Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Ao norte das cidades-estado de Pland e Lansa, além da movimentada Grande Rota Cruzada, o frio domina eternamente a região conhecida como Mar Gélido. Sob essa corrente de ar misteriosa, que parece nunca se dissipar, toda a extensão do Mar Gélido exibe uma aparência distinta de qualquer outro oceano.

    Aqui, as águas possuem uma profundidade visual densa e marcante, nitidamente separadas das regiões mais quentes do oceano. Pequenos blocos de gelo frequentemente aparecem onde as correntes marítimas encontram ilhas, enquanto imensas geleiras emergem periodicamente das profundezas, transformando-se em barreiras temporárias ou massas de terra flutuantes. Para os marinheiros que navegam nessa região hostil, esses icebergs servem tanto como marcos de orientação quanto como portos de emergência durante tempestades. Além disso, nevoeiros misteriosos, ventos gélidos e fenômenos ópticos fantasmagóricos são características únicas desse mar, inspirando inúmeras lendas e conferindo um tom enigmático às cidades-estado de Geada e Porto Frio, as duas principais metrópoles da região.

    No entanto, mais do que os icebergs previsíveis ou os fenômenos sobrenaturais que geralmente permanecem confinados às histórias de marinheiros, o que os capitães que navegam pelo Mar Gélido mais comentam é uma frota verdadeiramente existente—e aterrorizante.

    Uma frota que há meio século patrulha essas águas, envolta em lendas e mistérios, governando um terço das rotas marítimas do Mar Gélido.

    A Frota do Névoa do Mar, comandada por Tyrian Abnomar, filho de Duncan Abnomar.

    Na orla de uma ilha oculta, protegida por correntes marítimas traiçoeiras e uma densa cortina de neblina, uma imponente embarcação de aço repousava em um estaleiro isolado. Seu casco era pintado de cinza ferroso, sua silhueta rígida e seu alto castelo de proa davam-lhe uma presença intimidadora.

    Tripulantes e operários trabalhavam sem descanso, reabastecendo o navio com combustível, água potável e munição.

    Qualquer um com um conhecimento mínimo sobre a história da cidade-estado de Geada notaria imediatamente um detalhe peculiar: os marinheiros vestiam uniformes navais de Geada de cinquenta anos atrás.

    E, no peito ou no ombro de cada um deles, havia um emblema branco—um símbolo tradicional de luto em Geada.

    No convés superior, dentro da cabine do capitão, um homem vestindo um longo casaco negro de oficial da marinha lia atentamente um conjunto de documentos.

    Esse homem era magro, de nariz afilado e olhos profundos. Seu cabelo curto e negro estava bem aparado, e seu olho esquerdo estava coberto por um tapa-olho de couro negro de origem desconhecida. O acessório, frequentemente associado a piratas, conferia ainda mais severidade ao seu semblante, tornando sua expressão sombria e fria.

    Seu rosto carregava traços que lembravam vagamente aqueles do infame Capitão Fantasma—o homem cujo nome fazia o mundo tremer.

    Perto dele, um grande papagaio de cauda colorida estava empoleirado em uma estrutura de madeira, observando atentamente um estranho dispositivo de latão ao lado do capitão.

    O objeto era uma complexa estrutura de lentes, cercada por alavancas e pequenos espelhos. No centro da engenhoca, um enorme cristal esférico cintilava, emanando uma aura de mistério e sofisticação.

    O homem magro não ergueu os olhos dos documentos.

    “Parley, se você tocar nisso, no próximo mês eu te mando para o Brilho Estelar para fazer companhia aos bonecos e fantasmas.”

    “Ah, cruel!” O grande papagaio gritou imediatamente, balançando-se no poleiro. “Ah, cruel! Tyrian é um capitão cruel!”

    “… Eu realmente deveria descobrir qual desgraçado te ensinou essa frase”, Tyrian Abnomar franziu a testa. “Não pode dizer outra coisa?”

    O papagaio abriu as asas com orgulho e bateu-as no ar. “Parley aprendeu sozinho! Parley aprendeu sozinho!”

    Tyrian massageou as têmporas com irritação. “Maldição… essa também?”

    Foi então que uma batida na porta interrompeu a troca de palavras entre ele e a ave.

    “Entre”, Tyrian disse, virando a cabeça.

    A porta da cabine do capitão se abriu, e um homem alto e careca entrou.

    Sua pele era pálida, semelhante à de um cadáver morto há muito tempo. Seus olhos carregavam uma névoa turva e eterna, enquanto uma leve brisa salgada do mar parecia pairar ao seu redor. Mas misturada ao cheiro do oceano havia uma sensação muito mais fria e sinistra—uma essência gélida que parecia emanar de uma tumba.

    Uma carcaça animada. Um cadáver que permanecia no mundo dos vivos.

    Tyrian olhou para o ‘morto-vivo’ que entrou no aposento.

    “Aiden, quanto já foi reabastecido?”

    “Está quase terminado, Capitão”, respondeu Aiden, inclinando ligeiramente a cabeça. Sua voz era rouca e áspera, e enquanto falava, uma leve névoa branca de frio escapava de sua boca e nariz. “As caldeiras já estão aquecendo.”

    “Muito bem”, Tyrian assentiu levemente. “E quanto a Porto Frio, alguma movimentação?”

    “Silenciosa como uma rocha”, Aiden respondeu com um tom de desprezo. “Eles não ousariam invadir nosso território—mesmo com apenas metade da Frota do Névoa do Mar patrulhando o Mar Gélido, aqueles covardes não têm coragem de cruzar nossas rotas.”

    “Eles são espertos. Sempre foram bons em calcular riscos e benefícios—mesmo cinquenta anos atrás”, Tyrian sorriu. “Vá se preparar. Partiremos conforme o planejado.”

    “Sim, Capitão.”

    O imediato, envolto na aura gélida da morte, saiu do aposento, fechando a porta atrás de si. Tyrian então desviou o olhar, voltando a seus próprios pensamentos.

    Seu imediato era um ‘morto-vivo’. Na verdade, toda a Frota do Névoa do Mar—com exceção dele, um ‘imortal’ amaldiçoado pelo Subespaço—era composta por esses seres, presos entre a vida e a morte.

    Seus leais tripulantes haviam servido a essa frota por meio século.

    De certo modo, ele mesmo, um homem incapaz de morrer por causa de uma maldição, não era tão diferente de sua tripulação.

    Tyrian balançou a cabeça levemente.

    Foi então que o dispositivo de latão ao seu lado emitiu um ruído mecânico, chamando sua atenção.

    Ele olhou na direção do aparelho e viu as alavancas e lentes se movendo rapidamente, realinhando-se em padrões específicos. O foco convergiu para o cristal esférico no centro do mecanismo, e, no instante seguinte, uma tênue luz emergiu da esfera.

    Uma imagem começou a se formar—

    A figura de uma jovem mulher apareceu no cristal. Ela tinha longos cabelos negros e lisos e vestia um elegante vestido de seda preta. Suas feições eram refinadas, com um toque de frieza e mistério.

    Atrás dela, podiam-se ver várias máquinas mágicas operando automaticamente e pequenas luzes azuladas de Fogo-fátuo flutuando no ar.

    “Lucretia.” Tyrian olhou para a mulher no cristal e acenou levemente com a cabeça. “Não achei que você ainda se lembraria de me mandar uma saudação antes da minha partida.”

    A jovem dentro do cristal estava prestes a falar, mas parou por um instante ao ouvir as palavras de Tyrian.

    “Você parte hoje?”

    Tyrian franziu a testa. “… Você não me contatou justamente por causa da minha partida?”

    “Não.” A mulher, que possuía um ar enigmático típico dos magos, balançou a cabeça com tranquilidade. “Meu dispositivo de exploração submarina explodiu.”

    O canto da boca de Tyrian se contraiu levemente.

    Antes que ele pudesse responder, sua irmã continuou com naturalidade:

    “O resto dá para consertar, mas não consigo encontrar um cristal de lente de reposição para o núcleo.”

    Tyrian permaneceu impassível.

    “Você tem algum novo por aí? Posso trocar por minerais da fronteira e amostras.”

    “… As Lentes Espirituais com a precisão que você precisa só podem ser produzidas por duas cidades-estado, e os principais canais de comércio são controlados pela Academia da Verdade. A quantidade que chega ao mercado externo é muito, muito, muito… limitada”, Tyrian finalmente suspirou. “Só se passaram dois meses desde a última vez que você destruiu seu dispositivo de exploração…”

    “Encontrei uma amostra muito interessante”, Lucretia disse. “Pode ter vindo à deriva da Profundezas Abissais.”

    “… Amostras das Profundezas Abissais não servem. Apesar de serem valiosas para a Academia da Verdade…”

    “Também coletei algumas projeções residuais do colapso da fronteira.”

    “Isso não é…” Tyrian passou a mão na testa, frustrado. “O problema é que eu realmente não sei onde conseguir um novo conjunto de lentes para você agora…”

    Lucretia pensou por um momento. “E se você roubasse?”

    “Eu não posso depender só de saques”, Tyrian suspirou. “A Frota do Névoa do Mar está tentando se estabelecer como uma força legítima. Agora, nosso principal rendimento vem da coleta de taxas de proteção…”

    “Oh, então esquece.” Lucretia finalmente deu de ombros. Tyrian sentiu um alívio momentâneo, mas logo a segunda parte da frase da irmã fez seu coração se apertar novamente.

    “Então eu pergunto de novo amanhã.”

    “Você… ah, deixa pra lá.” Tyrian desistiu, soltando outro suspiro—ele já perdera a conta de quantas vezes suspirara nos últimos minutos. “Fale sobre você, minha ‘respeitável’ irmã exploradora… Você passa seus dias vagando pelas fronteiras do mundo civilizado. Já encontrou algum sinal concreto de que nosso mundo está realmente caminhando para o fim?”

    “Consigo perceber seu tom sarcástico, irmão”, Lucretia respondeu com uma expressão neutra. “Você nunca levou minha urgência a sério. Nunca se importou genuinamente com o que descobri nas fronteiras. Eu entendo—você se preocupa com questões mais práticas. E por isso sou grata por sua ajuda, mesmo que você não compreenda completamente o que estou fazendo. Mas não se esqueça… de nosso pai. Ele nos alertou.”

    “… Nosso mundo não passa de brasas se apagando…” Tyrian recostou-se na cadeira, murmurando como se soltasse um suspiro. “Até hoje, não sei exatamente o que ele viu naquele dia. Mas há uma coisa evidente: quando fez esse alerta, ele já estava louco. E agora você está repetindo os passos dele, tentando desvendar o mesmo mistério que o levou à insanidade.”

    Tyrian balançou a cabeça e olhou fixamente para a figura no cristal.

    “Lucretia, um Banido já é ruim o bastante para este mundo.”

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