Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    As pistas pareciam começar a se conectar.

    A história da cidade-estado de Pland exibia claros sinais de contaminação; na capela do Sexto Distrito havia um ponto fechado de espaço-tempo distorcido; e na estátua da Deusa da Tempestade, ocultava-se uma fenda anômala do Subespaço. E o Subespaço… é capaz de corromper tudo o que existe fora dele.

    Shirley era uma das poucas que ainda se lembravam do incêndio de onze anos atrás. Naquele momento, ela deveria ter morrido como os demais, mas acabou, de forma inexplicável, fundida a um Cão Abissal, sobrevivendo. E quando a memória de todos foi distorcida pela contaminação histórica, ela, por algum motivo, reteve as lembranças reais do ocorrido.

    Agora, um grupo de Pregadores do Fim a havia atacado — fanáticos devotos do Subespaço, insanos, incoerentes, mas que não paravam de repetir palavras como ‘história correta’ e ‘falhas’.

    Duncan, é claro, não acreditava em nenhuma das ‘doutrinas’ absurdas desses lunáticos. Pelo contrário, tudo que chamavam de ‘história correta’ ele interpretava como o oposto — e, ainda assim, havia uma coisa inegável: esses cultistas estavam diretamente ligados aos distúrbios temporais da cidade-estado de Pland. A força do Subespaço por trás deles era a verdadeira culpada por tudo. E pessoas como Shirley — que guardavam a memória verdadeira daquele incêndio — eram, aos olhos desses loucos, um inimigo mortal que precisava ser eliminado.

    Mas nem todas as dúvidas tinham resposta ainda.

    Como esses maníacos haviam encontrado Shirley, esse ‘erro’ na história? Qual a relação entre a contaminação histórica e o ‘Sol Negro’? O Sol Negro, afinal, não possuía a capacidade de alterar o passado… Então que papel, exatamente, aquele ‘Deus Sol’ desempenhava nisso tudo? E, acima de tudo…

    Nina — suspeita de ser portadora de um Fragmento do Sol — também estaria sendo visada por esses cultistas?

    Com um olhar gélido, Duncan fitou os três Pregadores do Fim, ainda contorcendo-se em delírio. Então levantou levemente a mão — uma chama verde espectral irrompeu no corpo de um deles. Aquele fogo sobrenatural começou a queimar a carne do cultista, cuja existência já podia ser considerada um ‘item sobrenatural’. Ele se encolheu no chão aos gritos de dor, enquanto os outros dois fanáticos ficaram instantaneamente em silêncio.

    “Fogo… fogo profano…” Um dos cultistas arregalou os olhos. Mesmo sendo devotos do Subespaço, insensíveis à dor e mergulhados na loucura, o simples vislumbre daquelas chamas verde-espectrais os fez tremer. “Profanação… profanação… é uma blasfêmia!”

    “Se não quiserem ser incinerados, é melhor começarem a cooperar.” A voz de Duncan soou fria enquanto fazia labaredas irromperem de vários pontos do convés. As chamas entrelaçadas formaram uma rede ao redor dos três cultistas, queimando suas mentes e corpos. “Eu quero saber: como exatamente vocês corrompem a história? Tudo começou no Sexto Distrito?”

    “Estamos apenas restaurando a história à sua verdadeira rota!” Mesmo sob ameaça do fogo espectral, os fanáticos não abandonavam o discurso. Um deles ergueu o pescoço, gritando com fervor: “O Sexto Distrito… o Sexto Distrito foi só uma tentativa fracassada! Mas isso não importa, não importa…”

    O Sexto Distrito foi uma tentativa fracassada…?

    Duncan franziu o cenho. Embora o outro não tivesse respondido diretamente, acabara de deixar escapar uma informação essencial.

    Primeiro: aquele incêndio de onze anos atrás foi, de fato, provocado pelos seguidores do Subespaço — e não uma simples consequência da aparição de um Fragmento do Sol, como ele cogitava antes. Segundo: a tentativa desses fanáticos de corromper a história ainda não fora plenamente bem-sucedida — o grande incêndio de onze anos atrás não teve o efeito que esperavam.

    Logo em seguida, Duncan se lembrou de outro ano crucial — 1885.

    Esse era o número que Vanna havia encontrado sob a capela, apontando o ano da morte da freira. Teoricamente, também era o momento em que o poder do Subespaço invadiu aquele santuário.

    E o grande incêndio de onze anos atrás ocorreu em 1889, quatro anos depois da morte da freira.

    Ou seja, quatro anos após a invasão do Subespaço, os Pregadores do Fim provocaram o incêndio de 1889 — um evento que eles próprios chamaram de ‘tentativa fracassada’.

    Uma linha do tempo começava a se desenhar nitidamente diante dos olhos de Duncan.

    “Na verdade, vocês fracassaram duas vezes.” A voz de Duncan estava gélida enquanto encarava o fanático envolto nas chamas espectrais. “Em 1885, vocês invadiram uma capela, tentando usá-la como ponto de origem para espalhar a contaminação histórica. Mas uma freira sacrificou a própria vida e destruiu o plano de vocês — selando tanto a ‘invasão’ daquele ano quanto a própria ‘morte’ dentro do santuário subterrâneo;

    “Quatro anos depois, em 1889, vocês executaram uma segunda fase, provocando um grande incêndio no Sexto Distrito onde ficava a capela. Queriam cobrir a realidade com um novo ramo histórico — uma história na qual a cidade-estado teria sido destruída pelo fogo. Mas falharam novamente. O incêndio foi apagado por uma força desconhecida. As marcas do fogo foram apagadas, e ele não conseguiu continuar…

    “E desde então, vocês têm se escondido na cidade-estado, esperando por uma nova oportunidade para continuar o plano. Até encontrarem Shirley — uma ‘falha’ que sobreviveu ao incêndio e que manteve a memória daquele evento. Vocês acreditam que foi por causa dela que o plano falhou, e decidiram eliminá-la primeiro?”

    As chamas verdes ardiam violentamente. O Pregador do Fim se contorcia no chão, e mesmo aquele corpo que parecia insensível à dor mostrava sinais de colapso diante da tortura da alma provocada por aquele fogo. Mas o fanático não respondeu — ao invés disso, abriu lentamente um sorriso, fitando Duncan com um olhar fixo e doentio.

    “Não precisa dizer nada. Eu consigo ver a resposta nos seus olhos — o deboche, o rancor… isso só confirma que eu acertei.” Duncan ignorou a provocação e continuou com frieza: “Tenho só mais uma pergunta… Qual é a relação de vocês com o ‘Sol Negro’? O incêndio de 1889 foi provocado por um Fragmento do Sol… Foram vocês que o trouxeram?”

    O Pregador do Fim continuou em silêncio.

    Duncan fez as chamas se expandirem para os outros dois. Observou enquanto seus corpos se contorciam e tremiam nas chamas espectrais — mas ainda assim, nenhum deles disse uma palavra sequer.

    “Se vocês não falam… só me resta especular.” Duncan suspirou e afastou as chamas com um gesto — já percebera que a dor física era praticamente inútil contra esses lunáticos que haviam abandonado sua humanidade. “Minha hipótese é que vocês têm algum tipo de cooperação com os seguidores do Sol… não, mais precisamente com os Proles do Sol por trás deles. Vocês estão ajudando essas proles a trazer de volta seu ‘mestre’. E o método para essa ressurreição…

    “…é invocar o Sol diretamente da própria história.”

    Observando os cultistas que ainda permaneciam em silêncio, Duncan fez apenas uma breve pausa antes de continuar:

    “No início da era das Novas Cidades-estado, existia uma cidade esquecida por todos, conhecida apenas pelo nome: Wilhelm. A última mensagem que ela deixou ao mundo foi que ‘o Sol Negro desceu da própria história’… Ou seja, essa não foi a primeira vez que vocês fizeram isso, certo? Invocar, a partir da história, um sol que já deveria ter se apagado…

    “Então, esse processo de invocação, por si só, é a maior forma de contaminação histórica. Estou certo?”

    Quando todos os fragmentos de informação finalmente se encaixaram — quando cada linha antes desconexa se uniu num único traço contínuo — até as coisas que antes pareciam inconcebíveis ou absurdas se tornaram fatos possíveis. A mente de Duncan operava a mil por hora. Sua memória e imaginação costuravam, em tempo real, os dados conhecidos, desconhecidos e pressentidos, formando uma trilha cada vez mais clara.

    Claro, havia ainda muitos pontos sem explicação: como os Pregadores do Fim estabeleceram conexão com os seguidores do Sol? Como exatamente conseguem invocar o Sol Negro a partir da história? Será que os cultistas e sacerdotes comuns do culto solar conhecem esses segredos de alto escalão?

    E mesmo as conclusões às quais ele acabara de chegar ainda eram baseadas, em grande parte, em deduções. Sem que os fanáticos admitissem, faltava a ele uma peça-chave: a prova.

    As chamas espectrais no convés foram se recolhendo gradualmente, restando apenas um círculo de fogo ao redor dos três cultistas. Duncan ficou diante da muralha de chamas, observando friamente os Pregadores do Fim ajoelhados diante dele.

    “Vocês não são os únicos que se infiltraram na cidade-estado, certo?

    “Onde estão os outros escondidos? Qual é o próximo passo de vocês? Continuar eliminando as chamadas ‘falhas’? Ou pretendem iniciar uma contaminação ainda maior?

    “Ainda vão se recusar a responder?”

    Lançando uma pergunta após a outra, Duncan por fim obteve uma reação. Um dos cultistas se moveu.

    Aquela figura magra e esquelética puxou um sorriso sinistro nos lábios rachados. Levantou a cabeça e olhou diretamente para Duncan, falando com uma voz rouca e arrastada:

    “Não estamos escondidos na cidade-estado… Estamos escondidos nessa história amaldiçoada e distorcida, que já deveria ter acabado… Uma vez iniciada, ela não terá fim…

    “Aquilo que os Portadores da Chama não conseguiram fazer… você também não conseguirá, ‘Capitão’…”

    O sorriso do fanático se alargou ainda mais, gélido e nauseante. Sua voz tornou-se sombria, quase hipnótica:

    “Eu vi agora há pouco… sua humanidade é tão ofuscante… De onde a tirou?”

    O olhar de Duncan se alterou por um instante. Ele deu um passo à frente, sua voz carregada de autoridade e contenção:

    “O que você quer dizer com isso?”

    “…Tenha um ótimo dia, Capitão.” De repente, o Pregador do Fim parecia outra pessoa. De um fanático delirante, passou a agir como um cidadão educado. Lentamente, ergueu o corpo e sentou-se de forma encurvada no convés, lançando o olhar para além de Duncan, como se observasse o vasto e silencioso Banido.

    “Ah… a Terra Prometida… a Arca prometida…”

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