Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “Você deseja orar à deusa?”

    Para ser sincero, a reação instintiva de Duncan naquele momento foi suspeitar que havia algo errado com a Deusa da Tempestade, Gomona—que essa divindade, que supostamente deveria proteger a humanidade, escondia um lado sinistro, e que a terrível sombra oculta nas profundezas da cidade-estado era uma consequência disso. A forma distorcida que a estátua revelou por um instante era a prova disso.

    Mas no segundo seguinte, outra dúvida surgiu em sua mente: se a Deusa da Tempestade Gomona realmente tivesse algo de errado, por que as outras igrejas da cidade pareciam completamente normais?

    Ele já havia visto outras Igrejas do Mar Profundo. Perto da loja de antiguidades havia uma igreja comunitária, e ao lado do museu oceânico havia outra. Embora nunca tivesse entrado para investigá-las de perto, já passara tempo suficiente nos arredores para sentir sua presença. E a aura emanada por essas igrejas… era completamente diferente da que se espalhava por esta.

    Ele também já havia interagido com outros clérigos—tanto sacerdotes e guardiões de menor escalão quanto figuras de alto nível, como Vanna, uma Inquisidora no topo da hierarquia da cidade-estado. Todos esses devotos da Deusa da Tempestade pareciam normais. Na verdade, eram até mais firmes em sua convicção e mais lúcidos do que a maioria das pessoas.

    Duncan ignorou a freira e voltou seu olhar para a estátua.

    Desde o instante fugaz em que avistara aquela fenda grotesca, nada mais ocorreu. Nem mesmo na sobreposição da igreja em ruínas a estátua exibia algo incomum—estava apenas enegrecida pela fuligem, como se a fenda tivesse percebido algo e deliberadamente se escondido.

    Ele franziu as sobrancelhas.

    A anomalia desta igreja era claramente um caso isolado. Então, se a fonte do problema não era a Deusa da Tempestade… aquilo que ele viu antes poderia ser um sinal de alguma força desconhecida, usando essa igreja como um ponto de ancoragem para corroer a realidade.

    Mas que tipo de força seria essa?

    Aquela fenda sombria não parecia ter qualquer relação com o Deus do Sol. Tampouco lembrava os Fragmentos do Sol. Se tivesse que compará-la a algo… talvez a melhor analogia fosse com o caos indescritível que existia do lado de fora do casco do Banido.

    “Você deseja orar à deusa?”

    A voz da freira ecoou mais uma vez.

    Ela não parecia impaciente, nem insistente. Era como se uma palavra-chave tivesse sido ativada, fazendo-a repetir a mesma pergunta toda vez que Duncan e Shirley permaneciam perto da estátua.

    Shirley parecia um pouco perdida. Instintivamente, olhou para Duncan, que finalmente respondeu. Ele fixou o olhar na freira e perguntou com calma:

    “Você está orando para a sua deusa?”

    Era uma pergunta que não deveria ter qualquer ambiguidade. Qualquer crente normal teria dado uma resposta afirmativa sem hesitação. No entanto, a reação da freira fez os olhos de Shirley se arregalarem.

    “Eu… não sei.” A freira balançou a cabeça com serenidade, sem demonstrar qualquer desconforto com sua própria resposta. “Eu apenas rezo. Ela me ordenou que fizesse isso.”

    Duncan imediatamente franziu a testa.

    Ela? Quem é?”

    “A grandiosa existência.” A freira sorriu.

    Shirley sentiu um calafrio ao ver aquele sorriso gentil.

    “Eu não rezo para nenhuma divindade.” Duncan falou friamente enquanto, discretamente, puxava Shirley para trás, afastando-se do altar. “Incluindo a deusa de quem você fala.”

    “Oh, que pena.” A freira suspirou suavemente e, em seguida, baixou a cabeça novamente, ignorando completamente Duncan e Shirley.

    Duncan ficou alguns segundos observando aquela figura humanoide feita de cinzas retorcidas, certificando-se de que ela realmente não os estava mais notando. Então, sem dizer nada, virou-se e caminhou para outro ponto da igreja.

    A pequena igreja tinha um espaço limitado, sem muitas áreas onde algo pudesse estar escondido. Além do salão principal, onde ficava a estátua, havia apenas alguns cômodos conectados a ele e um porão subterrâneo.

    Duncan levou Shirley para inspecionar os quartos primeiro. Não encontraram nada de relevante. Finalmente, chegaram ao fim de um corredor lateral, onde havia uma escada que descia para o subsolo.

    “Tem certeza que devemos descer?” Shirley perguntou, hesitante, olhando para a escadaria mergulhada na escuridão. Nervosa, ela lançou um olhar para trás, na direção do salão principal. “E se aquela freira esquisita resolver nos atacar?”

    “Aquela ‘freira’ claramente está presa no salão principal. Parece que não pode se afastar muito da estátua.” Duncan balançou a cabeça. “Mas se ela realmente vier atrás de nós… então teremos que enfrentá-la. Afinal, com aquela aparência… é difícil dizer se ainda pode ser considerada humana.”

    Shirley engoliu em seco. Ela sempre se considerou corajosa, mas essa era a primeira vez que se metia em problemas dentro de uma igreja da Igreja do Mar Profundo. Toda a reverência e tensão que carregava há anos tornavam seu coração inquieto, batendo descompassadamente.

    Mas ela sabia que não era uma boa ideia recusar—entre uma freira que havia passado por uma mutação desconhecida e uma Sombra do Subespaço, ela ainda tinha um certo senso de prioridade sobre qual era mais perigosa.

    Nesse momento, Duncan falou algo que fez Shirley, que finalmente havia tomado coragem, estremecer novamente:
    “Certo, invoque o Cão.”

    Os olhos de Shirley se arregalaram imediatamente.
    “O quê?! Invocar o Cão? Aqui?! Dentro da igreja da Deusa da Tempestade?!”

    “Acredito que este lugar já não seja mais uma igreja da Deusa da Tempestade.” Duncan balançou a cabeça. “É difícil dizer que tipo de coisa domina este espaço agora. Mas fique tranquila e invoque o Cão—veja bem, até eu estou parado aqui dentro. Um demônio abissal poderia ser mais inadequado do que eu?”

    Shirley pensou por um instante. A lógica parecia fazer sentido… ou, pelo menos, ela não ousaria discordar, mesmo que não fizesse. Sem mais opções, levantou o braço e invocou Cão para o mundo real.

    Chamas negras e redemoinhos de fumaça irromperam no ar, e num piscar de olhos, a imensa figura do cão de caça abissal surgiu diante de Duncan.

    Assim que a invocação foi concluída, Cão, com sua habilidade já treinada, deitou-se de imediato aos pés de Duncan. Sua cauda óssea começou a balançar vigorosamente, como um ventilador no nível máximo.

    “Saudações ao grandioso Dun—”

    “Chega, não precisa fazer isso toda vez.” Duncan interrompeu com um aceno de mão, sem esperar que o demônio terminasse. Um bode falante já era barulhento o suficiente—ele realmente não precisava de um cachorro com a mesma personalidade. “Você já deve ter notado que há algo errado com esta igreja. Agora, veja com seus próprios olhos—provavelmente precisarei da sua ‘visão’ em breve.”

    Cão imediatamente se ergueu, sua cabeça esquelética girando para observar o corredor ao redor e a escada que levava ao porão. Em suas órbitas oculares vazias e vermelhas, um brilho sinistro lampejou.

    “Este lugar é realmente esquisito…” murmurou o cão de caça abissal, sua voz rouca e profunda. “Só de olhar para isso já me dá tontura…”

    Ele pausou por um momento, como se estivesse analisando a situação com mais atenção. Então, virou levemente a cabeça para Duncan e disse:

    “A situação aqui é parecida com aquela do antigo galpão da fábrica abandonada, mas muito mais distorcida. Essa distorção provavelmente está no limite do que a realidade pode suportar… Sim, parece que encontramos um dos pontos cruciais deste véu.”

    “A distorção está no limite do que o mundo real pode aguentar…” Duncan assentiu, compreendendo melhor a gravidade da situação. Seus olhos voltaram-se para a escada à frente. “Já verificamos toda a igreja. O único lugar que falta… é este porão. Se a estrutura for semelhante à de outras Igrejas do Mar Profundo, então lá embaixo deve estar a área conhecida como o ‘Santuário Subterrâneo’.”

    “Estou começando a ficar empolgado,” Cão sacudiu sua cabeça horrenda, fazendo a corrente em seu pescoço chacoalhar ruidosamente. “É a primeira vez na minha vida que entro assim, na cara dura, numa área proibida de uma Igreja do Mar Profundo… Nunca vi como é lá embaixo!”

    Shirley lançou um olhar estranho para ele.

    “Você pode, por favor, parar de parecer um pervertido prestes a invadir um banheiro feminino?”

    Cão: “…”

    Duncan ignorou completamente os dois encrenqueiros e continuou descendo. Ele já havia ultrapassado Cão e chegado diante da porta que levava ao Santuário Subterrâneo.

    Como essa era uma igreja comunitária de pequeno porte, o chamado ‘Santuário Subterrâneo’ não passava de um porão espaçoso. A entrada era uma pesada porta de carvalho reforçada com moldura de aço, coberta de runas sagradas e abençoada com rituais divinos.

    Duncan pressionou a mão contra a porta e empurrou levemente. Não estava trancada, mas ao tentar forçá-la um pouco mais, sentiu resistência—algo do outro lado estava bloqueando a passagem.

    “Tem algo encostado do outro lado.” Duncan recuou ligeiramente, observando a porta escura à sua frente.

    Por alguma razão, assim que chegou à entrada do Santuário Subterrâneo, as estranhas imagens sobrepostas desapareceram. Agora, tudo o que via era essa única porta.

    Parecia que as ‘duas realidades’ sobrepostas na igreja se encontravam aqui, convergindo para um único ponto de ‘realidade’.

    “Quer que eu arrebente a porta?” Shirley se aproximou animada, já segurando sua corrente. Seu olhar brilhava de entusiasmo, enquanto Cão já estava se preparando—o que, em seu caso, significava abraçar a própria cabeça com as patas e se enrolar na forma de um meteoro de ossos.

    “… Isso pode destruir pistas.” Duncan interrompeu a garota antes que ela desse início ao seu método tradicional de resolver problemas. Ele então colocou a mão sobre a porta coberta de runas, deixando uma pequena chama verde escapar entre seus dedos. A chama serpenteou ao longo dos entalhes e sulcos da madeira. “Teoricamente, esta porta deve ser um objeto sobrenatural. Nesse caso…”

    No instante seguinte, a porta abençoada do Santuário cumpriu fielmente a ordem de seu ‘mestre’.

    Ela queimou a si mesma.

    As chamas espirituais consumiram a madeira por completo.

    E, no momento em que a porta virou cinzas, a coisa que estava bloqueando a passagem caiu ruidosamente no chão, revelando-se diante dos olhos de Duncan e dos outros.

    Era uma freira vestida de preto.

    Seu corpo estava coberto de ferimentos. Ela segurava uma longa espada, e mesmo morta, seu olhar ainda refletia fúria—como se, até o último instante, estivesse enfrentando algo na escuridão.

    Shirley reconheceu o rosto da mulher. Um calafrio subiu por sua espinha.

    “Espera… Essa… não é a mesma freira que vimos agora há pouco?!”

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