Capítulo 167: Denúncia de Alta Especificação
Para ser sincero, Duncan se arrependeu assim que terminou de falar — ele realmente temeu que Vanna, sendo essa jovem tão reta e obstinada, pudesse simplesmente destruir os próprios olhos ali mesmo…
A reação da jovem Inquisidora superava todas as suas expectativas. Ele até havia imaginado que, sendo o principal antagonista, sua aparição espontânea causaria uma hostilidade intensa em Vanna — mas não esperava que suas ações fossem tão decisivas e rápidas, nem que ela fosse capaz de identificar em um piscar de olhos elementos críticos como a invasão onírica e o uso de superfícies espelhadas como meio de acesso, reagindo com precisão cirúrgica. Isso era totalmente diferente do que aconteceu quando ele invadiu os sonhos de Shirley.
Ela estava, do início ao fim, evitando qualquer forma de interação com o invasor — uma manobra de emergência para conter a disseminação da contaminação mental quando um sonho é comprometido.
Ficou evidente que a diferença entre uma Inquisidora de alto escalão, devidamente treinada, e uma Transcendente autodidata de meia-tigela era colossal. Se não fosse pelo fato de que os poderes de Duncan eram absurdamente peculiares — e que toda a invasão se apoiava nas camadas mais profundas da mente de Vanna —, qualquer outro invasor menos preparado teria sido expulso de imediato assim que fosse detectado por ela.
Agora, Vanna permanecia em silêncio, apenas observando o Capitão Fantasma parado no centro do seu campo de visão — ela não havia chegado ao ponto de danificar os próprios olhos, talvez por já ter percebido que aquele sonho fora invadido por completo, e que métodos convencionais de expulsão provavelmente seriam inúteis.
Ela então fechou os olhos. Duncan ainda estava ali, parado à sua frente, envolto pela escuridão — com a chama espiritual o iluminando de modo instável, como se sua figura oscilasse entre o real e o etéreo.
“O que você quer?” A jovem Inquisidora finalmente falou, sua voz fria e rígida como aço. “Como conseguiu invadir meu sonho?”
Sua postura era carregada de hostilidade, mas Duncan só achou tudo aquilo interessante — o comportamento de Vanna agora era totalmente diferente da atitude cortês e contida que tivera ao visitar a loja de antiguidades.
Mal posso imaginar como ela vai reagir no dia em que descobrir a verdade sobre aquela loja…
“Vim apenas te contar uma coisa.” Duncan foi direto, sem rodeios: “Se você realmente se importa com a segurança da cidade-estado, sugiro que dê uma olhada na capela do Sexto Distrito.”
Após isso, ele se calou, permanecendo em pé no centro das chamas verde-espectrais, sustentando uma aura de mistério e autoridade.
Vanna, ao ouvir a resposta do Capitão Fantasma, ficou momentaneamente atônita.
Nesse instante, foi como se algo tivesse rasgado um véu em sua mente, revelando um canto que até então permanecia oculto. ‘Sexto Distrito’, ‘capela’ — essas duas palavras gravaram-se com força em sua consciência, causando-lhe um momento de vertigem.
Mas mais do que essa breve vertigem, era o fato de seu sonho estar sendo corrompido pelo Capitão Duncan que agitava seu espírito com ainda mais intensidade. Ela tentou orar em silêncio à Deusa, mas descobriu que o poder divino não conseguia atravessar aquela camada de ilusão. Vigiava o ‘capitão’ à sua frente com total cautela, mas daquele vulto sombrio não emanava emoção alguma que ela pudesse interpretar.
Alguns segundos depois, ela finalmente mordeu levemente os lábios, esforçando-se para manter a calma, e perguntou em voz firme:
“Você invadiu o sonho de uma Inquisidora… só por isso?”
“Você que deve julgar”, respondeu Duncan com indiferença. “Estou bastante curioso sobre o que vai encontrar lá.”
Enquanto dizia isso, ele já podia sentir que sua conexão com aquele sonho estava rapidamente se tornando instável.
Uma força poderosa de rejeição começava a se manifestar.
Ele percebeu que Vanna não estava tão tranquila quanto aparentava — embora estivesse mantendo o diálogo com ele, a jovem Inquisidora resistia o tempo todo com pura força de vontade. Sua mente era tão firme que, só com a força do espírito, já havia alcançado o limiar do despertar!
Isso fez Duncan perceber que precisava encerrar o contato o quanto antes. Tendo passado as informações necessárias, o melhor a fazer seria se retirar de forma serena, deixando apenas uma aura de mistério para trás.
Ele não tinha intenção de explicar muita coisa, tampouco esperava que algumas palavras fossem suficientes para demonstrar sua boa fé ou conquistar a confiança de Vanna — o antagonismo entre ‘Capitão Duncan’ e uma ‘Inquisidora da cidade-estado’ não era algo que se resolvia com conversa fiada. Explicar demais só serviria para parecer mais suspeito… ou até desviar a atenção dela para onde não era necessário.
A chama espiritual que se espalhava na escuridão começou a se retrair pouco a pouco, e a silhueta de Duncan recuava gradualmente diante dos olhos de Vanna.
Mas nos últimos segundos antes que a conexão fosse completamente rompida, Vanna não resistiu e lançou uma pergunta em tom de acusação:
“O que você realmente pretende com Pland?!”
No escuro, Duncan ergueu o rosto — e, subitamente, um forte senso de malícia surgiu dentro dele.
Ele fitou a jovem Inquisidora através do sonho, e seus lábios se curvaram lentamente num sorriso. Sob o brilho verde-espectral da chama espiritual, Vanna ouviu a frase mais absurda e incompreensível que já escutara desde que se tornara Inquisidora:
“Vamos fritar umas batatas.”
O sonho desabou com um estrondo, e a conexão foi completamente cortada.
No espaço escuro e caótico do nada, Duncan recuou meio passo, observando a estrela diante de si, agora tremeluzente e instável.
Na forma de pomba esquelética, Ai voou pela escuridão e pousou sobre seu ombro, batendo levemente as asas.
“Não importa o que ela vá inventar depois, pelo menos uma coisa é certa.” Duncan olhou para Ai e murmurou em voz baixa, quase como se falasse consigo mesmo. “Sexto Distrito. Capela. Essas duas informações cruciais agora estão no radar da Catedral do Mar Profundo de Pland… E seja qual for a abordagem deles, vão mobilizar o mais alto nível de investigação.”
A estratégia de Duncan era simples e direta — tudo o que precisava era tirar a tampa daquele pequeno templo do Sexto Distrito. Bastava atrair a atenção da Igreja do Mar Profundo até lá. Quanto ao que Vanna e os clérigos por trás dela pensariam depois… isso era o que menos importava.
O Flagelo Errante do Mar Infinito fazendo denúncia direta em sonho para uma Inquisidora sobre corrupção herética em pleno território da cidade-estado — isso seria suficiente para deixar os clérigos se remoendo até o fim da vida. Mas antes de morrerem remoendo, eles com certeza iriam concentrar todas as suas forças naquela capela — e quando isso acontecesse, qualquer segredo que estivesse escondido ali seria inevitavelmente desenterrado.
Claro, no meio dessa investigação, Vanna poderia até acabar gastando algum tempo e energia com o Banido, mas isso era detalhe.
Ao lembrar da ‘sutileza’ que usara nos instantes finais do sonho, Duncan deixou escapar um leve sorriso.
“‘Vamos fritar umas batatas?’” Ai, pousada em seu ombro, notou o sorriso e inclinou a cabeça. “Corta fininho e refoga com carne?”
“… Seu vocabulário está cada vez mais desconexo”, Duncan franziu a testa. “Mas fritar umas batatas amanhã de manhã não parece uma má ideia… Pode ser uma boa oportunidade para ensinar a Alice a preparar uma refeição decente.”
Vanna abriu os olhos de súbito.
Não havia luzes acesas no quarto. Apenas a luz fria e pálida da Criação do Mundo entrava pela janela, espalhando-se pelo cômodo. À meia-luz, os móveis pareciam cobertos por sombras fragmentadas e irregulares.
O coração batia violentamente. Era como se barras de ferro em brasa tivessem sido enfiadas em sua cabeça, e a dor surda provocada pela exaustão mental e tensão extrema pulsava entre as têmporas. Sua camisola de dormir estava completamente encharcada de suor, agora grudada à pele com um frio incômodo e pegajoso.
Mas aquele desconforto físico não era nada se comparado ao sonho corrompido e invadido que acabara de vivenciar.
Vanna sentou-se na cama, examinando o ambiente ao redor com extrema cautela. Piscou devagar, depois fechou os olhos e os abriu lentamente outra vez.
A cada repetição, seu coração dava dois saltos fortes — ela testava se realmente havia se libertado da ‘ilusão’ do Capitão Fantasma, mas temia que sua figura surgisse de repente em seu campo de visão.
Só depois de confirmar que a invasão havia cessado e que estava de volta ao mundo real, pôde finalmente soltar um longo suspiro.
Em todos os seus anos como Inquisidora, raras foram as vezes em que ficara tão tensa.
Vanna levantou-se da cama e foi até a penteadeira próxima.
A penteadeira permanecia intacta, com o espelho refletindo apenas sua imagem.
Ela ficou ali por vários segundos, encarando o espelho como se quisesse conferir cada pequeno detalhe refletido, até que, por fim, sacudiu a cabeça com força, abriu a gaveta e retirou uma pequena adaga ritualística gravada com símbolos de tempestade e mar revolto.
Segurando o artefato sagrado, cortou a própria pele e deixou que o sangue escorresse sobre os glifos, iniciando uma prece à Deusa da Tempestade.
Durante a breve oração, o som suave das ondas do mar sussurrou em seus ouvidos — a bênção da Deusa estava ali, como sempre, acalmando sua alma inquieta.
Tendo restabelecido o contato com a divindade, Vanna finalmente relaxou — trocou rapidamente a camisola suada por roupas de saída, vestindo-se com agilidade e precisão. Pegou sua grande espada encostada ao lado da cama, e saiu do quarto sem hesitar.
Momentos depois, um automóvel particular movido a núcleo de vapor rompeu o silêncio do centro da Cidade Alta. Sob a luz pálida dos lampiões a gás, Vanna dirigia em alta velocidade rumo à catedral.
Ela precisava relatar imediatamente tudo o que havia acontecido ao Bispo Valentine — incluindo as anomalias descobertas anteriormente no Arquivo. A situação já superava em muito o escopo de uma simples investigação conduzida por uma Inquisidora.
Se necessário, Pland talvez tivesse de entrar em contato com a Catedral da Tempestade que patrulhava o Mar Infinito.
O olhar de Vanna era firme, sua respiração controlada, os pensamentos claros.
Mas, de repente, uma pontinha de hesitação se insinuou em sua mente.
Ela se lembrou da cena absurda no final daquele sonho.
Fritar umas batatas… O que isso queria dizer, afinal?!
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.