Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O devoto do Subespaço que acabara de despertar mergulhou num frenesi inexplicável ao descobrir que estava a bordo do Banido. De braços erguidos, gritava palavras incompreensíveis em um surto de êxtase descontrolado — uma cena tão perturbadora que até mesmo Alice recuou dois passos, assustada. Por sorte, conseguiu segurar a própria cabeça a tempo de não a deixar cair.

    “Esses produtos típicos de agora são assustadores demais!” A Srta. Boneca arregalou os olhos, tentando se esconder atrás de Duncan. “O que tem de errado com ele?!”

    Duncan lá sabia? Ele mesmo não tinha nem conseguido fazer a primeira pergunta!

    Logo em seguida, os outros dois Pregadores do Fim também despertaram. E, como esperado, assim que entenderam onde estavam, mergulharam no mesmo estado de histeria, gritando como loucos sobre a ‘Arca Prometida’ e as ‘Portas do Subespaço’. Não importava o que Duncan ou Alice tentassem dizer, eles estavam completamente fora de alcance, incapazes de manter qualquer forma de comunicação racional.

    Ainda assim, Duncan começou a suspeitar da razão por trás daquela histeria.

    Afinal, aqueles eram fanáticos devotos ao Subespaço — e o Banido era um navio fantasma que havia retornado diretamente de lá. Seria possível que, aos olhos desses lunáticos, o navio representasse algum tipo de… milagre?

    Será que estavam diante de fiéis enlouquecidos que haviam presenciado uma ‘revelação divina’?

    Mas esse nível de fanatismo parecia… exagerado demais.

    Os três cultistas se abraçavam, chorando e rindo ao mesmo tempo, gritando louvores ao Subespaço e entoando o nome do Banido. Às vezes, deixavam escapar da garganta sons que nem pareciam humanos — vibrações sobrepostas e tremulantes, como se fossem ecos surgidos do próprio Subespaço. Por fim, os três caíram de joelhos… e começaram a beijar o convés do navio!

    Essa foi a gota d’água para Alice, que até então observava a cena como espectadora. A Srta. Boneca arregalou os olhos e correu para o lado, pegando um esfregão e acertando sem cerimônia a cabeça de um dos fanáticos:

    “EU ACABEI DE LAVAR ESSE CONVÉS!”

    Antes que pudesse terminar de gritar, dois baldes e alguns esfregões nas proximidades ganharam vida, rolando e pulando até o centro da cena, e desataram a bater nos fanáticos com fúria descontrolada — os gritos extasiados dos cultistas, os berros furiosos de Alice e o barulho dos baldes e esfregões colidindo com crânios se misturaram numa cacofonia. O Banido, normalmente envolto em silêncio, se transformou num caos ensurdecedor.

    Duncan ficou pasmo com a cena diante de si. O espetáculo de uma ‘boneca amaldiçoada e seus capangas esfregões massacrando invasores’ o deixou verdadeiramente chocado. Sua primeira reação foi pensar: Desde quando essa boneca tem tanta intimidade com os utensílios do convés?! A segunda foi correr para impedir que a coisa fugisse ainda mais do controle:

    “Pare com isso!”

    Imediatamente, os baldes e esfregões cessaram os ataques. Alice, porém, não resistiu e ainda deu mais uma esfregada num dos Pregadores do Fim com o cabo do esfregão, e por fim, ainda desferiu um chute, antes de sair de perto resmungando de cara amarrada:

    “Acabei de limpar esse convés… e eles vêm aqui lamber tudo…”

    “Olha, também achei nojento o que eles fizeram, mas nem precisava tanto…” Duncan lançou um olhar de exasperação para a boneca, e então se virou para os fanáticos recém-espancados. “E aí, já se acalmaram?”

    Os três Pregadores do Fim estavam estirados no chão. Mas, surpreendentemente, mesmo após o espancamento, não demonstravam fraqueza nem medo — ao contrário, pareciam mais cheios de energia do que nunca, com sorrisos perturbadores estampados nos rostos. Seus corpos, magros e esqueléticos, pareciam possuir uma resistência absurda à dor — como se já tivessem abandonado por completo a sensibilidade humana.

    Ao ouvir as palavras de Duncan, um dos Pregadores do Fim virou lentamente a cabeça na direção dele. Seus olhos enevoados levaram um bom tempo para focalizar o olhar, até que finalmente encararam os de Duncan. Então, ele soltou uma risada de gelar os ossos:

    Hahaha… o porteiro da Terra Prometida, o fantasma ao leme, o timoneiro da Arca! Eu consigo ver… consigo ver seu coração! Que lamentável… Recebeste a beatitude1, mas recusaste o dom Dele… Tinhas o direito de entrar na Terra Prometida, mas a rejeitaste! És… um tolo!”

    Duncan franziu levemente a testa.

    Alice se aproximou por trás num instante:

    “Capitão, quer que eu bata nele de novo?”

    Ao lado, os baldes e esfregões também saltitaram em prontidão, balançando atrás de Alice.

    Autênticos capangas… e capangas dos capangas.

    “Vocês fiquem quietos por enquanto.” Duncan fez um gesto com a mão, mantendo os olhos no Pregador do Fim que ainda lhe lançava aquele sorriso distorcido. Seu rosto permanecia inexpressivo. “Pelo visto, vocês sabem bastante sobre esse ‘Capitão do Navio Fantasma’.”

    “O Subespaço sussurra o seu nome… sussurra a sua recusa tola…” O cultista escancarou um sorriso, deixando escorrer sangue dos lábios — o qual, horrivelmente, se movia como se tivesse vida própria, contorcendo-se sob o queixo como pequenos tentáculos. “Você recebeu o direito à beatitude, então por que fugir…? Não sabe que o Subespaço é o destino eterno e final de todas as coisas? Você já havia alcançado o fim… por que então voltou dele?!”

    Duncan permaneceu calado, fitando aquele fanático que talvez estivesse completamente insano — ou talvez apenas tomado por um delírio religioso. Sua expressão era fria, mas seus pensamentos ferviam.

    Esses devotos do Subespaço… realmente tinham algo além da loucura. Sua fé desvairada não só lhes dava poderes estranhos — como também parecia trazer conhecimento real sobre o Subespaço. E o que aquele homem acabara de dizer… talvez não fosse inteiramente delírio.

    O Capitão Duncan teria fugido do Subespaço? Teria rejeitado a ‘benção’ do Subespaço?

    Será que, quando o Banido foi tragado pelo Subespaço anos atrás, o verdadeiro ‘Capitão Duncan’ não enlouqueceu imediatamente, como dizem as lendas? Será que o retorno do Banido ao mundo real foi, na verdade, uma fuga bem-sucedida? Será que ele ainda mantinha a sanidade naquela época?

    E, se sim — quando foi que ele enlouqueceu por completo? Quando… morreu?

    Duncan se lembrou, de repente, da atitude do Cabeça de Bode sempre que se falava do Subespaço — cautela, rejeição, até um leve terror. Essa reação talvez também fosse uma prova indireta das palavras do Pregador do Fim… uma confirmação de que aquilo, de fato, foi uma fuga.

    Logo depois, o Pregador do Fim voltou a mergulhar em um estado de confusão mental, balbuciando palavras que só ele mesmo parecia entender. Às vezes ria de alegria de forma repentina, outras vezes batia no próprio corpo sem motivo. Enquanto isso, os outros dois continuavam imersos em um colapso mental silencioso, completamente alheios ao mundo ao redor.

    Esses devotos do Subespaço eram ainda mais insanos que os seguidores do Sol que Duncan havia encontrado anteriormente — mais distantes da razão, mais desvinculados da lógica do mundo real. Era como se vivessem permanentemente em um estado de instabilidade mental, com os pensamentos oscilando entre a realidade e o Subespaço. Se ninguém os estivesse guiando ou se não estivessem em meio a uma missão específica, simplesmente não conseguiam manter uma conversa coerente ou pensamento claro.

    Seria isso resultado direto da influência do Subespaço? Ou será que haviam intencionalmente destruído a própria razão para poder abraçar o Subespaço de forma mais completa?

    Mas o que deixava Duncan mais intrigado era outra coisa — como era possível que cultistas tão insanos, tão deformados, até em aparência, ainda conseguissem agir dentro da cidade-estado?

    Com esse bando de lunáticos andando pela rua, disfarce nenhum daria conta! No máximo cinco passos e já seriam cercados por um bando de sentinelas em marcha a vapor, varridos do mapa sem cerimônia!

    Depois de esperar mais um tempo e ver que os fanáticos ainda não recobravam a lucidez, Duncan decidiu intervir diretamente:

    “Por que vocês atacaram Shirley?”

    Os três cultistas reagiram. Um deles levantou a cabeça, oscilando como um boneco desarticulado:

    “Atacar…? Atacar quem?”

    “Aquilo que vocês fizeram há pouco.” A voz de Duncan era firme, fria como aço. “Vocês atacaram uma garota que estava acompanhada de um Cão Abissal. Por quê?”

    “Atacar… ah, atacar…” O fanático então escancarou um sorriso e começou a gritar em êxtase: “Só estávamos colocando tudo de volta nos trilhos! Para que a história correta pudesse descer sobre o mundo! Falhas, imperfeições, pequenos riscos… era preciso eliminar os riscos… Ela devia ter morrido na história verdadeira! Ela não devia ter sobrevivido! Enquanto ela viver… as falhas continuarão surgindo…”

    “História correta?” Duncan, ouvindo aquelas palavras insanas, teve uma leve mudança no olhar. Mas, por trás do delírio, captou uma informação crucial. Sua mente se aguçou num instante. “A linha histórica de Pland foi alterada… foram vocês?!”

    “Alterada? Não, não houve erro algum… não há problema nenhum…” O fanático ergueu o rosto, com o olhar inflamado por um fervor quase sacrificial. “Estamos apenas colocando tudo nos trilhos! O destino da ruína foi adiado por tempo demais! Todos traíram a dádiva do Subespaço! Traíram o destino que deveria ter vindo! Nós estamos restaurando a história à sua verdadeira rota!”

    “Restaurar a história à sua verdadeira rota!” Os outros dois Pregadores do Fim, como contagiados, começaram também a gritar em louvor. Um deles chegou a se levantar, com os braços erguidos como se proclamasse uma verdade absoluta:

    “Só ao retornarmos aos trilhos virá a renovação após o aniquilamento! O Subespaço devorará tudo — e também recriará tudo! O fogo se apagou, as brasas não mais ardem… só ao acender uma segunda fogueira é que o mundo poderá persistir em meio à dádiva!”

    1. beatitude quer dizer ‘felicidade profunda de quem desfruta a presença de Deus.’[]
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