Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 136: Uma Manhã Comum na Loja de Antiguidades
A luz da manhã iluminou a cidade-estado de Pland, que havia repousado durante toda a noite. O sol, aprisionado pelos anéis rúnicos duplos, subia lentamente no céu como uma gigantesca roda flamejante. Sob o imenso poder do Fenômeno 001, os horrores da noite finalmente começaram a recuar.
As sombras nos becos, os sussurros em lugares vazios, os murmúrios das ondas na costa, os olhares invisíveis nas vielas profundas, e os sonhos que enredavam as mentes humanas.
Shirley abriu os olhos.
Ela viu um teto ainda pouco familiar, a luz do sol entrando pela janela e iluminando a pequena mesa ao lado da cama e a escrivaninha próxima. O quarto era simples, limpo e organizado—muito mais confortável do que qualquer outro lugar em que já havia morado.
Ela sentiu o cheiro da comida e ouviu alguns sons vindos da cozinha. Olhando para o lado, viu Nina dormindo de bruços, esparramada na cama. Hoje era um dia de descanso, e a garota podia se dar ao luxo de dormir até tarde—porque tinha um ‘tio’ em quem podia confiar, e, quando acordasse, o café da manhã já estaria pronto para ela.
Shirley sentou-se na cama, ainda um pouco atordoada. Levou alguns segundos para lembrar exatamente onde estava e para processar tudo o que acontecera em seus sonhos.
Então, estendeu a mão e empurrou Nina suavemente. “Nina, acorda… Vamos lavar o rosto e tomar café da manhã.”
Nina murmurou sonolenta: “Estou com tanto sono… só mais um pouquinho…”
Shirley ficou momentaneamente sem reação. Ela não sabia o que fazer a seguir.
Afinal, fazia muito, muito tempo desde a última vez que experimentara esse tipo de vida—havia um abismo de onze anos entre ela e essa sensação. Mas, de algum modo, ainda se lembrava… lembrava que já fora assim, que já vivera assim.
Devagar, ela desceu da cama e vestiu suas roupas, enquanto escutava os sons do lado de fora. No fundo, lembrava a si mesma que aquele lugar não era um refúgio tranquilo e seguro—na realidade, era apenas um ‘ninho’, um abrigo moldado ao capricho de uma Sombra do Subespaço e seus seguidores…
Mas, de alguma forma, aquele ‘ninho’ ainda parecia mais como um lar do que qualquer outro lugar onde ela e Cão já haviam morado.
Shirley se perdeu nesses pensamentos, mas, de repente, a voz de Nina a trouxe de volta à realidade:
“Uau! Já é essa hora?!”
Shirley virou-se e viu Nina sentada na cama, os cabelos completamente bagunçados e os olhos arregalados. A garota olhou para a janela por um instante antes de perceber Shirley ali ao lado. Ela sacudiu a cabeça e murmurou:
“Shirley? Você… Ah, é verdade, você dormiu aqui ontem…”
Então, de repente, saltou da cama e começou a se agitar.
“Ah, deixa pra lá, não dá tempo de conversar! Eu preciso preparar o café da manhã…”
No meio da frase, ela parou abruptamente ao ouvir os sons vindos da cozinha e sentir o cheiro da comida recém-preparada. Depois de um breve momento de confusão, finalmente se lembrou:
“Oh, é o tio que está fazendo o café hoje… Certo, o tio está melhor agora… Espera! A escola! Estou atrasada para a escola!”
Antes mesmo de terminar a frase, Nina disparou em direção à escrivaninha para pegar suas coisas. Mas, no meio do caminho, algo lhe ocorreu. Ela parou subitamente e lançou um olhar para o calendário sobre o criado-mudo.
“Ah, não! Hoje é dia de folga…”
E então, sem qualquer hesitação, girou no próprio eixo e mergulhou de volta no travesseiro.
“Então vou dormir mais dois minutinhos…”
Shirley ficou ali parada o tempo todo, perplexa, observando a sequência caótica de ações de Nina. Desde o momento em que a garota pulou da cama até retornar ao ponto de partida como se nada tivesse acontecido, não houve uma única brecha para Shirley sequer abrir a boca.
Foi só quando Nina voltou a se jogar na cama que Shirley hesitou por um instante e se aproximou. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Nina saltou novamente, esticando os braços em um longo espreguiçar.
“Ah, agora sim, estou acordada.”
Shirley: “…?”
Nina virou-se para Shirley com os olhos brilhando de energia. “Shirley, o que foi? Por que essa cara?”
Shirley hesitou por um momento antes de perguntar:
“Você… sempre acorda assim?”
Nina piscou, confusa. “Hã? Assim como?”
“Tipo…” Shirley tentou gesticular com as mãos, mas parecia incapaz de traduzir aquilo em palavras. “Você pula da cama, aí faz isso… depois aquilo… e aí isso, isso e mais isso…”
“Ah, eu fico meio confusa quando acordo”, Nina respondeu com naturalidade, acenando com a cabeça enquanto pegava suas roupas. De alguma forma, conseguiu interpretar corretamente a explicação abstrata de Shirley. “Mas agora estou completamente desperta! Ah, a propósito, Shirley, você dormiu bem essa noite? Eu me mexo muito quando durmo, não atrapalhei você, né?”
“Eu…” Shirley estava prestes a responder, mas, de repente, uma enxurrada de memórias tomou conta de sua mente.
Ela se lembrou daquele pequeno quarto fechado, daquela manhã silenciosa. Lembrou-se do som de passos se afastando, do clique da porta sendo trancada, e depois… da porta sendo arrombada por um Cão de Caça Abissal.
Mas, depois disso, veio uma aventura inesperada—uma exploração ousada e aterradora, mas também… impressionante.
“Eu dormi muito bem”, ela sorriu. “Na verdade, eu também me mexo bastante quando durmo. Cão sempre diz que, um dia, eu vou acabar desmontando minha cama enquanto durmo.”
“Tio já disse a mesma coisa sobre mim”, Nina comentou, já vestida, soltando um longo bocejo antes de pegar Shirley pela mão. “Vamos, vamos comer. Estou morrendo de fome.”
Shirley foi arrastada porta afora sem nem perceber direito o que estava acontecendo. Assim que saíram, viu Duncan saindo da cozinha, secando as mãos no avental—claramente acabara de terminar de preparar o café da manhã.
“Senhor Duncan…” Shirley sentiu-se subitamente nervosa outra vez. Mesmo tendo presenciado muitas coisas inacreditáveis, ainda achava um pouco surreal que um ser como Duncan estivesse ali, preparando café da manhã como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Mas, rapidamente, ela reprimiu essa sensação e abaixou a cabeça em um cumprimento formal.
“Bom dia.”
Afinal, era isso que ele havia dito para fazer—agir como se aquele fosse apenas um lugar comum e comportar-se como uma convidada normal.
Mesmo que ela não fizesse ideia de como uma ‘visita normal’ deveria se comportar, pelo menos dar um ‘bom dia’ parecia apropriado.
“O que tem pro café da manhã?” Nina já estava indo direto para a cozinha, esticando o pescoço para olhar por trás de Duncan. “O cheiro tá ótimo!”
“Fiz algumas salsichas fritas. Comprei ontem quando voltamos”, Duncan respondeu casualmente. Mas, antes que Nina pudesse ir mais longe, ele pousou a mão na cabeça dela e virou-a na direção do lavabo. “Primeiro, lave as mãos!”
Então, virou-se para Shirley, cruzando os braços.
“E você também. Para de ficar parada aí. Vai lavar as mãos e o rosto!”
Shirley congelou por um instante, depois rapidamente seguiu Nina até o lavabo. Quando terminou, foi a primeira a voltar e ficou diante de Duncan, estendendo as mãos.
“… Estão limpas.”
Ao dizer isso, Shirley ficou constrangida. De repente, percebeu o quão infantil fora—ela já estava quase atingindo a maioridade, mas, depois de lavar as mãos, ainda estendeu os braços para um adulto conferir, como se tivesse apenas sete anos. Nem sabia por que diabos fizera isso.
Mas Duncan não pareceu se importar. Ele apenas assentiu e se virou para a cozinha, perguntando de forma aparentemente casual:
“Como dormiu?”
Shirley abaixou a cabeça. “Hm… Melhor do que antes.”
“As feridas que sofreu no sonho afetaram seu corpo no mundo real?” Duncan perguntou em seguida.
Shirley ficou surpresa por um momento, então se lembrou de que, no pesadelo, fora atingida pelo chicote daquele agressor estranho. Assustada, levantou rapidamente o braço esquerdo e, para sua surpresa, viu uma cicatriz tênue.
Graças à sua regeneração acelerada, o ferimento já estava quase completamente curado e não doía mais. Mas era inegável—quando foi ferida no sonho, seu corpo físico também sofreu o mesmo dano.
E o mais preocupante: como estava ‘presa’ no sonho, nem sequer conseguiu acordar quando aquilo aconteceu.
Duncan percebeu a marca no braço de Shirley. Seu olhar se fixou nela por um instante, antes de assentir levemente.
Um fenômeno anormal, mas não inesperado.
Afinal, aquele pesadelo estranho… nunca fora apenas um sonho comum.
“Parece que se machucar naquele sonho também afeta o mundo real”, ele disse seriamente. “No futuro, não explore esse lugar por conta própria sem mim. Você é forte, mas contra aquela criatura que se divide, sua força não será suficiente.”
Shirley rapidamente assentiu. “Entendido.”
Duncan pensou por um momento antes de acrescentar:
“Além disso, se você acabar presa nesse pesadelo novamente, pode me chamar diretamente.”
Shirley piscou, confusa. “Chamar o senhor?”
“Diga meu nome. O nome completo que revelei a você no sonho”, explicou Duncan, com um tom calmo. “Ou chame pelo Banido. O ideal é fazer isso perto de uma superfície reflexiva—vidros, espelhos ou qualquer coisa com propriedades espelhadas. Assim, conseguirei ouvir melhor.”
Shirley ouviu atentamente, e, de repente, algo lhe ocorreu. Ao mesmo tempo, sentiu pela conexão mental com Cão uma onda de tensão vinda dele.
“O senhor… está querendo que eu me torne sua seguidora?” Ela ergueu os olhos, perguntando com um misto de nervosismo e hesitação.
“Eu não sei exatamente o que significa ser uma ‘seguidora’, e não exijo que você me ofereça nada”, Duncan respondeu com naturalidade. “Mas você é amiga de Nina e agora está envolvida nas mesmas coisas que eu. Estou apenas cuidando um pouco de você.”
Shirley prendeu a respiração, sem ousar responder de imediato.
Foi então que a voz animada de Nina veio da porta da cozinha:
“O que vocês estão conversando aí?”
Duncan abaixou um pouco a voz e disse a Shirley:
“Não precisa me responder agora.”
Em seguida, ergueu o olhar para Nina.
“Por que demorou tanto para lavar as mãos?”
“Eu não conseguia tirar a remela do canto do olho”, Nina resmungou, esfregando os olhos. “Esfreguei tanto que até ficou doendo…”
“Então beba mais água nos próximos dias”, Duncan suspirou, lançando-lhe um olhar de leve reprovação.
Então, como se fosse apenas uma pergunta casual, acrescentou:
“A propósito, você teve aquele sonho de novo ontem à noite? Aquele em que está no alto, olhando para a cidade em chamas?”
“Não”, Nina pensou por um momento e balançou a cabeça. “Dessa vez, só sonhei que tinha um cavalo deitado sobre minha barriga… e depois um boi. Era pesado pra caramba… Por que o senhor perguntou isso, tio?”
“Nada demais, só me lembrei que aquela psiquiatra vem nos visitar hoje”, Duncan disse, afastando seus pensamentos momentâneos e encerrando o assunto.
“Vamos comer.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.