Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    A bordo do Banido, a brilhante luz do sol iluminava o convés superior recém-limpo. No ar, um redemoinho de chamas verdes girava antes de lentamente se dissipar. Alice, parada ao lado da área aberta, observava a pilha de objetos que havia surgido no convés, completamente atônita.

    “Isso… isso… o que é tudo isso?!”

    A Srta. Boneca exclamou em choque. Antes mesmo que sua voz se apagasse, a resposta de Duncan veio de perto:

    “Você está gaguejando como se tivesse perdido a cabeça—nunca viu panelas, pratos, frutas e legumes antes?”

    Alice virou a cabeça rigidamente, lançando um olhar para Duncan antes de voltar a encarar a pilha de suprimentos que surgira repentinamente no convés. Após refletir por um momento, ela colocou as mãos na cintura e declarou com toda a certeza:

    “Nunca vi!”

    Duncan: “……?”

    “Nunca vi mesmo”, Alice insistiu com confiança. “Eu passei todos esses anos dentro de uma caixa, onde eu poderia ter visto essas coisas?”

    Duncan ficou momentaneamente sem palavras. Logo depois, bateu na própria testa.

    “… Eu me esqueci disso. Certo, você tem razão. De certa forma, você é ainda mais ignorante que Shirley.”

    Alice estava prestes a examinar a pilha de suprimentos recém-teletransportados por Ai, mas parou ao ouvir o comentário de Duncan. Franziu as sobrancelhas e olhou para ele, desconfiada.

    “Shirley? Quem é essa?”

    “Alguém que conheci na cidade-estado. Talvez um dia você tenha a chance de conhecê-la”, Duncan respondeu, pensativo. “Acho que vocês têm um certo destino em comum.”

    “Ah.” Alice assentiu despreocupadamente e logo esqueceu o assunto. Então, aproximou-se dos suprimentos empilhados no convés, circulando ao redor deles com curiosidade.

    “Então isso é farinha… E isso é carne? Bem diferente da carne seca do navio… Essas folhas são vegetais? Parecem tão frágeis… e gelados… E isso aqui, redondinho, o que é…? Ah, quebrou…”

    “Não estrague os ovos!” Duncan, percebendo que a boneca desinformada estava prestes a causar ainda mais confusão, rapidamente se adiantou e afastou as mãos inquietas dela. “Tudo isso é para melhorar as condições a bordo.”

    Hehe…” Alice soltou sua risada característica, um tanto envergonhada, e recolheu as mãos. “Eu só estava curiosa—ouvi falar dessas coisas antes, mas nunca tinha visto de verdade.”

    Duncan olhou para a boneca com um misto de exasperação e compreensão.

    Alice possuía muito conhecimento ‘inato’ em sua mente—isso, claro, se ela realmente tivesse um cérebro dentro daquela cabeça de madeira. Ela sabia como interagir com as pessoas, conhecia a existência de muitas coisas no mundo e até havia formado uma impressão inicial sobre ele ao ‘ouvir’ os sons do lado de fora da caixa onde esteve selada. No entanto, a verdade era que, até pouco tempo atrás, ela nunca havia tido um contato real com o mundo. E quando finalmente teve, seu primeiro ambiente de exploração foi o Banido—um lugar nada ideal para servir como ‘vilarejo inicial’ para novatos.

    Ela sabia muito pouco sobre o mundo real.

    Até então, sua experiência se limitava ao que existia a bordo do Banido. O espaço reduzido e os poucos objetos disponíveis tornavam a adaptação mais simples. Mas agora, Duncan havia trazido uma grande variedade de produtos vindos de um verdadeiro centro urbano humano e os colocou diante dela.

    Para Alice, até mesmo uma folha de alface ou um saco de farinha pareciam itens extraordinários.

    “As cidades humanas devem ser lugares incríveis…” murmurou a Srta. Boneca, observando a pilha de suprimentos no convés e os pacotes coloridos com curiosidade genuína. “Elas devem ser muito, muito maiores do que este navio, certo?”

    “… São grandes, mas ainda são pequenas comparadas ao Mar Infinito”, respondeu Duncan, distraído. Ele olhou para os olhos de Alice, cheios de curiosidade e expectativa, e lembrou-se mais uma vez da promessa que havia feito a ela.

    Ele havia dito que a levaria para conhecer uma cidade-estado.

    “Vou resolver os problemas na cidade-estado o mais rápido possível”, disse ele, com seriedade. “E também descobrir o mistério por trás de você. Até lá, tenha um pouco de paciência.”

    Alice imediatamente abriu um sorriso radiante.

    “Beleza!” respondeu com seu costumeiro entusiasmo.

    Despreocupada como sempre.

    Mas, ao olhar para essa boneca tão despreocupada, Duncan sentiu a inquietação acumulada durante sua estadia na cidade-estado de Pland gradualmente se dissipar. Ele soltou um suspiro leve e apontou para os suprimentos espalhados pelo convés.

    “Vamos levar tudo para a cozinha. Essa pilha aqui do lado pode ir para a cabine do capitão.”

    “Ah, certo! Beleza!” Alice concordou de imediato. Enquanto se aproximava para ajudar, perguntou animada:

    “Então o jantar de hoje vai ser feito com essas coisas?”

    Duncan lançou um olhar desconfiado para Alice.

    “Pode até ser… mas você sabe cozinhar?”

    “Não!” Alice respondeu com toda a naturalidade. “Mas posso pedir dicas ao Sr. Cabeça de Bode! Ele disse que sua habilidade culinária é incrível e que domina mais de noventa por cento dos segredos da gastronomia mundial…”

    “Se ele tem coragem de falar isso, você tem coragem de acreditar?!” Duncan arregalou os olhos. “Melhor não desperdiçar os ingredientes que consegui com tanto esforço. Eu vou cozinhar. Se você realmente quiser aprender a fazer algo que seja comestível, observe o que eu faço. Mas não siga os conselhos do Cabeça de Bode—ele nem sequer tem um sistema digestivo!”

    “Ah…” Alice assentiu, pensativa. Então, seu olhar recaiu sobre Ai, que caminhava despreocupadamente pelo convés. Seus olhos brilharam com uma ideia.

    “Daqui a pouco Ai vai para ‘lá’, não vai?”

    “Sim, ainda há mais coisas para ela trazer.”

    “Você ainda está comprando coisas?” Alice perguntou, curiosa. “O que mais vai comprar?”

    Duncan olhou nos olhos da boneca por um instante antes de sorrir levemente.

    “Estou comprando algo para você.”

    Alice piscou.

    “…?”


    Na Cidade-estado de Pland, dentro da ‘Casa de Bonecas da Rose’.

    Duncan tinha certeza de que a gentil elfa idosa à sua frente estava tirando conclusões erradas sobre ele. Mas ele não se preocupou em esclarecer.

    Até porque… como ele poderia explicar? Como dizer a ela que, de fato, havia uma boneca em sua casa que possuía alma, emoções e até preocupações sobre a queda progressiva de seu ‘cabelo’? Se falasse isso, na melhor das hipóteses, a velhinha chamaria os sacerdotes da igreja…

    Para a proprietária da Casa de Bonecas da Rose, Duncan já era um verdadeiro entusiasta do ramo—alguém que, além de adquirir bonecas, demonstrava um profundo carinho por elas.

    Na alta sociedade de Pland, havia muitos colecionadores de bonecas, e não era raro que alguém investisse tempo e dinheiro nesse interesse. Mas eram poucos os que demonstravam tamanha dedicação e cuidado genuíno.

    A maneira como Duncan falava de sua ‘boneca’ não era como se se referisse a um simples objeto, mas sim a uma pessoa de verdade—alguém vivo, alguém importante para ele. Quase como… uma amiga.

    Poucos marionetistas1 demonstravam tamanha dedicação.

    A conversa entre Duncan e a elfa idosa fluía naturalmente. Ele finalmente pôde ouvir de uma especialista diversos conhecimentos sobre bonecas—embora não soubesse quantos deles realmente se aplicavam a Alice. Enquanto isso, a proprietária da Casa de Bonecas da Rose parecia encantada por ter encontrado um cliente tão receptivo e interessado.

    Após um longo bate-papo, a velha elfa suspirou com um sorriso.

    “Já vivo nesta cidade há trezentos ou quatrocentos anos. Vi dezessete governadores chegarem e partirem, e incontáveis humanos cruzarem meu caminho. Mas, entre todos eles, quase ninguém realmente compreendia o que é uma boneca…” Ela fez uma pausa antes de continuar: “Talvez o que eu vá dizer não soe muito agradável, mas, na minha visão, os humanos são um povo muito mais frio e indiferente do que os elfos.”

    “Não conheço muito bem a sociedade dos elfos”, Duncan comentou, aproveitando para guiá-la a falar mais sobre sua cultura. “Mas ouvi dizer que, na cidade-estado élfica de Porto Brisa, reúnem-se alguns dos artesãos mais talentosos do mundo. Dizem que as obras dos elfos são famosas por sua maestria sem igual…”

    “Os elfos realmente têm talento para o artesanato refinado. Nosso povo tem uma sensibilidade natural para matemática e arte—talvez seja por isso que a maioria dos grandes mestres marionetistas do mundo são elfos”, disse a velha senhora, sua voz carregando um orgulho evidente. No entanto, logo depois, sua expressão mudou ligeiramente, e ela prosseguiu: “Mas, falando sobre a profissão de marionetista, muitos artesãos de outras raças carregam um certo preconceito contra os elfos… Frequentemente dizem que não somos tão talentosos assim, que a razão pela qual tantos mestres surgem entre nós é simplesmente porque vivemos tempo o bastante para ‘lapidar’ nossas habilidades ao longo dos séculos.”

    Duncan hesitou por um momento, sem saber exatamente como responder.

    “Isso… bom, a rivalidade entre colegas de profissão existe em qualquer lugar. E qual é sua opinião sobre essas críticas?”

    A idosa abriu um sorriso divertido.

    “Minha opinião?” Ela soltou uma risada. “Acho que eles estão certos!”

    Duncan: “…?”

    “Sim, eu concordo com eles”, repetiu a velha elfa, mantendo a expressão bem-humorada. “Afinal, todo Dia dos Mortos, eu faço questão de visitar os túmulos de alguns antigos colegas e dizer: ‘Vocês estavam certos’—e se acham que não, fiquem à vontade para levantar e me contestar!”

    Duncan: “……”

    Os elfos deste mundo são todos assim?! Por que sinto que há algo muito errado no tom dessa conversa?!

    “Ah… estou brincando, claro.” Percebendo a expressão de Duncan, a idosa balançou a cabeça. “No fim das contas, não há tantos rivais assim. Todos nós apenas seguimos juntos como companheiros de jornada, por um breve período de tempo… Mas, se for para falar sobre marionetistas, eu sempre acreditei que o mais excepcional deles não foi nenhum mestre elfo, e sim uma humana.”

    “Uma humana?” Duncan perguntou distraidamente.

    “Sim. Hoje em dia, acho que poucos humanos se lembram do nome dela…” A velha elfa suspirou, sua voz carregada de nostalgia. “Ela se chamava Lucretia Abnomar. Filha daquele famoso ‘Capitão Duncan’. Foi a marionetista mais brilhante que já conheci.”

    Duncan: “?!?!”

    1. Pensei em usar a palavra ‘Bonequeiro’, mas é muito feia, e tem o mesmo significado de Marionetista, então optei por este.[]
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