Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 153: Bloqueio do Espaço-Tempo
No meio da escuridão, a estátua sagrada da Deusa da Tempestade, Gomona, permanecia imóvel no centro do Santuário Subterrâneo, com o rosto velado por um fino tecido, olhando para o mundo mortal.
Claro, segundo a doutrina estrita da Igreja, a ‘deusa’ no Santuário Subterrâneo representava um outro aspecto de Gomona, que deveria ser chamado de ‘Donzela do Mar Tranquilo1’.
Duncan fixou o olhar na fria escultura de pedra, e ele tinha certeza absoluta de que acabara de ouvir uma voz—um murmúrio baixo, semelhante a um sussurro vindo de um sonho—proveniente daquela estátua.
No entanto, Shirley e Cão estavam bem ali ao seu lado e não demonstraram nenhuma reação. Ficava claro que apenas ele ouvira aquele som.
“Senhor Duncan?” Shirley notou o comportamento estranho de Duncan e, um pouco apreensiva, arregalou os olhos, instintivamente se aproximando de Cão. “Você percebeu alguma coisa?”
“Vocês ouviram algum som agora?” Duncan apagou a pequena chama na ponta dos dedos com um gesto casual e, ao mesmo tempo em que observava a estátua da Donzela do Mar Tranquilo com cautela, perguntou em voz baixa.
“Som?” Shirley e Cão se entreolharam antes de balançar a cabeça. “Não ouvimos nada.”
A estátua sagrada permaneceu inerte mesmo com a aproximação de Duncan, e nenhum outro som se fez presente.
Duncan sentiu que talvez tivesse agido de forma impulsiva.
Ele estava convencido de que a conexão entre a Deusa da Tempestade e aquela capela havia sido cortada. Quando invocou Cão e incendiou a porta do templo, nada de anormal aconteceu, então ele foi se soltando cada vez mais durante a exploração. Mas jamais imaginaria que sua chama despertaria a atenção daquela ‘divindade’—se aquele sussurro de fato pertencia a Gomona.
Ele refletiu brevemente sobre sua atitude e decidiu que, da próxima vez que fosse agir impulsivamente, tomaria mais cuidado.
Ao mesmo tempo, uma dúvida surgiu em sua mente:
Pelo estado da igreja, era evidente que ela havia sido completamente abandonada e esquecida antes de sua chegada com Shirley. A conexão da Deusa da Tempestade com aquele lugar já estava bloqueada há muito tempo. Assim, o fogo que ele conjurara também deveria ser uma força ‘invasora’ dentro da igreja. Era de se esperar que as chamas apenas agravassem a erosão e o bloqueio já existentes, como jogar mais lenha em uma fogueira que já estava prestes a se extinguir.
Mas então…
Por que, depois de atear fogo, a conexão entre a Deusa da Tempestade e aquele lugar ficou temporariamente mais forte?!
Então eu não sou um invasor? Minha chama não deveria ser extremamente destrutiva contra o poder de uma divindade ligada à ordem? Como foi que acabei… fortalecendo a conexão da deusa em vez de destruí-la?
Quanto mais Duncan pensava, mais confuso ficava, mas não se deixou levar por devaneios por muito tempo.
No fim das contas, ele nem sequer tinha certeza de que aquele sussurro nebuloso pertencia de fato a Gomona—tudo não passava de uma suposição. Em vez de perder tempo com especulações, era mais urgente decidir como proceder com essa igreja estranha.
Desde que a voz desapareceu, nada mais aconteceu. Duncan não fazia ideia do que uma deusa costumava fazer em seu ‘tempo livre’, mas, ao menos por ora, parecia que ela não estava mais prestando atenção ali. O Santuário Subterrâneo continuava exatamente como antes, e as chamas que ele conjurou não revelaram nenhum ‘véu’ oculto, como aconteceu na fábrica abandonada.
Ele tampouco conseguiu sentir o que havia do outro lado desse ‘véu’. O fogo que deixou no corpo do estranho com o guarda-chuva ainda estava queimando em algum lugar—ele tinha certeza disso, até sentia que as chamas haviam começado a se espalhar—mas não conseguia de forma alguma alcançar o ‘dimensão’ onde elas estavam.
Essa igreja era, sem dúvida, um nó crucial dentro do véu que encobria os mistérios da cidade. Mas, com apenas ele e Shirley, seria difícil abalar essa estrutura por conta própria.
Além disso, considerando as limitações de seu corpo atual e a grande distância entre o Banido e a cidade-estado de Pland, ele não poderia recorrer a um incêndio em grande escala para causar um impacto mais significativo.
Duncan ponderou tudo isso rapidamente e teve uma ideia.
Estava na hora de agir novamente como o ‘cidadão exemplar, senhor Duncan’.
Essa igreja permaneceu oculta por tanto tempo porque alguma força desconhecida bloqueava qualquer tentativa de investigação. Mas… e se ele simplesmente arrancasse esse bloqueio à força?
Ele estava genuinamente curioso para ver como a Igreja do Mar Profundo em Pland reagiria a isso—e, mais do que isso, queria saber como a própria Deusa da Tempestade responderia. Se ele não conseguia abrir o véu sozinho, então por que não transformar aquele lugar em um grande escândalo?
Claro, chamar alguns guardas da patrulha noturna para fazer uma denúncia não funcionaria dessa vez—isso só resultaria na morte da primeira equipe que entrasse ali. Ele precisaria encontrar um meio mais confiável e eficaz para transformar essa igreja em um grande acontecimento.
Isso exigia um plano bem elaborado.
Enquanto refletia, Duncan deixou escapar um leve sorriso—o tipo de sorriso que surge quando alguém está prestes a armar uma grande confusão para se divertir. No entanto, esse sorriso fez Shirley e Cão se encolherem de susto, especialmente este último, que imediatamente abaixou o rabo.
“D-D-Duncan, o senhor… já tem um plano?” Cão perguntou, gaguejando levemente.
Duncan apenas acenou com a mão de forma despreocupada. “Nada demais. Só quero contribuir para a manutenção da ordem na cidade-estado.”
Cão soltou um grunhido baixo, pensando que nem os demônios enlouquecidos das Profundezas acreditariam nessa afirmação. A expressão que Duncan fez há pouco era a mesma de um invasor do Subespaço que, de repente, compreendeu o que significa invadir o Subespaço—e agora estava prestes a colocar essa teoria em prática.
“Certo, não há mais nada de interessante aqui”, disse Duncan, ignorando completamente as reações de Shirley e Cão. Ele lançou um último olhar à estátua de Gomona, um olhar carregado de significado, antes de se virar e caminhar em direção à saída. “Não devemos permanecer por muito tempo.”
O grupo se apressou em direção à saída, mas antes de deixarem o Santuário Subterrâneo, Shirley hesitou e parou.
“Senhor Duncan… e a freira morta? O que vamos fazer com ela?”
Duncan também parou, voltando seu olhar para a jovem mulher que caíra em combate.
Ela era jovem—jovem demais para ter encontrado um fim tão trágico. Não era uma guerreira treinada, não fazia parte da guarda eclesiástica. Ainda assim, ela empunhou sua lâmina e morreu lutando nas sombras desta igreja.
De repente, Duncan percebeu algo estranho.
Uma freira… Por que uma freira estava protegendo esta igreja? Em circunstâncias normais, não deveria haver uma guarnição de guardas da igreja destacada para esse papel?
Ele se lembrou da cena que viu antes, no salão principal da igreja.
Aquela guarnição de guardas parecia ter morrido no salão—mas, pelo que ele viu naquela realidade sobreposta, aqueles soldados não haviam caído em combate. Eles simplesmente… morreram de repente, como se tivessem sido atingidos por algo enquanto estavam sentados nos bancos, em oração.
Os guardas que deveriam estar protegendo o Santuário Subterrâneo morreram subitamente no salão da igreja, sem qualquer sinal de luta. Enquanto isso, a freira, que normalmente permaneceria no salão, morreu sozinha no subsolo, lutando até o fim.
O invasor parecia estar ligado ao Subespaço—e desaparecera sem deixar rastros após a batalha. Depois disso, a igreja foi selada e esquecida.
E então… de alguma forma… o ‘eco’ da freira retornou ao salão da igreja. Lá, ela continuou suas orações, dia após dia, como se nada houvesse acontecido.
Duncan voltou sua atenção para a realidade, fitando silenciosamente a freira caída por alguns segundos antes de falar suavemente:
“Sinto muito. Não posso lhe dar um enterro adequado. Por ora, você ficará aqui. Talvez alguém venha um dia para descobrir a verdade sobre o que aconteceu.”
Ele realmente precisava da ajuda de ‘profissionais’ para lidar com essa situação.
Levantando-se, Duncan seguiu em direção à saída que levava ao salão principal. Shirley, hesitante, falou atrás dele:
“Ah… nós vamos simplesmente deixá-la aqui?”
“Isso se chama preservar a cena do crime”, respondeu Duncan sem olhar para trás. “Vamos, nossa investigação aqui ainda não terminou. Só que, desta vez, não precisaremos sujar as mãos.”
Shirley, meio sem entender, apenas murmurou um ‘oh’ antes de seguir Duncan, puxando Cão junto. Eles saíram do Santuário Subterrâneo e começaram a subir as escadas que levavam ao salão principal.
Então, um som leve de algo se chocando ecoou atrás deles.
Duncan parou bruscamente, virando-se na direção do barulho.
Uma porta de madeira escura estava de pé na entrada do salão principal. Estava entreaberta, reforçada com aço e rebites, e sua superfície ainda exibia vestígios de símbolos sagrados entalhados.
Shirley também olhou para trás e, lentamente, seus olhos se arregalaram de espanto e terror.
Em seguida, virou-se para Duncan—cujo rosto estava sério, tão profundo e impenetrável quanto a própria escuridão ao redor.
“A-a-a porta…” Shirley ergueu a mão para apontar, abrindo e fechando a boca algumas vezes sem conseguir formar palavras.
“Eu vi”, Duncan a interrompeu antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. Então, caminhou até a entrada da igreja, fitando a porta escura por um instante antes de empurrá-la levemente.
A porta não estava trancada, mas, ao aplicar mais força, sentiu resistência.
Alguém—ou alguma coisa—estava segurando a porta do outro lado.
Ele recolheu a mão, refletindo por alguns segundos. Lutou contra o impulso de simplesmente incendiar a porta para abrir caminho.
Duncan já sabia o que encontraria do outro lado. E, diante da natureza peculiar daquele lugar, decidiu que não valia a pena continuar insistindo com métodos diretos.
“O espaço-tempo aqui está distorcido… e distorcido num nível bem profundo.”
Ao mesmo tempo, no Distrito Superior, dentro da Catedral do Mar Profundo, Vanna terminava sua oração matinal. Com o rosto sereno, distribuiu as ordens do dia a seus subordinados antes de dispensar todos os assistentes e adentrar sozinha as profundezas daquela majestosa e sagrada construção.
Ela seguiu até o arquivo secreto da catedral.
Sob o olhar atento da deusa, esse local armazenava registros sobre todos os eventos sobrenaturais e as informações que não deveriam ser de conhecimento público.
De certa forma, ali estava a história da cidade-estado de Pland—e a ‘memória’ da igreja sobre essa terra.
- No capítulo 54, eu havia chamado de Donzela da Tranquilidade, eu corrigi lá e sempre será Donzela do Mar Tranquilo daqui para frente. Lembrando que já foi explicado que os Deuses aqui na história sempre representam dualidades, por exemplo, o Deus da Vida é também o Deus da Morte e por aí vai, Gomona representa a dualidade do Mar Tranquilo e do Mar Tempestuoso.[↩]
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