Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    No primeiro andar da loja de antiguidades, Nina estava sentava ansiosa na cadeira ao lado do balcão, levantando-se de tempos em tempos para olhar pela vitrine. Tudo o que via era a rua deserta sob o poste de luz. Em seguida, ia verificar a porta da frente, certificando-se de que ainda estava bem fechada.

    Várias vezes teve o impulso de sair para dar uma olhada, mas sempre parava com a mão na maçaneta, lembrando-se da recomendação apressada de seu tio antes de sair — não sair pela porta, esperar em casa até que ele voltasse.

    “O tio também, viu… Faz questão de sair depois do anoitecer, mesmo com o toque de recolher…” Nina se sentou novamente atrás do balcão, resmungando sozinha. “Se os guardiões da patrulha notarem, vai acabar sendo detido de novo, e ainda por cima é perigoso…”

    Essa já era a enésima vez que resmungava sozinha.

    Então, finalmente ouviu um leve ruído vindo da entrada — passos soaram repentinamente, seguidos pelo som da fechadura sendo girada.

    Nina levantou a cabeça de súbito em direção à porta, vendo-a se abrir. O sininho pendurado tocou com um som claro e agradável, e aquela silhueta familiar finalmente surgiu diante de sua visão.

    “Nina, voltei.” Duncan olhou para a garota que se aproximava apressadamente do balcão, com um leve sorriso no rosto. “Viu? Nem está tão tarde assim.”

    Nina correu até ele em poucos passos, batendo a cabeça no peito de Duncan, e logo emendou uma enxurrada de reclamações: “Ainda diz que não está tarde! Já viu que horas são?! Sair durante o toque de recolher é perigoso demais! E o senhor nem disse onde estava indo, só me mandou esperar em casa…”

    As reclamações de Nina vinham como uma tempestade sobre o mar, contínuas e sem trégua — até que, de repente, ela notou uma pequena silhueta escondida atrás de Duncan, e sua voz parou abruptamente.

    Com uma pequena maleta na mão, Shirley saiu de trás de Duncan com a cabeça baixa, um pouco tímida e nervosa. Acenou para Nina: “Nina… eu também tô aqui.”

    Duncan se virou e fechou bem a porta da loja para evitar que algum curioso notasse o que se passava. Nina, por sua vez, arregalou os olhos ao reconhecer a menina:

    “Shirley?! Você… o que tá fazendo aqui? E ainda por cima com o tio… espera aí, você tá cheia de sangue!”

    “Ah, não precisa se preocupar, não precisa mesmo”, Shirley se apressou em balançar as mãos. Apesar dos ferimentos nas costas ainda não estarem totalmente curados, ela se esforçou para abrir o mesmo sorriso radiante de sempre diante da amiga. “Foi só um probleminha, tô bem…”

    “Isso não é um probleminha coisa nenhuma!” Nina, atrapalhada, pegou a maletinha da mão de Shirley e começou a verificar os ferimentos da amiga. Logo notou os rasgos na roupa dela e entrou em pânico: “Você… você tá muito ferida! A gente tem que chamar um médico agora mesmo! Você…”

    “Eu juro que tô bem! Ei, calma!” Shirley segurou as mãos de Nina, cheia de resignação no rosto. “Você esqueceu? Eu não sou uma pessoa comum…”

    Nina abriu a boca, como se ainda quisesse dizer algo, mas foi interrompida subitamente por uma tosse vinda de Duncan ao lado.

    Hum-hum.” Duncan interrompeu a conversa cada vez mais caótica entre as duas garotas e voltou o olhar para Nina. “Não precisa perguntar tanto agora. Os ferimentos da Shirley não são motivo de preocupação — leva ela lá pra cima pra tomar um banho e trocar de roupa. Depois a gente explica tudo com calma.”

    O olhar de Nina alternava entre Shirley e Duncan, e ela acabou assentindo sem entender muito bem. Shirley, por sua vez, esfregou o estômago, um pouco sem graça:

    “É que… tem alguma coisa pra comer…? Eu queria comer um pouco antes…”

    Talvez fosse por conta da energia consumida no processo de recuperação dos ferimentos, mas ela agora só sentia uma fome avassaladora — comparado a isso, a dor dos machucados parecia até secundária.

    “Ah, ah, tem sim!” Nina se assustou por um instante, mas logo reagiu. “Eu fiz comida a mais hoje à noite, como se tivesse adivinhado… Vou esquentar pra você!”

    Ela disparou escada acima com passos apressados, o som dos pés sumindo à medida que se distanciava. Shirley ficou para trás, parada e um pouco aérea, olhando ao redor. Reconheceu o ambiente familiar do primeiro andar da loja: as prateleiras cheias de falsos antiquários, a vitrine não muito limpa e o Sr. Duncan parado ao lado, com aquele sorriso de canto de boca.

    Depois de vários segundos, ela murmurou baixinho:

    “Eu… voltei de novo…”

    “Sim, você voltou de novo.” Duncan sorriu e se abaixou para pegar a maletinha de Shirley, começando a caminhar. “É bom aproveitarmos agora pra conversar sobre como vamos explicar esse monte de ferimentos. Também precisamos de um bom motivo pra justificar que você vai morar aqui — mas, sinceramente, acho que nem vamos precisar pensar muito. A Nina vai adorar saber que você vai ficar.”

    Shirley ficou parada olhando, mas logo reagiu e correu para acompanhá-lo em dois ou três passos, estendendo a mão para pegar sua maleta enquanto falava apressada:

    “Eu carrego! Eu carrego sozinha, deixa comigo!”

    Duncan apenas balançou a cabeça com um sorriso e ergueu os olhos para frente.

    A pálida e fria luz da Criação do Mundo iluminava o mar sem fim. As ondas suaves refletiam brilhos como escamas partidas, enquanto a brisa noturna soprava sobre o convés, fazendo o uniforme de capitão esvoaçar levemente.

    Duncan estava em pé no convés do Banido, observando os três Pregadores do Fim que ainda não haviam recobrado a consciência, mas cujos corpos lentamente começavam a retomar uma forma mais humana.

    Então… essas criaturas tortas e retorcidas podiam mesmo voltar a parecer gente?

    Passos soaram não muito longe, e Duncan virou-se para ver Alice se aproximando — seus longos cabelos prateados esvoaçavam ao vento. A boneca gótica, vestida com um longo vestido, correu até ele sob a noite e gritou animada:

    “Capitão, capitão! Acabei de ouvir do Sr. Cabeça de Bode que você mandou mais coisas pro convés?! Comprou mais alguma coisa na cidade humana…”

    Alice parou no meio da frase, surpresa. Ela freou ao lado do capitão e ficou olhando, confusa, para os três ‘seres humanoides’ estirados no convés.

    Depois de um bom tempo parada, a boneca se virou com expressão perdida para Duncan:

    “Capitão… isso também é produto típico da cidade-estado?”

    “…Pode-se dizer que sim”, respondeu Duncan depois de pensar por um instante. “De fato, nunca vi em outro lugar — só na cidade-estado, brotam em levas.”

    Alice soltou um ‘ah’ meio confuso, coçou a cabeça e sentiu uma coceira incômoda — como se estivesse prestes a criar um cérebro, mas sem conseguir de fato criá-lo.

    “Parecem… humanos, né?” murmurou a boneca, desconfiada. “Capitão, por que trouxe essas coisas pra bordo? Não parece que foram compradas…”

    “Não comprei, achei no caminho.” Duncan respondeu displicente àquele amontoado de pensamentos desconexos da boneca, ao mesmo tempo em que mantinha os olhos nos três Pregadores do Fim, agora quase totalmente restaurados à forma humana. Notou que um deles começava a dar sinais de consciência — e finalmente pôde respirar aliviado.

    Ao que tudo indicava, o processo de transporte de Ai continuava confiável como sempre. Aqueles fanáticos do Subespaço estavam vivos — e, com sorte, acordariam completamente em breve.

    Então… talvez Ai também pudesse transportar humanos comuns para o navio no futuro?

    Duncan ponderava, com o ânimo melhorando a cada segundo.

    Ele vinha há tempos querendo encontrar cultistas para servir como ‘cobaias’ — para testar a capacidade de teletransporte de longa distância de Ai, os efeitos do ambiente peculiar do Banido, e até a força da guilhotina de Alice. Mas a oportunidade nunca surgia.

    Os adoradores do Sol na cidade-estado haviam sido praticamente exterminados pela ofensiva da Igreja do Mar Profundo e estavam todos empilhados nas igrejas locais. Já os cultistas que viviam à margem da sociedade tinham fugido ou se escondido — ele procurava fazia tempo, sem sucesso. Até tinha desistido, por ora.

    Mas então, nessa noite, surgiram do nada uns Pregadores do Fim devotos ao Subespaço.

    O que ele poderia dizer além de agradecer ao generoso presente da natureza…?

    Enquanto refletia sobre isso, os tais ‘presentes da natureza’ no convés também começavam a recobrar a consciência.

    Um dos Pregadores do Fim estremeceu subitamente, soltando um gemido rouco e grave pela garganta. Logo em seguida, seu braço esquelético se apoiou com força, erguendo seu corpo. A criatura sentou-se de supetão, os olhos arregalados diante daquele ambiente completamente estranho.

    As ondas suaves e o vento frio do mar o agrediam como agulhas nos nervos já distorcidos pela influência do Subespaço. Então, uma voz baixa e calma soou ao seu lado:

    “Você acordou.”

    “Onde…?” O fanático virou lentamente a cabeça, os olhos turvos refletindo as figuras de Duncan e Alice. O cérebro parecia funcionar com lentidão, mas após vários segundos, ele finalmente voltou a pensar. Num sobressalto, ergueu-se de vez, assumindo uma postura hostil diante de Duncan, recuando meio passo:

    “Quem é você?!”

    “Ah, claro. Você nunca me viu antes”, respondeu Duncan com um sorriso, observando as outras duas figuras começarem a despertar também. Ele falou em um tom grave: “Bem-vindo ao Banido — vocês podem me chamar de Capitão Duncan.”

    “… Banido?!” O primeiro a despertar arregalou os olhos, visivelmente reconhecendo o nome. Após um instante de choque, gritou, espantado:

    “Então… isso é mesmo aquele navio fantasma que retornou do Subespaço?!”

    “Exato. Parece que você entende as coisas — isso vai facilitar nossa conversa.” Duncan assentiu. “Primeiro, eu tenho algumas perguntas…”

    Mas antes que pudesse continuar, o fanático ergueu os braços aos céus, e um êxtase insano tomou conta de sua mente. Começou a gritar em êxtase:

    “Ó, Subespaço! Finalmente abriste as portas para nós! A eternidade no fim dos tempos! A salvação em meio à calamidade! Toda a aniquilação! Toda a renovação! A arca prometida chegou! A arca prometida chegou!”

    Duncan ficou sem palavras.

    … Esse lunático tinha algum problema mental sério, não tinha?!

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