Capítulo 18: O Esgoto
Antes de sair da caverna onde estava escondido, Duncan pegou alguns trapos dos cadáveres próximos e os enrolou em seu corpo.
Não era porque ele não suportava o frio úmido da caverna, mas para cobrir de alguma forma o buraco aberto em seu peito. Embora aquele buraco não afetasse sua ‘existência’, Duncan, como alguém com uma mentalidade ainda bastante normal, sentia que andar por aí com um ‘peito ventilado’ era bizarro demais. Cobrir-se com algum pano pelo menos trazia algum conforto psicológico e diminuía a estranha sensação de vento passando por seu corpo.
Além disso, Duncan considerou a possibilidade de encontrar alguém nesse espaço subterrâneo. Pelo senso comum, um buraco aberto no peito provavelmente não facilitaria interações amigáveis.
Depois de lidar com seu ‘ferimento’, Duncan deixou cuidadosamente a caverna úmida e entrou em um corredor conectado ao local, avançando lentamente para as profundezas.
O corpo que ocupava não era nada ‘prático’. Além do buraco no peito que afetava a agilidade de seus movimentos, ele podia sentir claramente o quão fraco aquele corpo estava. Os membros magros dificultavam até mesmo caminhar em um ritmo normal, completamente oposto à força sobre-humana de seu corpo no Banido.
Duncan não tinha um espelho para ver sua aparência atual, mas, a partir do que conseguia observar, ele supôs que o corpo pertencia a um jovem, extremamente debilitado por desnutrição. Apesar de sua alma ser a de um poderoso capitão fantasma, parecia que sua força espiritual não podia superar as limitações físicas dessa casca enfraquecida.
Infelizmente, ele não tinha escolha. Duncan apenas controlava o corpo o melhor que podia enquanto explorava o corredor úmido e escuro, sabendo que, no estado atual daquele corpo, qualquer crise seria praticamente impossível de superar. Ele só podia torcer para que a ‘casca’ aguentasse mais um pouco.
O corredor era longo, úmido e sombrio, mas parecia haver aberturas ocultas para ventilação. Uma brisa constante circulava pelo local. A cada poucos metros, tochas ou lâmpadas a óleo estavam fixadas nas paredes, indicando que havia movimento humano naquela área.
Após caminhar por um longo trecho, Duncan chegou a uma abertura maior no corredor. Traços de construção humana começaram a aparecer em sua visão – ele viu uma bifurcação no final do corredor, onde as paredes eram mais lisas e o teto se curvava em um arco semicircular. O chão estava pavimentado com ladrilhos escuros e úmidos, e dois canais de água corriam paralelamente às laterais do caminho, transportando águas residuais malcheirosas.
Nas paredes laterais, havia aberturas semelhantes a canos de drenagem. De alguns desses canos, mais esgoto fluía, caindo nos canais abaixo e seguindo para as profundezas escuras.
“Um sistema de esgoto…?”
Duncan rapidamente percebeu que o que estava diante dele era um sistema de esgoto considerável, e a caverna onde ele havia encontrado os corpos parecia ser uma formação natural conectada a esse sistema.
Um esgoto tão grande, com uma caverna conectada repleta de corpos escondidos…
A mente de Duncan foi inundada por inúmeras teorias. Enquanto formulava hipóteses, ele examinava cuidadosamente os detalhes do esgoto.
A estrutura era enorme, com um design avançado. As partes principais pareciam ser feitas de concreto reforçado, e o sistema parecia suficientemente robusto para servir como um abrigo subterrâneo em caso de necessidade.
A capacidade de construir algo tão elaborado indicava que a cidade acima devia ser consideravelmente grande, com um nível significativo de desenvolvimento tecnológico.
Tecnologia não existe de forma isolada – cada criação de engenharia é sustentada por inúmeras indústrias e tecnologias associadas. Mesmo algo aparentemente simples como um sistema de esgoto pode revelar informações sobre os níveis de planejamento, materiais, manutenção e os padrões de vida dos moradores de uma sociedade.
Para Duncan, que estava com uma grave falta de informações, esse esgoto já fornecia dados valiosos sobre o mundo civilizado.
Caminhando pelo esgoto, ele subitamente parou e voltou sua atenção para uma parede próxima.
Havia uma lâmpada embutida na parede – uma luminária com proteção de vidro e cercada por uma grade metálica aparentemente robusta.
Em comparação com as tochas e lâmpadas a óleo que vira anteriormente na caverna, essa luminária era muito mais brilhante. A chama queimava de forma estável atrás do vidro fosco, iluminando uma longa seção do esgoto com sua luz constante.
Duncan se aproximou para examinar a lâmpada. Tudo fora do Banido, especialmente criações associadas à civilização moderna, tinha um fascínio irresistível para ele.
Depois de um longo momento de observação, Duncan finalmente entendeu o que era a fonte de luz – era uma lâmpada a gás.
No entanto, ela era diferente das lâmpadas a gás que ele conhecia. Além das diferenças no design, ele notou algo único: havia símbolos finos gravados no vidro da luminária.
Parecia que esses símbolos tinham sido colocados durante a fabricação do vidro. Eles eram curvos e intricados, lembrando hieróglifos. Duncan não reconheceu os símbolos, mas imediatamente os associou aos que vira anteriormente no navio a vapor e no caixão de Alice.
Embora os conteúdos fossem diferentes, todos esses símbolos compartilhavam uma… ‘essência’ similar.
Era algo sagrado, ritualístico.
Duncan recuou um pouco e olhou para o fundo do esgoto. Ele percebeu que lâmpadas a gás estavam posicionadas em intervalos regulares, cada uma queimando com a mesma chama brilhante.
Para uma instalação subterrânea raramente visitada, as lâmpadas pareciam excessivas. E, se cada uma delas tinha símbolos semelhantes, isso sugeria algo a mais.
Duncan teve a impressão de que essas lâmpadas, densamente dispostas, não estavam apenas iluminando a escuridão. Elas representavam um esforço da ‘civilização humana’ para resistir contra algo.
Ele continuou caminhando pelo caminho iluminado pelas lâmpadas, examinando atentamente as paredes, o chão e o teto em busca de pistas úteis. De repente, algo chamou sua atenção no canto de seu olho.
Ele parou entre duas lâmpadas a gás, em um trecho mais escuro do esgoto. Ao olhar para cima, viu algo pintado em vermelho escuro perto do teto abobadado.
Duncan estreitou os olhos, tentando decifrar o que estava pintado. Depois de algum esforço, conseguiu distinguir o desenho bruto: várias mãos estendidas em direção ao céu, como se estivessem adorando algo. No centro das mãos, uma grande esfera irradiava luz brilhante.
Sob a cena de adoração, havia uma linha de texto. As letras eram irregulares e tremiam, como se tivessem sido escritas por alguém tomado por intensa paixão e fervor. Embora as palavras não pertencessem a nenhum idioma terrestre, Duncan, de alguma forma, entendeu seu significado:
⦗O falso sol cairá, e o verdadeiro Sol Negro renascerá do sangue e do fogo! Toda vida retornará ao sol, e toda ordem retornará ao sol!⦘
Duncan ficou parado no meio do esgoto, olhando fixamente para a área mais escura onde a luz das lâmpadas a gás começava a enfraquecer. Seus olhos se fixaram nos grafites vermelho-escuros, naquela representação de um sol aparentemente impregnado de sangue, irradiando luz e adorado com fervor.
Parecia que ele estava contemplando outro mundo, perdido em pensamentos.
Ele permaneceu assim por um bom tempo, até que um ruído vindo das profundezas do esgoto o tirou de seu devaneio. Passos ecoaram, e Duncan conseguiu ouvir claramente o som de várias pessoas se aproximando.
Ele ergueu a cabeça abruptamente, virando-se na direção do som, e viu várias figuras vestidas com mantos saindo da escuridão. Suas cabeças e rostos estavam escondidos sob capuzes, mergulhados na sombra, parecendo espectros sinistros vagando por aquele esgoto sujo.
Duncan não tentou se esconder – na verdade, aquele trecho reto do esgoto praticamente não oferecia opções para isso. Além disso, com o estado debilitado de seu corpo temporário, ele não tinha como realizar movimentos furtivos ou uma fuga estratégica.
Após pensar rapidamente, decidiu que o melhor seria simplesmente ficar parado. Ele se posicionou bem no centro do caminho, olhando diretamente para as figuras que se aproximavam, sem qualquer tentativa de disfarçar sua presença.
Se aquele corpo estava destinado a ser descartado, ele pelo menos garantiria que valesse a pena, obtendo alguma informação antes do fim.
No momento seguinte, as figuras encapuzadas notaram Duncan.
Capítulo revisado dia 25/01/2025
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