Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 140: Duas Visitantes
Na percepção de Duncan, a presença de Vanna estava se aproximando rapidamente da loja de antiguidades. No entanto, seu trajeto não era retilíneo – ela mudava de direção com frequência e até fazia pausas incomuns ao longo do caminho.
Uma Inquisidora que vive no Distrito Superior, de repente aparecendo em uma loja de antiguidades no Distrito Inferior… O que ela estaria fazendo aqui? E por que seu movimento era tão estranho?
Assim que a presença da jovem Inquisidora do Mar Profundo entrou em seu campo de percepção, Duncan franziu ligeiramente a testa e, instintivamente, lançou um olhar para Shirley.
Seria por causa dela? A Igreja do Mar Profundo finalmente descobriu que havia uma ‘invocadora’ escondida na cidade, alguém que caminhava ao lado de um Demônio Abissal? Ou seria por sua causa? Mas ele sempre fora cauteloso em suas ações, nunca deixando qualquer pista que pudesse levar ao Banido. No máximo, a identidade original desse corpo – um seguidor da Igreja do Sol – poderia ter sido descoberta… Mas isso não seria o suficiente para alarmar uma Inquisidora, certo?
A trajetória da presença que se aproximava era definitivamente anormal – não parecia uma caminhada casual pela vizinhança. Pelo contrário, havia uma intenção clara em sua movimentação.
Enquanto sua mente analisava rapidamente todas essas possibilidades, Duncan lançou um olhar discreto para Nina, que estava sentada ao lado, lendo um livro. Então, levantou-se e dirigiu-se para a porta da loja de antiguidades.
Shirley percebeu seu movimento e, instintivamente, o seguiu:
“Senhor Duncan? O que aconteceu…?”
“Fique na loja.” Duncan lançou um olhar para a jovem, que, de uma forma ou de outra, certamente seria considerada uma ‘herege’. Ele a instruiu a permanecer onde estava e então seguiu até a porta, olhando na direção de onde a presença estava vindo.
Foi então que ele entendeu por que Vanna estava se aproximando tão rapidamente.
Ela veio de carro.
Um veículo cinza-escuro, movido a motor a vapor, parou com um rangido em frente à loja de antiguidades. A porta se abriu e duas pessoas desceram: uma era Vanna, que, apesar de estar vestindo roupas casuais, ainda se destacava por sua altura imponente; a outra era ninguém menos que a Dra. Heidi, a psiquiatra com quem ele já havia se encontrado antes.
Duncan: “…”
Ele refletiu brevemente sobre todas as suposições apocalípticas que fizera ao perceber a aproximação rápida de uma presença extraordinária. Talvez ele precisasse parar de imaginar que tudo que envolvia o sobrenatural acontecia de forma dramática, como figuras vestidas de branco se movendo com a velocidade do vento.
Agora, pensando melhor, aqueles breves momentos de pausa no caminho de Vanna provavelmente foram apenas ela esperando o semáforo abrir…
Então, ele viu a psiquiatra acenando animadamente para ele, cumprimentando-o com alegria:
“Senhor Duncan!”
O canto da boca de Duncan tremeu levemente. Ao ver Vanna vestindo roupas casuais, ele já tinha certeza de que havia exagerado em suas suposições. Mesmo assim, ao ir recebê-las, fez questão de lançar um olhar extra para a Inquisidora, demonstrando uma surpresa bem dosada:
“Isto…?”
“Ah, tenho certeza de que você a reconheceu. Ninguém nesta cidade poderia não conhecê-la—nossa estimada Inquisidora, Senhorita Vanna Wayne”, disse Heidi, sorrindo com um tom de leve provocação. “Mas hoje ela está de folga, então relaxe um pouco. Ela é minha amiga e, quando soube do que aconteceu no museu, insistiu em vir pessoalmente para agradecer.”
“Amiga?” Desta vez, a surpresa de Duncan foi genuína. Isso realmente era algo que ele não esperava. “Nunca imaginei que você traria uma figura tão importante…”
“Chamar-me de ‘figura importante’ é um exagero, Senhor Duncan”, disse Vanna, que parecia estar discretamente analisando o antiquário desde o momento em que chegou. Só então ela finalmente falou, sua voz um pouco rouca e baixa, com uma leve textura magnética. No entanto, para Duncan, não era a primeira vez que ouvia a voz da Inquisidora. “Apenas me veja como uma cliente comum. Como Heidi mencionou, estou de folga hoje. Minha visita tem dois propósitos: agradecer por ter ajudado Heidi no museu e, ao mesmo tempo, esclarecer algumas questões. Mas fique tranquilo, não é nenhum tipo de interrogatório formal.”
Esclarecer algumas questões?
O rosto de Duncan permaneceu inalterado, mantendo seu sorriso amigável habitual. Com um gesto cordial, afastou-se para dar passagem às visitantes:
“Então, não fiquem paradas na porta. Entrem—por sorte, a loja está bem tranquila hoje, então um pouco de movimento será bem-vindo.”
Enquanto falava, virou-se e entrou na loja primeiro. Assim que cruzou a porta, viu Shirley espiando com curiosidade o que estava acontecendo do lado de fora. Sem pensar muito, bagunçou os cabelos da garota de leve e disse casualmente:
“Fique calma daqui a pouco.”
Shirley piscou, confusa:
“Ficar calma com o qu…?”
No instante seguinte, ela entendeu.
A figura que entrou logo após Duncan foi ninguém menos que a Inquisidora, uma mulher que representava o ápice do poder marcial da Igreja do Mar Profundo na Cidade-estado de Pland.
A jovem de menos de 1,60m observou, atônita, enquanto a imponente mulher de mais de 1,90m passava ao seu lado. A diferença de altura não era apenas visual—era esmagadora.
Shirley praticamente soltou a primeira coisa que veio à sua mente:
“Uau… Você é muito alta!”
Vanna parou instintivamente ao ouvir isso. Ela lançou um olhar para a garota ao seu lado, que estava com uma expressão estranha no rosto e os músculos visivelmente tensionados. Depois, acenou educadamente com a cabeça:
“Olá.”
“Ela se chama Shirley”, Duncan comentou casualmente, de onde estava. “Ela me ajuda aqui na loja. Estava presente no incidente do museu – a Srta. Heidi provavelmente já mencionou isso para você.”
“Então você é Shirley?” Vanna assentiu levemente, comparando a garota à descrição que ouvira antes. “De fato, uma irmãzinha adorável.”
Naquele momento, Nina, que estava lendo perto do balcão, também percebeu o alvoroço e correu para ver o que estava acontecendo. Assim que chegou, sua atenção foi imediatamente capturada por Vanna e sua altura impressionante. Reconhecendo a renomada Inquisidora, ela soltou um espanto idêntico ao de Shirley.
“… E é por isso que eu não gosto de sair com você.” Heidi, que até então estava atrás de Vanna e havia passado despercebida, finalmente falou. “Você só precisa ficar de pé e já atrai toda a atenção. Eu sou a protagonista da visita de hoje, sabia?”
“Não é como se eu quisesse atrair os olhares das pessoas dessa forma.” Vanna olhou para sua amiga, impassível. “Fiz o máximo para parecer discreta hoje.”
“… Esquece, já me acostumei.” Heidi suspirou. Então, voltou-se para Nina e Shirley, cumprimentando-as antes de tirar um pequeno presente que trouxera consigo e entregá-lo a Duncan.
“Eu não sabia exatamente do que o senhor gosta, mas não seria apropriado visitar sem trazer algo como forma de agradecimento. Meu pai pediu que eu entregasse isso pessoalmente – ele disse que alguém com interesses tão amplos e fascinado por história e esoterismo como o senhor provavelmente gostaria disso.”
“Foi muita gentileza sua. No fim das contas, eu só fiz o que qualquer um faria”, Duncan respondeu educadamente, aceitando o presente. Tratava-se de uma caixa de madeira já envelhecida. Ele abriu a tampa ali mesmo e, ao ver o conteúdo, franziu levemente a testa, intrigado.
“Isso é…”
Era um livro – uma edição luxuosa, claramente valiosa, do tipo que apenas estudiosos respeitáveis do Distrito Superior manteriam em suas estantes. A capa dura de tom púrpura escuro ostentava um título escrito em elegantes letras cursivas:
〖《City-States and Gods1》〗
“Este é um dos livros da coleção do meu pai, algo que já é muito raro de se encontrar no mercado hoje em dia”, Heidi disse com um sorriso. “O autor é Maldino Victor, um renomado naturalista e teólogo de um século atrás. Trata-se de uma obra que descreve as mudanças históricas da era das cidades-estado e a influência das diversas crenças religiosas — incluindo os Quatro Grandes Deuses — sobre a civilização. Meu pai achou que o senhor poderia gostar.”
Duncan observou em silêncio o livro primorosamente encadernado dentro da caixa. Lentamente, um sorriso surgiu em seu rosto.
“Com certeza, eu gostei muito. Transmita meus agradecimentos ao Sr. Morris por sua consideração.”
Após essa troca de gentilezas, a conversa fluiu com naturalidade. Como não havia clientes na loja naquele momento, Duncan decidiu fechar a porta e transformar o espaço relativamente amplo do primeiro andar em uma área de recepção improvisada.
Nina trouxe duas cadeiras, Duncan preparou o melhor café da loja para suas visitantes e Shirley fingiu que estava organizando as prateleiras — quando, na verdade, apenas encontrou um canto discreto para diminuir sua presença. Enquanto isso, Vanna examinava a loja com curiosidade, analisando o ambiente simples e despretensioso. Heidi, por sua vez, já estava completamente à vontade, colocando sua maleta médica sobre o balcão.
Ela então se virou para Nina e foi direto ao ponto:
“Vamos ao que interessa. Ouvi dizer que você tem sofrido com pesadelos recorrentes e anda frequentemente distraída?”
“Ah, na verdade, não são bem pesadelos… São sonhos estranhos e repetitivos…” Nina não esperava que a Srta. Heidi fosse tão objetiva. Ficou um pouco surpresa antes de responder: “Sempre sonho que estou em um lugar muito alto… Como se estivesse no topo de uma torre. Lá de cima, consigo ver vários distritos abaixo, todos reduzidos a cinzas. Mas, fora isso, não há nada assustador…”
“Pare.” Heidi ergueu a mão em um gesto, interrompendo-a enquanto abria sua maleta. “Cenário recorrente. Local elevado. Incêndio. Nenhuma figura aterrorizante, mas a frequência do sonho está afetando sua energia mental e impedindo um descanso adequado… Deixe-me ver…”
Nina inclinou-se levemente para espiar o conteúdo da maleta de Heidi. No mesmo instante, viu uma coleção de serras, formões, bisturis e frascos de substâncias desconhecidas. Imediatamente, encolheu os ombros, inquieta:
“Err… Srta. Heidi… Será que eu posso… não receber tratamento? Na verdade, acho que meu estado nem está tão ruim assim…”
Duncan também tinha avistado o conteúdo da maleta e arqueou uma sobrancelha.
“Com todo respeito… Isso é mesmo necessário para um tratamento psiquiátrico?”
Afinal, essa mulher, que aparentava ser uma médica elegante e gentil, era mesmo uma psiquiatra… ou, na verdade, uma veterinária?!
- Cidades-estados e Deuses. No original estava escrito em inglês mesmo, assim manterei.[↩]
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