Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 128: Mudança de Rota
O segundo andar da loja de antiguidades não era muito grande. Além da cozinha e do banheiro, havia apenas dois quartos: um para Duncan e outro para Nina. Como Shirley estava apenas pernoitando temporariamente, era evidente que teria que dividir o quarto com Nina.
“Na verdade, eu posso dormir no corredor…” Shirley parecia um pouco desconfortável enquanto observava Nina preparar as coisas para ela. “Ou posso simplesmente improvisar um lugar para dormir no primeiro andar…”
“Isso não é uma opção,” respondeu Nina enquanto olhava de relance para a porta do quarto. O tio Duncan já havia se recolhido ao seu próprio quarto, então, naquele momento, estavam apenas ela e Shirley ali, além do Cão, que estava deitado por perto, tirando um cochilo. “Não dá pra deixar uma convidada dormir no corredor. Além disso, no primeiro andar… bom, lá embaixo estão todos os ‘tesouros’ do meu tio. Ele jamais concordaria com isso.”
“Os tesouros dele?” Shirley ficou momentaneamente confusa ao relembrar o que havia visto no andar de baixo. Antes, ela estava tão nervosa que nem prestou muita atenção ao ambiente. Mas agora, recordando, parecia que o primeiro andar não passava de um monte de bugigangas velhas e bagunçadas. Pensar que aquilo poderia ser a coleção de uma ‘Sombra do Subespaço’ era, no mínimo, absurdo.
Mas logo ela se deu conta de algo: neste lugar, o tal ‘Sr. Duncan’ desempenhava apenas o papel de um homem comum. E, pelo visto, Nina realmente não tinha ideia de que seu ‘tio’ possuía outra faceta.
Com esse pensamento, a expressão de Shirley ficou um tanto estranha. Sob a luz brilhante da lâmpada elétrica, ela lançou um olhar rápido para Nina e perguntou em voz baixa:
“Você não ficou com raiva de verdade?”
Nina interrompeu momentaneamente o que estava fazendo e ergueu as sobrancelhas. “Raiva? Por quê?”
“… Eu te enganei por um bom tempo”, murmurou Shirley. Era raro que ela falasse em um tom tão baixo e hesitante, mas, desde que conheceu o ‘Sr. Duncan’, estava se acostumando cada vez mais a falar assim. “No começo, só me aproximei de você por causa do aviso do Cão. Mas eu não esperava que você confiasse em mim tão facilmente… e que me considerasse sua ‘amiga’ tão rápido. Acho que você deveria estar um pouco zangada.”
“… Já fazia muito tempo que ninguém puxava conversa comigo na escola. Naquela época, eu até pensei…” Nina resmungou algo, mas logo balançou a cabeça. “Mas eu não estou brava, de verdade. Não importa o motivo, pelo menos você realmente conversou comigo, passeou comigo e fomos juntas ao museu.”
Shirley, no entanto, não conseguia aceitar tão facilmente a resposta tranquila de Nina. Ela já estava acostumada a um ambiente social muito mais frio e indiferente. Na verdade, estar perto de Nina, que parecia irradiar um calor constante, era o que a deixava desconfortável.
“Você é uma pessoa estranha”, murmurou Shirley.
“É mesmo?” Nina ajeitou o colchão, sentou-se e inclinou levemente a cabeça. “Mas há muito tempo alguém já disse algo parecido sobre mim… ‘Essa menina tem um coração tão grande’, acho que foi isso que disseram.”
Enquanto falava, Nina acenou para Shirley.
“Vem, senta aqui também. Por que você tá aí parada feito uma estátua?”
Shirley hesitou por um momento antes de, finalmente, se sentar ao lado de Nina. Um sentimento estranho a tomou por dentro.
Ela nunca imaginou que as coisas tomariam esse rumo.
Ela estava sendo vigiada por uma Sombra do Subespaço e, agora, se via obrigada a se refugiar dentro do ‘ninho’ dessa entidade. Ela estava dividindo o quarto com a ‘prole’ dessa criatura, enquanto Cão se encolhia em um canto, dominado por um medo inexplicável. Shirley sabia muito bem o quão perigosa e bizarra era aquela situação. Na verdade, a morte parecia estar a apenas um passo de distância.
Mas, ao abrir os olhos, tudo o que via era a luz quente da lâmpada e uma garota que sorria com a mesma gentileza acolhedora.
“A luz elétrica é tão brilhante…” murmurou Shirley, talvez tentando quebrar a tensão, ou apenas para dizer qualquer coisa.
“Na sua casa ainda não tem eletricidade?” Nina perguntou, surpresa.
“Eu moro… num bairro mais antigo. Lá ainda não instalaram lâmpadas elétricas”, respondeu Shirley, um pouco desconfortável. “Depois do anoitecer, ainda usamos lampiões a óleo.”
“Ah…” Nina abriu a boca, mas não soube muito bem o que dizer. Algo a incomodou por dentro, e ela mudou de assunto de maneira um pouco desajeitada. “Quer trocar de roupa para dormir? Você pode usar uma minha. Tenho uma de dois anos atrás que deve servir em você.”
“… Tá bom.”
“Vamos dormir cedo hoje. Amanhã é dia de descanso. De manhã, eu te levo para dar uma volta aqui perto e aproveitamos para comprar uma roupa nova para você. Seu vestido ficou todo queimado.”
“… Eu não tenho dinheiro.”
“Então vai ser um presente meu pra você.”
“… Tá bom.”
Duncan estava parado diante da janela do seu quarto, observando silenciosamente na direção do Sexto Distrito, com uma expressão serena.
As duas garotas já haviam se deitado no quarto ao lado. Depois de tudo o que aconteceu naquele dia, ele não sabia se Shirley estava cansada, mas Nina, com certeza, estava exausta.
Ele fechou os olhos levemente e virou a cabeça, ‘olhando’ para o lado.
Em sua visão envolta em escuridão, duas pequenas chamas verdes tremeluziram.
Era a direção do quarto ao lado. As duas chamas eram as ‘marcas’ que ele havia deixado para rastrear—uma delas pertencia a Shirley, enquanto a outra… indicava a posição de Nina.
Até agora, Duncan ainda não sabia o que significavam aquelas cinzas que circundavam Nina, nem os segredos enterrados nesta Cidade-Estado. Ele não sabia de onde vinha aquele ‘Véu’, nem quem estava manipulando tudo nos bastidores.
Mas ele podia sentir que estava se aproximando da verdade de onze anos atrás, pouco a pouco rompendo a névoa espessa que cobria os céus desta cidade, uma névoa formada por algum elemento sobrenatural.
Deixar uma ‘marca’ em Nina era uma medida de segurança. Com ela, ele poderia perceber imediatamente qualquer mudança no estado da garota e, em uma situação de emergência, usá-la como um ponto de localização. Além disso, se um dia conseguisse entender o que eram exatamente aquelas ‘cinzas’ ao redor de Nina, poderia usar a marca para intervir diretamente, isolando-a de qualquer influência sobrenatural perigosa ao seu redor.
Mas apenas uma precaução não era suficiente.
Duncan olhou para suas próprias mãos.
Esse corpo ainda era muito fraco e estava distante demais do verdadeiro. O poder que ele conseguia transferir para essa forma, assim como o que esse corpo podia manipular, ainda era limitado—e os perigos ocultos nesta Cidade-Estado poderiam estar muito além de suas expectativas.
Ele inspirou profundamente e, devagar, fechou os olhos.
No instante seguinte, Duncan abriu os olhos a bordo do Banido, levantando-se para abrir a porta da cabine do capitão.
A voz estridente do Cabeça de Bode ecoou quase imediatamente, sem qualquer atraso:
“Oh, grande Capitão! Seu fiel e dedicado imediato está ajustando as coordenadas…”
“Qual a direção da Cidade-Estado Pland?” Duncan olhou para Cabeça de Bode e, com a mesma destreza de sempre, o interrompeu.
“Pla… Pland?!” Cabeça de Bode foi pego de surpresa. Até sua expressão entalhada de madeira exibiu um momento de choque, mas logo se recuperou. Seu tom mudou de forma inesperada para um entusiasmo febril:
“A Cidade-Estado Pland! Um assentamento humano! O grande Capitão Duncan finalmente vai iniciar uma expedição de pilhagem?! Esse é o seu alvo de ataque? Vamos atacar diretamente o porto ou saquear os navios mercantes que passam pela Cidade-Estado? Também podemos corromper as águas costeiras aos poucos, bloqueando gradualmente a linha do litoral. A marinha da Cidade-Estado pode ser um proble—”
“Feche a boca e pare de fazer sugestões desnecessárias”, disse Duncan diretamente ao se aproximar da mesa de navegação. Ele bateu levemente na superfície da mesa com os dedos. “Só quero saber a direção da Cidade-Estado Pland.”
“Oh, oh, claro, como desejar—”
O tom do Cabeça de Bode ficou mais grave e arrastado. Ele falou lentamente, e no segundo seguinte, Duncan percebeu que um ponto brilhante começou a piscar na borda do mapa náutico envolto em névoa.
“A Cidade-Estado Pland que está procurando… não deve estar muito fora de alcance”, disse o Cabeça de Bode com reverência. “Ah, infelizmente, o mapa náutico permaneceu adormecido por muito tempo, então só pode indicar a posição aproximada de Pland. As condições marítimas ao longo do caminho e os marcos ainda estão cobertos pela incerteza…”
“Parece bem longe”, comentou Duncan, olhando para o ponto brilhante na névoa. Ele analisou a área ao redor do Banido, comparando com as águas já mapeadas, e franziu levemente as sobrancelhas. “Se navegarmos a toda velocidade, quanto tempo levaria para nos aproximarmos da costa de Pland?”
“Meio mês? Talvez um mês?” Cabeça de Bode começou a tagarelar. “Na verdade, isso já é bem rápido. Ainda não chegamos à fronteira da civilização. Você também pode escolher navegar pelo Reino Espiritual a toda velocidade, mas isso não seria muito seguro. Embora o Reino Espiritual em si não nos ameace tanto, há muitos indivíduos imprudentes nas Profundezas Abissais que poderiam causar problemas…”
Profundezas Abissais…
Duncan pensou instintivamente em Cão, mas logo sacudiu a cabeça. “Então vamos navegar pelo mar real primeiro, aproximando-nos de Pland… Última questão: podemos chegar lá sem sermos detectados?”
Ele fixou o olhar nos olhos de Cabeça de Bode.
Como capitão do Banido, essa pergunta era um tanto arriscada.
Afinal, ele deveria ter total controle sobre o navio e conhecer plenamente suas capacidades.
Mas ele ainda assim perguntou. Estava testando, pouco a pouco, seu ‘imediato’.
Os olhos de ônix esculpidos do Cabeça de Bode permaneceram impassíveis. Ele apenas sustentou o olhar do capitão em silêncio por alguns segundos antes de finalmente responder, no mesmo tom de sempre:
“… Podemos nos ocultar na névoa. Se necessário, podemos nos submergir temporariamente na reflexão fragmentada das ondas. Dessa forma, pelo menos a quinze milhas náuticas da costa, nenhuma Cidade-Estado ou navio humano será capaz de detectar a aproximação do Banido.”
“Mas se nos aproximarmos mais, isso não será possível—os olhares dos deuses perceberão, e a Grande Catedral da Cidade-Estado emitirá um alerta.”
“Isso é baseado em experiência de um século atrás”, Duncan manteve uma expressão serena. “Ainda funciona nos dias de hoje?”
“Mas é claro,” respondeu Cabeça de Bode num tom leve. “Um mero século… Os deuses não fizeram nenhum progresso nesse tempo.”
Duncan soltou um leve suspiro. “Ótimo. Então, leve o Banido para mais perto da Cidade-Estado Pland, garantindo que permaneçamos ocultos.”
“Posso fazer uma pergunta?” Cabeça de Bode quebrou o silêncio. “O que exatamente o senhor pretende fazer?”
“É apenas um teste,” Duncan refletiu por um momento antes de esboçar um leve sorriso. “Quero ver se o wi-fi melhora um pouco.”
Cabeça de Bode: “…Wi… o quê?”
“Depois eu peço para Ai explicar pra você.”
“Não! Seu fiel e dedicado imediato absolutamente não precisa saber o que isso significa!”
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