar as verdades eternas do universo?
Vanna não sabia em que momento prendeu a respiração. Observou a torrente flamejante ascender no vazio e, em seguida, começar a descer.
O fluxo ígneo, denso e viscoso como um líquido espesso, traçava arcos irregulares e sublimes no abismo negro da inexistência.
E então, aos poucos, a visão começou a desaparecer.
O murmúrio das ondas esvaneceu gradualmente, e Vanna continuou imóvel, demorando-se naquela revelação, sem conseguir reagir de imediato.
Não se sabe quanto tempo se passou até que Vanna sentiu, de repente, algo semelhante a uma brisa marinha refrescando seus pensamentos. O toque gentil da Deusa da Tempestade trouxe-a de volta à consciência. Ao recuperar-se, voltou o olhar para Heidi—e percebeu que sua amiga também a encarava, atônita.
“Isso… foi o que você viu no museu?”
“Talvez… sim…” Heidi sentia seu coração batendo forte. Apesar de a visão ter sido extraída diretamente de sua própria memória, o efeito da auto-hipnose tornava aquilo ainda mais surpreendente do que esperava. “Mas isso… definitivamente não parece algo que deveria estar exposto como uma ‘relíquia’ em um museu…”
“Isso não pode ser uma ‘relíquia’.” Vanna respondeu imediatamente. “Mesmo sem conseguir determinar sua verdadeira escala, meu instinto me diz que é impossível que algo assim seja armazenado em qualquer estrutura física… Você não pode ter visto isso no mundo real.”
Heidi ficou em silêncio por um momento, franzindo as sobrancelhas. Após um longo tempo, respondeu, hesitante:
“Talvez eu tenha visto isso enquanto estava inconsciente… e, nesse estado, tenha realizado a auto-hipnose. Pode ser que o que eu vi não fosse sua forma física ou verdadeira, mas sim um ‘reflexo’ no nível espiritual.”
“Você tem certeza?” Vanna a encarou com seriedade. “Não estou questionando sua competência como médica da mente, mas… conter temporariamente uma contaminação mental enquanto se está inconsciente não é algo simples.”
“Tenho confiança nisso.” Heidi assentiu lentamente, com firmeza. “Recebi um treinamento rigoroso na Academia da Verdade para lidar com essas situações. Posso conter informações perigosas mesmo quando minha consciência principal está desativada, usando apenas o subconsciente. No entanto, essa técnica de auto-hipnose em tais condições é altamente instável—por isso, acabei esquecendo muitos detalhes cruciais. Não consigo te dizer exatamente o que aconteceu quando vi essa ‘projeção’, nem qual foi o gatilho ou meio pelo qual tive contato com ela.”
“… Certo, eu acredito na sua competência.” Vanna observou Heidi por um momento antes de soltar um leve suspiro. “Pelo visto… você realmente viu algo extraordinário.”
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