Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 164: Chamada Não Atendida
Alice saiu radiante, e parecia que seu bom humor duraria por muitos dias. Enquanto isso, Duncan permaneceu sozinho no convés, olhando para a caixa de madeira que continha ‘Nilu’.
Ele controlava sua ‘cópia’ localizada na Cidade-estado de Pland, que acabara de deixar o Distrito Superior e agora pedalava de volta para a loja de antiguidades. Antes de sair da loja de bonecas, ele conversou mais um pouco com a velha proprietária sobre Lucretia e Tyrian, mas não obteve mais informações relevantes.
Como a própria lojista dissera, no fim das contas, ela não passava de uma cidadã comum — apenas tinha uma vida muito mais longa que a dos humanos e havia testemunhado pessoalmente alguns eventos de décadas atrás. No entanto, além do breve encontro que teve com eles e das histórias que ouviu falar, seu conhecimento sobre os dois “descendentes de Duncan” era bastante limitado.
Enquanto isso, a bordo do Banido, Duncan estava absorto em seus pensamentos.
Ele descobriu que seu corpo original tinha dois filhos — e não apenas estavam vivos, como também eram figuras de grande influência. Um deles havia servido à Rainha de Geada e agora era o maior pirata do Mar Gélido, enquanto a outra vivia às margens do mundo civilizado, engajada em misteriosas explorações que lhe renderam o temido título de ‘Bruxa do Mar’ entre os capitães.
Essa revelação lhe trouxe apenas preocupação… e um certo nervosismo.
Agora ele era o ‘Capitão Duncan’ do Banido, e pelo visto precisaria manter essa identidade no futuro previsível. Mas e se um dia ele acabasse encontrando aquela dupla de irmãos?
Deveria agir como um pai carinhoso e sentimental? Ou adotar uma postura fria e implacável? Deveria se dirigir a eles com um aceno cordial ou simplesmente passar direto sem dizer uma palavra?
Segundo a velha lojista, há cem anos, Tyrian e Lucretia romperam com seu pai, e o Névoa do Mar e o Brilho Estelar tomaram rumos diferentes do Banido após um misterioso ‘conflito familiar’ — esse era o conhecimento geral.
Mas o que realmente aconteceu naquela época… provavelmente só os três envolvidos saberiam.
Duncan suspirou suavemente.
Independentemente do que tenha ocorrido no passado, uma coisa era certa: não parecia que ele e aqueles dois irmãos teriam qualquer relação harmoniosa de ‘pai e filhos’. Se algum dia se encontrassem… era melhor que se preparasse para um desastre familiar iminente.
Ele se curvou e ergueu a caixa de madeira que continha ‘Nilu’. Sobre o forro de veludo no interior, a pequena boneca de apenas algumas dezenas de centímetros de altura jazia serenamente. Essa pequena criatura, nascida há cem anos, agora era a mais nova ‘membro’ do Banido.
Ela realmente tinha alguma conexão com Lucretia? Ou melhor, Lucretia ainda guardava a boneca chamada ‘Luni’, que comprou há um século?
Quando Duncan adquiriu Nilu, não pensou muito a respeito, mas agora sua mente estava inquieta. Segurando a caixa de madeira, ele retornou à cabine do capitão.
O Cabeça de Bode estava no leme como de costume. Assim que Duncan abriu a porta, seu falatório estridente soou imediatamente:
“Ah! O grandioso Capitão retornou à sua leal cabine! Parece que trouxe muitos suprimentos da cidade-estado. Seu fiel imediato está profundamente preocupado com a nutrição a bordo e, se não se importar, eu mesmo assumirei a nobre tarefa de orientar a senhorita Alice para que ela se torne uma cozinheira digna…”
“Cale a boca. Não quero que continue ensinando aquela boneca a inventar receitas. Não quero que minha próxima refeição pareça o vômito de um demônio abissal”, Duncan lançou um olhar severo ao Cabeça de Bode. “Onde estamos agora? Quão longe estamos de Pland?”
“Oh, ainda estamos avançando em máxima velocidade para Pland e já realizamos várias acelerações bem-sucedidas no Plano Espiritual — como se estivéssemos quicando na borda da realidade. Agora, o Banido está a apenas dez dias de distância daquela cidade-estado”, o Cabeça de Bode respondeu animadamente. “Acredito que, em breve, você começará a sentir um aumento significativo de poder ao caminhar pelo Plano Espiritual. A influência do Banido será sua maior vantagem ao agir na cidade-estado…”
Duncan lançou um olhar silencioso para ele. O Cabeça de Bode interrompeu sua tagarelice, ficou em silêncio por dois segundos e então soltou uma frase repentina:
“O fiel imediato sempre compreende melhor o seu capitão.”
“Muito bem.” Duncan assentiu, pegou a caixa e seguiu para seu quarto, mas logo parou.
Sua mente rapidamente formulou e reorganizou palavras. Depois de ponderar cuidadosamente, ele perguntou com naturalidade, mantendo a expressão calma:
“Se Tyrian e Lucretia me vissem novamente… qual você acha que seria a reação deles?”
Essa foi uma tentativa calculada. Duncan escolheu suas palavras com cautela para fazer uma pergunta que soasse natural, sem levantar suspeitas, mas que ainda lhe permitisse obter informações.
Ele evitou perguntar diretamente sobre a opinião do Cabeça de Bode sobre os irmãos, pois isso pareceria muito forçado. Também não questionou sobre o passado deles com o Banido, pois isso poderia expor sua própria falta de conhecimento.
A forma como estruturou sua pergunta era a que melhor se encaixava na relação entre ele e seu imediato, mantendo sua identidade intacta.
O Cabeça de Bode claramente hesitou. Sua voz demorou um longo tempo para alcançar os ouvidos de Duncan:
“Você quer dizer… seus filhos…? Perdão, Capitão, eu não sei se devo falar sobre assuntos de família, já que o senhor raramente menciona eles para mim. Mas, se eu tiver que dizer algo… se eu realmente precisar dizer algo…”
O Cabeça de Bode, que normalmente era tão eloquente, gaguejou várias vezes antes de finalmente continuar:
“Se for para dizer alguma coisa, eu acho que nós provavelmente acabaríamos brigando com Tyrian de novo — como aconteceu naquela vez em Geada. Afinal, ele sempre gostou de resolver problemas com canhões. Quanto à senhorita Lucretia… ela provavelmente ficaria bem longe.”
Duncan não deu qualquer resposta imediata, mas de repente percebeu duas coisas!
Primeiro, ele se lembrou que o Cabeça de Bode já havia mencionado que o Banido havia lutado contra alguém perto da Cidade-estado de Geada no passado… e agora estava claro que essa batalha foi contra Tyrian!
Segundo, a reação inicial do Cabeça de Bode foi estranha. Ele fez questão de enfatizar que Duncan raramente mencionava os irmãos para ele… Se fosse esse o caso, isso significava que o Cabeça de Bode nunca teve contato direto com os dois? Que seu conhecimento sobre eles vinha apenas das menções de Duncan?
Mas ele não estava a bordo do Banido desde o começo?!
Os olhos de Duncan se estreitaram ligeiramente, mas seu rosto permaneceu impassível. Ele apenas assentiu, indicando que ouviu a resposta do Cabeça de Bode, e sem demonstrar nada, seguiu para seu quarto.
A pesada porta de carvalho se fechou atrás dele, isolando-o da vista do Cabeça de Bode na sala de navegação. Aos poucos, Duncan sentiu seu coração se acalmar novamente.
Ele soltou um longo suspiro, pegou ‘Nilu’ da caixa de madeira e a colocou sobre sua escrivaninha. Observou a boneca por vários minutos antes de finalmente abrir a boca para saudá-la:
“Olá, eu sou Duncan.”
Naturalmente, a boneca não respondeu.
Ela era, afinal, apenas uma boneca.
Duncan de repente se sentiu um tanto tolo. Deu uma risada sem graça, pensando que, felizmente, ninguém a bordo daquela embarcação ousaria espiar o que acontecia dentro dos aposentos do capitão.
Então, abriu a gaveta ao seu lado e retirou um pequeno objeto.
Era um delicado grampo de cabelo, adornado com um desenho de ondas do mar e penas.
Este era um ‘antigo objeto’ que Alice encontrou enquanto vasculhava os compartimentos do navio.
Duncan observou silenciosamente o pequeno grampo de cabelo. Assim como antes, uma sensação estranha de nostalgia se espalhou por seu coração.
Era como se esta fosse a única fagulha de ‘humanidade’ deixada pelo antigo dono daquele corpo — um resquício minúsculo de emoção, preservado em sua mente em forma de fragmentos dispersos.
“Isso provavelmente pertenceu mesmo a Lucretia…” Duncan murmurou para si mesmo. “Um presente que nunca foi entregue? Ou a única lembrança que restou dela nesta embarcação depois que partiu?”
Ele pegou o grampo com delicadeza e o girou sob a luz do sol. Os raios que atravessavam a janela fizeram brilhar a borda prateada do acessório.
Uma pequena chama verde emergiu da ponta de seus dedos, envolvendo o grampo em um instante. Em seguida, o fogo esverdeado fluiu pelo ar e envolveu a boneca ‘Nilu’.
Duncan acalmou sua mente, tentando perceber se havia algum resquício de poder sobrenatural nesses objetos ou mesmo qualquer vestígio de conexão que pudesse apontar para um ‘lugar distante’.
No entanto, a chama logo se dissipou. Nem a boneca nem o grampo apresentaram qualquer reação.
Seriam eles realmente apenas itens comuns? Ou Lucretia estava tão distante, nos confins do mundo civilizado, que qualquer vínculo remanescente nesses objetos se tornou fraco demais para ser captado pelo Fogo Espiritual?
Duncan franziu a testa. Mais uma vez, deixou a chama se espalhar e, com um sentimento que nem ele conseguia descrever, tentou chamar:
“Lucretia… Lucy?”
Usou o apelido dela — talvez um nome mais íntimo criasse um elo mais forte do que o nome formal.
Nada aconteceu.
Duncan esperou por um longo tempo, mas, no fim, só pôde apagar as chamas com decepção.
Ao mesmo tempo, em uma terra distante, nos limites do Véu Eterno, uma autômata chamada ‘Luni’ interrompeu abruptamente o ato de limpar uma mesa.
Essa criação engenhosa, modificada inúmeras vezes pelas mãos de Lucretia e agora quase um ‘ser alquímico vivo’, começou a emitir um som ensurdecedor de engrenagens e eixos girando descontroladamente.
Logo em seguida, um rangido ecoou pelo ambiente.
A chave de corda presa às costas da autômata saltou de sua posição e caiu no chão com um estalo. Seus braços metálicos reforçados ficaram rígidos e pendiam sem vida. No espaço entre as placas de sua estrutura mecânica, uma fina fumaça negra começou a se dissipar lentamente…

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