Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Vanna permanecia imóvel diante da escadaria que levava ao santuário subterrâneo, observando o grande portão negro que acabara de se restaurar diante de todos.

    Três horas antes, ela havia chegado com sua equipe àquela capela abandonada. Dentro, encontraram iluminação cálida e aconchegante, um salão principal aparentemente normal, uma freira em oração silenciosa, e um púlpito limpo e arrumado.

    Duas horas antes, livrou-se da freira — cuja presença era nitidamente anormal — e, com os Guardiões, encontrou o caminho até o santuário subterrâneo. Lá, ao abrir o portão, viram a verdade: um espaço mergulhado nas trevas, os sinais de uma batalha recente, o corpo de uma freira guerreira recém tombada — e nenhum rastro do invasor.

    Dois minutos antes, ela havia concluído uma inspeção minuciosa do local. Com a ajuda dos subordinados, retirou o corpo da freira, preparando-se para enviá-lo à catedral central para necropsia e sepultamento.

    E então, diante de todos, o cadáver da freira desfez-se em cinzas ao ser exposto fora do santuário. Simultaneamente, o portão do subterrâneo — que havia sido arrombado duas horas antes — restaurou-se num piscar de olhos, voltando à sua aparência original. Agora, ali estava ele, em silêncio no fim da escadaria, como se zombasse daqueles que ousaram investigá-lo.

    “Inquisidora…” Um dos Guardiões, um homem de voz grave e barba curta, aproximou-se de Vanna. “Parece haver algum tipo de ciclo fechado no espaço-tempo…”

    Vanna assentiu levemente, sem dizer nada.

    Mas em sua mente, ressoavam as memórias do pesadelo da noite anterior — e da figura que o invadiu e corrompeu: o Capitão Duncan.

    As palavras do capitão espectral ainda ecoavam em sua cabeça: “…Se você realmente se importa com a segurança da cidade-estado, talvez devesse ir ao Sexto Distrito. Dê uma olhada naquela pequena capela…”

    “Estou ansioso pelo que você vai descobrir por lá…”

    Seria isto o que aquele ‘Capitão Duncan’ queria que ela visse? Um ciclo fechado no tempo… Uma capela isolada e corrompida por uma força desconhecida… Uma freira que tombou lutando contra um invasor misterioso?

    Por que ele queria que ela visse isso? O que tudo isso significava?

    Vanna franziu o cenho com força. Ao sair naquela manhã, sua mente estava dominada por desconfianças quanto ao Banido e ao sinistro capitão fantasma. Pensava se ele não estaria armando alguma cilada, tentando contaminá-la ou atacá-la de alguma forma ao levá-la até aquela capela.

    Mas agora… começava a duvidar de seu próprio julgamento inicial.

    Será que… aquele capitão fantasma só queria mesmo lhe dar uma pista? Como um transeunte prestativo… denunciando um culto herético escondido dentro da cidade-estado?

    Esse pensamento surgiu na mente de Vanna — e há pouco, ela própria havia dito algo parecido ao Bispo Valentine em tom de brincadeira. Mas agora, aquela piada absurda — ao nível do Subespaço — voltava a se repetir em sua cabeça, involuntariamente.

    No instante seguinte, a jovem Inquisidora estremeceu e seu semblante se endureceu.

    Eu estou mesmo tentando associar aquele capitão fantasma a algo “inofensivo”? Isso só pode ser influência da contaminação psíquica dele! Não posso deixar esse pensamento continuar!

    “Inquisidora?” A voz de um subordinado a trouxe de volta à realidade. O Guardião de barba curta a olhava com preocupação. “A senhora… ouviu ou viu algo?”

    “…Não. Minha mente está clara.” Vanna balançou a cabeça e respondeu com firmeza. Sabia que aquele subordinado, confiável à primeira vista, havia tido contato com o Bispo Valentine antes da missão — e muito provavelmente também estava ali para supervisioná-la. Ela não se incomodava com isso. Afinal, havia sido contaminada por Duncan, e sair em missão acorrentada não seria exagero.

    “O tempo e espaço aqui se reiniciaram. Vamos descer novamente?” ele perguntou.

    Vanna refletiu por um instante, depois se virou: “E a ‘freira’ no salão principal? O que ela está fazendo?”

    “Continua orando”, respondeu um Guardião recém-retornado.  “Parece que nada do que fazemos fora do salão chama sua atenção.”

    “Entendo.” Vanna assentiu levemente, mantendo o olhar fixo na porta ao fim da escada. Depois de alguns segundos, mordeu os lábios e disse: “Vamos descer de novo.”

    Ela conduziu os Guardiões de volta até a entrada do santuário subterrâneo. Avançou, empurrando a porta — e, como antes, sentiu a mesma resistência: do outro lado, o corpo da freira bloqueava a passagem.

    Na última vez, ela havia ordenado aos subordinados que forçassem o eixo com uma alavanca, tentando preservar os glifos da porta o máximo possível.

    Dessa vez, colocou a mão sobre a madeira, inspirou profundamente — e então, num movimento súbito, cerrou o punho e bateu com força.

    Em frações de segundo, a estrutura inteira vibrou de forma imperceptível aos sentidos humanos. A porta, sólida e imponente, se desfez instantaneamente em pó. Lasca de madeira e partículas metálicas voaram, mas foram imediatamente repelidas e afastadas pelo campo ao redor de Vanna.

    O corpo da freira tombou para frente, do outro lado da porta. Nenhum ferimento novo, além dos que já possuía.

    Só então os Guardiões escutaram um zumbido abafado e profundo — como se invadisse seus crânios — que logo se dissipou.

    Eles lançaram olhares reverentes à jovem Inquisidora. Vanna, acostumada com esse tipo de reação, não lhes deu atenção. Com a espada presa às costas, retirou a lanterna da cintura com a mão esquerda e avançou.

    A luz do lampião mais uma vez dissipou a escuridão do santuário subterrâneo. Tudo que viu era idêntico à primeira vez. Como previsto, aquele espaço-tempo havia retornado ao ponto inicial.

    Após nova varredura minuciosa, Vanna e os Guardiões voltaram para junto do corpo da freira caída.

    Antes, Vanna havia tentado retirá-la daquele lugar — mas agora ela compreendia: aquele corpo também fazia parte da distorção temporal. Assim como o espaço ao redor, ele havia se tornado parte de um ciclo fechado, incapaz de ser retirado dali.

    Vanna permaneceu olhando em silêncio para o rosto ensanguentado da freira. Não se sabia por quanto tempo ela ficou imersa em pensamentos, até que, finalmente, murmurou em voz baixa:

    “…Você ainda está lutando dentro deste ciclo de tempo?”

    O santuário subterrâneo mergulhou num instante de silêncio. Foi só quando a voz de um Guardião soou que a quietude se quebrou:

    “Inquisidora… na sua opinião… com o que ela estava lutando, afinal?”

    Vanna permaneceu pensativa por um longo momento. Então, lentamente, ergueu o olhar, e começou a traçar uma análise, ponto por ponto, com base nas informações reunidas até agora:

    “O santuário subterrâneo é um excelente local de contenção. Com as portas fechadas, ele se torna uma prisão perfeita;

    “A força de segurança da igreja está desaparecida, e ao que tudo indica, não participou da batalha aqui embaixo;

    “A freira se trancou sozinha neste lugar, armada. Isso indica que, antes de entrar, ela já sabia que enfrentaria uma batalha;

    “Não há rastros do invasor neste local. Considerando que o espaço-tempo aqui está em ciclo fechado, o invasor também deveria estar preso no loop. Mesmo que fosse extremamente ágil, não teria tido tempo suficiente para apagar todos os vestígios entre o momento em que abrimos a porta e o início da nova repetição…”

    Enquanto ouviam as observações de sua superiora, alguns Guardiões começavam a juntar as peças. Um deles, então, falou de súbito:

    “Há apenas uma situação em que um clérigo se trancaria voluntariamente e se prepararia para uma ‘batalha final’ assim…”

    “Sim”, disse Vanna em voz baixa, levantando-se devagar, “existe apenas um cenário para isso.”

    “Quando o clérigo percebe… que uma porta para o Subespaço está prestes a se abrir dentro da própria alma.”

    “Invasão do Subespaço!” exclamou um dos Guardiões em choque. “Ela estava lutando… contra a própria sombra?! Mas… como isso é possível? Aqui é uma igreja, e…”

    “…E ninguém jamais recebeu qualquer alerta vindo desta capela.” Vanna interrompeu em tom firme, sem deixar que ele terminasse a frase. Ela sabia muito bem o quanto tudo aquilo era estranho. “Quando um clérigo é completamente corrompido pelo Subespaço, torna-se um receptáculo, abrindo uma porta para o outro lado dentro da própria alma. Mas isso leva tempo. E num lugar como uma igreja, mesmo com pressa, os responsáveis pela vigilância ainda deveriam conseguir enviar um pedido de socorro para o exterior. Mas tudo indica que, neste caso, a contaminação avançou rápido demais… rápido o suficiente para que ela só tivesse tempo de pegar uma espada… e se trancar aqui dentro.”

    Ela fez uma pausa, e refletiu por um instante antes de acrescentar:

    “…Também é possível que o alarme tenha sido disparado, mas que, por causa da interferência do Subespaço, ele nunca tenha saído deste lugar.”

    “Mas isso aqui não é um navio em alto-mar”, murmurou um dos Guardiões, incrédulo. “Estamos em terra firme, dentro de uma zona de proteção ampla… Como é que o Subespaço conseguiu corromper um clérigo com tanta rapidez, e ainda cortar toda a comunicação com o exterior?”

    “Você tem razão. Nada disso faz sentido. Nada aqui faz sentido”, Vanna falou em tom grave, enquanto percorria o olhar pelas paredes e colunas escuras do santuário. A luz do lampião projetava sombras trêmulas nos cantos, como se revelasse segredos ocultos e ameaçadores. “Mas o que é mais inquietante…”

    Ela fez uma pausa e, em voz baixa, completou:

    “…se o Subespaço realmente contaminou este lugar… então onde ele está agora?”

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (4 votos)

    Nota