Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 163: Um Diálogo Exaustivo
A pomba esquelética, envolta em chamas espirituais, deu duas voltas sobre o convés. No rastro das chamas, as mercadorias vindas da cidade-estado de Pland surgiram. Alice ficou parada, atordoada, encarando o primeiro item que apareceu diante dela. Demorou um momento antes de finalmente levantar os olhos para o capitão.
Para ser sincero, Duncan quase pensou que a boneca sairia correndo, chorando de emoção. Entre as inúmeras reações que ele previra, essa parecia a mais provável. No entanto, ao invés disso, ele ficou ali, trocando olhares com aquela boneca ingênua por um longo tempo, até que ela, finalmente, assentiu, meio desajeitada.
“Obrigada!”
Duncan: “…?”
“Você realmente comprou um cabelo novo para mim!” No instante seguinte, o rosto de Alice se iluminou com um enorme sorriso, parecendo genuinamente emocionada pelo presente. “Eu achei que da última vez você estava só brincando! O senhor Cabeça de Bode me disse que perucas para bonecas são itens muito caros…”
Duncan: “…”
O que ele esperava que acontecesse… simplesmente não aconteceu. Seu plano de causar desconforto foi um fracasso total—em vez de ficar constrangida ou inquieta, Alice estava radiante de felicidade, cheia de gratidão.
Ele sentia como se tivesse perdido toda a graça da situação.
“Capitão? Capitão, por que está distraído de novo?” A voz de Alice o trouxe de volta à realidade. Com a peruca nas mãos, ela se colocou na ponta dos pés e aproximou tanto o rosto que quase encostou no nariz dele. “Você já ficou distraído um monte de vezes hoje…”
Duncan piscou, afastando um pouco o rosto e olhando para a boneca amaldiçoada com uma expressão estranha. “Eu só não esperava que você fosse tão despreocupada com isso. Da última vez que falamos sobre a peruca, você parecia meio deprimida. Achei que ao menos ficaria dividida ao receber o presente…”
“Eu fiquei deprimida por estar perdendo cabelo, não por ganhar um novo”, Alice respondeu, piscando os olhos como se achasse que era Duncan quem estava com a lógica errada. “Eu sou uma boneca!”
Duncan finalmente percebeu qual era o problema.
Alice era tão ativa e cheia de energia no navio que, exceto pelo pescoço de estrutura peculiar, ela parecia completamente humana. Depois de passar tanto tempo com ela, ele inconscientemente passou a tratá-la como uma pessoa. Como resultado, esqueceu-se de que sua percepção das coisas era completamente diferente.
Afinal, por que uma boneca se incomodaria com o fato de usar uma peruca? Seria como um humano se importar por conseguir sapatos novos.
“… Deixa pra lá. Acho que eu que pensei demais.” Duncan suspirou, cobrindo o rosto com a mão e acenando displicente. Como o maior flagelo dos mares infinitos, mais uma vez ele se viu incapaz de manter a postura diante de Alice. “No fim das contas… o que importa é que você gostou.”
“Eu adorei!” Alice segurava a peruca com alegria, mas logo esticou o pescoço, espiando por cima do ombro de Duncan para ver o que mais havia no convés. “E o restante…?”
“Isso também é para você.” Duncan suspirou, tentando ignorar o impacto visual peculiar de uma boneca gótica elegante e bela segurando uma peruca com entusiasmo. Ele se virou e pegou uma pequena caixa do convés. “Abra e veja.”
Curiosa, Alice abriu a pequena caixa de madeira refinada e, dentro do forro de veludo, encontrou um conjunto de presilhas de prata, formadas por delicadas placas losangulares interligadas.
Ela ficou boquiaberta e ergueu os olhos para Duncan, que apenas acenou levemente com a cabeça.
“Da última vez, eu peguei a presilha de pena que você encontrou na cabine”, disse Duncan, em tom casual. “Naquela ocasião, prometi que te compraria uma nova. Agora estou cumprindo minha palavra.”
Alice ficou paralisada por um instante antes de, enfim, reagir com um sorriso radiante, mais feliz do que nunca. “Obrigada, Capitão! Você é incrível!”
“Não precisa gritar”, Duncan reclamou, fazendo um gesto com a mão ao sentir os ouvidos zunirem com a súbita empolgação da boneca. “É só um acessório de cabelo, nada para tanto alarde.”
“Não é só um acessório, também tem o cabelo novo que você comprou para mim!”
Duncan sentiu um leve constrangimento crescer dentro de si. Aquele tipo de vergonha que surge quando alguém tenta pregar uma peça, mas a vítima, em vez de se incomodar, leva tudo muito a sério e agradece sinceramente. “… Esquece essa peruca.”
Alice, completamente alheia ao estado de espírito de Duncan, estava totalmente imersa em sua alegria. Foi então que seus olhos naturalmente recaíram sobre o último item no convés: outra caixa de madeira.
Era uma caixa comprida, com mais de meio metro de comprimento—ou melhor, um pequeno baú. Tinha um design clássico e elegante, com fechaduras e dobradiças de latão, transmitindo uma sensação de sofisticação.
Por alguma razão, aquilo a fez lembrar de sua própria ‘casa’.
“O que é isso?” Alice colocou a peruca e os acessórios cuidadosamente de lado e, movida pela curiosidade, empurrou a caixa antes de olhar para Duncan.
“Também comprei na loja de bonecas, mas esse não é para você.” Duncan respondeu distraidamente. “Pode abrir e dar uma olhada.”
Alice fez um som afirmativo e, movida pela curiosidade, abriu o baú de madeira.
Dentro, repousava silenciosamente uma boneca feminina, trabalhada com detalhes requintados e um estilo clássico.
Alice: “…?”
“Você pode chamá-la de ‘Nilu’”, veio a voz de Duncan ao lado. “Mas, diferente de você, ela é apenas uma boneca comum… provavelmente.”
Alice, no entanto, permaneceu completamente imóvel. Demorou quase dez segundos até que finalmente reagisse—e então, com um leve clack-pop, sua cabeça se soltou de seu corpo e caiu diretamente dentro da caixa, rolando até se chocar com a pequena boneca em seu interior…
“Aj… aj… ajuda…”
Duncan suspirou e, já acostumado, recolheu a cabeça de Alice e a encaixou de volta em seu devido lugar. Com um olhar de pura exasperação, ele encarou a boneca envergonhada à sua frente. “Precisava de uma reação dessas?”
Alice apenas segurou a própria cabeça com as duas mãos, ajustando seu pescoço de volta à posição correta. Então, arregalou os olhos para seu capitão, sua expressão tomada pelo mais puro choque. “Capitão, v-você… você tem outra boneca agora…”
“Que diabos você está dizendo?” Duncan imediatamente sentiu que algo estava errado ao ouvir aquilo e se apressou em cortar qualquer comentário desnecessário antes que Alice começasse a divagar ainda mais. “Eu já disse, Nilu não é como você. Ela não corre por aí nem fala, e o que quer dizer com ‘ter outra boneca’? Você está falando como se eu tivesse algum tipo de colecionismo estranho.”
“Mas… comprar uma boneca para levar para casa não é…”
“Isso tem um motivo especial”, Duncan suspirou e se levantou, olhando para o horizonte do mar distante. Ele tentou manter uma expressão séria e profunda para conter qualquer pensamento absurdo que Alice pudesse estar formulando. “Esta boneca chamada ‘Nilu’ fazia parte de um par, junto com outra chamada ‘Luni’. Muitos anos atrás, minha filha levou ‘Luni’ com ela. Agora, por acaso, encontrei ‘Nilu’, esquecida e coberta de poeira na loja. Achei… que deveria comprá-la.”
Duncan não escondeu as informações que havia acabado de descobrir e falou com naturalidade. Afinal, ele precisava continuar desempenhando seu papel como Capitão Duncan. A partir dessa identidade, era apenas lógico que ele soubesse sobre sua própria ‘filha’ e seu ‘filho’.
Alice, como esperado, arregalou os olhos ainda mais, encarando Duncan com total incredulidade.
“C-Capitão, você tem uma filha?!” Alice segurou a própria cabeça como se temesse que, de tão chocada, ela pudesse simplesmente sair rolando de novo. “E-Eu nunca ouvi falar disso antes!”
Duncan suspirou internamente. Para falar a verdade, ele mesmo também nunca tinha ouvido falar disso até agora…
Mas, externamente, manteve a mesma expressão de sempre e simplesmente assentiu levemente. “Isso é tão estranho assim? Eu também tenho um filho. Mas já faz um século que não os vejo.”
“Você também tem um filho?!” Alice ficou ainda mais atordoada. Chegou até a dar dois passos para trás, enquanto seus olhos giravam ligeiramente. O que quer que estivesse se passando em sua cabeça de madeira, aparentemente, exigia um processamento intenso. Então, de repente, ela falou sem pensar:
“Isso significa que eles também têm uma mãe?”
Duncan: “…”
Por um instante, os dois ficaram apenas se encarando.
“Já estou arrependido de ter começado essa conversa”, Duncan finalmente suspirou, com uma expressão cansada. “Prefiro não falar sobre isso.”
“Ah… ah, entendi! Tudo bem!” Alice não sabia ao certo o que imaginara, mas rapidamente assentiu. Então, baixou o olhar para o baú onde Nilu repousava e, de repente, uma ideia lhe ocorreu.
“Ah! A presilha em forma de pena que encontrei na cabine… Era da sua filha?”
Duncan não respondeu diretamente.
Na verdade, ele também não tinha certeza. Mas, considerando a onda de nostalgia que o envolvera no momento em que viu o acessório, provavelmente a suposição de Alice não estava longe da verdade.
Foi então que ele notou algo.
Alice o observava de canto de olho, analisando-o com curiosidade. Sua expressão oscilava entre surpresa e hesitação, como se quisesse dizer algo, mas não soubesse se deveria.
“Se tem algo para falar, diga logo”, ele comentou, sem rodeios. “Ficar me olhando desse jeito é mais rude do que falar o que pensa.”
“Ah, não é nada, não é nada”, Alice balançou as mãos apressadamente, mas, após uma breve hesitação, acabou murmurando: “É só que… De repente, você parece até meio humano.”
Duncan: “… Você está me elogiando?”
Alice piscou, momentaneamente confusa. Então, como se se lembrasse de algo que o Cabeça de Bode lhe ensinara, sua expressão mudou para uma de arrependimento.
“Ah! Desculpe, Capitão! Eu não deveria ter insultado você dizendo que é humano…”
Duncan esfregou as têmporas, exausto.
“…Obrig—obrigado, eu acho”, ele suspirou e acenou com a mão. “Pegue seu presente e vá. Quero ficar um pouco sozinho.”
“Ah, tá bom.” Alice pegou suas coisas e saiu, ainda sorrindo.
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