Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Frio, umidade, o cheiro nauseante de carne podre e o ruído áspero de correntes de ferro arrastando no chão.

    Diversas sensações estranhas invadiram a mente de Duncan, mas, por um momento, ele não conseguiu abrir os olhos. Sentia como se sua alma tivesse sido dividida em duas partes – uma ainda permanecia no Banido, enquanto a outra fora colocada em um corpo completamente estranho. Esse corpo parecia uma máquina velha e enferrujada, difícil de controlar. As percepções caóticas colidiam com seu sistema nervoso, misturando-se com uma sensação de torpor e lentidão. Ele tentou abrir os olhos e mover os dedos, mas parecia incapaz de sentir esses membros.

    A sensação desconfortável durou vários segundos. Finalmente, o torpor e a lentidão começaram a desaparecer, e Duncan sentiu como se seu ‘corpo’ estivesse despertando de uma longa hibernação, gradualmente recuperando a capacidade de se mover.

    Por fim, ele abriu os olhos e pôde ver onde estava.

    Diante dele havia um espaço sombrio e cavernoso, parecido com um subterrâneo. Tochas queimavam nas paredes distantes de pedra, e sua luz trêmula revelava uma cena horrível: corpos – ou melhor, cadáveres – estavam espalhados desordenadamente pelo chão lamacento e encharcado. Alguns estavam em farrapos, enquanto outros ainda tinham pedaços de roupas relativamente intactas.

    Gotas d’água pingavam do teto da caverna, e o som distante de água corrente ecoava, como se viesse de um rio subterrâneo ou de um sistema de esgoto. O ruído das correntes parecia vir de um corredor conectado à caverna, mas estava se distanciando.

    Duncan piscou, tentando compreender o que estava acontecendo. Ele olhou para sua mão direita e viu uma palma completamente estranha e magra, com roupas esfarrapadas cobrindo o braço. A bússola de latão, que ele segurava anteriormente, havia desaparecido.

    Ele ergueu o olhar e inspecionou ao redor. Ainda se lembrava de ter visto uma sombra ao seu lado enquanto viajava pela rede de luz e estrelas – parecia a silhueta de um pássaro em voo. Mas, como era de se esperar, ele não encontrou nada.

    Aquela sombra de ave aparentemente não o acompanhara para este espaço físico.

    Duncan fechou e abriu a mão lentamente, reprimindo o desconforto crescente, e então esfregou os dedos.

    Uma pequena chama verde, muito fraca, surgiu na ponta de seus dedos.

    Era notável que a chama agora parecia muito mais fraca do que ele estava acostumado, mas mesmo assim trouxe uma sensação de alívio. Ao mesmo tempo, a aparição da chama pareceu clarear ligeiramente sua mente, permitindo-lhe perceber com mais nitidez uma estranha dualidade – uma sensação de ruptura e conexão espiritual.

    Ele podia sentir claramente que uma parte de sua consciência não estava ali. Ele ainda conseguia sentir o Banido, assim como sua outra ‘versão’, sentada à escrivaninha, segurando a bússola de latão.

    A sensação era incomum, mas Duncan rapidamente entendeu o que estava acontecendo:

    Sua consciência havia passado por algum tipo de projeção ou extensão. Essa projeção havia atravessado uma grande distância e agora habitava um corpo estranho.

    Mesmo assim, ele ainda podia sentir seu ‘eu original’.

    Com certeza, isso tinha algo a ver com a bússola de latão! Seria esse o poder do artefato anômalo?

    Duncan formulou algumas teorias, mas decidiu não perder tempo com especulações. Confirmando que seu corpo original estava seguro e sua consciência permanecia sob controle, ele começou a se concentrar em avaliar o novo corpo que estava ocupando.

    A primeira coisa que ficou clara era que este lugar não estava, de forma alguma, em um navio.

    Este era o continente – a terra firme que Duncan não conseguira encontrar após dias vagando pelo mar!

    A segunda coisa que ele percebeu foi que a caverna sinistra em que estava definitivamente não parecia um lugar amigável. Os corpos espalhados pelo chão não pareciam ser parte de um ‘enterro’ normal, e o corpo que ele agora habitava… que tipo de infortúnio levaria alguém a terminar em um inferno como este?

    Duncan respirou fundo e se esforçou para se levantar. O corpo que ocupava estava encostado em uma grande pedra – uma posição que estava longe de ser confortável.

    No entanto, assim que ele respirou fundo e começou a se levantar, uma sensação perturbadora o atingiu – parecia que todo o ar que ele havia inalado escapara imediatamente de seu corpo. Uma sensação de vazio tomou conta de seu peito, e até mesmo o movimento de se levantar saiu errado.

    Confuso, Duncan baixou o olhar… e viu um grande buraco.

    Havia um buraco no centro de seu peito, bem onde o coração deveria estar. Naturalmente, tudo que deveria estar ali já havia desaparecido. Um vento frio passava pelo buraco, levando consigo o resto do ar que ele acabara de inspirar, antes de se dispersar no ar úmido da caverna.

    De certo ângulo, Duncan conseguia ver claramente o que estava atrás de si através do buraco.

    “… Que porra?!”

    Mesmo com toda a experiência que havia acumulado no Banido, mesmo tendo enfrentado tantas coisas estranhas, Duncan ainda sentiu um arrepio subir por sua espinha. Suas mãos ficaram suadas, e ele podia jurar que cada fio de cabelo em seu corpo estava de pé.

    Mas, logo após o choque inicial, ele percebeu algo importante: ele ainda estava de pé. Mais do que isso, ele tinha energia suficiente para expressar sua surpresa.

    Apesar de estar com um buraco no peito, onde seu coração deveria estar, Duncan não sentia dor alguma naquele corpo!

    “Então… isso é um cadáver?”

    Demorou alguns momentos, mas Duncan finalmente compreendeu a situação. Ele rapidamente se acalmou.

    O fato de estar ocupando um corpo morto e fazê-lo se mover talvez não fosse algo tão extraordinário. Afinal, ele tinha uma embarcação fantasma capaz de navegar sozinha, um imediato de madeira que falava sem parar e uma boneca amaldiçoada que conseguia remar um caixão em pleno mar. Comparado a essas coisas, ‘um cadáver falando e andando’ nem parecia tão chocante.

    Afinal, ele só estava sem um coração. Alice já estava acostumada a ter sua cabeça longe do pescoço.

    Com pensamentos desordenados, mas recuperando rapidamente sua compostura, Duncan começou a testar os movimentos do corpo que estava ocupando. Ele adaptou seus passos à sensação estranha de não ter um coração, ajustando-se aos movimentos ligeiramente desajeitados do corpo.

    Finalmente, ele deu alguns passos em direção aos cadáveres espalhados pela caverna.

    “Como eu suspeitava…”

    Duncan olhou para o primeiro cadáver e não ficou surpreso ao ver o buraco horrendo no peito da vítima.

    Era o corpo de um homem de meia-idade, magro e maltrapilho, com a aparência de um mendigo. Embora já estivesse morto há algum tempo, seus olhos arregalados e expressão congelada transmitiam claramente o desespero e a luta de seus últimos momentos.

    Duncan continuou sua inspeção, passando por um cadáver após o outro. Todos eles tinham corações arrancados e estavam espalhados de forma miserável sobre as pedras frias da caverna. Apenas dois corpos eram exceções – eles tinham feridas brutais na cabeça, como se tivessem batido violentamente contra as rochas e morrido instantaneamente.

    Uma ideia perturbadora surgiu na mente de Duncan: talvez esses dois tenham tirado suas próprias vidas para evitar a agonia de terem os corações arrancados.

    Para uma pessoa comum, o que estava naquela caverna seria perturbador demais. Até Duncan, com toda sua experiência e os eventos estranhos que presenciara no Banido, sentiu-se um pouco sobrecarregado após examinar todos os corpos. Ele acabou se afastando e sentando-se em uma pedra relativamente limpa para processar a situação e reorganizar seus pensamentos.

    Era evidente que o que acontecera ali era um massacre horrendo. Contudo, o método de execução, tão frio e padronizado, sugeria algo além de simples assassinato – havia um tom ritualístico e sinistro naquilo.

    Duncan convocou novamente a chama espiritual, sentindo a conexão com sua ‘projeção’ e com seu corpo original no Banido. Ele sabia que, se quisesse, poderia interromper essa projeção e retornar ao navio em segurança.

    Ainda assim, ele sentia que precisava entender o que estava acontecendo ali.

    Mesmo que fosse apenas para obter informações sobre o continente.

    Suspirando, Duncan levantou-se da pedra. O vento frio passava pelo buraco em seu peito, mas ele ignorou a sensação. Ele olhou para o corredor na parte mais profunda da caverna, lembrando-se do som de correntes de ferro que ouvira antes.

    Este espaço subterrâneo não continha apenas cadáveres – havia outros ainda ativos ali. E quem quer que fosse capaz de se mover livremente em um lugar tão aterrorizante poderia ter respostas para suas perguntas.

    Avançar diretamente para investigar, sem tomar precauções, poderia ser arriscado, mas Duncan não se preocupava com isso.

    No momento, ele sentia que tinha muito pouco a perder.

    Capítulo revisado dia 25/01/2025.

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