Capítulo 151: O Medo do Demônio Abissal
Duncan se abaixou para examinar mais de perto.
Era, de fato, a mesma freira—aquela com quem ele e Shirley haviam conversado há pouco, e que, em teoria, ainda deveria estar rezando no salão principal da igreja.
Mas agora, seu corpo jazia ali, sem vida, perto da entrada do Santuário Subterrâneo. E até o momento em que Duncan empurrou a porta, ela estava usando o próprio corpo para bloqueá-la.
Parecia estar impedindo algo de entrar no Santuário Subterrâneo. Mas, ao mesmo tempo, pela sua postura ao cair, também parecia que estava lutando desesperadamente para conter algo lá dentro—e, antes de morrer, fechou a porta para evitar que aquilo escapasse do subsolo.
“Ela parece… como se tivesse acabado de morrer…”
Shirley, tomando coragem, se aproximou e espiou por cima do ombro de Duncan. Só depois de alguns segundos, murmurou com cautela.
“Sim, parece que morreu há pouco tempo. Até mesmo…” Duncan falou enquanto estendia a mão e tocava o braço da freira. “… ainda está quente.”
O cadáver da freira na entrada do Santuário Subterrâneo ainda conservava calor. Seu corpo ferido, coberto de cortes e contusões, ainda sangrava levemente. A sensação era de que, no exato momento em que ele e Shirley entraram na igreja, a batalha no subsolo ainda estava acontecendo—como se essa freira ainda estivesse viva enquanto eles exploravam o local, e talvez… até respirando até poucos instantes atrás.
Mas isso era impossível.
Essa igreja estava abandonada há onze anos. O evento sobrenatural que aconteceu na cidade-estado de Pland também remonta a onze anos atrás. Se este lugar era, de fato, um ‘nó crucial’ no véu da realidade, tudo o que aconteceu aqui deveria ter ocorrido e sido encerrado naquela época. Não fazia sentido que essa freira, que lutou até o último instante, tivesse morrido apenas agora.
A expressão de Duncan ficou sombria enquanto ele lentamente se levantava, voltando sua atenção para o interior do Santuário Subterrâneo.
Como ele esperava, sendo uma igreja comunitária de pequeno porte, o ‘Santuário Subterrâneo’ era apenas um porão espaçoso. Nenhuma iluminação permanecia ativa ali dentro. Até mesmo as lâmpadas a óleo e os lampiões a gás, que deveriam estar acesos para afastar o mal, estavam apagados. Apenas a fraca luz que entrava pela porta aberta permitia vislumbrar o que havia no interior.
No centro do subsolo, uma estátua da deusa permanecia de pé, solene e imponente. Ao longo das laterais do santuário, colunas sustentavam tapeçarias cobertas de escrituras sagradas, e nichos embutidos nas paredes armazenavam antigos artefatos religiosos.
Duncan cruzou a entrada, passando por cima do corpo da freira, e começou a procurar vestígios da batalha. Ele encontrou marcas de cortes nas paredes e colunas, buracos causados por disparos de balas e rastros de queimaduras espalhados pelo local. Tudo indicava que uma luta feroz havia ocorrido ali.
Mas o que ele não encontrou foi o ‘inimigo’.
Não havia sinal do ‘invasor’ contra o qual a freira lutou desesperadamente antes de morrer.
Duncan virou-se e olhou para Cão, que caminhava atrás de Shirley, mantendo a cabeça baixa e examinando o ambiente com cautela.
“Cão, você consegue perceber algo?”
“Marcas severas de distorção do espaço-tempo…” A voz de Cão estava particularmente séria. Sendo o único especialista em fenômenos sobrenaturais do trio, sua análise certamente era mais estruturada do que os palpites de Duncan. “Não há sinais da sobreposição de realidades que vimos na igreja acima, mas, na verdade, a distorção do espaço-tempo aqui é muito mais intensa. Aos meus olhos, todo o Santuário Subterrâneo está envolto em uma névoa fina—o tempo e o espaço corretos já foram completamente substituídos por uma versão errônea da realidade. Mas… além disso, não vejo nada.”
“E o ‘invasor’ que atacou este lugar?” Duncan franziu a testa. “A freira não poderia estar lutando contra o ar, certo?”
“… Não há invasor.” Cão fungou o nariz—embora não tivesse um sistema respiratório. “Não há cheiro de nenhuma criatura viva. Nenhum sinal de demônios abissais ou seres espirituais.”
Ele pausou por um instante antes de acrescentar:
“Por favor, confie no meu julgamento. Cães de Caça Abissais são especialistas em rastreamento. Distinguir o cheiro de uma presa é a habilidade mais fundamental de um predador. A menos que…”
Duncan arqueou a sobrancelha.
“A menos que…?”
Cão olhou rapidamente ao redor, como se tivesse ficado repentinamente mais cauteloso. Ele abaixou a voz ao se aproximar de Duncan.
“A menos que algo tenha saído do Subespaço… Se for algo de lá, não consigo rastrear. Mas, se esse for o caso, você deve estar mais familiarizado com isso do que eu…”
Duncan ficou em silêncio por um momento, sua expressão inalterada.
“Desculpe, mas eu não estou.”
Cão abaixou a cabeça imediatamente.
“Se… se o senhor diz que não está, então não está…”
Duncan ponderou por alguns instantes. Ele sabia que Cão provavelmente não acreditava nele, mas também era verdade que ele realmente não tinha familiaridade com o Subespaço. Ainda assim, o comentário de Cão o fez recordar algo importante—
Ele se lembrou da breve visão que teve da rachadura na estátua da deusa na igreja principal, das sombras caóticas que vazaram daquele espaço rasgado e das bizarras anomalias que testemunhou sob o casco do Banido.
Subespaço… Será que algo realmente escapou de lá?
“Se for mesmo uma criatura vinda do Subespaço…” Duncan franziu as sobrancelhas, murmurando para si mesmo. “Por que ela viria parar diretamente em um santuário da Deusa da Tempestade? Esse deveria ser um dos locais mais bem protegidos. Além disso, pelos vestígios deixados aqui, o invasor não parece ter atacado de fora para dentro, mas sim surgido dentro do santuário e tentado escapar…”
“Isso eu já não sei.” Cão sacudiu a cabeça. “Os segredos das quatro grandes igrejas são um ponto cego no conhecimento dos demônios abissais. E o Subespaço… bom, esse é um tabu universal. Até mesmo os Terrores não ousam espiar os mistérios desse domínio. Na verdade, do meu ponto de vista, os humanos são a raça mais insana de todas—eles não só estudam o Subespaço, como já fazem isso há anos sem que nada tenha dado errado…”
“Os humanos sempre foram uma espécie ousada.” Duncan comentou casualmente antes de lançar um olhar para Cão. “Mas confesso que estou surpreso. As Profundezas Abissais e o Subespaço são territórios vizinhos, e ainda assim, vocês, demônios abissais, temem tanto esse lugar? Para vocês, não deveria ser como uma extensão do próprio lar?”
“Bem… morar ao lado de um vulcão não significa que alguém goste de beber lava.” Cão abaixou as orelhas e explicou com um tom desanimado. “O fato de vivermos próximos do Subespaço só nos faz ter ainda mais consciência de quão aterrorizante ele é.”
Duncan ponderou por um instante e, então, aproveitou para fazer uma pergunta que não conseguira antes:
“… E é por isso que vocês temem tanto o Banido depois que ele retornou do Subespaço?”
Cão encolheu o pescoço, lançando um olhar cauteloso para Duncan, como se temesse que essa conversa pudesse irritar o capitão da embarcação amaldiçoada. Mas, já que o próprio Duncan havia iniciado o assunto, ele não tinha escolha a não ser continuar, respondendo com cuidado:
“Na verdade… se o Banido tivesse apenas voltado do Subespaço, isso já seria assustador, mas não a ponto de causar tanto pavor. O verdadeiro problema foi que, no começo, aquela embarcação não permaneceu estável no mundo real. Pelo contrário… por um tempo, ela continuou ‘caindo’ de volta ao Subespaço, oscilando entre os dois planos, como se estivesse presa em um ciclo incontrolável…”
Duncan, que só havia perguntado por curiosidade, sentiu-se subitamente alerta ao ouvir essa revelação inesperada.
“Oscilando entre o mundo real e o Subespaço?”
“Sim. Toda vez que retornava, ela atravessava diretamente o Plano Espiritual e as Profundezas Abissais, arrastando consigo tudo o que encontrava pelo caminho—como uma bala de canhão disparada em todas as direções.” A voz de Cão ficou ligeiramente trêmula, como se a memória daquela cena ainda o assombrasse. “Ainda me lembro perfeitamente da imagem aterradora… Aquela embarcação caindo dos céus como um meteoro em chamas, engolindo pessoas que gritavam e a estrutura retorcida do navio dentro de suas labaredas. Os demônios abissais, geralmente envolvidos em batalhas insanas, se espalharam em pânico absoluto, tentando escapar—mas, num piscar de olhos, eram sugados por aquela força colossal e arrastados para as chamas. Ali, eram fundidos às criaturas humanas, formando aglomerados grotescos e distorcidos, apenas para serem rasgados em pedaços e arremessados ao fundo das Profundezas Abissais…”
“O Banido simplesmente atravessou todos os planos, despencando até as profundezas do Subespaço. Então, dois dias depois, emergiu novamente… e repetiu o processo tudo de novo.”
Enquanto falava, Cão engoliu em seco—ou melhor, tentou. O som áspero de sua garganta ressoou como o atrito de pedras e o borbulhar de substâncias corrosivas.
“Naquela época, até mesmo alguns dos demônios abissais mais irracionais e estúpidos interromperam suas batalhas por um tempo. Eles simplesmente ficaram lá, olhando fixamente na direção do Plano Espiritual, aterrorizados, como se o medo tivesse substituído o instinto de luta. E eu… eu fui um dos que mais profundamente carregaram essa marca de terror.”
Duncan ouviu tudo em silêncio, sua expressão imóvel. Por um momento, ficou sem saber o que dizer. Só depois de um longo instante finalmente murmurou:
“Bem… agora eu entendo por que você ficou tão traumatizado.”
Cão, hesitante, ergueu a cabeça e olhou para Duncan.
“O senhor… não sabia disso?”
Duncan quase perdeu a compostura.
‘Saber disso? Saber disso o quê?! Eu é que não fiz essa merda! Agora tenho que carregar até a culpa por esse pandemônio que aconteceu anos atrás?!’
Mas, por mais que quisesse resmungar, só podia fazer isso mentalmente. Diante de Cão, sua expressão permaneceu fria e controlada.
“… Talvez eu simplesmente não tenha prestado atenção.”
Cão: “…”
Olhando para a expressão visivelmente abalada do cão de caça abissal, Duncan suspirou. No fim, acabou acrescentando:
“Vou prestar mais atenção no futuro.”
Ele falou com tanta sinceridade que até surpreendeu a si mesmo.
Cão ficou tão emocionado que mal conseguia se mover.
Duncan, por outro lado, mergulhou em uma breve reflexão.
‘Se o que Cão disse era verdade… então o Banido não apenas retornou do Subespaço—ele esteve completamente fora de controle por um tempo?
‘Em vez de simplesmente emergir de lá, ele ficou oscilando entre o Subespaço e o mundo real por um longo período?!’
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