Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O tom do ancião era sereno, como se estivesse contando uma história tranquilamente, e ele próprio tivesse apenas passado por um trecho dela.

    “Sinto muito, a idade faz com que eu fale demais”, o velho sacerdote sorriu e olhou para Vanna. “Você tem amigos de outras doutrinas?”

    “Tenho uma amiga que é clériga da Academia da Verdade”, Vanna pensou por um instante antes de responder. “Mas ela não costuma falar muito sobre os ensinamentos do Deus da Sabedoria, Lahm.”

    “Ah, uma seguidora do Deus da Sabedoria… Isso é compreensível. Seus preceitos normalmente exigem, no mínimo, um diploma universitário para serem entendidos, e às vezes até uma prova de cálculo avançado”, o velho sacerdote assentiu com naturalidade. “Em comparação, os seguidores do Deus da Morte são muito mais fáceis de lidar—afinal, todos nós acabamos morrendo.”

    Ao dizer isso, o ancião fez uma breve pausa e olhou para os arquivos organizados meticulosamente atrás de Vanna, com curiosidade.

    “Inquisidora, poderia me dizer o que está procurando?”

    Vanna hesitou por um momento.

    Ela não sabia se deveria contar aquele segredo ao sacerdote à sua frente. O incêndio ocultado provavelmente estava relacionado a uma sombra extremamente perigosa, e ela não podia ter certeza se essa ‘sombra’ estava monitorando a cidade-estado de alguma forma. Tampouco sabia se aquele ancião poderia realmente ajudá-la. Se revelasse tudo de forma precipitada, poderia acabar alertando forças desconhecidas.

    Mas, após um breve instante de indecisão, ela optou por revelar parte da verdade.

    Ela estava no ponto mais profundo da Catedral do Mar Profundo, um santuário sob a graça da Deusa da Tempestade, e aquele velho sacerdote, responsável pelo arquivo, era um guerreiro inabalável. Ele permanecia ali justamente para auxiliar aqueles que viessem em busca de respostas em tempos difíceis.

    “Estou procurando por um arquivo—ou melhor, algo que provavelmente nunca existiu para começar”, Vanna começou a falar lentamente, ponderando suas palavras. “Para ser mais precisa, é uma pista. Algo que aconteceu em junho de 1889, possivelmente um grande incêndio, mas todos os registros relacionados a isso foram apagados.”

    “Um incêndio em 1889?” O velho sacerdote franziu a testa, pensativo. “Não me lembro de nenhum grande incêndio…”

    De repente, ele parou e olhou para Vanna com um olhar profundo e reflexivo.

    “Então… os registros apagados incluem também as nossas memórias, não é?”

    “Isso inclui, pelo menos, a memória das pessoas”, Vanna assentiu levemente. “Não tenho provas concretas, além da minha própria ‘percepção’. Não há nada que possa usar para provar a existência desse incêndio, e também não sei que força está por trás disso. Eu… apenas suspeito.”

    De repente, ela se sentiu um pouco desconfortável. Como Inquisidora, estava acostumada a questionar e investigar, mas esta situação era completamente diferente de qualquer outra que enfrentara. Ela não sabia ao certo quem — ou o que — estava investigando. Seu alvo poderia ser humano, ou algo além disso. Estava seguindo apenas sua intuição, o que destoava completamente de sua habitual abordagem racional e metódica.

    No entanto, o velho sacerdote à sua frente simplesmente assentiu com tranquilidade.

    “Sua devoção e caráter já são provas suficientes, Inquisidora.”

    Assim que terminou de falar, ele caminhou rapidamente até uma coluna entre as estantes próximas. Com sua mão mecânica, bateu em algumas saliências específicas da estrutura. No segundo seguinte, um profundo estrondo ecoou das profundezas do chão, seguido pelos rangidos de engrenagens e alavancas em movimento.

    As portas do arquivo se fecharam. Algumas estantes começaram a se deslocar lentamente, aproximando-se e se agrupando. No espaço que se abriu, colunas adornadas com intrincadas inscrições rúnicas emergiram do solo.

    À medida que as colunas se erguiam, um som sutil de ondas do mar ecoou suavemente na mente de Vanna.

    “… Não era necessário causar toda essa comoção”, Vanna disse, um tanto desconcertada com as ações do sacerdote. “Ainda estamos apenas no estágio inicial da investigação…”

    “Minha experiência me ensinou que não existe ‘estágio inicial’ quando se investiga uma ameaça de grande magnitude”, o velho sacerdote respondeu, caminhando lentamente de volta em sua direção. Ele ergueu a mão mecânica de latão e a balançou levemente. “E eu considero algo capaz de alterar a percepção coletiva e apagar um evento histórico específico como uma ‘grande ameaça’.”

    “… Mas selar o arquivo de forma tão abrupta pode chamar atenção.”

    “Não chamará”, o velho sacerdote sorriu, revelando dentes desalinhados. “A cada mês, o arquivo é trancado aleatoriamente algumas vezes. Isso mantém os dispositivos sagrados e as estantes de livros em funcionamento.”

    Ele fez uma pausa e acrescentou com um brilho divertido nos olhos:

    “‘Não deixe os pergaminhos antigos ficarem quietos por muito tempo’. São as regras.”

    “Então, não tenho mais perguntas.”

    “Você consultou muitos registros há pouco. Pelo seu semblante, acredito que encontrou algo, certo?” O velho sacerdote assentiu. “Posso ajudar.”

    “Descobri alguns registros sobre ‘cultos heréticos’. Embora não tenham uma relação direta com o que estou investigando e os documentos sejam fragmentados, há algo que não parece certo”, Vanna disse abertamente. “Esses cultos compartilham características em comum e ocorreram em massa no primeiro semestre de 1889, mas cessaram abruptamente logo após o incidente de vazamento na fábrica do Sexto Distrito…”

    O velho sacerdote ouviu atentamente a descrição de Vanna e, com sua orientação, localizou os arquivos correspondentes.

    “São estes aqui”, Vanna apontou para os documentos recuperados. “Rituais de sacrifício que, em tese, não deveriam surtir efeito; danos mentais reais e concretos; e, embora fossem eventos de pequena escala, ainda assim eram autênticas práticas heréticas. Os relatórios de encerramento dos casos parecem normais—os responsáveis foram presos e julgados conforme o esperado. Mas acredito que, em cada um desses casos, a investigação nunca foi concluída de fato.”

    “Para crimes dessa magnitude, capturar e julgar os envolvidos geralmente já é considerado um desfecho suficiente. Mas você tem razão—quando múltiplos eventos similares ocorrem em sequência… o contexto muda”, o velho sacerdote folheava os arquivos, franzindo o cenho. “Todos os envolvidos nos rituais foram ‘misteriosamente persuadidos’, mas a origem dessa influência nunca foi descoberta?”

    Ele murmurou para si mesmo e, de repente, ergueu a cabeça.

    “Inquisidora, você analisou apenas os arquivos de 1889, certo?”

    “Sim”, Vanna assentiu e logo compreendeu a sugestão implícita. “Você quer dizer que…”

    “O evento que você investiga ocorreu em 1889, mas já considerou que esses cultos heréticos podem não ter começado apenas neste ano?” O velho sacerdote falou rapidamente, antes de voltar o olhar para outras prateleiras. “Há registros anteriores aqui—da terceira fileira de baixo para cima. Você pode consultar todos eles.”

    Vanna imediatamente se dirigiu às prateleiras indicadas e começou a revisar os documentos, lado a lado com o velho sacerdote.

    E, em questão de instantes, ambos encontraram registros de incidentes similares em diferentes períodos.

    1888, 1887, e até mesmo 1886.

    “Aqui também há um registro… Um ritual de sacrifício ocorrido na região portuária”, murmurou Vanna, passando os olhos pelo relatório. “E este outro… aconteceu apenas dois meses depois do anterior!”

    Vanna folheava os arquivos rapidamente, sentindo seu coração batendo acelerado. Ela ergueu a cabeça para compartilhar sua descoberta com o velho sacerdote, mas, ao fazê-lo, percebeu que ele estava imóvel diante das estantes, olhando intensamente um ponto específico.

    “O senhor encontrou algo?” Vanna franziu as sobrancelhas, um tanto apreensiva.

    “Não há registros de 1885.” O velho sacerdote murmurou como se falasse consigo mesmo. “Eles deveriam estar aqui, nesta fileira, logo após os de 1884… Mas agora, depois de 1884, o próximo ano listado é 1886.”


    “Por hoje, é o suficiente.”

    Na periferia do Sexto Distrito, Duncan lançou um último olhar para a direção de onde ele e Shirley haviam vindo. Soltando um leve suspiro, ele falou: “Continuar investigando aqui não nos trará mais informações úteis.”

    Eles haviam passado um longo tempo dentro daquela pequena igreja, mas, considerando que a soma do conhecimento esotérico deles ‘não equivalia ao de um cachorro’, era evidente que não tinham a menor capacidade de decifrar o estranho fenômeno de bloqueio espaço-temporal dentro do Santuário Subterrâneo.

    Antes de partirem, o santuário sob a igreja já havia voltado ao seu estado inicial, e a freira—presa entre a existência e as cinzas—continuava orando devotamente no salão principal, sem demonstrar qualquer reação à saída deles.

    O exterior da igreja permanecia tão arruinado quanto antes. Seus arredores, tão vazios e desolados como sempre.

    Mas Shirley já não se importava tanto com os mistérios escondidos naquele lugar.

    “Eu… eu realmente posso voltar para casa?”

    Ela olhou para Duncan com nervosismo, sua voz carregando não apenas apreensão, mas também uma hesitação indefinível.

    “Claro que pode. Eu nunca limitei sua liberdade para ir embora”, Duncan sorriu e bagunçou os cabelos dela. Apesar de Shirley ter mais ou menos a mesma idade de Nina, sua estrutura pequena e frágil fazia com que ele instintivamente a tratasse como uma criança ainda mais jovem. “Terminamos por hoje. Você pode ir para casa.”

    Shirley olhou na direção de sua casa, ensaiando um passo, mas de repente hesitou.

    “Então… então vamos continuar investigando depois?”

    “É claro. Isso está longe de terminar.” Duncan ergueu uma sobrancelha. “O quê? Não quer mais ir embora?”

    “Ah, não, não, não!” Shirley acenou com as mãos rapidamente. “É só que… da próxima vez que investigarmos…”

    “Vou encontrar uma maneira de entrar em contato com você. Mas, se precisar, pode vir me procurar também”, Duncan sorriu e bagunçou os cabelos de Shirley mais uma vez. “E não apenas para investigações—se tiver qualquer outro problema, pode vir pedir minha ajuda.”

    Shirley piscou, sentindo que havia algo estranho naquela oferta, mas, no fim, assentiu levemente. No entanto, antes de se virar para ir embora, não conseguiu conter sua curiosidade e perguntou:

    “Então… o que o senhor vai fazer agora?”

    “Eu?” Duncan piscou, pensou por um instante e respondeu: “Vou comprar uma bicicleta esta tarde.”

    Shirley ficou boquiaberta.

    “… Hã?”

    “Uma bicicleta”, Duncan repetiu com seriedade. “Prometi à Nina faz alguns dias, e está na hora de cumprir a promessa. O que foi? Tem algo de errado nisso?”

    Shirley ficou com a boca aberta por alguns instantes antes de finalmente conseguir falar:

    “C… Cão disse que, sei lá, o senhor devia estar fazendo coisas que um invasor do Subespaço deveria fazer…”

    Antes que ela terminasse a frase, uma sombra surgiu repentinamente no ar ao lado deles, e a voz rouca do Cão ressoou apressadamente:

    “Eu não disse isso!!”

    No instante seguinte, a sombra desapareceu no ar como se nunca tivesse estado ali—claramente, Cão estava apavorado com a ideia de ser visto em público.

    Duncan: “…”

    Ele ficou em silêncio por um momento antes de soltar um sorriso resignado.

    “Muito bem, então. Parece que agora um ‘invasor do Subespaço’ precisa sair para comprar uma bicicleta para sua sobrinha. Nos vemos por aí.”

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