Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Na sala de oração, envolta pela fumaça do incenso e sob o olhar atento da estátua sagrada da Deusa da Tempestade, Gamona, duas velhas amigas permaneceram em silêncio. Apenas a bênção divina suavemente apaziguava seus espíritos ainda abalados, enquanto o som brando de ondas ecoava ao redor de Vanna—um sussurro vindo da própria deusa.

    A divindade ainda estava observando este lugar. Observando como nunca antes.

    Não se sabe quanto tempo passou até que Heidi finalmente recuperou a compostura e, com cautela, rompeu o silêncio:

    “O que foi aquilo que eu vi?”

    Vanna hesitou por um momento antes de responder em voz baixa:

    “Talvez… seja exatamente o que aqueles hereges do Sol vêm procurando há tanto tempo.”

    “Os hereges do Sol vêm procurando por isso?” Heidi ficou momentaneamente perplexa. “Você está dizendo que…”

    “Fragmento do Sol.” Vanna assentiu levemente antes que Heidi pudesse terminar a frase. “Talvez apenas um Fragmento do Sol fosse capaz de carregar o poder que você testemunhou naquela visão.”

    Enquanto falava, Vanna ergueu lentamente a cabeça, fitando a estátua da deusa com um olhar pensativo e murmurando para si mesma:

    “Afinal… esses hereges afirmam que os Fragmentos do Sol são os destroços caídos do chamado ‘Sol Verdadeiro’…”

    Heidi ficou paralisada por um momento, sua expressão mudando levemente.

    “Se algo assim realmente tivesse aparecido no mundo real, a cidade-estado de Pland jamais estaria intacta como está agora…”

    “Por isso, essa coisa deve estar em algum tipo de estado selado.” Vanna concordou. “Os registros indicam que um Fragmento do Sol apareceu em Pland há onze anos. Mas agora, parece que aquela aparição foi apenas um pequeno vazamento de poder. Durante todo esse tempo, ele permaneceu adormecido…”

    “Agora aqueles hereges do Sol querem acordá-lo?!” Heidi exclamou, horrorizada. “Eles pretendem destruir toda a cidade?!”

    “Você não está lidando com cultistas pela primeira vez.” Vanna lançou um olhar para Heidi. “Ainda não entendeu a mentalidade deles? Para esses fanáticos, se for para despertar o Sol Negro, sacrificar uma ou duas cidades não significa nada. Eles não hesitariam nem mesmo em incendiar o mundo inteiro, transformando tudo em lenha para reacender seu deus.”

    Heidi abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada.

    Vanna respirou fundo, controlando suas emoções antes de falar novamente:

    “O ponto crucial agora é entender exatamente o que aconteceu quando você teve aquela visão. O que aconteceu com você? O que aconteceu ao seu redor? O que aconteceu no museu? Somente compreendendo isso poderemos descobrir em que estado esse fragmento está adormecido… e onde ele está.”

    “… Não, não consigo me lembrar dos detalhes.” Heidi bateu levemente na testa. “Mas agora tenho quase certeza de que vi aquela projeção enquanto estava inconsciente e, para preservar pistas importantes, realizei uma auto-hipnose de emergência… Deixe-me pensar. Naquele momento, alguém me salvou e me deixou temporariamente em uma sala no primeiro andar do museu… Pelo que me disseram depois, essa sala ficava próximo à exposição principal…”

    Enquanto se esforçava para recordar, Heidi ponderou em voz alta:

    “Não poderíamos concluir que a pista está no museu?”

    “É difícil dizer.” Vanna respondeu pacientemente. “Do ponto de vista do ocultismo, o que você viu não foi o próprio fragmento, mas sim uma ‘sombra’—um pequeno vazamento de algo vasto e transcendental que existe no mundo real. O museu pode não ser o local onde o fragmento está adormecido, mas apenas uma ‘fissura’. E como a barreira mental humana se enfraquece quando estamos inconscientes, sua consciência pode ter atravessado essa fissura e visto o que estava do outro lado.

    “Essas fissuras, que existem na borda da realidade, geralmente não são estáveis. Estava no museu antes, mas agora pode ter se deslocado para outro lugar.”

    Vanna explicou pacientemente, depois balançou a cabeça.

    “Mas, claro, ainda assim vamos conduzir uma busca de nível máximo no museu e manter vigilância contínua. Anomalias e fenômenos sobrenaturais nunca seguem regras fixas—é possível que o fragmento realmente tenha sido selado de alguma forma dentro do museu. Mesmo que não esteja lá, talvez possamos encontrar alguma pista no local do incêndio para entender por que a ‘fissura’ surgiu ali…

    “Mas essa investigação já não é mais da sua conta. Por questão de segurança, é melhor que você fique longe daquele museu pelo menos no próximo mês.”

    “Sem dúvida! Eu faria de tudo para me manter afastada dessa confusão.” Heidi assentiu de imediato. “Já passei por mais do que o suficiente!”

    Vanna olhou para sua amiga, que parecia destinada a enfrentar o azar desde pequena. Parecia querer dizer algo, mas no final permaneceu em silêncio.

    Ela ficou ali, parada sob a estátua da deusa, até que, meio minuto depois, perguntou de repente:

    “Quem foi que te salvou?”

    “Duas garotas que ainda estão na escola e um homem de uns quarenta anos.” Heidi refletiu por um momento. “Curiosamente, uma dessas meninas é aluna do meu pai—ele até fez uma visita à casa dela recentemente. E o homem que as acompanhava era o tio dela… Eu já mencionei para você, lembra? O nome dele é Duncan Strelane, ele é dono de uma loja de antiguidades.”

    “… Eu estou começando a ficar com alergia ao nome ‘Duncan’.” O canto da boca de Vanna tremeu visivelmente. “Mesmo sabendo que, obviamente, não pode ser a mesma pessoa…”

    “Minha reação ao ouvir esse nome pela primeira vez do meu pai foi a mesma que a sua.” Heidi deu de ombros. “Falando nisso, prometi a esse senhor que irei à casa dele amanhã à tarde para realizar uma avaliação psicológica de sua sobrinha. Assim, aproveito para agradecer formalmente pela ajuda… Hoje tudo foi tão caótico que me despedi às pressas. Foi bem rude da minha parte.”

    “Para ser honesta, não é só a ‘sobrinha’ dele que precisa de uma avaliação psicológica.” Vanna, de repente, adotou uma expressão séria, fixando o olhar em Heidi. “Os três precisam.”

    “O quê…?” Heidi começou a perguntar instintivamente, mas logo percebeu o que Vanna queria dizer. “Ah!”

    “Exato. Eles estavam perto de você quando tudo aconteceu, e você viu o Fragmento do Sol enquanto estava inconsciente.” Vanna manteve os olhos fixos em Heidi. “Se aquilo for realmente um resquício de um Deus Antigo, a contaminação pode ter se espalhado através da sua consciência até eles. Talvez em uma escala pequena, mas para pessoas comuns, isso pode ser fatal.”

    Heidi ficou completamente atônita.


    No Distrito Inferior, dentro da loja de antiguidades, Duncan já havia fechado a porta há algum tempo. Agora, estava relaxado, sentado atrás do balcão. À sua frente, Nina e Shirley estavam sentadas, uma de cada lado.

    As duas haviam tomado banho no pequeno banheiro improvisado no andar de cima. Nina vestia roupas novas, mas Shirley ainda usava seu vestido preto. Não era por falta de oferta—Nina tentou emprestar algumas de suas roupas, mas a diferença de tamanho entre as duas era grande demais. Shirley recusou gentilmente, achando que as peças ficariam largas demais nela.

    Claro, havia a possibilidade de que houvesse outra razão para sua recusa… Talvez ela acreditasse que aceitar as roupas de Nina significaria aceitar um presente de um ente ligado a um deus profano? Isso, apenas ela poderia dizer.

    Do outro lado do balcão, Ai, a pomba, caminhava despreocupadamente.

    Atrás dela, sobre a mesa, havia uma pilha generosa de batatas fritas—o lanche que Duncan havia prometido a ela.

    Ai tinha finalmente recebido seu tão desejado lanche. Nina havia retornado para casa em segurança. Duncan conseguiu resgatar sua sobrinha e, além disso, aprofundou ainda mais sua compreensão sobre o poder das chamas.

    Todos estavam felizes.

    Exceto Shirley.

    Ela estava à beira das lágrimas—e, na verdade, quase chorou várias vezes ao longo do dia.

    “Então… Shirley, você na verdade não é minha colega de classe… Você só usou algum tipo de… ‘técnica investigativa’ para se infiltrar na escola e investigar alguma coisa.” Nina olhou para a amiga que finalmente conseguira fazer, sua expressão carregada de confusão. “E você também não gosta de vapor e máquinas…”

    “Eu nem sequer consigo entender aqueles livros…” Shirley respondeu com cautela. Embora estivesse falando com Nina, seu olhar frequentemente se voltava para Duncan. “Desculpa, eu… desculpa.”

    Nina, no entanto, parecia não ter notado o pedido de desculpas. Apenas franziu as sobrancelhas em perplexidade.

    “Mas como você conseguiu fazer isso? Agora que penso bem, você sempre aparecia de repente na minha sala de aula e ficava por perto o tempo todo, mas nunca frequentava as aulas de verdade. E, o mais estranho, é que nenhum professor ou aluno parecia notar você… Você…”

    Shirley lançou mais um olhar cauteloso para Duncan, certificando-se de que sua expressão ainda era neutra, antes de murmurar baixinho:

    “É só um pouquinho de técnica sobrenatural…”

    “Sobrenatural?” Nina arregalou os olhos, surpresa. “Então você é uma investigadora da Igreja?”

    “Não, não, eu não sou da Igreja, eu…” Shirley lançou mais um olhar furtivo para Duncan, lembrando-se das instruções que ele lhe dera enquanto Nina estava no andar de cima tomando banho. Ela ainda não conseguia entender por que esse homem poderoso estava brincando de ‘ser humano’ em uma loja de antiguidades, mas, mesmo assim, decidiu obedecer suas ordens ao pé da letra.

    “Eu sou… algo como uma… uma ‘autônoma’. Uma autônoma sobrenatural.”

    Nina ficou boquiaberta.

    “Existe isso?!”

    “Se não somos registrados, então somos autônomos, não é?” Shirley soltou um suspiro, adotando um tom de resignação. “Aqueles cães da Igreja… quer dizer, aqueles caras problemáticos da Igreja, sempre nos chamam assim, não é?”

    Nina ficou ouvindo em silêncio, absorvendo as palavras de Shirley. Então, de repente, começou a examiná-la dos pés à cabeça, seu olhar avaliando cada detalhe.

    A forma como Nina a analisava fez Shirley se encolher, sentindo-se desconfortável.

    “Por que você está me olhando assim…?”

    “Porque você é incrível!” Nina respondeu com total seriedade.

    Shirley ficou sem reação por um momento.

    “… É só isso que você tem a dizer?”

    “Sim!”

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