Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Duncan olhou para Cão de Caça Abissal, que estava completamente tenso, e tentou exibir o sorriso mais amigável que conseguiu.

    Ele sentia que havia algum tipo de mal-entendido entre eles.

    E quanto mais cedo isso fosse resolvido, melhor.

    No entanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele viu um brilho vermelho piscar nos olhos vazios de Cão.

    Mesmo que fosse apenas um crânio de osso, Duncan teve a nítida impressão de que a criatura havia acabado de passar por uma intensa turbulência emocional.

    No segundo seguinte, ouviu a voz trêmula e hesitante do Cão:

    “V-você… você é o ‘Sr. Duncan’ com quem estivemos lidando nos últimos dois dias?!”

    Duncan piscou, surpreso.

    Então, olhou para Shirley ao seu lado.

    Ele não percebeu nenhum tipo de comunicação explícita entre os dois, mas estava claro que, por meio da corrente que os conectava, Shirley e Cão compartilhavam informações de maneira extremamente eficiente.

    “Sou eu”, respondeu Duncan, esboçando um leve sorriso e adotando um tom de voz tranquilo. “Ainda há algo que precisa ser explicado? Ou vocês têm algo que gostariam de saber?”

    “Não!” Cão quase gritou, recuando para trás com todo o seu corpo esquelético. “Não precisamos saber nada sobre ‘conhecimentos’ ou ‘verdades’! Não temos qualquer intenção de sondar seus mistérios!”

    Duncan suspirou, balançando a cabeça com resignação.

    “Tenho a sensação de que há um grande mal-entendido entre nós… e parece que quanto mais tento explicar, mais confuso fica.”

    Ele fez uma pausa antes de continuar:

    “Bem, deixemos que o tempo nos ajude a construir uma relação de confiança. Mas, por ora, há algo que quero entender.”

    Cão abaixou a cabeça, sua postura ainda encolhida.

    “Você… por favor, pergunte.”

    Duncan franziu levemente as sobrancelhas.

    Ele estava realmente curioso sobre por que sua reputação de Capitão Fantasma, temida no mundo real, também era tão intensa entre os demônios abissais.

    Em sua concepção, as Profundezas Abissais eram um lugar extremamente próximo do Subespaço, e os demônios que ali habitavam estavam muito mais conectados às ‘sombras primordiais’ do que qualquer humano.

    Portanto, eles deveriam, em teoria, ser menos propensos a temer o Banido e sua presença vinda do Subespaço.

    Mas agora, vendo como até mesmo essas criaturas, que eram perigosas para os próprios humanos, reagiam com o mesmo terror à sua presença, Duncan não podia deixar de sentir uma estranha confusão.

    No entanto, antes de se aprofundar nessa questão, havia algo mais importante em sua mente.

    O pesadelo diante de seus olhos.

    Este sonho, arrancado das memórias mais profundas de Shirley, que talvez contivesse a verdade do que realmente aconteceu onze anos atrás.

    “Quero entender melhor este sonho”, disse Duncan enquanto seu olhar se voltava para Shirley. “Sei que isso deve ser uma lembrança dolorosa para você. Se não quiser falar, pode recusar.”

    “… Não há nada que eu queira esconder”, respondeu Shirley, balançando a cabeça levemente. “Na verdade, eu deveria agradecer ao senhor. O senhor interrompeu esse pesadelo, e eu sofri um pouco menos… Como pode ver, foi isso que aconteceu comigo naquela época.”

    “Um incêndio…” Duncan assentiu levemente antes de voltar seu olhar para Cão. “O que vi foi o seu primeiro ‘encontro’ com Shirley?”

    Cão desviou o olhar. “Naquela época, eu ainda era apenas um demônio abissal.”

    “E como você de repente ganhou um ‘coração’?” Duncan perguntou com curiosidade. “Pelo que vi, você quase matou Shirley naquela época.”

    “… Eu não sei.”

    Cão ficou em silêncio por alguns segundos antes de balançar levemente sua cabeça grotesca.

    “Quando tive minha primeira consciência própria, a primeira coisa que vi foi Shirley caída no chão, à beira da morte.”

    Duncan encarou o Cão de Caça Abissal com um olhar profundo. Seus olhos então seguiram a corrente em volta do pescoço da criatura, até alcançar o corpo de Shirley—aquele lado negro, distorcido, que se fundia à corrente e existia em simbiose com ela.

    “Depois disso, vocês… se fundiram?”

    “Algo assim”, Shirley respondeu em voz baixa.

    Ela abaixou a cabeça, escondendo seu olhar e expressão sob a sombra de seu cabelo.

    “Na verdade, não lembro direito. Eu só tinha seis anos naquela época, e depois disso, passei um bom tempo sem entender nada direito… Se o senhor está tão curioso para saber como uma criança pode acabar se tornando… isso, então talvez seja melhor chamar um psiquiatra para me hipnotizar. Quem sabe…”

    “Não é necessário.”

    A voz de Duncan a interrompeu.

    Shirley ficou momentaneamente atordoada.

    Então, sentiu algo inesperado—uma grande mão pousou suavemente sobre sua cabeça.

    E para sua surpresa, estava quente.

    “Desculpe-me. Não queria reviver suas cicatrizes, apenas entender melhor os detalhes do que aconteceu há onze anos”, disse Duncan, pressionando levemente os cabelos da garota. Ele sabia que suas perguntas não eram fáceis para alguém que acabara de escapar de um pesadelo.

    “Você deve saber que, no evento de onze anos atrás, não foi apenas o Fragmento do Sol que apareceu. Também havia inúmeros cultistas envolvidos… E os Cães de Caça Abissais são, em teoria, invocações do Culto da Aniquilação.”

    Shirley ergueu a cabeça, ainda um pouco atordoada.

    Ela ouviu Duncan continuar:

    “Um ser demoníaco vindo das Profundezas Abissais de repente desenvolver humanidade… Isso, por si só, já é uma ‘anomalia’. Vocês já consideraram que essa mudança pode ter sido causada por algum evento daquela época?”

    Shirley piscou algumas vezes antes de responder, de maneira hesitante:

    “O Fragmento do Sol?”

    “Não tenho certeza…” Duncan balançou a cabeça. “Ninguém sabe exatamente a forma do Fragmento do Sol, nem a extensão de seu poder. Mas de acordo com a doutrina dos Cultistas do Sol, o ‘Deus Sol Verdadeiro’ nunca teve domínio sobre ‘conceder humanidade’ ou algo semelhante.”

    Ele fez uma breve pausa antes de continuar:

    “Portanto, o que despertou a humanidade em Cão pode não ter sido o Fragmento do Sol, mas… algo mais.”

    “Você está dizendo que, onze anos atrás, algo além do Fragmento do Sol apareceu na Cidade-Estado de Pland?!”

    Shirley finalmente compreendeu o peso da suspeita e arregalou os olhos.

    “É apenas uma hipótese”, disse Duncan, dando-lhe um leve tapinha no ombro antes de recuar a mão. “Mas há algo que sempre me incomodou nessa história:

    “O Fragmento do Sol é considerado uma ‘relíquia sagrada’ para os Cultistas do Sol. Segundo os relatos dos próprios cultistas, seu poder é bastante direto e, dentro do estudo do ocultismo, está ligado exclusivamente ao ‘Deus Sol Verdadeiro’. No entanto, na confusão de onze anos atrás, os registros oficiais mostram que os cultistas presos incluíam membros do Culto da Aniquilação e dos Pregadores do Fim—grupos que não têm qualquer ligação com o Deus Sol. O que eles estavam fazendo ali?

    “Claro, poderia se argumentar que o Fragmento do Sol era tão poderoso que até mesmo aqueles que não adoravam o Deus Sol foram afetados e enlouqueceram naquele dia. Mas isso ainda não explica algo tão estranho quanto Cão. Ele era uma criatura caótica, um demônio abissal por natureza, mas, de repente, no meio daquela catástrofe, desenvolveu consciência e racionalidade. Como isso é possível?”

    Duncan fez uma pausa antes de continuar, sua voz ficando ainda mais firme.

    “E se expandirmos essa análise, há muitos outros elementos suspeitos. Aquela névoa invisível que envolveu o incêndio. As memórias fragmentadas e distorcidas de você e Nina. Os fenômenos estranhos que ocorrem no Sexto Distrito. Até agora, sempre presumimos que todas essas anomalias estavam relacionadas ao Fragmento do Sol. Mas pensando bem… esses eventos realmente pertencem ao ‘domínio do sol’? Se esse tal ‘Deus Sol Verdadeiro’ for realmente responsável por tudo isso, então ele deve ser onipotente.”

    Duncan finalmente expressou as dúvidas que vinha acumulando há muito tempo. Algumas delas já rondavam sua mente antes mesmo daquele dia.

    Mas agora, depois de testemunhar a transformação do Cão onze anos atrás, ele sentia sua suspeita se consolidar.

    O incêndio de onze anos atrás pode, de fato, ter sido causado pelo Fragmento do Sol.

    Mas havia outra força envolvida nessa tragédia.

    Algo mais estava agindo naquele dia.

    E esse ‘algo’ ainda permanecia oculto.

    Shirley ainda estava um pouco atordoada. Ela nunca foi boa em lidar com questões tão complexas, e enquanto permanecia pensativa, ouviu a voz urgente de Cão ecoar em sua mente:

    “Shirley, você está bem? Quando ele tocou sua cabeça, será que lançou uma maldição? Sua mente ainda está lúcida? Você…”

    “Estou bem”, respondeu Shirley, contendo um riso nervoso. “Cão, você está exagerando.”

    “Exagerando?! Como eu poderia não estar nervoso?! Você acabou de ter contato direto com uma fonte de corrupção capaz de enlouquecer um humano comum em um instante!” Cão parecia à beira do desespero. “O que você está sentindo agora?”

    Shirley pensou por um momento e, um pouco incerta, tocou o topo da própria cabeça.

    Em sua memória, a última vez que alguém bagunçou seus cabelos assim—de forma leve e reconfortante, como se estivesse acalmando uma criança—aconteceu há muitos, muitos anos.

    “… Quentinho.”

    Ela murmurou distraída.

    Cão ficou em choque.

    “Shirley, sua cabeça realmente deu defeito?!”

    “… Cala a boca!”

    Enquanto isso, Duncan não fazia ideia da conversa mental que se desenrolava entre os dois.

    Ele apenas ficou em silêncio, observando a janela, onde a luz avermelhada e sombria ainda pairava sobre a escuridão do ambiente.

    De repente, ele quebrou o silêncio:

    “O que há lá fora?”

    Shirley piscou.

    “Hã?”

    Duncan ergueu a mão e apontou para a janela.

    “Fora deste quarto. O que há lá?”

    “Eu… eu não sei.” Shirley piscou novamente, confusa.

    Foi então que percebeu algo.

    Nesse pesadelo recorrente, algo havia mudado.

    Desta vez, pela primeira vez, surgiu uma pergunta que ela nunca tinha feito antes.

    “Toda vez que sonho, sempre fico presa dentro deste quarto…”

    “Mas agora, você se libertou.”

    Duncan caminhou até a porta do pequeno quarto e parou ali, olhando para Shirley.

    Então, ele sorriu levemente e disse, sua voz ressoando como um convite sombrio na escuridão:

    “Quer tentar? Agora que está lúcida… que tal ver o que existe nos limites do seu próprio sonho?”

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