Capítulo 142: Interrogatório e Tratamento
A expressão de Duncan era extremamente sincera, carregando uma firmeza quase inabalável, como se dissesse: “Se algum cliente encontrar algo autêntico no meu estoque, eu fecho a loja imediatamente.” Sua confiança era tamanha que Vanna ficou momentaneamente atordoada. Precisou de alguns segundos para processar o que acabara de ouvir antes de finalmente responder:
“Sua honestidade… é realmente impressionante.”
“Sobre o incêndio no museu, há mais alguma coisa que queira perguntar?” Duncan ignorou o tom peculiar na voz da Inquisidora e manteve-se tranquilo. “Soube depois que o prédio foi completamente isolado no mesmo dia?”
“Na verdade, há fortes indícios de que houve influência de fatores sobrenaturais no incêndio.” Vanna não fez questão de esconder essa informação – afinal, esse tipo de especulação já havia se espalhado por toda a cidade. Até os ocultistas do Conselho Municipal haviam alertado publicamente a população para evitar o Museu de Pland por tempo indeterminado. Para os cidadãos da cidade-estado, o problema nunca era a existência de eventos sobrenaturais, e sim os detalhes e verdades ocultas por trás deles.
“O fogo se extinguiu de forma anormalmente rápida, contrariando toda lógica. Sr. Duncan, peço que tente se lembrar: quando entrou no museu, percebeu ou ouviu algo fora do comum?”
Duncan franziu as sobrancelhas, fingindo refletir.
“… Nada.” Ele balançou a cabeça. “Naquela situação, eu mal conseguia pensar em outra coisa além de tirar as pessoas de lá. Afinal, sou apenas um cidadão comum, não um combatente treinado.”
Ele fez uma pausa e arqueou levemente a sobrancelha.
“A Igreja suspeita que os sobreviventes possam estar ligados ao ‘fator sobrenatural’ por trás do incêndio?”
“Essa é uma suspeita minha.” Vanna respondeu com seriedade. “Peço sua compreensão – como Inquisidora, é minha responsabilidade estar atenta a qualquer elemento sobrenatural fora de controle dentro da cidade-estado. Não estou sugerindo que você tenha causado o incêndio, mas fenômenos anômalos podem deixar marcas nos envolvidos. Independentemente de sua intenção, você pode ter sido involuntariamente afetado por alguma força desconhecida. Minha preocupação é com a sua segurança.”
“Entendo.” Duncan assentiu sem demonstrar qualquer desconforto – na verdade, ele parecia ainda mais à vontade do que antes. Ele sabia que Vanna estava apenas cumprindo seu dever. “Então… depois de passar um bom tempo observando este lugar, encontrou alguma pista?”
“… Não encontrei nada.” Vanna balançou a cabeça, pensativa. “Não há vestígios de energia sobrenatural aqui. A distribuição das sombras dentro e fora do prédio é absolutamente normal. Creio que vocês foram apenas civis pegos no meio de um evento sobrenatural.”
Duncan considerou sua resposta por um momento antes de sugerir casualmente:
“Tem certeza? Talvez seja melhor verificar de novo. E se houver algum vestígio que passou despercebido? Como você mesma disse, seria pelo bem da nossa segurança…”
“Tenho total confiança no meu julgamento!” Vanna o interrompeu antes que ele pudesse terminar, inflando levemente o peito e declarando com firmeza: “Recebi a bênção da Deusa, e meus olhos são o mais poderoso instrumento de detecção que existe – especialmente à luz do dia! Nenhuma força herética ou sombra oculta pode escapar à minha visão!
“Mesmo os deuses perversos e demônios abissais mais furtivos são impotentes diante dos meus olhos!”
Assim que Vanna terminou de falar, outro som de impacto ecoou pela loja – Shirley, finalmente, conseguiu derrubar a base da escultura de madeira.
“Eu… só queria tentar colocá-la em um lugar mais seguro…”
“Deixa essas coisas em paz! Se não tiver nada para fazer, vai limpar as janelas!” Duncan suspirou, exasperado, ao ver a garota tentando, sem sucesso, agir como uma funcionária responsável. Em seguida, voltou-se para Vanna e, depois de pensar um pouco, apenas disse:
“… Você está certa.”
Vanna lançou outro olhar para Shirley e comentou casualmente:
“Ela parece um pouco desajeitada. Além disso… também parece nervosa.”
“É o primeiro dia dela aqui.” Duncan disse a verdade sem hesitação. “Ela nem é uma funcionária de verdade – é uma amiga da minha sobrinha. Está aqui para aprender algumas coisas e, ao mesmo tempo, ganhar um trocado extra. No Distrito Inferior, as crianças começam a trabalhar cedo.”
Vanna assentiu. Para ela, isso era algo perfeitamente normal.
Depois de refletir por um momento, ela voltou seu olhar para Duncan.
“Além disso, gostaria de confirmar uma última coisa. Depois que vocês saíram do museu, sentiram algum tipo de desconforto persistente? Tiveram pesadelos?”
Duncan não respondeu imediatamente.
Alguém realmente teve pesadelos. Shirley, para ser mais exato – e não apenas isso. A garota também testemunhou algo inacreditável junto com ele, na fronteira entre o sonho e a realidade.
Mas isso não podia ser revelado.
Vanna era, sem dúvida, uma agente da ordem, uma pessoa dedicada a manter a segurança da cidade. Mas, para a Igreja do Mar Profundo e as autoridades, Shirley era uma herege inquestionável. Neste mundo, onde qualquer erro podia ser fatal, mesmo a Inquisidora mais justa e imparcial teria dificuldades em demonstrar tolerância para com alguém que carregava um Demônio Abissal ao seu lado.
Duncan então balançou a cabeça.
“Não. Tudo normal.”
Mas decidiu fazer uma pergunta em troca.
“Posso saber que tipo de pesadelos poderiam ocorrer? Caso sintamos algo incomum, podemos procurar a Igreja imediatamente.”
Vanna o encarou por um breve instante antes de responder com seriedade:
“Sonhos relacionados ao fogo. Chamas de uma escala imensa, irrompendo no vazio escuro e curvando-se em um arco deslumbrante enquanto queimam com fúria.”
Ela fez uma pausa antes de continuar:
“Considerando que vocês acabaram de sobreviver a um incêndio, traumas psicológicos podem fazer com que tenham sonhos com fogo nos próximos dias. Mas pessoas comuns não conseguem distinguir entre um sonho normal e um pesadelo influenciado por forças sobrenaturais. Por isso, recomendo que, caso sonhem com chamas, procurem imediatamente o templo mais próximo para relatar o ocorrido.”
Duncan franziu ligeiramente as sobrancelhas.
Uma imensa chama arqueando no vazio escuro…
Essa descrição não se parecia com os sonhos de Nina, nem com os de Shirley. Tampouco era idêntica à cena de destruição que Duncan havia testemunhado na noite anterior, nas ruínas do incêndio.
Se tivesse que associar essa imagem a algo, a expressão séria de Vanna ao descrevê-la o fez pensar imediatamente em uma única coisa…
O Fragmento do Sol.
Somente um Fragmento do Sol teria o poder e a grandiosidade descritos por ela. E apenas algo dessa magnitude faria uma Inquisidora tratar o assunto com tamanha solenidade.
Duncan ponderou por alguns instantes. Ajustando cuidadosamente suas palavras para se encaixarem na persona de um ‘cidadão comum preocupado’, ele finalmente falou:
“Deixa eu perguntar uma coisa… Isso tem algo a ver com aqueles cultistas do Sol que estão causando problemas na cidade? Parece o tipo de coisa que eles adorariam – fogo, sacrifícios, todo esse papo sobre o Sol… Toda vez que ouço falar deles, fico com a sensação de que vão incendiar a cidade a qualquer momento.”
A presença dos cultistas solares e a caçada das autoridades contra eles eram informações de domínio público. Vanna não viu nada de suspeito na pergunta e simplesmente assentiu.
“Não descartamos essa possibilidade… Mas é melhor você não se aprofundar demais nesse assunto. Para cidadãos comuns, esse tipo de coisa é extremamente perigoso.”
Como Inquisidora, Vanna sabia que, há pouco tempo, um grupo de cultistas havia sido denunciado e eliminado em uma fábrica abandonada. Ela até mesmo visitou o local durante a investigação. No entanto, não conhecia todos os detalhes do caso e, portanto, não sabia que o ‘cidadão preocupado’ que havia feito a denúncia era justamente o antiquário sentado à sua frente.
Duncan também não mencionou esse detalhe.
Ele já havia praticamente confirmado sua suspeita com a resposta de Vanna – até os membros da Igreja do Mar Profundo pareciam acreditar que os eventos recentes estavam ligados ao Culto do Sol.
Isso significava que o incêndio no museu realmente envolveu um Fragmento do Sol. O artefato não apenas manifestou sua influência no mundo real durante o incidente, como também atraiu a atenção de Vanna.
Então, aquele ‘sonho’ que ela descreveu…
Seria essa a aparência real de um Fragmento do Sol?
Uma imensa explosão de fogo, irrompendo no vazio escuro…
Aquilo era completamente diferente do que Duncan imaginou quando ouviu o nome ‘Fragmento do Sol’ pela primeira vez!
Na concepção original de Duncan, algo como um Fragmento do Sol – um artefato tão cobiçado pelos cultistas e selado nas profundezas da cidade-estado – deveria ser um tipo de anomalia. Ele imaginava que seria um objeto tangível, algo com uma relação apenas simbólica com o verdadeiro Sol, mas que, na realidade, não teria qualquer conexão direta com a estrela.
No entanto, com base na descrição de Vanna…
Duncan tentou visualizar a cena em sua mente, recorrendo às lembranças de quando ainda era um terráqueo e ao conhecimento científico que possuía sobre o Sol como uma estrela.
Então, a conclusão o atingiu de forma abrupta:
Aquela coisa… parecia uma ‘protuberância solar’?!
Ignorando todos os outros fatores, apenas a imagem que Vanna descreveu era praticamente idêntica a uma imensa erupção solar lançada ao espaço!
A expressão de Duncan permaneceu inalterada, mas dentro de sua mente, os pensamentos fervilhavam.
O Fragmento do Sol… era algo literal?!
Ao mesmo tempo, no segundo andar da loja, dentro do quarto de Nina, Heidi já havia concluído a fase inicial de perguntas e direcionamento.
Com base em suas observações, ela podia afirmar que os sonhos de Nina não eram simples pesadelos, nem resultado de mero estresse psicológico. No entanto, para determinar se havia alguma influência sobrenatural envolvida, seria necessário um exame mais profundo.
“Talvez precisemos realizar uma breve e controlada sessão de hipnose.”
Heidi pegou o pingente de ametista e falou com um tom calmo e reconfortante:
“Não precisa se preocupar. Apenas siga minhas instruções e responda algumas perguntas, está bem?”
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