Capítulo 15: Tocando as Chamas
Desde que assumiu o leme do Banido, Duncan obteve o controle total do navio e conseguiu sentir qualquer movimento a bordo. Ainda assim, por precaução, ele ordenou ao Cabeça de Bode que mantivesse vigilância constante sobre a ‘boneca amaldiçoada’.
Ele sabia que não era um especialista em estudos místicos e entendia pouco sobre os poderes sobrenaturais deste mundo. Uma boneca capaz de andar e falar estava muito além de seu conhecimento. Embora as ações de Alice parecessem inofensivas, se houvesse algum tipo de ‘influência’ invisível emanando dela, era provável que Duncan não conseguisse detectar.
Nesse aspecto, o Cabeça de Bode era mais experiente.
Além disso, mesmo descartando essa possibilidade, Duncan sabia que não poderia monitorar constantemente o Banido. Embora tivesse decidido viver neste ‘outro lado’ do mundo, ainda era possível que precisasse retornar ao ‘outro lado da porta’ – o mundo de sua antiga vida. E, nesses momentos, ele talvez perdesse a capacidade de sentir o que acontecia a bordo.
Ao pensar nisso, o olhar de Duncan mudou ligeiramente. Ele lançou um olhar discreto para o Cabeça de Bode na borda da mesa de navegação. Os olhos esculpidos em obsidiana do artefato devolveram um olhar vazio.
Quando ele retornava ao ‘outro lado’, quando voltava para sua pequena quitinete… será que o Cabeça de Bode percebia isso? E o que acontecia no navio quando ele não estava presente?
Essas questões inesperadas incomodaram Duncan. Mas, sob o olhar vazio do Cabeça de Bode, ele manteve a compostura. Em vez disso, desviou um pouco de sua atenção para monitorar Alice.
Claro, ele não tinha intenções de invadir a privacidade dela – mesmo sendo uma ‘entidade não-humana’. Ele apenas percebia, de forma geral, a situação no convés inferior. Isso bastava para garantir que Alice não estava tentando danificar nada.
Afinal, por trás da aparência inofensiva, elegante e bonita daquela boneca, havia sua verdadeira natureza: uma boneca amaldiçoada conhecida como ‘Anomalia 099’, temida pelas pessoas deste mundo.
Alice ainda estava no quarto que Duncan designara para ela, provavelmente ajustando a mobília ou arrumando seu espaço de descanso.
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Duncan respirou aliviado. Nesse momento, o Cabeça de Bode quebrou o silêncio:
“Capitão, qual é o plano? Se estiver entediado, seu leal…”
“Cale-se.” Duncan lançou-lhe um olhar severo antes de colocar as mãos na borda da mesa de navegação. A sensação de segurar o leme retornou à sua mente, e as chamas verdes fluíram novamente, como um rio.
Enquanto as chamas dançavam ao seu redor, o corpo de Duncan se transformou mais uma vez em sua forma espiritual. As chamas esverdeadas fluíram pela mesa de navegação, espalhando-se para fora da cabine, alcançando o convés superior, os mastros e as cordas, fazendo as velas espirituais translúcidas se encherem de vento.
Conforme as velas principais, laterais e de proa ajustavam-se graciosamente ao vento, o imenso navio de três mastros começou a ganhar velocidade sobre as águas infinitas. Os olhos de Duncan fixaram-se no mapa náutico diante dele. Como esperava, a névoa cinzenta que cobria o mapa começou a mudar – a silhueta representando o Banido avançava lentamente, dissipando a névoa ao seu redor.
Depois de refletir por um momento, Duncan decidiu concentrar sua atenção no mapa náutico. As chamas verde-esmeralda que envolviam a mesa de navegação pareciam uma extensão de seus membros, transmitindo sua vontade como capitão. Nesse estado de conexão sutil, ele finalmente começou a perceber os segredos daquele mapa, que claramente também era um artefato sobrenatural.
Com um simples pensamento, a silhueta que representava o Banido no mapa aumentou ligeiramente de tamanho e, em seguida, voltou ao seu formato original.
Duncan estava ‘ampliando’ e ‘reduzindo’ o mapa, e, para sua surpresa, essa ideia inusitada funcionou. Embora, no momento, qualquer que fosse a escala, tudo o que se podia ver nas bordas do mapa fosse apenas uma névoa espessa, ele agora tinha certeza: aquele mapa era capaz de registrar e exibir, com precisão e em tempo real, cada centímetro do oceano explorado pelo Banido, além de mostrar os detalhes ao redor do navio.
Sob o olhar vazio do Cabeça de Bode, Duncan manteve uma expressão séria e inabalável, como se fosse um capitão examinando o mapa com profissionalismo. No entanto, uma leve excitação surgia dentro dele.
Seus olhos passaram pelas chamas verdes que emanavam de seu corpo, enquanto sua consciência sentia o estado do Banido e as mudanças no mapa.
Essas estranhas chamas verdes eram claramente a chave para controlar o Banido, assim como os muitos objetos sobrenaturais a bordo.
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Talvez… isso fosse o que significava ser ‘o capitão’.
Duncan contemplou o poder dessas chamas. Ele sabia que, para dominar completamente o navio e usá-lo como base para sobreviver neste mundo estranho, teria que entender completamente suas próprias habilidades.
O primeiro passo seria aprender a controlar totalmente essas chamas.
Quanto ao que o Cabeça de Bode havia perguntado sobre seus ‘planos futuros’…
Duncan olhou para o mapa diante dele, observando as mudanças enquanto a névoa ao redor da silhueta do Banido lentamente se dissipava. Sua decisão era simples.
Já que ele não sabia muito sobre este mundo, e já que o mapa estava envolto em névoa, a melhor coisa a fazer era explorá-lo.
Afinal, navegar era para isso: ir à deriva e explorar o desconhecido.
E, de qualquer forma, na mente dos habitantes deste mundo, ‘Capitão Duncan’ já era visto como um ‘world boss’, vagando pelas regiões selvagens. Mesmo se o Banido permanecesse quieto no oceano, isso não mudaria sua reputação.
Quanto ao risco de navegar sem destino… Duncan pensava de maneira prática: antes de ele assumir o leme, o navio já estava vagando sem rumo. O Banido nunca havia ancorado, então que risco adicional poderia haver?
Além disso, comparado à deriva passiva anterior, navegar de maneira ativa, abrindo o mapa e dissipando a névoa, era pelo menos uma forma de tomar a iniciativa.
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Duncan levantou-se de trás da mesa de navegação, e as chamas verdes ao seu redor começaram a desaparecer. Mas, em sua percepção, as velas espectrais semitransparentes nos mastros do navio permaneceram, e algumas chamas verdes ainda ardiam nos mastros e nas cordas, continuando a executar a vontade do capitão.
Com base nas observações feitas durante sua experiência ao ‘assumir o leme’, Duncan começou a entender melhor a situação.
Embora o navio só tivesse erguido suas velas espirituais quando ele segurou o leme e ativou as chamas, não era sua força que impulsionava as velas ou os mecanismos autônomos do Banido. Este navio fantasma possuía sua própria fonte de energia.
Duncan ainda não sabia o que exatamente mantinha o navio em funcionamento, mas parecia claro que seu papel como capitão era simplesmente ‘dar ordens’.
E o navio, lealmente, executaria essas ordens.
Duncan deixou a mesa de navegação e voltou-se para a pequena porta localizada no fundo da cabine do capitão.
Atrás daquela porta ficava seu quarto privativo como capitão. Durante os primeiros dias explorando o navio, ele usara esse quarto como base de descanso.
Agora, ele precisava de um lugar tranquilo para explorar suas habilidades como capitão do Banido e descobrir até onde iam suas capacidades.
Mas, antes disso, o navio – agora em modo de navegação – precisava de supervisão.
Duncan olhou para o Cabeça de Bode na borda da mesa de navegação e, com um tom casual, ordenou:
“Você assume o leme.”
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“Ah?” O Cabeça de Bode pareceu surpreso, sua voz revelando um pouco de espanto. “Mas, capitão, você…”
“Tenho coisas a fazer. Não me incomode durante este tempo.” Duncan não deu atenção ao que o Cabeça de Bode queria dizer, apenas deu sua ordem com naturalidade. Em sua percepção expandida, transmitida pelas chamas verdes que se espalhavam pelo convés e mastros, ele podia sentir as intrincadas conexões que permeavam o navio.
Mastros, cordas, velas, leme, canhões…
Todos os elementos estavam interligados por uma espécie de ‘rede’ invisível, semelhante a nervos ou vasos sanguíneos, que se estendia por todo o navio. E, no fim, todas essas conexões convergiam na cabine do capitão.
O Cabeça de Bode estava intimamente ligado a tudo isso.
Talvez, pensou Duncan, o misterioso e peculiar Cabeça de Bode fosse, de certa forma, a própria manifestação do navio. Ou talvez fosse um tipo de ‘mecanismo de controle’ emergencial, capaz de assumir o comando da embarcação em situações críticas.
Duncan não era o construtor do navio, então não sabia ao certo como ele funcionava. Mas se o verdadeiro Capitão Duncan sabia do que o Cabeça de Bode era capaz, então ele, agora ocupando o lugar do capitão, também precisava descobrir.
Além disso, o Cabeça de Bode, que insistia em se autodenominar imediato, deveria ser capaz de assumir o leme quando necessário.
Duncan precisava correr o risco e fazer algo que nunca havia feito antes – mas que um verdadeiro capitão certamente faria.
Afinal, até mesmo um capitão precisa descansar de vez em quando.
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Após um breve momento de silêncio, o Cabeça de Bode falou com entusiasmo, sua voz como sempre animada e irritantemente barulhenta:
“Ah, entendido, capitão! Pode cuidar dos seus assuntos! Seu leal…”
Duncan não prestou atenção. Ele apenas acenou displicentemente com a mão e entrou em seu quarto privativo, fechando a porta atrás de si.
Capítulo revisado dia 25/01/2025.
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